terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A Virgem Maria: uma perspectiva Bahá'í


Em muitos livros e websites Bahá’ís onde se apresenta uma perspectiva sobre o Cristianismo, é frequente encontrar as seguintes palavras de Shoghi Effendi:
Quanto à posição do Cristianismo, diga-se sem qualquer hesitação ou equívoco que a sua origem divina é reconhecida incondicionalmente, que a Filiação e Divindade de Jesus Cristo são destemidamente declaradas, que a inspiração divina do Evangelho é plenamente reconhecida, que a realidade do mistério da Imaculabilidade da Virgem Maria é confessada, e o primado de Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, é mantido e defendido. (Shoghi Effendi, The Promised Day is Come, pag. 109)
Porque hoje muitos cristãos celebram a Imaculada Conceição, parece-me oportuno apresentar alguns excertos das Escrituras e de textos oficiais Bahá’ís que descrevem a perspectiva Bahá’í sobre a Virgem Maria. Uma breve análise destes Textos permite-nos perceber que a Mãe de Jesus é uma figura profundamente respeitada na Fé Bahá’í. Esse respeito, porém, não justifica qualquer culto mariano por parte dos Bahá’ís, nem a crença no nascimento virginal de Jesus eleva o Seu estatuto acima de qualquer outro Mensageiro de Deus.

Nas Escrituras Bahá’ís

Nas Escrituras Bahá’ís a expressão “Filho de Maria” é frequentemente usada nas referências a Jesus Cristo; na minha opinião o uso repetido desta expressão mostra-nos que a identidade de Jesus não é dissociável da Sua mãe. Das traduções em inglês das Escrituras Bahá'ís, a mais reveladora sobre Maria encontra-se no Kitab-i-Iqán (O Livro da Certeza):
De igual modo, deves reflectir sobre o estado e a condição de Maria. Tão profunda foi a perplexidade desse belíssimo semblante, tão penosa foi a sua situação, que ela lamentava amargamente ter nascido. Disto dá testemunha o texto do sagrado versículo onde se menciona que Maria, depois do nascimento de Jesus, chorou a sua situação e gritou: “Oxalá eu tivesse morrido antes disto e tivesse sido esquecida, completamente esquecida!”[1]. Juro por Deus! Essas lamentações consomem o coração e abalam o próprio ser. Tão grande consternação da alma, tão grande desespero, não foram causados senão pela censura do inimigo e pelos comentários dos infiéis e dos perversos. Reflecte: que resposta poderia Maria ter dado às pessoas ao seu redor? Como poderia ela afirmar que um Bebé Cujo pai era desconhecido tinha sido concebido pelo Espírito Santo? Por isso, Maria, aquele semblante velado e imortal, pegou na sua Criança e regressou ao seu lar. Logo depois, os olhos do povo caíram sobre ela e levantaram a voz dizendo: “Ó irmã de Araão! O teu pai não foi um homem perverso, nem a tua mãe foi impura.”[2]

E agora medita sobre esta grandiosa convulsão, esta dolorosa provação. Apesar de todas estas coisas, Deus conferiu àquela essência do Espírito, Àquele conhecido entre o povo como não tendo pai, a glória da missão Profética, e fez d’Ele um testemunho para todos os que estão na terra e no céu.

(Bahá’u’lláh, Kitab-i-Iqan, parágrafo 59)
Nas suas Palestras em Paris, ‘Abdu’l-Bahá descreveu a filiação divina de Jesus como um obstáculo que impedia as pessoas de O reconhecer como Manifestante de Deus:
Bahá'u'lláh disse: "Quando Cristo veio pela primeira vez Ele veio sobre as nuvens"[3]. Cristo disse que Ele tinha vindo do céu, do Paraíso - que Ele tinha vindo de Deus - apesar d’Ele ter nascido de Maria, a Sua Mãe. Mas quando Ele declarou que tinha vindo do céu, é óbvio que Ele não se referia ao firmamento azul; Ele falava do Paraíso do Reino de Deus, e que desse Paraíso Ele desceu sobre as nuvens. Tal como as nuvens são obstáculos para o brilho do sol, também as nuvens do mundo da humanidade ocultaram dos olhos da humanidade o esplendor da Divindade de Cristo.

Homens disseram: "Ele é de Nazaré, nascido de Maria, conhecemos Ele e conhecemos os seus irmãos. O que ele quer dizer? O que ele está ele a dizer? Que Ele veio de Deus?"

O Corpo de Cristo nasceu de Maria de Nazaré, mas o Espírito veio de Deus. As capacidades do Seu corpo humano eram limitadas, mas a força do Seu espírito era vasto, infinito, imensurável.

