sábado, 27 de março de 2021

O que disse Jesus sobre a Ressurreição?

Por Tom Tai-Seale.


Sabe tu, em verdade, que o propósito subjacente a todos estes termos simbólicos e alusões abstrusas que emanam da Causa sagrada dos Reveladores de Deus tem sido testar e provar os povos do mundo, para que a terra dos corações puros e iluminados se distinga do solo árido e perecível. Desde os tempos imemoriais esse tem sido o caminho de Deus entre as Suas criaturas e disto dão testemunho os registos dos livros sagrados. (Kitab-i-Iqan, ¶53)

Com estas palavras de Bahá’u’lláh em mente, vamos analisar o que o próprio Jesus disse sobre a ressurreição.

Em Marcos (12:18ss), Jesus disse aos saduceus que não acreditavam na ressurreição, que Abraão, Isaac e Jacob ainda estavam vivos no tempo de Moisés. Ele explicou que - porque Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos - quando Deus se identificou a Moisés como o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, isso significava que essas almas ainda estavam vivas. Daqui depreendemos que, para Jesus a palavra “ressurreição” refere-se à vida no mundo vindouro.

Em João (11:25), Jesus diz às irmãs de Lázaro que Ele é a ressurreição. É óbvio que Jesus ainda estava vivo; então o que podia significar isso? Talvez Jesus quisesse dizer que as pessoas podiam encontrar vida n’Ele; e/ou que Ele tinha a mesma identidade espiritual dos Profetas do passado e assim eles ressuscitavam n’Ele. Em qualquer dos casos, as palavras de Jesus sobre ressurreição nada tinham a ver com mortos que voltavam a viver.

Jesus também falou sobre o regresso do Filho do Homem (por exemplo, em Mateus 24). Seguindo a lógica anterior, esse novo surgimento do Filho do Homem também poderia ser considerado uma ressurreição, pois cada um deve ser a mesma coisa na sua essência; e cada um nascido da única substância de Deus.

Isso criou um enigma para os primeiros teólogos e clérigos cristãos. Depois de criar o mito da ressurreição física de Jesus, os criadores de mitos tiveram de deslindar uma forma de levar o Seu corpo de regresso ao céu.

A trabalho de base para isso já tinha sido iniciado na época em que as escrituras do Novo Testamento começaram a desenvolver-se. Acreditava-se que Elias tinha subido ao céu numa carruagem de fogo e um redemoinho (2 Reis 2:11) e a tradição rabínica dizia que três Profetas subiram vivos ao céu: Enoque, Moisés e Elias. Mais ou menos na mesma época em que os evangelhos estavam a ser escritos e transcritos, Claúdio Josefo também escreveu que na morte de Moisés: “uma nuvem apareceu de repente sobre ele e ele desapareceu num certo vale, embora tenha escrito nos livros sagrados que morreu, o que foi feito por medo, para que eles não se aventurassem a dizer que devido à sua extraordinária virtude ele foi até Deus.” Podemos ver aqui que o precedente literário tornou a ascensão física ao céu uma possibilidade naquela época, e é claro que as nuvens sempre serviram como um bom símbolo para qualquer coisa misteriosa.

Assim, os líderes da Cristandade determinaram que Jesus deveria ter subido aos céus numa nuvem. Esta ideia poderia ter funcionado numa época em que as pessoas acreditavam num céu físico – mas não funciona agora, porque sabemos que não existe um céu físico. Se existisse, poderíamos ver os seus habitantes com um telescópio? Também surgem outras questões quando consideramos a ressurreição como sendo física e depois se pretende que os corpos sejam enviados para o céu. Os corpos físicos têm dificuldade para respirar enquanto sobem para a estratosfera.

Estes problemas com interpretações literais na religião levam-nos a questionar o nosso nível de entendimento espiritual. Tal como Bahá’u’lláh escreve no Livro da Certeza, os Profetas e Mensageiros de Deus esperam que vejamos mais do que aquilo que é físico, material e óbvio. Eles esperam que vejamos uma realidade mais espiritual e mística; ver além daquilo que os nossos cinco sentidos podem perceber; ver com os olhos do espírito; alimentar as nossas almas numa “terra de corações puros e iluminados”.

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Texto Original: What Jesus Said About the Resurrection (www.bahaiteachings.org)


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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas AM University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahá’í: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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