sábado, 16 de novembro de 2019

Aliança e Administração: um Projecto Divino

Por Maya Bohnhoff.


O dicionário define a palavra “aliança” como “laço entre pessoas ou entidades que se prometem mútuo auxílio; pacto; acordo”. Mas o que significa “aliança” num contexto religioso ou teológico?

Quando comecei a investigar a Fé Bahá’í, eu era abertamente hostil. A minha jornada até à fé teve diversas etapas de investigação. Talvez por isso os textos místicos de Bahá'u'lláh, “Os Sete Vales” e “Os Quatro Vales”, são os meus preferidos. Mas além do estudo da vida e Escrituras de Bahá'u'lláh e de 'Abdu'l-Bahá - e de as comparar e contrastar com a minha experiência pessoal de fé enquanto crente em Cristo - houve uma coisa que me pareceu surpreendente e revolucionária na Fé de Bahá'u'lláh: a ordem administrativa Bahá’í e a Aliança Bahá’í que a criou.

Como sabemos, a Fé Bahá’í não tem clero. A sua organização administrativa – constituída por instituições eleitas democraticamente a nível local, nacional e internacional – toma as decisões que governam a comunidade Bahá’í de uma forma única e sem precedentes: envolvendo todos os crentes.

Era diferente de tudo o que já tinha visto, ouvido, ou sonhado ser possível. Vou descrever essa ordem administrativa o melhor que puder, noutros artigos; mas por agora quero explorar a sua característica mais visível: os seus alicerces assentam numa Aliança entre Deus, Bahá'u'lláh, os Bahá'ís e toda a humanidade

Quando descobri os ensinamentos Bahá’ís, eu era Cristã e já compreendia o conceito de Aliança. As Escrituras que eu conhecia – a Bíblia – descrevem a nossa relação com Deus na forma de uma Aliança, simbolizada no arco-íris de Noé, a arca de Moisés, e aos rituais Cristãos do baptismo e da eucaristia. Mas a Fé Bahá’í pedia-me que entendesse este conceito de outra maneira.

Segundo dicionário, uma aliança religiosa é um “acordo que cria uma relação de compromisso entre Deus e o Seu povo”. Assim, temos duas partes nesta Aliança: Deus e a humanidade. Cada parte tem deveres na relação com esta aliança; cada um faz as suas promessas. Deus promete a guia eterna e uma existência espiritualmente enriquecida; Os crentes prometem obediência à Palavra de Deus.

Isto não é uma disposição arbitrária. Como Bahá'u'lláh escreve:
Aqueles que Deus dotou com discernimento reconhecerão prontamente que os preceitos estabelecidos por Deus constituem o meio mais elevado para manutenção de ordem no mundo e segurança dos seus povos. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CLV)
Como referi anteriormente, o conceito de aliança entre Deus e a humanidade está registada em Escrituras que têm milhares de anos. ‘Abdu’l-Bahá - o filho mais velho de Bahá’u’lláh e centro da Sua Aliança - descreveu-a assim:
Sua Santidade Abraão, que a paz esteja com Ele, fez uma aliança em relação a Sua Santidade Moisés e deu as boas-novas da Sua vinda. Sua Santidade Moisés fez uma aliança em relação ao Prometido, ou seja, Sua Santidade Cristo, e anunciou as boas novas da Sua Manifestação ao mundo. Sua Santidade Cristo fez uma aliança em relação ao Paracleto e deu as boas novas da Sua vinda. Sua Santidade o Profeta Maomé fez uma aliança em relação a Sua Santidade o Báb… O Báb fez uma Aliança em relação à Beleza Abençoada de Bahá’u’lláh e deu as boas novas da Sua vinda, pois a Beleza Abençoada era o Prometido por Sua Santidade o Báb. Bahá’u’lláh fez uma aliança em relação a um Prometido que se manifestará após mil ou milhares de anos. (Baha’i World Faith, p. 358)
Note-se que ‘Abdu’l-Bahá refere especificamente o lado de Deus na Aliança – Aquele que sempre guiará a humanidade. Os ensinamentos Bahá’ís descrevem como cada educador e guia da humanidade faz uma aliança com outro que surgirá no futuro:
Os Portadores da Confiança de Deus tornam-se manifestos aos povos da terra com Expoentes de uma nova Causa e Reveladores de uma nova Mensagem. Uma vez que estas Aves do Trono celestial são enviadas do paraíso da Vontade de Deus, e porque todos eles se erguem para proclamar a sua Fé irresistível, eles devem, portanto, ser considerados como uma alma e a mesma pessoa, pois todos bebem do Cálice do amor de Deus, e todos partilham o fruto da mesma Árvore da Unicidade. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XXII)
Abraão, Krishna, Zoroastro, Buda, Cristo, Maomé e Bahá'u'lláh, cada manifestante de Deus (tal como Bahá’u’lláh os designa) faz parte de uma ponte prometida e eterna entre nós e Deus. Cada um destes avatares, educadores ou profetas universais que invariavelmente oferecem a vida espiritual eterna e em troca os seres humanos devem amar-se uns aos outros.

No próximo ensaio desta série vamos explorar a aliança de Bahá’u’lláh e a forma como esta constitui a base espiritual da ordem administrativa Bahá’í.

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Texto original: Covenant and Administration: A Divine Design (www.bahaiteachings.org)

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

2 comentários:

Raquel disse...

Olá Marco, e onde está o artigo que vem referido no final do texto sobre a Aliança de Baha'u'llah?

Marco Oliveira disse...

Dizes o texto original deste artigo?
É este:
https://bahaiteachings.org/covenant-administration-divine-design