Assim como rejeita as provas em favor de Deus, Kant também rejeita as provas contra Deus. Porquê? Porque também elas ultrapassam o horizonte da experiência. A ideia de Deus não é nenhuma contradição em si, e os que querem provar que Deus não existe incorrem num erro maior ainda: “As mesmas provas” que demonstram a incapacidade da razão para provar a existência de Deus são suficientes, segundo Kant, “para demonstrar que toda a afirmação em contrário também é inadequada”: “Pois de onde poderia alguém, por pura especulação racional, concluir que não existe nenhum ser supremo, como fundamento de tudo...” Kant está convencido de que a ideia de Deus é um limite necessário, que, qual uma estrela distante, não pode ser atingido pelo processo do conhecimento, mas que de qualquer modo pode ser visado como um ideal a ser atingido.
Uma imagem: quando alguém admite que não consegue ver nenhuma coisa atrás da cortina, ele também não pode afirmar que por detrás da cortina não existe nada. Aqui também o ateísmo se depara com seus limites. Todas as provas e demonstrações de grandes ateus são suficientes para tornar questionável a existência de Deus, mas não para provar cabalmente que Deus não existe.
É lamentável termos conhecimento de tantas falsas batalhas , travadas já nos séculos 19 e 20, entre a fé em Deus e a ciência, entre teologia e ateísmo. E mais lamentável ainda é que no século 21 muito cientistas da natureza ainda se deixam prender pelos argumentos dos séculos 19 e 20 da crítica ateísta à religião, argumentos já resolvidos, mas por eles muitas vezes poucas vezes reflectidos. Ainda hoje o ateísmo tem alguns profetas entre os cientistas da natureza.
Hans Küng, O Princípio de Todas as Coisas, pags. 74-75
(Editora Vozes, Petropolis, 2007)
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