Tendo crescido no Irão e sendo Bahá’í, o Naw-Ruz foi sempre a celebração mais significativa do ano para a minha família – por várias razões.
Todos os anos, alguns meses antes desta celebração especial, eu ficava entusiasmada para ir às compras com os meus pais para comprar roupas novas que pudesse usar no dia de Naw-Ruz. Também adorava preparar a nossa mesa Haft-Sin – uma tradição persa que envolve sete símbolos da vida – e, talvez sem surpresa, fiquei emocionada por não ter escola ou trabalhos de casa durante duas semanas. Famílias de todo o país juntavam-se às festividades, muitas vezes visitando os seus familiares e parentes mais velhos, e esquecendo-se de qualquer desavença do ano passado, para restaurar as suas relações e amizades.
Quando eu era criança, o Naw-Ruz significava principalmente pintar os ovos para o Haft-Sin e receber presentes dos meus avós. No entanto, ao ficar mais velha, compreendi que o Naw-Ruz está enraizado na tradição zoroastriana e é celebrado não só pelos iranianos, mas também por muitas outras etnias, e noutros países do Médio Oriente e da Ásia Central.
Aprendi também que o Naw-Ruz não é apenas um feriado de enorme significado cultural para alguns povos, mas também contém um grande significado religioso para os Bahá'ís, que o consideram um dia sagrado que assinala o início de cada novo ano, de acordo com o calendário Bahá'í. Por esta razão, o Naw-Ruz é observado de forma consistente e alegre pelos Bahá’ís em todo o mundo, como uma grande e festiva celebração religiosa que contém muitos níveis de significado e, portanto, muitas coisas para celebrar.
Talvez o significado mais óbvio do Naw-Ruz seja o início de um novo ano. Antes da chegada de cada Naw-Ruz, a minha família encontra momentos para reflectir sobre o ano que está a chegar ao fim e sobre aquele que está prestes a começar. Reflectimos sobre o que poderíamos ter feito para melhorar a qualidade das nossas vidas e quais planos e decisões que deveríamos tomar no futuro. Esta reflexão é facilitada pelo facto de o Naw-Ruz ser precedido pelo Jejum Bahá'í de 19 dias, no qual os Bahá'ís de todo o mundo revêem e meditam sobre o ano que passou, e esforçam-se por melhorar as suas qualidades e virtudes espirituais, tais como a paciência, o desprendimento e a firmeza. Durante o Jejum, os Bahá'ís acordam de manhã cedo para beber e comer antes do nascer do sol, e a minha família aproveita o tempo extra que isso proporciona para recitarmos orações juntos, desenvolvermos conversas espirituais, estudar as palavras de Deus, reflectir sobre o ano passado e estabelecer objectivos e planos para o ano seguinte.
Outro significado do Naw-Ruz, que também aprecio, é a sua coincidência com o primeiro dia de primavera no hemisfério norte. O meu espírito delicia-se com a maneira como tudo na natureza ganha uma nova vida e se revigora neste momento: as árvores desenvolvem-se, as flores desabrocham e as ervas voltam a crescer, tornando os campos verdes.
Além disso, para os Bahá'ís, as mudanças físicas, o crescimento e a novidade da primavera são símbolos de renovação espiritual:
O Ano Novo chegou e a primavera espiritual está próxima. (Tablets of Abdu’l-Baha Abbas, p. 318)
O que significa “primavera espiritual”? Considerando que a primavera é a época do ano em que todas as coisas se renovam, renascem e regeneram, os ensinamentos Bahá'ís usam-na como uma metáfora para a forma como Deus envia os Seus mensageiros e profetas à humanidade em todas as eras, sempre que uma renovação espiritual é necessária. Estes profetas expressam, em cada época, os ensinamentos espirituais intemporais das religiões do mundo (que muitas vezes foram esquecidos), enquanto fornecem novos ensinamentos divinos que permitem à humanidade progredir para a próxima fase da sua evolução social e espiritual. Tal como o sol faz renascer toda a vida material na primavera, estes mensageiros divinos fazem renascer a vida espiritual da humanidade.
Ó amigos! Incumbe-vos refrescar e reavivar as vossas almas com os graciosos favores que nesta Divina e comovente Primavera estão a ser derramados sobre vós. A Estrela Matinal da Sua grande glória derramou o seu brilho sobre vós, e as nuvens da Sua graça ilimitada cobriram-vos. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, p. 94)
Assim, para os Bahá’ís, o Naw-Ruz comemora não apenas o ano novo e as alegrias da primavera, mas também a alegria de ter recebido a nova mensagem de Deus para a humanidade neste momento da sua história e desenvolvimento. 'Abdu'l-Bahá escreveu:
Desejo que esta bênção suja e se manifeste nos rostos e nas características dos crentes, para que também eles se tornem um novo povo e, tendo encontrado uma nova vida e sido baptizados com fogo e espírito, possam fazer do mundo um novo mundo, para que a velha terra desapareça e a nova terra surja; que as velhas ideias se afastem e novos pensamentos surjam; que as velhas roupas sejam rejeitadas e roupas novas sejam usadas; que a política antiga, cujo fundamento é a guerra, seja abandonada, e a política moderna, baseada na paz, eleve o padrão da vitória; que a nova estrela brilhe e resplandeça e o novo sol ilumine e irradie; que as novas flores desabrochem, a nova primavera se torna conhecida; que a nova brisa sopre; que a nova dádiva seja transmitida; que a nova árvore dê novos frutos; que a nova voz se eleve e este novo som chegue aos ouvidos, que o novo suceda ao novo, e todos os adornos e decorações antigas serão postos de lado, e novas decorações colocadas nos seus lugares. (Tablets of Abdu’l-Baha Abbas, p. 38)
Neste espírito, o Naw-Ruz é uma ocasião perfeita para contemplar como podemos lutar, dia após dia, para crescer espiritualmente, servir a humanidade e esforçar-nos por melhorar o mundo.
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Texto original: The Many Meanings of the Baha’i New Year (Naw-Ruz) (www.bahaiteachings.org)
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Sanaz Khosravi é engenheira de software com bacharelato em ciência da computação pelo BIHE (Baha’i Institute for Higher Education) e Mestrado em engenharia de software pela San Jose State University. Sanaz nasceu e cresceu em uma família Bahá'í em Shiraz, no Irão, e mais tarde mudou-se para os EUA. Tem experiência em actividades comunitárias e trabalho com populações carentes. Sanaz trabalhou em vários projetos de tecnologia, como o Baha’i Daily. Actualmente trabalha como engenheira de software, ensina alunos do BIHE diversas disciplinas de ciência da computação; também escreve e faz traduções no seu tempo livre
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