O livro “Portugal e os Portugueses”, de Manuel Clemente (Editora: Assírio e Alvim) despertou a minha curiosidade logo que foi publicado. Existiam dois motivos para essa curiosidade: por um lado era da autoria do Bispo do Porto (considerado por muitos católicos como uma figura de grande prestigio); por outro, abordava um tema tão complexo com a arte de ser português, e a nossa relação com a Pátria.
Durante várias semanas o livro ficou na minha lista de "livros para ler". Acabei por o comprar e li-o durante o verão passado. Apesar de discordar com o Bispo do Porto em diversos assuntos, não posso deixar de considerar interessante uma obra em que se reflecte sobre o lugar para o Divino na história de Portugal e dos Portugueses.
OS CULTOS MARIANOS
Um dos aspectos abordados com maior detalhe é a identificação do povo português com os cultos marianos. O autor dedica dois capítulos do livro a este tema. Cita diversas obras; enumera os diversos monarcas devotos desse culto; refere diversas localidades fundadas e monumentos construídos em honra de “Nossa Senhora”; descreve episódios históricos que de alguma forma sustentam a identificação de diversas gerações de portugueses com o culto Mariano. Percebe-se nas entrelinhas que o Bispo do Porto também é um devoto da mãe de Cristo.
Na minha opinião, a insistência de D. Manuel Clemente para encontrar o lugar de “Nossa Senhora” na história de Portugal é manifestamente exagerado. Veja-se por exemplo, a tentativa de justificar o facto de no momento mais crítico da Batalha de Aljubarrota, o rei D. João I ter invocado S. Jorge e não “Nossa Senhora”, para dar ânimo à tropa (p.52-53). Esta exegese religiosa das palavras atribuídas a um monarca português num texto histórico corre o risco de descredibilizar o esforço de encontrar um lugar do divino na História do povo português.
Claro que a história religiosa de Portugal não se pode resumir aos cultos marianos; o que D. Manuel Clemente nos apresenta é apenas uma perspectiva possível sobre alguns acontecimentos históricos. Em qualquer bom livro de História de Portugal encontramos diversos episódios em que o relacionamento entre o Reino de Portugal e a cúpula da Igreja Católica foi marcado por tensões e até mesmo corte de relações. Recorde-se por exemplo, a excomunhão de D. João IV, já cadáver e feito perante a família real.
A história do Divino e a história de Portugal cruzam-se em episódios brilhantes e em momentos trágicos, onde podemos encontrar heróis e vilões. A verdade é que em dois capítulos deste livro o Bispo do Porto deu uma ênfase especial ao Marianismo, quase dando a entender que este é o ponto alto da história religiosa de Portugal.
Sobre o Marianismo, lembro que já referi neste blog a posição oficial da Fé Bahá’í sobre a virgem Maria (ver links em baixo); e também dei a minha opinião pessoal sobre o tema. Mas a reflexão apresentada pelo Bispo do Porto neste livro leva-me a colocar duas questões que também me parecem merecedoras de reflexão:
1 - Não tem havido, ao longo da nossa história, uma tentativa de substituir o Cristianismo pelo Marianismo?
2 - E a proliferação de santuários marianos no nosso país não será um sinónimo de uma religiosidade popular mal-informada, cuja multiplicidade e diversidade assume carácter quase-politeísta?
Admito que estas questões possam soar a provocação para alguns leitores católicos; mas penso que na religião não deve haver temas inquestionáveis. Além disso, uma análise objectiva da história religiosa de Portugal tem necessariamente de conseguir algumas respostas para estas questões. Uma exposição idílica sobre o Marianismo é manifestamente insuficiente.
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Sobre este assunto:
Kitab-i-Iqan – A Virgem Maria
A experiencia religiosa e o enquadramento humano (Moojan Momen)
Fátima
Ainda sobre Fátima
2 comentários:
Bom Dia!
Gostaria de saber se a fé Bahá'i possui algum glossário com a pronuncia e o significado das palavras mais usadas, pois gostaria de saber como pronunciar essas palavras de forma correta.
Se der para você responder eu Agradeço.
Mesmo assim obrigado pela atenção.
Carlos
1 - Sim.
2 - Sim.
;)
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