sábado, 7 de março de 2020

Qual a diferença entre a Quaresma e o Jejum Bahá’í?

Por Kitty Lutness.


O mês de Março é o mês do Jejum Bahá’í e também costuma ser o tempo da Quaresma; há, portanto, milhões de pessoas em todo o mundo a jejuar ou prestes a começar o jejum.

Quase todas as religiões do mundo incluem o jejum como prática espiritual. Muitas têm excepções para crianças, mulheres grávidas, idosos, pessoas com doenças graves, etc. O jejum não pretende pôr em risco a saúde ou a vida de ninguém - pretende ser uma experiência significativa e até agradável.

Os Bahá’ís entre os 15 e os 70 anos abstêm-se de comida e bebida, entre o nascer e o pôr-do-sol, durante 19 dias neste mês, se forem capazes. Os ensinamentos Bahá’ís afirmam:
O jejum é de dois tipos: material e espiritual. O jejum material é a abstenção de comida e bebida, isto é, dos apetites do corpo. Mas o jejum espiritual significa que o homem se abstenha das paixões do ego… (‘Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 3, p. 305)
Este mesmo assunto – o jejum como símbolo de abstenção dos desejos do ego – surge em muitas religiões.

Os Católicos Romanos jejuam e abstêm-se de carne na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa, e abstêm-se de carne em todas as sextas-feiras da Quaresma. Durante séculos, os Católicos estiveram proibidos de comer carne em todas as sextas-feiras, mas na década de 1960, a abstenção de carne fora da Quaresma passou a ser opcional. Na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa, são permitidas duas pequenas refeições ou uma refeição normal; a carne é proibida. Nas sextas-feiras, algumas pessoas substituem o jejum opcional por uma penitência diferente ou por uma oração. Na perspectiva Católica, o jejum ensina a controlar os desejos da carne, é uma penitência pelos pecados e uma forma de solidariedade com os pobres. O jejum da Quaresma prepara a alma para uma grande festa. O jejum de Sexta-Feira Santa assinala o dia em que Cristo foi martirizado.

Na igreja Ortodoxa Oriental, existem vários períodos de jejum, incluindo a Quaresma, o Jejum dos Apóstolos, o Jejum da Natividade e vários jejuns que duram apenas um dia. Todas as quartas-feiras e sextas-feiras são consideradas dias de jejum, excepto aquelas que coincidem com as “semanas sem jejum”. Em geral, a carne, os produtos lácteos e os ovos são proibidos nos dias de jejum. O peixe é proibido em alguns dias de jejum, mas permitido noutros. Segundo a igreja Ortodoxa Oriental, o jejum fortalece a resistência à gula e ajuda a pessoa a aproximar-se da graça de Deus.

Os Budistas também fazem períodos de jejum, geralmente nos dias de lua-cheia e noutros feriados. Dependendo da tradição Budista, o jejum geralmente significa abstenção de alimentos sólidos, sendo permitidos alguns líquidos.

O jejum Hindu é uma prática comum na Lua Nova e durante certos festivais. O jejum pode significar 24 horas de abstenção total de comida e bebida, mas é mais comum a abstenção de alimentos sólidos, sendo permitida beber ocasionalmente leite ou água. Na prática Hindu, o jejum melhora a concentração durante a meditação ou adoração, e também purifica o corpo.

No Judaísmo, o Yom Kippur – o Dia da Expiação – é o mais conhecido dos dias de jejum. O calendário Judaico também tem outros seis dias de jejum, incluindo o Tisha B’Av, o dia solene da destruição do Templo. No Yom Kippur, comer e beber são proibidos durante 25 horas, desde o pôr-do-sol num dia até ao anoitecer do dia seguinte. Nos outros dias de jejum Judaico, comer e beber é apenas proibido do nascer ao pôr-do-sol, aproximadamente durante 12 horas de luz solar, tal como o jejum Bahá’í. Para os Judeus, o jejum serve para expiação ou para fazer pedidos especiais a Deus.

O Ramadão, o nono mês do calendário Muçulmano, celebra o período em que o Alcorão começou a ser revelado a Maomé. Há vários costumes islâmicos que recomendam dias e períodos de jejum além do Ramadão. Durante o Ramadão, os fiéis abstêm-se de comida, bebida e outros prazeres desde o nascer ao pôr-do-sol.

Para os Cristãos protestantes, o jejum varia consoante o critério das igrejas, organizações, comunidades ou indivíduos. O tipo de jejum também fica à discrição de quem decide fazê-lo. Algumas pessoas abstêm-se completamente de comida e bebida; outras apenas bebem água ou sumo, comem apenas alguns tipos de alimentos, ou abstêm-se de tentações, comestíveis ou não. Os jejuns Evangélicos tornaram-se populares nos anos recentes, com os crentes a jejuar por alimento espiritual, em solidariedade com os pobres, contrariando a cultura moderna de consumismo, ou tentando fazer um pedido especial a Deus.

Alguns Cristãos jejuam pelo seu desenvolvimento espiritual pessoal. Episcopalianos, Luteranos e muitas outras igrejas Protestantes apelam à oração e ao jejum, frequentemente com o propósito de ajudar os seus membros a sentir uma ligação com aqueles que têm fome ou sofrem. Exemplo: a ELCA (Evangelical Lutheran Church of America) encoraja “40 dias de esmolas durante a Quaresma.

Mesmo pessoas que não se consideram religiosas podem optar por jejuar por motivos de saúde, e para chamar a atenção para problemas como a pobreza, a fome, a guerra ou a injustiça. No caso da campanha “40 bags in 40 days”, as pessoas pretendiam desprender-se de bens materiais, doando coisas que já não precisavam e que pudessem ser úteis aos outros. Este gesto tem uma componente pessoal e emocional.

E há ainda outras pessoas que aproveitam este mês para abandonar maus hábitos, como fumar, fazer mexericos, comer em demasia, etc.

O jejum Bahá’í, que as Escrituras Bahá’ís designam como “um sinal exterior do jejum espiritual…” relaciona a abstenção de alimento e bebida com o “assumir as características do espírito:”
... este jejum material é um sinal exterior do jejum espiritual; é um símbolo de contenção, de negação aos apetites do ego, de assumir as características do espírito, de ser levado pelos sopros do céu e apanhar o fogo do amor de Deus. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, p. 70)
Seja qual for o motivo, desejo-vos um feliz jejum!

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Texto original: What’s the Difference Between Lent and the Baha’i Fast? (www.bahaiteachings.org)

Kitty Hodges Lutness e o seu marido Mark casaram há 46 anos e são Bahá’ís há 45 anos. Vivem no Arizona (EUA).

1 comentário:

Unknown disse...

Muito informativo. Obrigado pela publicação.