O título Bahá'u'lláh significa "a Glória de Deus" - e no Livro do Apocalipse, Jesus anunciou a vinda da "Glória de Deus":
A cidade também não precisa do Sol ou da Lua para a alumiar. A glória de Deus ilumina-a e a sua lâmpada é o Cordeiro. (Apocalipse 21:23)
Agora o que é – ou quem é – a “Glória de Deus”? É uma boa pergunta. Mas, primeiro, porque é que esse versículo é importante, especialmente para os Bahá'ís?
Esta profecia do livro do Apocalipse é surpreendentemente parecida com as profecias de Jesus nos Evangelhos:
O Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então há de recompensar cada um segundo o seu procedimento. (Mateus 16:27)
Portanto, se alguém dentre esta gente infiel e pecadora tiver vergonha de mim e do que eu ensino, também o Filho do Homem, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos, terá vergonha dessa pessoa. (Marcos 8:38)
Se alguém tiver vergonha de mim e do que eu ensino, também o Filho do Homem terá vergonha dessa pessoa, quando vier na sua glória e na glória de seu Pai e dos santos anjos. (Lucas 9:26)
Claramente, Jesus e os Seus discípulos descreveram a Sua segunda vinda como a “glória de Deus” e também como a “glória do Seu Pai”. Ambas as expressões parecem ser termos equivalentes.
Recorde-se, porém, que o livro do Apocalipse foi escrito por João de Patmos, que disse que o conteúdo veio de Jesus, conforme o versículo de abertura:
Este livro contém a revelação de Jesus Cristo que ele recebeu de Deus, para a dar a conhecer aos seus servos. Trata-se de coisas que hão de acontecer brevemente e que Cristo deu a conhecer ao seu servo João por um anjo que lhe enviou. (Apocalipse 1:1)
O versículo principal desse livro da Bíblia - Apocalipse 21:23 – tem uma importância acrescida para os Bahá'ís, especialmente porque Bahá'u'lláh o citou diretamente numa das Suas Epístolas, como podemos ver na seguinte tradução provisória de uma Epístola para Hájí Ilyáhú Cohen (o primeiro entre os judeus de Kashan, Irão, a abraçar a Fé Bahá'í), no qual Bahá'u'lláh proclama:
Neste dia, a Cidade de Deus apareceu e pode ser testemunhada com adorno perfeito. Esta é a Cidade na qual apareceu o Deus de todos os povos. Reflecte sobre estas palavras de João, que anunciou a grande Cidade sagrada e disse: “E não vi nenhum templo nela; porque o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro são o seu templo. E a cidade não precisava do sol, nem da lua, para ali brilhar; porque a glória de Deus o iluminou, e o Cordeiro é a sua luz”. – Bahá'u'lláh, citando Apocalipse 21:22–23, tradução provisória de Nahzy Abadi Buck e Christopher Buck, citado em “The Eschatology of Globalization: Baha’u’llah’s Multiple-Messiahship Revisited,” Studies in Modern Religions, Religious Movements and the Babi-Baha’i Faiths, p. 150.
Isso torna Apocalipse 21:23 parte integrante das Escrituras Bahá'ís. Também fica claro que Bahá'u'lláh queria chamar a atenção para este versículo chave como um "texto-prova" (como dizem os estudiosos) da própria missão de Bahá'u'lláh. Porquê? Porque Jesus – seja especificamente ou simbolicamente ou mesmo coincidentemente – prediz o advento de Bahá'u'lláh pelo nome. O estudioso Bahá'í Stephen Lambden explica:
A palavra árabe bahá, no entanto, encontra-se algumas vezes nas versões árabes do Novo Testamento e noutros escritos árabes. Um bom exemplo ocorre em Apocalipse 21:23, onde João de Patmos prediz: “E não vi nenhum templo na cidade, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro. E a cidade não precisa de sol ou lua para brilhar sobre ela, pois a glória de Deus (= Bahā'-Allāh) é a sua luz, e a sua lâmpada é o Cordeiro”.
