Nasci e cresci numa família do Judaísmo da Reforma em Kansas City (EUA) e minhas crenças judaicas sempre foram muito fortes, especialmente que a de que existe apenas um único Criador.
Quando tinha 16 anos, comecei a namorar. Os meus pais estabeleceram uma regra com a qual eu concordei e obedeci rigorosamente. Eu apenas podia namorar moças judias, para evitar um casamento misto.
No ensino secundário, conheci muitas moças judias através da B'nai B'rith, uma organização judaica internacional.
Mas em 1964, quando comecei a frequentar a Universidade do Kansas, o grupo B'nai B'rith tinha apenas 25 mulheres judias. Quando era caloiro, tive muitos encontros. Mas em 1965, como estudante do segundo ano, as mesmas 25 mulheres eram as únicas mulheres judias na escola. Naquela época, eu não gostava delas; e elas não gostavam de mim, ou tinham namorados. Já não havia mulheres judias para namorar!
A regra dos meus pais estava tão enraizada no meu coração que eu parei de namorar. Durante muitas noites, chorei antes de dormir. Aquilo foi extremamente traumático para mim!
Uma noite, enquanto chorava intensamente por não poder namorar, comecei a pensar como a religião se tornara uma grande barreira entre as pessoas, em vez de as unir em unidade e harmonia. De repente, surgiu uma pergunta na minha mente.
Porque é que um Deus único tem tantas religiões?
Na época, não percebi, mas esta pergunta mudou drasticamente a minha vida. Gradualmente deixei de sofrer e reflecti profundamente. Com tantas religiões e denominações que afirmam ser o único caminho para Deus, isso não fazia sentido para mim. Senti que era uma contradição ilógica.
Quando pensava nisso, percebi que geralmente a religião de uma pessoa é determinada pelo seu local de nascimento e pela religião dos seus pais. Depois ensinam-lhe que a sua religião é a verdadeira e todas as outras são falsas. Isso também não fazia qualquer sentido para mim.
Um mês mais tarde, conheci um colega chamado D.J. Tornámo-nos bons amigos. Coloquei-lhe a minha questão e fiquei surpreendido com a resposta. Ele disse-me o seguinte: "Logicamente, um Deus único só pode ter uma única religião. Ele não está em competição consigo próprio".
Depois D.J. explicou que Deus tem revelado a Sua única religião não uma, mas muitas vezes, ao longo da história. Os Seus mensageiros foram os fundadores das principais religiões mundiais: Abraão, Krishna, Moisés, Zoroastro, Buda, Cristo e Muhammad.
Isto significa que todas as principais religiões mundiais têm origem divina, são uma única na essência, são igualmente verdadeiras, são igualmente importantes, são igualmente válidas e todas fazem parte de um processo único e gradual.
Deus, através dos Seus Mensageiros, adaptou a Sua religião única para responder às necessidades de cada era em que foi revelada – assim, as principais religiões do mundo são como diversos capítulos de um único livro. Se faltasse um capítulo, o livro estaria incompleto.
Um Criador afectuoso e universal não tem favoritos. Ele quer que todos os Seus filhos conheçam a Sua existência, que O amem e Lhe obedecem e, ao fazê-lo, se transformem nos seres humanos espirituais que Ele deseja que sejam.
Infelizmente - explicou o meu amigo - o clero falível em cada religião tentou interpretar a palavra infalível de Deus, conforme revelada pelos Seus mensageiros. E qual foi o resultado? Conflitos de interpretações, confrontos sectários e desunião. Como se isso não bastasse, o clero impôs as suas interpretações falíveis aos seus seguidores, proclamando: "A minha interpretação é verdadeira e todas as outras são falsas".
Os seguidores assumiram que seus sacerdotes eram sábios e conhecedores; e assim seguiram cegamente o clero, em vez de investigarem a verdade de forma independente, por si próprios e chegarem às suas próprias conclusões.
Isto levou à criação de inúmeras seitas, medo profundo, hipocrisia, fanatismo, preconceito, ódio, distorções exageradas dos ensinamentos originais dos fundadores das religiões do mundo e até mesmo guerras destrutivas travadas em nome da religião.
Originalmente, os mensageiros de Deus vieram para criar unidade e harmonia. O clero e os seguidores criaram desunião.
Aqui estava uma explicação que me fazia todo o sentido! Era lógica e universal. Que contraste com a contradição ilógica das visões exclusivas e restritivas da religião que vemos hoje.
Naturalmente, perguntei ao D.J. como é que ele tinha chegado a esta explicação. Ele disse que estava nos ensinamentos de Bahá'u'lláh, que afirmou:
É claro e evidente para ti que todos os Profetas são os Templos da Causa de Deus, Que apareceram vestidos com diversos trajes. Se observares com olhar criterioso, verás todos habitando no mesmo tabernáculo, voando no mesmo céu, sentados no mesmo trono, proferindo as mesmas palavras e proclamando a mesma Fé. (Livro da Certeza, ¶162)Após uma investigação muito profunda sobre a vida e os ensinamentos de Bahá’u’lláh, tornei-me Bahá'í em 14 de Janeiro de 1967.
Depois comecei novamente a namorar - só dessa vez, saí com mulheres de diversas religiões, raças ou nacionalidades. Que mudança maravilhosa!
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Texto original: Why Does One God Have So Many Religions? (www.bahaiteachings.org)
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Marty Schirn é um Bahá’í de origem Judaica. Estudou psicologia e administração de empresas. Viveu em Chicago, onde trabalhou no jornal Chicago Tribune e como guia no Templo Bahá’í de Chicago. Actualmente, vive em Tucson, no Arizona (EUA)
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