sexta-feira, 19 de março de 2021

Explicar o Festival de Naw-Rúz

Por Christopher Buck.


O Festival de Naw-Rúz, um dos cinco festivais Bahá’ís anuais, marca o início do ano Bahá’í, no primeiro dia da primavera (no hemisfério norte).

Em 21 de Março de 2010, as Nações Unidas assinalaram o primeiro “Dia Internacional de Nowruz” (“Novo Dia”, em persa), um antigo festival de primavera de origem persa. Além disso, o Dia de Ano Novo do Zoroastrianismo, Naw-Rúz é comemorado há mais de 3000 anos, e é celebrado hoje por mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo como o início do ano novo.

O Naw-Rúz pode ser sagrado ou secular, dependendo do contexto. Para os Bahá’ís, o Naw-Rúz é sagrado, e tem consigo o simbolismo da renovação espiritual.

Sendo o primeiro dia do Ano Novo Bahá’í, o Naw-Rúz coincide com o equinócio da primavera no Hemisfério Norte, que normalmente ocorre em 21 de Março. No entanto, uma vez que Bahá’u’lláh ordenou que este festival fosse celebrado em qualquer dia em que o sol passa para a constelação de Áries - ou seja, o equinócio da primavera – o Naw-Rúz pode ocorrer em 19, 20, 21 ou 22 de Março, dependendo da hora exacta do equinócio.

As comunidades Bahá’ís costumam celebrar o Naw-Rúz com encontros que combinam momentos devocionais de oração e momentos de animada confraternização. O Guardião da Fé Bahá’í, Shoghi Effendi, disse "o Naw-Rúz é nosso Ano Novo, uma festa de hospitalidade e alegria". (Directives from the Guardian)

Os Bahá’ís de origem iraniana podem seguir algumas tradições associadas ao antigo festival persa, mas essas tradições culturais são distintas da prática religiosa. Para aumentar a alegria festiva, o Naw-Rúz, também é considerado o momento ideal para anúncios de acontecimentos importantes.

O Bab, o precursor e arauto de Bahá’u’lláh, criou um calendário - chamado Badi (que significa "Maravilhoso" e "Novo"). Consiste em 19 meses de 19 dias cada, com quatro dias intercalares (cinco em anos bissextos) para completar o ano solar. O único festival religioso instituído pelo Bab foi o Naw-Rúz. O Seu calendário assinala o primeiro dia do ano como Naw-Rúz, que o Báb especificamente destacou em homenagem a "Aquele que Deus tornará manifesto", cujo advento o Báb predisse:

Deus designou aquele mês como mês de Bahá, significando que nele estão o esplendor e a glória de todos os meses, e Ele escolheu-o para Aquele que Deus tornará manifesto. (O Báb, Persa Bayan 5: 3; tradução provisória de Saiedi, Gate of the Heart)

Porque este dia foi escolhido "para Aquele que Deus tornará manifesto", os Bahá’ís vêem o Naw-Rúz como profundamente simbólico. A sua celebração entre os seguidores do Báb apontava para aquela figura messiânica; e a missão do Báb era preparar o mundo para o advento iminente de Bahá’u’lláh. O Báb descreveu o Naw-Rúz como o Dia de Deus, no qual actos bons realizados nesse dia receberiam uma recompensa como se tivessem sido que todos os actos como se fossem realizados durante um ano inteiro.

Bahá’u’lláh manteve e adaptou várias das principais leis do Báb para serem observadas pelos Bahá'ís, decretando formalmente o Naw-Rúz como um festival para aqueles que observaram o período do jejum Bahá'í de 19 dias que precede o Naw-Rúz:

Ó Pena do Altíssimo! Diz: Ó povos do mundo! Ordenamos-vos jejuar durante um breve período e, no final, designámos para vós o Naw-Ruz como um festival. Assim, o Sol da Palavra brilhou sobre o horizonte do Livro, conforme decretado por Aquele que é o Senhor do princípio e do fim. (Bahá’u’lláh, The Most Holy Book)

Ao contrário dos outros dias sagrados Bahá’ís, que comemoram eventos importantes da história Bahá’í, o Naw-Rúz tem um significado religioso principalmente devido ao seu simbolismo de renovação. Sendo uma língua indo-europeia, o persa tem uma relação distante com o inglês, o que explica por que a palavra "naw" (pronuncia-se "nou") em persa é semelhante à palavra inglesa "new" (“novo”). Dessa forma, o Naw-Rúz não apenas anuncia o advento da primavera, mas também simboliza uma "primavera espiritual". A nível pessoal, o Festival de Naw-Rúz é um momento de renovação. Por ocasião do Naw-Ruz em 1906, ‘Abdu'l-Bahá, o sucessor de Bahá’u’lláh, escreveu aos Bahá’ís americanos dizendo, em parte:

É Ano Novo ... agora é o início de um ciclo de Realidade, um Novo Ciclo, uma Nova Era, um Novo Século, um Novo Tempo e um Novo Ano. ... Desejo que esta bênção apareça e se manifeste nos rostos e características dos crentes, para que eles também se tornem um novo povo, e ... possam fazer do mundo um novo mundo, a fim de que ... a espada seja transformada num ramo de oliveira; a centelha do ódio se torne a chama do amor de Deus ... todas as raças sejam uma só raça; e todos os hinos nacionais harmonizados numa única melodia. ('Abdu'l-Bahá, Tablets of 'Abdu'l-Bahá)

Desta forma, este antigo dia sagrado do Zoroastrismo e festival de primavera persa foi transformado num dia sagrado Bahá'í, que tem, como seu propósito incentivador, a criação de um novo mundo, no qual uma nova era de paz e prosperidade possa ser alcançada através dos princípios Bahá’ís universais da unidade na diversidade, proferidos por Bahá’u’lláh em 1890, ao receber a visita do orientalista de Cambridge Edward G. Browne:

Que todas as nações se tornem uma na fé e todos os homens sejam irmãos; que os laços de afecto e de unidade entre os filhos dos homens sejam fortalecidos, que a diversidade de religião cesse e as diferenças entre raças sejam anuladas – que mal há nisso?... Porém, assim será; estes conflitos infrutíferos, estas guerras ruinosas passarão, e a "Grande Paz" virá. (The Proclamation of Baha’u’llah)

Os Bahá'ís vêem este "Novo Dia" como tendo transformado o equinócio da primavera numa celebração universal da unidade da humanidade.

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Texto original: The Baha’i Festival of Naw-Ruz, Explained (www.bahaiteachings.org)


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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

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