Quando caminho ocasionalmente pelo lar de idosos onde vivo, noto sempre um dos sentimentos predominantes produzidos por estar nesta instituição e noutras semelhantes: a solidão.
Geralmente, quando pessoas idosas como eu são colocadas em lares de idosos, seja numa base voluntária como eu fiz, ou quando são forçadas a mudar-se para este tipo de instalações por membros da família que já não podem cuidar delas, o sentimento inicial pode ser de alívio – tanto para os idosos como para as suas famílias e cuidadores.
Seja como for, eu sei que foi assim para mim. Não queria ser um fardo para ninguém e, aqui no lar de idosos, sabia que teria os cuidados necessários 24 horas por dia.
Mas estas coisas têm um padrão previsível. No início, pelo menos durante algum tempo, dependendo do número de familiares e da distância que a família e os amigos têm de percorrer, ocorrem visitas frequentes e telefonemas frequentes. Depois, quando instalados e os familiares e amigos têm a certeza de que estamos bem tratados, a frequência das visitas e dos telefonemas pode diminuir, e até o tempo passado com os entes queridos no lar também se torna mais curto.
É então que surge a solidão.
Outras culturas podem não enfrentar este problema, uma vez que as suas tradições significam que tendem a manter os seus idosos por perto e podem até não ter lares de idosos para cuidar deles.
É claro que ninguém pode esperar que os entes queridos estejam constantemente conosco, ignorando as suas necessidades e as das suas famílias, colocando as suas próprias vidas em espera. Isto seria egoísmo por parte dos residentes de qualquer instituição de cuidados continuados.
Eis o melhor conselho que ouvi sobre este assunto dos ensinamentos Bahá’ís, apresentado por ‘Abdu’l-Bahá numa palestra que proferiu na cidade de Nova Iorque em 1912:
Todos deveríamos visitar os doentes. Quando estão tristes e em sofrimento, é uma verdadeira ajuda e benefício ter um amigo que visita. A felicidade é uma grande cura para aqueles que estão doentes. No Oriente é costume visitar frequentemente o doente, e fazê-lo individualmente. As pessoas do Oriente demonstram a maior bondade e compaixão pelos doentes e pelos que padecem. Isto tem um efeito maior do que o próprio medicamento. Deveis ter sempre este pensamento de amor e carinho ao visitar os doentes e os aflitos.
Posso dizer-vos, por experiência própria, que os residentes daqui, e provavelmente de todo o lado, tentam o seu melhor para pensar racionalmente sobre estas questões, mas muitas vezes têm a sensação de estar esquecidos e abandonados. Lembro-me que, quando fui voluntária numa residência para idosos durante alguns anos, antes de ficar doente, havia senhora em particular – uma veterana da Segunda Guerra Mundial – que dizia a todos para não a esquecerem. Era uma senhora maravilhosa, com grandes histórias para contar sobre a sua vida activa. Ela estava consciente da realidade da situação, mas ainda assim a sensação de solidão e o medo de ser esquecida era real e humana.
Eu própria tenho sentido isso. Com tudo o que me mantém ocupada diariamente, e apesar do sono, que agora ocupa uma boa parte da minha vida, por vezes a solidão ainda se manifesta.
Todos os residentes do lar de idosos sabem qual é a realidade, e sabemos que ninguém pode realmente fazer nada em relação à sua situação familiar, mas por vezes aflige-nos um sentimento de irrealidade ou de expectativa ilógica. É nesse momento que devo recorrer ao meu amigo mais próximo e verdadeiro, o Criador amoroso e misericordioso, e pedir a Deus força e pureza de coração. Também peço ajuda para ser paciente, em vez de continuar a perguntar-me quando poderei voltar para casa.
Nesta situação, devo, mais uma vez, repetir esta oração reconfortante atribuída a ‘Abdu’l-Bahá:
Ó Deus, refresca e alegra o meu espírito. Purifica o meu coração. Ilumina os meus poderes. Em Tuas mãos confio todos os meus interesses. És o meu Guia e o meu Refúgio. Não mais se apossarão de mim a tristeza e a ansiedade, mas sim, o contentamento e a alegria. Ó Deus, jamais me entregarei à aflição, nem permitirei que os desgostos me atormentem ou as coisas desagradáveis da vida me inquietem. Ó Deus, és mais meu amigo do que eu o sou de mim mesmo. Dedico-me a Ti, ó Senhor
O meu espírito, refrescado e alegre, ainda está a crescer – mas fisicamente estou a deteriorar-me gradualmente. Ainda tenho a sensação de estar viva e activa, mas a minha Síndrome de Raynaud está a agravar-se e isso, segundo o Dr. Google, pode ser uma das razões para os meus ataques isquémicos passageiros se tornarem mais frequentes – o que pode levar a um AVC. A Síndrome de Raynaud, pelo que percebi, significa que temporariamente não há fluxo de sangue suficiente para alguma parte do corpo e, no meu caso, pode ser uma parte do cérebro.
Isto preocupa-me porque se eu tiver um AVC e não morrer por causa dele, tornar-me-ei um fardo ainda maior para os outros – mas digo a mim mesmo: Então, o que acontece? Mais uma vez, entrego-me a Deus com o meu destino, repetindo: “Em Tuas mãos confio TODOS os meus interesses.” Isso acalma-me. E volto novamente a ser uma velha resmungona.
Eu ia dizer, para quê preocupar-me, a vida é demasiado curta. No entanto, parece que isto não se aplica a mim, uma vez que vivi muito mais tempo do que esperava devido a um cancro do qual já não estou a ser tratada, uma vez que o tratamento é claramente pior do que a doença. Como sempre digo, Deus tem um sentido de humor infinito.
Perceber isto mantém-me humilde, grata e alegre.
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Texto original: Loneliness at the End of This Life (www.bahaiteachings.org)
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Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.
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