No livro "A Desilusão de Deus" ("Deus, um delírio", na edição brasileira), Richard Dawkins escreve a propósito das religiões:
As religiões são organizadas por pessoas: por padres e bispos, rabinos, imãs e aiatolas. Mas, repetindo o que disse a respeito de Martinho Lutero, tal não quer dizer que elas resultaram da concepção ou do desígnio de pessoas concretas. [p.246]Parece-me importante nestas palavras o facto do Prof. Dawkins sentir a necessidade de fazer distinção entre a religião enquanto instituição e a religião na sua forma revelada/inspirada. Temos de reconhecer que os ensinamentos, leis, rituais e dogmas das instituições religiosas encontram-se - não raramente - afastados daquilo que são os ensinamentos originais de um Manifestante de Deus (como Moisés, Jesus, Maomé, Buda); em alguns casos, as leis e ensinamentos das religiões são uma autêntica perversão dos ensinamentos originais do Mensageiro fundador dessa religião.
No fundo o Prof. Dawkins aponta para a grande tragédia da religião: os crentes recordam o Mensageiro e esquecem a Mensagem.
Na minha opinião a religião onde existe uma articulação consistente entre a revelação e a instituição é a Fé Baha’i. Na verdade, as figuras centrais desta religião definiram de forma clara e precisa a forma como os crentes se deviam organizar enquanto comunidade religiosa (que instituições deveriam existir, que competências teriam, como se relacionariam com os crentes, quem teria o poder de interpretação sobre as Escrituras,...). Este facto devia merecer a atenção de todos os que se entregam ao estudo da Ciência das Religiões.
3 comentários:
Excelente observação!
Gosto muito de ler seu blog!
Abraços!
É uma observação bastante curiosa, vindo da parte de Dawkins. Mas concordo que a questão da administração bahá'í deve ser objeto de estudo. Para ser mais exato, na prática isto já acontece, pois vários de seus princípios estão cada dia mais disseminados e aquilo que as instituições entendem como inovadoras já são praticados há muito pela Instituições da Fé.
Carlos Moreira,
Eu digo que deve ser objecto de estudos académicos independentes; isso é diferente de estudos feitos por pessoas que estão num "processo conversão". São coisas distintas.
Existem duas características que distinguem a as estruturas administrativas da Fé Bahá'í das existentes noutras religiões:
1 - Houve uma sucessão de autoridade feita de forma inequivocamente legitima;
2 - As instituições não foram criadas pelos crentes (ou pela pretensa inspiração divina destes) mas antes pelos próprios fundadores desta religião.
Na minha opinião, isso só por si, deveria despertar a curiosidade dos académicos.
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