Numa das suas Epístolas a um judeu bahá'í, Bahā'-Allāh [Bahá'u'llah] cita este versículo em árabe exatamente como foi impresso na edição de Londres de 1858 (1671) da Bíblia Árabe de William Watts para as Igrejas Orientais. – Stephen Lambden, “The Greek doxa in the New Testament and theophanic-messianic splendour in Christian Literatures”
Quem era este “judeu bahá'í” e como sabemos sobre ele? Tratava-se de Hájí Ilyáhú Cohen, também conhecido como Abdu'l-Husayn. Existem várias referências a Cohen no trabalho de Mousa Amanat sobre os Bahá'ís de Káshán: Mousa Amanat, Bahá'íyán-i-Káshán, editado por Noura Amanat-Samimi. Por exemplo:
- Mousa Amanat identifica Hájí Ilyáhú Cohen como um dos judeus que abraçaram a Fé durante o tempo de Bahá'u'lláh, quando Bahá'ís como Hájí Mírzá Haydar-'Alí e Mírzá Abu'l-Fadl visitaram Káshán para ali divulgar a Fé. – p. 39.
- Amanat afirma que Bahá'u'lláh deu a Cohen o título de Abdu'l-Ḥusayn. – Idem.
- Amanat descreve Cohen como “um dos primeiros a abraçar a Causa em Káshán, para onde voltava de tempos em tempos. Ele também era activo noutras regiões e cidades, como Teerão.” – pág. 42, tradução de Adib Masumian.
- Amanat salienta que o seu pai, Murad Amanat, caracterizou Cohen - que ele conhecia pessoalmente - como um rabino de mente aberta que acreditava no texto do Antigo Testamento e nas Escrituras dos profetas, e lamentava os comentários pessoais com os quais os rabinos tipicamente concluem os seus discursos depois de recitar passagens do Antigo Testamento.
- De acordo com Mousa Amanat, Cohen podia sentir que o jovem Murad Amanat também tinha a mente aberta e, assim, habituou-se a fazer com ele todo o tipo de comentários progressistas. Isso começou com Cohen a expressar a sua insatisfação com a prática dos rabinos acima mencionada, que depois evoluiu para uma negação dos aspectos do judaísmo que não faziam parte do Antigo Testamento. Nessa altura, Murad tinha-se distanciado dos clérigos judeus.
- Percebendo isso, Cohen sugeriu a Murad que aceitasse Jesus Cristo e, depois, aceitasse Muhammad - o que levou Murad a fazer a sua própria investigação. Mousa Amanat observa que, exactamente nessa época, Murad fez uma viagem de negócios a Hamadán, onde entrou em contacto com alguns Bahá'ís de origem judaica, e veio a abraçar a Fé após longas conversas com esses Bahá'ís. – p. 204.
- Amanat escreveu um breve relato biográfico de Cohen nas pags. 288-290. Inclui um excerto de um relato diferente de Cohen, escrito por um certo Mírzá Rayhán-i-Rayhání, e o texto de uma epístola persa revelada por Bahá'u'lláh para ele.
- Noutra epístola, encontrada por Adib Masumian e endereçada a uma pessoa chamada Abu'l-Hasan, Bahá'u'lláh cita Apocalipse 21:23 como um texto-prova numa linha semelhante. (Iranian National Baha’i Archives volumes, 105-volume private printing, Volume 28, pp. 447–463). A assinatura do copista acrescentada no final (o “colofão”) desta epístola indica que foi transcrita por Mírzá Áqá Ján Khádim, o secretário de Bahá'u'lláh.
NOTA: Para uma tradução provisória de toda a Epístola de Bahá'u'lláh para Hájí Ilyáhú Cohen, ver pp. 34–35 of: Táj-i-Vahháj: Crown of Glory. Memoirs of Jináb-i-Azíz’u’lláh Azízí. Translated from the original Persian by Nahzy Abadi Buck & Christopher Buck. (First published New York, 1988.) English translation edited by Hamid & Sandra Azizi. North Vancouver, B.C., 1991. [Privately published. Peer-reviewed by editors.] Publicado online (May 2, 2016): http://bahai-library.com/azizi_crown_glory. See also “Tablet to the Jews,” Section #47 of Baha’i Scriptures, pp. 116–117, http://bahai-library.com/compilations/bahai.scriptures/2.html#TabletJews. (Courtesy of cosmologist and data scientist, Steven Phelps, May 23, 2020.)
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Texto original: Jesus Foretold the “Glory of God” – Baha’u’llah (www.bahaiteachings.org)
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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.
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