sábado, 12 de novembro de 2022

A diferença crítica entre Cristo e o Criador

Por Tom Tai-Seale.


Cresci numa família Cristã, e nada sabia sobre teologia Cristã, excepto que estava relacionada com um conceito misterioso chamado Trindade e que Jesus era de alguma forma a encarnação de Deus.

Quando me tornei adulto, porém, percebi que sabemos muito pouco sobre a natureza do Criador, e questionei-me se a afirmação de que Deus se fez carne tem algum sentido racional. Na verdade, essa afirmação parece demasiado greco-romana; é algo que saiu da cultura da época, e não dos ensinamentos reais de Cristo.

Os custos dessa crença na encarnação foram enormes: criou-se uma barreira insuperável para a maioria dos Judeus em relação ao Cristianismo; permitiu que os Cristãos acreditassem que eram moralmente superiores aos Judeus e, consequentemente, tratá-los (aos Judeus e a outros) de forma vergonhosa; criou uma análise teológica inútil, interminável e "fabricante de hereges" dentro do Cristianismo; e colocou os Cristãos em conflito com todos os Muçulmanos.

Isto não significa que Jesus fosse apenas um homem comum - não era. Ele foi um Eleito de Deus, um mensageiro divino com uma missão divina, qualidades divinas, palavras divinas e actos divinos. Mas isso não o tornava Deus; isso fê-Lo agente de Deus - Seu filho, se preferirem - embora não haja necessidade de afirmar esta filiação de forma física. Nem há necessidade de nos deixarmos enredar pela metafísica do que significa ser o único filho preexistente de Deus. O aspecto mais importante é o seguinte: Jesus foi agente de Deus de uma forma diferente de nós, e as pessoas foram chamadas a segui-Lo.

Os ensinamentos Bahá’ís deixam isso claro. 'Abdu'l-Bahá escreveu:

... Os Bahá'ís dizem que a soberania de Cristo era uma soberania celestial, divina e eterna, e não uma soberania napoleónica que desaparece num curto espaço de tempo. Durante quase dois mil anos esta soberania de Cristo esteve estabelecida, e ainda persiste, e por toda a eternidade aquele Santo Ser será exaltado num trono eterno. (citado em Bahá’u’lláh and the New Era, pag. 6)

Mas alguns cristãos podem argumentar: E os milagres? Os milagres não provam que Jesus era Deus encarnado? Não!

Em primeiro lugar, nos tempos antigos, acreditava-se que muitas pessoas tinham feito milagres. Para perceber isso, basta ler Heródoto, que viveu quatrocentos anos antes de Cristo. Além disso, há milagres atribuídos, com ou sem razão, aos fundadores de todas as religiões e a muitos dos seus seguidores. Então, se acreditamos que a realização de milagres implica a existência de Deus encarnado, então, muitas pessoas teriam de ser Deus encarnado. Mas mesmo que uma pessoa fosse capacitada por Deus para fazer milagres, isso não a tornaria Deus. Significaria apenas que foi autorizada por Deus para fazer milagres. Assim, invocar os milagres para afirmar que uma pessoa foi Deus encarnado não é um argumento válido.

Na verdade, o Cristianismo teria ficado mais bem servido se os primeiros padres da igreja tivessem diminuído a sua obsessão em tentar explicar a realidade de Cristo, e simplesmente entendido Jesus como um agente divino portador da Palavra de Deus, e investido de uma majestade até então desconhecida. Ele não era apenas um homem, porque trouxe a Palavra de Deus e a Sua vida revelava uma santidade nunca vista; mas Ele não era o Criador do universo, embora tenha vindo dessa Fonte e tenha recebido autoridade para criar uma civilização.

Até mesmo o livro do Apocalipse tentou deixar clara a distinção crítica entre Jesus como homem e Deus. Quando o anjo, que era Jesus, anunciou que viria em breve (Ap 22: 7), João, recebendo a revelação, prostrou-se para adorar o anjo. O anjo, porém, repreendeu João dizendo: “Não faças isso! Eu estou ao serviço de Deus como tu e como os teus irmãos, os profetas, e como todos os que guardam as palavras deste livro. É a Deus que tu deves adorar."

Infelizmente, no Cristianismo, os padres da igreja não fizeram isso. Eles preocuparam-se com as definições obscuras e enfatizaram distinções cristológicas que até hoje desafiam a compreensão e a pertinência. Se eles se tivessem concentrado mais em promover uma vida cristã, talvez o mundo fosse um lugar melhor.

Erguer a maior estátua de Jesus do mundo ou a cruz mais alta do mundo - aparentemente a ocupação de muitos cristãos - não resolverá nenhum dos nossos problemas modernos. O objetivo do Cristianismo nunca foi a deificação de Jesus; era, e é, construir o reino de Deus na Terra, construir uma civilização celestial; não era construir ídolos gigantes.

Os ensinamentos Bahá’ís indicam que construir um reino espiritual aqui entre a humanidade sempre foi o objectivo de todos os profeta e todas as religiões. 'Abdu'l-Bahá escreveu:

Com um único propósito foram todos os Profetas, todos eles, enviados à Terra; foi por isto que Cristo Se manifestou; foi por isto que Bahá'u'lláh levantou o chamamento do Senhor: para que o mundo do homem se tornasse o mundo de Deus; para que este plano inferior se transformasse no Reino; esta escuridão, em luz; esta malvadez satânica, em todas as virtudes do céu - e a unidade, a fraternidade e o amor fossem conquistados em prol de toda a raça humana; para que ressurgisse a unidade orgânica e fossem destruídos os alicerces da discórdia, e assim a vida eterna e a graça eterna fossem a colheita da humanidade. (Selections From the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #15)

Assim, Cristo ou Buda ou Bahá’u’lláh trouxeram-nos a mensagem que nos permite construir o reino de Deus aqui na Terra; essa mensagem e o impulso sagrado por trás dela vieram diretamente do Ser Supremo.

----------------------------------
Texto Original: The Critical Distinction Between Christ and the Creator (www.bahaiteachings.org)


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas AM University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahá’í: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

Sem comentários: