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Rio Tigre, Bagdade (1918) |
Desde a sua criação, a religião Bahá’í tem enfrentado pressão e perseguição no Médio Oriente em geral, e no Iraque, em particular. Muitos dos seus seguidores foram mortos e os seus locais sagrados destruídos. Os Bahá’ís foram submetidos a investigações e perseguições durante diferentes períodos. Uma série de textos provocatórios foram produzidos contra os Bahá'ís, instigando à violência contra eles. Eles foram acusados de uma série de delitos, como a debilitação da religião para pregar o ateísmo, pornografia, descritos como fruto do colonialismo e do sionismo, e a lista continua.
Não há estatísticas oficiais sobre os Bahá’ís no Iraque, e seu número exacto ainda é desconhecido, devido ao medo dos aderentes em revelar as suas identidades. O correspondente do Al-Monitor reuniu-se com vários Bahá'ís em Bagdade e Sulaimaniyah na região do Curdistão iraquiano. No entanto, nenhum dos entrevistados apresentou estatísticas sobre os seus números, devido à sua dispersão, como resultado do medo profundo de ser hostilizado por autoridades e cidadãos comuns. Apesar disso, os Bahá’ís em Sulaimaniyah sentem-se mais seguros e têm mais estabilidade do que os seus irmãos em Bagdade, ainda que se coíbam de praticar abertamente a sua fé pelas razões acima mencionadas.
Durante a monarquia, os Bahá’ís podiam declarar oficialmente a sua identidade. A comunidade Bahá’í iraquiana foi fundada em 1931; o primeiro fórum central Bahá’í foi fundado em 1936 na região de al-Sa'doun; e possuíam um cemitério no distrito de Nova Bagdade, desde 1952, conhecido como o "jardim eterno". O governo iraquiano registou a religião Bahá’í no censo de 1957.
As restrições aos Bahá’ís começaram a crescer gradualmente após a queda da monarquia, até que a repressão atingiu o seu auge durante o regime Baath. Nessa altura, o governo publicou um conjunto de decretos contra os Bahá’ís em 1970 no Diário Oficial do Iraque. Nestes decretos, a religião Bahá’í foi oficialmente proibida, os Bahá’ís foram privados de todos os seus bens e proibidos de registar a sua religião nos registos civis. Além disso, foram obrigados a apagar as referências à Fé Bahá’í nos registos existentes e a substituí-los por uma das três religiões abraâmicas oficialmente reconhecidas. Posteriormente, um grande número de seguidores foi preso e muitos seguidores religiosos Bahá’ís foram condenados à morte no final de 1970.
Estes riscos levaram os Bahá’ís a querer fechar-se completamente ou a deixar o Iraque. Apesar da abertura que se seguiu à queda do regime do deposto presidente Saddam Hussein, em 2003, os Bahá’ís no Iraque ainda permanecem na penumbra, vivendo com medo de declarar a sua identidade social e preferindo não praticar a sua religião em público.
Uma mulher Bahá’í disse ao Al-Monitor, que depois de ser libertada da "prisão" do regime de Saddam Hussein, sentiu que se tinha mudado de uma pequena prisão para uma sociedade, mais dura e mais violenta do que a anterior. A vida na "prisão", afirmou, costumava protegê-la da cultura de exclusão para com os Bahá’ís que prevalece na sociedade iraquiana.
Saad Salloum, um especialista em minorias iraquianas, disse ao Al-Monitor que a mudança de regime em 2003, em nada alterou a situação dos Bahá’ís. A religião Bahá’í ainda é oficialmente proibida e os Bahá’ís continuam sem permissão para indicar a sua religião nos registos civis. Ainda não recuperaram os seus bens confiscados e os decretos publicados contra eles não foram abolidos.
Casa de Bahá'u'lláh em Bagdade |
No entanto, Salloum declarou que o lugar tinha sido demolido numa tentativa de desencorajar os Bahá’ís, que não foram dissuadidos e mostrou disponibilidade para o reconstruir, se tivesse oportunidade.
No plano religioso, várias fatwas foram publicadas por estudiosos xiitas em Najaf e Qom apresentam uma perspectiva diferente sobre a religião Bahá’í, incluindo um nível de tolerância para com esta. A principal destas fatwas relacionadas com Bahá’ís foi publicada Ayatollah Hossein Ali Montazeri em 2009. Nesta pede-se respeito pelos seus direitos como cidadãos, apesar das diferenças religiosas entre eles e os muçulmanos.
Um estudo intitulado "Um Olhar Histórico sobre as Minorias Religiosas do Iraque: História e Crenças", foi publicado por Jawad al-Khoei, professor do seminário xiita de Najaf. Este estudo inclui uma visão científica e neutra em relação a todas as religiões do Iraque - incluindo os Bahá’ís - reflectindo uma maior abertura ao nível das elites religiosas. Além disso, o jornalista iraniano Mohammad Nourizad, que se opõe à autoridade absoluta de Velayat-e faqih (regime de juristas islâmicos), visitou a casa de uma família Bahá’í para lhes apresentar um pedido de desculpas oficial pela perseguição política e social e violência que sofreram ao longo dos anos nas mãos da maioria muçulmana. Este gesto foi recebido de forma positiva, e algumas páginas de iraquianos no Facebook apelaram a que um acto semelhante se realizasse pelo lado iraquiano.
Os Bahá’ís do Iraque esperam ser reconhecidos oficialmente, ter segurança e protecção judicial, permissão para afirmar a sua identidade, praticar os seus rituais religiosos e recuperar as suas propriedades, especialmente as de valor simbólico e religioso.
Ali Mamouri é um investigador e escritor, especializado em religião. Foi professor em universidades iranianas e seminários no Irão e no Iraque. Publicou vários artigos relacionados com assuntos religiosos nos dois países e as transformações sociais e sectarismo no Médio Oriente.
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FONTE: Iraq's Baha'is Continue to Face Persecution, Social Exclusion (Al-Monitor)
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