sábado, 24 de dezembro de 2016

O primeiro Natal de 'Abdu'l-Bahá



Por um único motivo foram os Profetas, sem excepção, enviados à terra. Foi por isso que Cristo Se manifestou, foi por isso que Bahá’u’lláh ergueu o apelo do Senhor: para que o mundo do homem se torne o mundo de Deus; que este domínio inferior se torne o Reino; que esta luz negra, esta perversidade satânica se transforme nas virtudes do homem – e a unidade, a camaradagem e o amor sejam conquistados por toda a raça humana, que a unidade orgânica reapareça e os alicerces da discórdia sejam destruídos e a vida eterna e a graça eterna sejam a colheita da humanidade. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #15)

Hoje quero falar-vos sobre o primeiro Natal de ‘Abdu’l-Bahá em Inglaterra. Mas antes disso vamos preparar o cenário, explorando a história do feriado, que poucas pessoas compreendem, ou conhecem.

Alguma vez ouviu falar de Sexto Júlio Africano?

Provavelmente não. Inicialmente, Sexto Júlio era um soldado pagão nas legiões romanas, no final do séc. II; depois converteu-se ao Cristianismo e tornou-se um historiador e autor Cristão muito viajado. Tal como o seu último nome sugere, ele era provavelmente africano - possivelmente oriundo da região a que hoje chamamos Líbia - falava várias línguas e viajou muito pelo Médio Oriente.

Sexto Júlio Africano escreveu uma história do mundo em cinco volumes, chamada Chronographiai. Tanto quanto se sabe, nenhum exemplar sobreviveu, mas alguns dos seus escritos ainda existem, graças a historiadores posteriores, como Eusébio, e tiveram um grande impacto - em pelo menos dois aspectos - sobre quem hoje vive na idade moderna.

Primeiro, ele determinou a idade do mundo.

Depois, ele determinou a data exacta do Natal.

Foi assim que ele fez: no seu trabalho de cinco volumes, Sexto Júlio escreveu a cronologia do mundo desde a história da criação no livro do Génesis até ao ano 221 EC. Esse período de tempo - meticulosamente reunido e calculado a partir de uma leitura cuidadosa de toda a história genealógica e das várias “descendências” na Bíblia Hebraica e no Novo Testamento - totaliza 5723 anos, segundo as suas contas. Os seus cálculos apresentam 5500 anos entre a criação e a encarnação (ou Anunciação) de Jesus Cristo, que colocou a imaculada concepção de Jesus em 25 de Março do ano 1 AEC. Adicionando os nove meses do tempo normal de gestação humana, Júlio obteve o 25 de Dezembro, o dia em que o mundo celebra o Natal.

Já no séc. II EC ninguém conseguia precisar a data em que tinha ocorrido o nascimento de Cristo. Muito antes do uso generalizado de calendários, certidões de nascimento ou celebração regular de nascimentos, a grande distância temporal tornava impossível a verificação de datas históricas. Por esse motivo, Sexto Júlio Africano teve de fazer cálculos. Apesar das suas evidências, alguns historiadores e cientistas – incluindo Isaac Newton – acreditam que o mundo cristão escolheu o 25 de Dezembro porque os Romanos celebravam o Solstício de Inverno nesse dia, a que chamavam Bruma ou Sol Invicto.

Uma rua de Londres, Natal de 1911
Mas Sexto Júlio calculou a data segundo a cronologia bíblica e dominou a opinião popular e o calendário gregoriano durante mil e oitocentos anos. Os seus cálculos originais são a razão que levam alguns fundamentalistas a insistir que o mundo tem apenas seis mil anos de idade, e também são o motivo para observamos o nascimento de Cristo no dia 25 de Dezembro. Com a excepção da Igreja Ortodoxa Oriental, que normalmente celebra o Natal no dia 7 de Janeiro, o 25 de Dezembro tornou-se o Natal para as massas – o que nos traz de volta ao tema do primeiro Natal do 'Abdu'l-Bahá.

Só em 1911, quando viajou para o Ocidente, ‘Abdu’l-Bahá teve o primeiro contacto com as celebrações modernas do Natal, na sua forma Ocidental. Libertado após 40 anos de exílio, chegou a Inglaterra, vindo do Médio Oriente e no meio do agitado calendário de discursos, reuniões e palestras, ‘Abdu’l-Bahá…

…assistiu à peça “Eager Heart” (Coração Ansioso), uma peça de Natal na Church House, Westminster, a primeira peça de teatro que Ele assistiu e cuja representação gráfica da vida e sofrimentos de Jesus Cristo O levaram às lágrimas”. (Shoghi Effendi, God PassesBy, p. 284)

A peça, escrita pela poetisa e dramaturga inglesa Alice Mary Buckton, que mais tarde recebeu 'Abdu'l-Bahá na sua casa em Byfleet Surrey, conta a história trágica de uma mulher que se prepara fervorosamente para a visita Natalícia de Jesus, Maria e José, mas depois vacila quando uma família de refugiados sem-abrigo aparece à sua porta. Leia a peça em sua forma original aqui.

Esta descrição da reacção profundamente emocional de 'Abdu'l-Bahá à peça Eager Heart, escrita por Lady Blomfield no seu livro The Chosen Highway, menciona uma ocorrência notável:

[‘Abdu’l-Bahá] chorou durante a cena em que a Criança Sagrada e os Seus pais, vencidos pela fadiga e sofrendo com a fome e a sede, foram recebidos pela hesitação do Coração Ansioso em deixá-los entrar no abrigo de repouso que ela tinha preparado; obviamente, ela não conseguiu reconhecer os visitantes sagrados. Posteriormente, [‘Abdu’l-Bahá], juntou-se ao grupo de actores.

Foi uma cena impressionante. Num cenário oriental. O Mensageiro nas suas vestes orientais, falando-lhes, nas suas belas palavras orientais, sobre o significado Divino dos eventos que tinham sido representados. (The Baha’i World, Volume 4, p. 379)

Tente imaginar esta cena de Natal, se for capaz. Após o fim dos aplausos e depois do público se ter retirado, no palco, entre os cenários da peça, o filho do mais recente profeta do Médio Oriente, vestido com a Sua túnica, fala aos actores sobre os verdadeiros sofrimentos de Jesus Cristo, tal como semelhantes aos sofrimentos de Bahá’u’lláh e da Sua família. Recentemente libertado após quatro décadas de exílio e prisão, ‘Abdu’l-Bahá reúne um grupo de actores ao Seu redor e explica o verdadeiro significado do Natal.

E porque os Bahá’ís acreditam que todos os profetas de Deus são semelhantes, aqueles actores incrivelmente afortunados, em vez de se basearem em interpretações demasiado humanas sobre o significado e o momento do Natal, escutam isso literalmente da fonte.

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

1 comentário:

Anónimo disse...

Toda vez que leio sobre este tema tento imaginar e, sim, viajo neste magnifico evento e sinto-me uma espectadora de nosso Amado Mestre🙏 aplaudoaplaudo