Por David Langness.
Por um único motivo foram os
Profetas, sem excepção, enviados à terra. Foi por isso que Cristo Se
manifestou, foi por isso que Bahá’u’lláh ergueu o apelo do Senhor: para que o
mundo do homem se torne o mundo de Deus; que este domínio inferior se torne o
Reino; que esta luz negra, esta perversidade satânica se transforme nas
virtudes do homem – e a unidade, a camaradagem e o amor sejam conquistados por
toda a raça humana, que a unidade orgânica reapareça e os alicerces da
discórdia sejam destruídos e a vida eterna e a graça eterna sejam a colheita da
humanidade. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #15)
Hoje quero
falar-vos sobre o primeiro Natal de ‘Abdu’l-Bahá em Inglaterra. Mas antes disso
vamos preparar o cenário, explorando a história do feriado, que poucas pessoas
compreendem, ou conhecem.
Alguma vez
ouviu falar de Sexto Júlio Africano?
Provavelmente
não. Inicialmente, Sexto Júlio era um soldado pagão nas legiões romanas, no
final do séc. II; depois converteu-se ao Cristianismo e tornou-se um
historiador e autor Cristão muito viajado. Tal como o seu último nome sugere,
ele era provavelmente africano - possivelmente oriundo da região a que hoje
chamamos Líbia - falava várias línguas e viajou muito pelo Médio Oriente.
Sexto Júlio
Africano escreveu uma história do mundo em cinco volumes, chamada Chronographiai. Tanto quanto se sabe,
nenhum exemplar sobreviveu, mas alguns dos seus escritos ainda existem, graças
a historiadores posteriores, como Eusébio, e tiveram um grande impacto - em pelo
menos dois aspectos - sobre quem hoje vive na idade moderna.
Primeiro,
ele determinou a idade do mundo.
Depois, ele
determinou a data exacta do Natal.
Foi assim
que ele fez: no seu trabalho de cinco volumes, Sexto Júlio escreveu a
cronologia do mundo desde a história da criação no livro do Génesis até ao ano
221 EC. Esse período de tempo - meticulosamente reunido e calculado a partir de
uma leitura cuidadosa de toda a história genealógica e das várias
“descendências” na Bíblia Hebraica e no Novo Testamento - totaliza 5723 anos,
segundo as suas contas. Os seus cálculos apresentam 5500 anos entre a criação e
a encarnação (ou Anunciação) de Jesus Cristo, que colocou a imaculada concepção
de Jesus em 25 de Março do ano 1 AEC. Adicionando os nove meses do tempo normal
de gestação humana, Júlio obteve o 25 de Dezembro, o dia em que o mundo celebra
o Natal.
Já no séc.
II EC ninguém conseguia precisar a data em que tinha ocorrido o nascimento de
Cristo. Muito antes do uso generalizado de calendários, certidões de nascimento
ou celebração regular de nascimentos, a grande distância temporal tornava
impossível a verificação de datas históricas. Por esse motivo, Sexto Júlio
Africano teve de fazer cálculos. Apesar das suas evidências, alguns
historiadores e cientistas – incluindo Isaac Newton – acreditam que o mundo
cristão escolheu o 25 de Dezembro porque os Romanos celebravam o Solstício de
Inverno nesse dia, a que chamavam Bruma ou Sol Invicto.
Uma rua de Londres, Natal de 1911 |
Mas Sexto Júlio
calculou a data segundo a cronologia bíblica e dominou a opinião popular e o
calendário gregoriano durante mil e oitocentos anos. Os seus cálculos originais
são a razão que levam alguns fundamentalistas a insistir que o mundo tem apenas
seis mil anos de idade, e também são o motivo para observamos o nascimento de
Cristo no dia 25 de Dezembro. Com a excepção da Igreja Ortodoxa Oriental, que
normalmente celebra o Natal no dia 7 de Janeiro, o 25 de Dezembro tornou-se o
Natal para as massas – o que nos traz de volta ao tema do primeiro Natal do
'Abdu'l-Bahá.
Só em 1911,
quando viajou para o Ocidente, ‘Abdu’l-Bahá teve o primeiro contacto com as
celebrações modernas do Natal, na sua forma Ocidental. Libertado após 40 anos
de exílio, chegou a Inglaterra, vindo do Médio Oriente e no meio do agitado
calendário de discursos, reuniões e palestras, ‘Abdu’l-Bahá…
…assistiu à peça “Eager Heart”
(Coração Ansioso), uma peça de Natal na Church House, Westminster, a primeira
peça de teatro que Ele assistiu e cuja representação gráfica da vida e
sofrimentos de Jesus Cristo O levaram às lágrimas”. (Shoghi Effendi, God PassesBy, p. 284)
A peça,
escrita pela poetisa e dramaturga inglesa Alice Mary Buckton, que mais tarde
recebeu 'Abdu'l-Bahá na sua casa em Byfleet Surrey, conta a história trágica de
uma mulher que se prepara fervorosamente para a visita Natalícia de Jesus,
Maria e José, mas depois vacila quando uma família de refugiados sem-abrigo
aparece à sua porta. Leia a peça em sua forma original aqui.
Esta
descrição da reacção profundamente emocional de 'Abdu'l-Bahá à peça Eager
Heart, escrita por Lady Blomfield no seu livro The Chosen Highway, menciona uma
ocorrência notável:
[‘Abdu’l-Bahá] chorou durante a cena
em que a Criança Sagrada e os Seus pais, vencidos pela fadiga e sofrendo com a
fome e a sede, foram recebidos pela hesitação do Coração Ansioso em deixá-los
entrar no abrigo de repouso que ela tinha preparado; obviamente, ela não
conseguiu reconhecer os visitantes sagrados. Posteriormente, [‘Abdu’l-Bahá],
juntou-se ao grupo de actores.
Foi uma cena impressionante. Num
cenário oriental. O Mensageiro nas suas vestes orientais, falando-lhes, nas
suas belas palavras orientais, sobre o significado Divino dos eventos que
tinham sido representados. (The Baha’i World, Volume 4, p. 379)
Tente
imaginar esta cena de Natal, se for capaz. Após o fim dos aplausos e depois do
público se ter retirado, no palco, entre os cenários da peça, o filho do mais
recente profeta do Médio Oriente, vestido com a Sua túnica, fala aos actores
sobre os verdadeiros sofrimentos de Jesus Cristo, tal como semelhantes aos sofrimentos
de Bahá’u’lláh e da Sua família. Recentemente libertado após quatro décadas de
exílio e prisão, ‘Abdu’l-Bahá reúne um grupo de actores ao Seu redor e explica
o verdadeiro significado do Natal.
E porque os
Bahá’ís acreditam que todos os profetas de Deus são semelhantes, aqueles
actores incrivelmente afortunados, em vez de se basearem em interpretações
demasiado humanas sobre o significado e o momento do Natal, escutam isso
literalmente da fonte.
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Texto original: Abdu’l-Baha’s First Christmas (www.bahaiteachings.org)
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David
Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor
e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
1 comentário:
Toda vez que leio sobre este tema tento imaginar e, sim, viajo neste magnifico evento e sinto-me uma espectadora de nosso Amado Mestre🙏 aplaudoaplaudo
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