quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Quem deve receber a vacina? E quando?

Por David Langness.



Entrámos finalmente no último mês deste horrendo ano de 2020. Foi um ano difícil – uma pandemia global deu a todos nós uma boa razão para ficarmos angustiados. As vacinas estão a chegar. Mas estarão disponíveis para todas as pessoas?

Antes de analisar este problema premente, vamos recuar um pouco, usar a ciência e ver como estamos um ano após o início desta doença. 
  • A pandemia global do coronavírus começou no início de 2020, após a primeira infecção ter sido conhecida em 1 de Dezembro de 2019.
  • Este novo vírus, chamado COVID-19 (abreviatura de COronaVIrus Disease 2019) ou SARS-CoV-2 (que significa Severe Acute Respiratory Syndrome Corona Virus 2) é um vírus ARN de cadeia simples positiva; é altamente contagioso e provavelmente terá tido origem em morcegos, e não existente nos humanos (o que significa que não temos imunidade).
  • O vírus é mortal, transmite-se rapidamente entre pessoas assintomáticas e continua a espalhar-se de forma descontrolada. Em todo o mundo existem cerca de 60 milhões de pessoas que contraíram a doença; neste último ano, o vírus foi a causa de morte de cerca de 1,5 milhões de pessoas. Segundo os peritos de saúde pública, estes números subestimam a totalidade de casos reais de contágios e mortes. 
  • No espaço de um ano, a doença provocou a maior recessão económica global desde a Grande Depressão, causando a perda de milhões de empregos em todo o mundo.
Estes factos levaram a comunidade científica a um esforço global sem precedentes com o objectivo de desenvolver uma vacina preventiva, terapêuticas ou uma cura. Como resultado, estão a ser desenvolvidas centenas de vacinas. Mas será necessário mais do que vacinas para acabar com a crise do Coronavírus – vai ser necessário garantir que todos os seres humanos têm acesso equitativo às vacinas.

Equidade nas Vacinas


Os ensinamentos Bahá’ís pedem que todos pratiquemos justiça e equidade, os dois princípios orientadores que Bahá’u’lláh, o fundador da Fé Bahá’í, descreveu como “guardiões gémeos que cuidam dos homens”. No Seu livro Epístola ao Filho do Lobo, Bahá’u’lláh escreve sobre estes princípios, chamando-lhes “… a causa do bem-estar do mundo e protecção das nações.

O ensinamento central da Fé Bahá’í – a unicidade da humanidade – pede-nos que reconheçamos a nossa unidade e interdependência em relação aos outros, e que sejamos justos e equitativos para com toda a família humana. Bahá’u’lláh explicou que “… a equidade é a mais fundamental de todas as virtudes humanas. A avaliação de todas as coisas deve necessariamente depender dela.

'Abdu'l-Bahá, filho e sucessor de Bahá’u’lláh, escreveu extensamente sobre este tema da equidade humana:

O Reino de Deus assenta na equidade e na justiça, e também na misericórdia, compaixão e gentileza para com todas as almas existentes. Esforçai-vos com todo o vosso coração para tratar compassivamente toda a humanidade.

Sede da Organização Mundial de Saúde


Como podemos distribuir equitativamente as vacinas do COVID-19?


As Nações Unidas descreveram a distribuição das vacinas do coronavírus como “o desafio global determinante de 2021”. Estaremos à altura desse desafio? Seremos capazes de distribuir essas vacinas vitais de acordo com o método universal que os ensinamentos Bahá’ís recomendam – “tratar compassivamente toda a humanidade”?

No fundo, o mundo nunca estará seguro em relação ao vírus, e a economia global nunca recuperará, a não ser que os países subdesenvolvidos também recebam vacinas.

Como poderemos conseguir esse tipo de equidade compassiva na família humana quando temos uma pandemia global? Como poderemos distribuir as novas vacinas de forma justa e proporcional entre aqueles que têm dinheiro e aqueles que não têm? Como podemos garantir – sendo um só povo e um só planeta – que as pessoas mais vulneráveis em todos os países são vacinadas de forma mais rápida e eficiente?

Governos e organizações humanitárias internacionais já começaram a preparar e planear respostas as estas importantes questões. A cooperação e colaboração entre os países do mundo – outro princípio importante da Fé Bahá’í – tem por objectivo ajudar as nações a ultrapassar a pandemia. Apesar de 182 nações (a maioria dos países do mundo) se terem juntado a estes esforços internacionais, duas potências mundiais – Estados Unidos e Rússia – recusaram colaborar. Este tipo de excepcionalismo e egoísmo global deve acabar para que os esforços altruístas com base científica possam avançar.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), por exemplo, está a trabalhar em colaboração com cientistas, empresas e instituições globais de saúde através de um consórcio chamado ACT Accelerator para acelerar e equalizar a resposta mundial à pandemia. Assim que existir uma vacina eficiente e segura, uma organização internacional chamada COVAX (que significa Acesso Global às Vacinas COVID-19) mobilizará os seus recursos para distribuir e facilitar o acesso equitativo a essas vacinas, de forma a proteger as pessoas em todos os países – e não apenas aqueles que vivem em países desenvolvidos, que têm meios económicos para vacinar toda a sua população.

Claro que assim que existirem vacinas aprovadas, estes esforços internacionais darão prioridade às pessoas mais vulneráveis – trabalhadores da saúde, população idosa, e aqueles cujas condições de saúde sejam especialmente débeis. Um aspecto importante: isso será feito simultaneamente em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, desde o mais rico até ao mais pobre.

Isto é um passo especialmente importante. Se apenas vacinarmos aqueles que vivem nos países desenvolvidos, a pandemia continuará a alastrar e não será apenas nos países subdesenvolvidos. Inevitavelmente, também continuará a infectar os países ricos.

Os vírus não discriminam, e nós também não devemos discriminar. Em 2021, o mundo enfrentará o seu primeiro grande teste de cooperação internacional contra um inimigo comum. Esperemos e oremos para que tudo corra bem.

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Texto original: Who Should Get the Vaccine—and When? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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