(‘Abdu’l-Bahá; Paris Talks, 27/October/1911)
Em Paris, e posteriormente nos Estados Unidos (ver The Promulgation of Universal Peace, p.201, 347, 450), ‘Abdu’l-Bahá recordou as palavras de Maomé sobre Jesus e Maria:
No Alcorão lemos que Maomé falou aos Seus seguidores, dizendo:

"Porque não acreditam em Cristo e no Evangelho? Porque não aceitam Moisés e os Profetas, pois a Bíblia é, certamente, o Livro de Deus? Na verdade, Moisés foi um Profeta sublime, e Jesus estava cheio do Espírito Santo. Ele veio ao mundo através do poder de Deus, nascido do Espírito Santo e da abençoada Virgem Maria. Maria, sua mãe, era uma santa do Paraíso. Ela passava os seus dias no Templo em oração e a comida era-lhe enviada do alto. O seu pai, Zacarias, foi ter com ela e perguntou-lhe de onde vinha a comida, e Maria respondeu «Do alto». Certamente, Deus enalteceu Maria acima de todas as outras mulheres".

Isto é o que Maomé ensinou ao Seu povo a respeito de Jesus e Moisés, e Ele repreendeu-os pela sua falta de fé nesses grandes Mestres, e deu-lhes lições sobre verdade e tolerância. Maomé foi enviado por Deus para trabalhar entre um povo tão selvagem e incivilizado quanto os animais selvagens.

(‘Abdu’l-Bahá; Paris Talks, 27/October/1911)

Nos Textos Autorizados Bahá’ís

A perspectiva Bahá’í sobre a Virgem Maria foi objecto de diversos esclarecimentos por parte de Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá’í. Os seus textos são considerados interpretações oficiais das Escrituras Bahá’ís, e por esse motivo a sua leitura é inseparável das Escrituras.

Nascimento Virginal de Cristo
"Primeiro, sobre o nascimento de Jesus Cristo: à luz daquilo que Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá afirmaram a respeito deste assunto, é evidente que Jesus veio a este mundo através da intervenção directa do Espírito Santo, e consequentemente, o Seu nascimento foi absolutamente milagroso. Isto é um facto estabelecido, e os amigos não têm que se sentir surpreendidos, pois a crença na possibilidade de milagres nunca foi rejeitada nos Ensinamentos. A sua importância, porém, tem sido minimizada".

(Lights of Guidance #1637; De uma carta datada de 31 de Dezembro de 1937, escrita em nome do Guardião a um crente individual)

Os milagres são sempre possíveis
"Mais uma vez, no que diz respeito à sua pergunta relativa ao nascimento de Jesus: Ele deseja que eu a informe que não há nada mais que ele possa acrescentar à explicação que ele lhe deu na sua comunicação anterior sobre este ponto. Para uma coisa, porém, ele deseja chamar novamente a sua atenção, nomeadamente, que os milagres são sempre possíveis, apesar de não constituírem um canal regular, pelo qual Deus revela o Seu poder à humanidade. Rejeitar os milagres na terra porque eles implicam uma violação das leis da natureza é um argumento muito superficial, quase obtuso, na medida em que Deus, Que é o autor do universo pode, na Sua sabedoria e Omnipotência, realizar qualquer mudança, mesmo que temporária, na operação das leis que Ele próprio criou.

"Os Ensinamentos não nos falam de qualquer nascimento milagroso além de Jesus."

(Lights of Guidance #1638; De uma carta datada de 27 de Fevereiro de 1938, escrita em nome do Guardião a um crente individual)

Os Ensinamentos Bahá'ís estão acordo com Doutrinas da Igreja Católica sobre o nascimento virginal
"Em relação à sua pergunta sobre o Nascimento Virginal de Jesus: quanto a este ponto, como em vários outros, os Ensinamentos Bahá'ís estão em pleno acordo com as doutrinas da Igreja Católica. No "Kitáb-i-Íqán" (Livro da Certeza) e em algumas outras Epístolas ainda não publicadas, Bahá'u'lláh confirma, ainda que indirectamente, o conceito católico do nascimento virginal. Também 'Abdu'l-Bahá no "Respostas a Algumas Perguntas", Cap . XII, afirma explicitamente que "Cristo veio à existência através do Espírito de Deus", uma declaração que implica, necessariamente, quando visto à luz do texto, que Jesus não era filho de José ".

(Lights of Guidance, #1639; de uma carta datada de 14 de Outubro de 1945, escrita em nome do Guardião a um crente individual)

Os irmãos e as irmãs de Cristo nasceram de forma natural
"Nós acreditamos que Cristo só foi concebido imaculadamente. Os Seus irmãos e irmãs terão nascido de forma natural e concebidos de forma natural."

(Lights of Guidance, #1640; De uma carta escrita em nome do Guardião ao Dr. Shook, 19 nov 1945:. Bahá'í News, No. 210, p 3, Agosto de 1948)
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NOTAS:
[1] - Alcorão 19:22
[2] - Alcorão 19:28
[3] - João 3:13

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