sábado, 25 de maio de 2019

Onde está o Reino de Deus?

Por Greg Hodges.


Assim, com passos firmes podemos percorrer o Caminho da certeza, para que talvez a brisa que sopra dos prados da complacência de Deus nos possa trazer suavemente os doces aromas da aceitação divina, e nos faça, mortais efémeros que somos, alcançar o Reino da glória perpétua. (Bahá’u’lláh, The Book of Certitude, ¶146)
O conceito de Reino de Deus pode ser uma importante ponte de entendimento entre os ensinamentos de Jesus e os ensinamentos de Bahá’u’lláh. As seguintes citações permitem-nos perceber o que Jesus queria dizer quando usava esta expressão:

O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no Evangelho. (Mc 1:15)

O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando nele, semeou no seu campo; O qual é, realmente, a mais pequena de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos. (Mt 13: 31-32)

E em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte até que vejam o reino de Deus. (Lc 9:27)

Então o que é, e onde está, o Reino de Deus? As escrituras de Bahá’u’lláh esclarecem esta questão.

Tradicionalmente no Cristianismo, o reino de Deus tem duas interpretações: uma considera-o como uma ordem política e social que num determinado momento se irá impor aos governos e facções que governam o mundo. Para alguns isto pode significar uma utopia socialista, uma teocracia Cristã, ou um cenário pós-apocalíptico em que Jesus assume o governo da Terra. Outra forma de pensar no Reino de Deus é entendendo que se trata de uma presença espiritual nas nossas almas que nos une ao Criador. Neste perspectiva, a forma como a sociedade funciona pode ser uma distração para a mais importante das nossas tarefas: a transformação das nossas almas.

O Livro da Certeza, um dos mais relevantes textos sagrados da Fé Bahá’í, apresenta uma visão sobre este tópico que engloba estas duas perspectivas. No Livro da Certeza, Bahá’u’lláh não apresenta o social e o espiritual, o interior e o exterior, o individual e o colectivo como estando em oposição entre si, mas antes como diferentes dimensões do plano de Deus para a humanidade.

A questão da soberania divina está presente ao longo de todo o Livro da Certeza. Apesar de expressões como “Reino de Deus” e a sua variante “Reino do Céu” não aparecerem com frequência no texto, Bahá’u’lláh ao descrever a forma como Deus governa e afirma o Seu domínio sobre o mundo, esclarece amplamente o significado a promessa de Jesus dobre o Reino de Deus. Apesar de ter sido proferida há muitos séculos atrás, esta promessa tem hoje uma enorme importância.

No Livro da Certeza, Bahá’u’lláh afirma que a soberania que Deus detém no Seu reino não se assemelha à soberania mundana e temporal exercida por dirigentes políticos. Bahá’u’lláh salienta que todos os Profetas de Deus foram perseguidos pelos seus inimigos, sentiram a apatia da população em geral, e até foram traídos por alguns dos que lhes eram mais próximos:
E agora pondera isto no teu coração: se soberania significasse a soberania terrena e o domínio mundano, se implicasse a sujeição e a lealdade aparente de todos os povos e famílias da terra – com a qual os Seus amados devem ser exaltados e viver em paz, e os Seus inimigos devem ser humilhados e atormentados – essa forma de soberania não seria verdadeira do Próprio Deus, a Fonte de todo o domínio, Cuja majestade e poder todas as coisas testemunham. (Bahá’u’lláh, The Book of Certitude, ¶133)
Em vez disso, os ensinamentos Bahá’ís afirmam que a soberania de Deus se refere ao poder criativo que envolve tudo o que existe na criação e reflecte Deus como Criador. Através deste poder criativo, Deus apresenta instrumentos adequados para orientação da humanidade; são os profetas de Deus: Jesus, Maomé, BudaBahá’u’lláh e outros. Como Criador transcendente e invisível do Universo, Deus está separado da sociedade humana. Mas falando através dos Seus profetas e mensageiros, Ele guia, dirige e participa nos eventos e assuntos que ligam as vidas individuais e colectivas dos seres humanos.

Cada um de nós tem capacidade para aceitar ou rejeitar voluntariamente a mensagem de Deus. Os profetas ao transmitir as palavras divinas à humanidade não usam a tremenda soberania irresistível de Deus para forçar as pessoas à submissão. Em vez disso, esses profetas são reis no espírito, e não reis na sociedade para quem se dirigem. Os que ouvem e lêem as palavras de Deus devem pô-la em prática por sua própria iniciativa, exemplificando-a nas suas próprias vidas, e num contexto social mais amplo isso poderá tornar-se um verdadeiro Reino de Deus:
E, no entanto, não é o objectivo de toda a Revelação efectuar uma transformação em todo o carácter da humanidade, uma transformação que se manifestará, exteriormente e interiormente, que afectará tanto a sua vida interior como as suas condições externas? Se o carácter da humanidade não mudasse, a inutilidade dos Manifestantes universais de Deus seria evidente. (Baha’u’llah, The Book of Certitude, ¶270)
Deus deixa que as pessoas construam e reflictam o Seu reino na Terra.

O Livro da Certeza e outras Escrituras Bahá’ís apresentam uma visão do Reino de Deus que se refere à vida interior da alma e à ordem social que envolve todas as pessoas.

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Texto original: Where Can We Find the Kingdom of God? (www.bahaiteachings.org)

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Greg Hodges é um apaixonado pela combinação da mudança social com a renovação espiritual. Vive com a sua esposa no Maine (EUA).

1 comentário:

Ramón Velásquez disse...

Maravilhoso! ☧