quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Jesus Cristo: o Pão da Vida

Por Maya Bohnhoff
Todos os profetas Se empenharam para que o amor se manifestasse nos corações dos homens. Sua Santidade Jesus Cristo procurou criar esse amor nos corações. Ele sofreu todas as dificuldades e provações para que o coração humano pudesse tornar-se a fonte nascente do amor. Portanto, devemos empenhar-nos com toda a nossa alma e coração que esse amor possa apossar-se de nós... ('Abdu'l-Bahá, Baha'i World Faith, pp 218-219).
O Baptismo (El Greco)
Nos dois últimos artigos, vimos uma profecia feita por Moisés na Torá (Deuteronómio 18:6-8), que foi cumprida por Jesus nos Evangelhos (João 5:45-47) - um cumprimento confirmado por Pedro nos Actos dos Apóstolos (3:19-26). Estes versículos definem que:
Jesus Cristo afirmou ser o Profeta que Moisés predisse na Torá. Jesus afirmou que Ele, como Moisés, recebeu a Sua revelação de Deus "frente a frente", algo que Ele confirmou em João 6:46. Os Seus discípulos, incluindo Pedro, entenderam Jesus como fazendo parte de uma série de Reveladores Divinos da palavra de Deus. (ver também, Hebreus 1:1,2)
Ao ser educada como cristã, foi-me ensinado que a palavra de Jesus foi a final - que não haveria qualquer outra revelação da palavra de Deus até ao "Fim dos Tempos". Quase dois mil anos depois desta suposta cessação do nosso diálogo com Deus, as minhas perguntas a qualquer clérigo eram: "Porque é que Deus falou directamente à humanidade apenas uma vez, há muito tempo e durante um tão curto espaço de tempo? E porque é que a Sua única mensagem teve lugar num momento em que não tínhamos a capacidade para registar e divulgar a sua mensagem de forma eficaz?"

Além disso, se Deus, como dizia Pedro no terceiro capítulo de Actos, tem enviado os Seus mensageiros "desde o começo do mundo", porque é que Ele parou? É certo que precisamos hoje da Sua orientação mais do que nunca, pois a nossa capacidade de autodestruição tem crescido exponencialmente.

A minha introdução à Fé Bahá'í - e através dela ao Islão, ao Budismo e a outras religiões - indicou que a revelação não havia sido limitada à missão de Cristo aqui na terra, ou mesmo ao que nós consideramos como as Religiões Abraâmicas. Além disso, os meus amigos Bahá’ís lembraram que as próprias palavras de Cristo eram prova disso.

A minha exploração sobre aquilo que a Fé Bahá'í ensinava (que era mais uma tentativa de refutá-la) levou-me a uma leitura atenta e devota da Bíblia. Fiquei especialmente impressionada com o que li no Evangelho de Mateus, capítulo 7. Aqui, Jesus pede aos Seus ouvintes que compreendam o tipo de Deus é o Seu Pai considerando a forma como nós - simples seres humanos - tratamos os nossos filhos:
«Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir. Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Ora bem, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no Céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem.» (Mateus 7:7-11)
Pela primeira vez pensei nestas frases como mais do que uma referência reconfortante ao amor de Deus. Quem consegue imaginar que tendo vários filhos apenas mostra o seu amor para um deles? A um deles daríamos alimentação, roupas e educação; os outros passariam fome, não teriam roupa e seriam ignorantes, ou estariam condenados a viver com restos de comida, roupa velha e algum conhecimento, não vindos directamente de si, mas a partir do seu filho preferido? Se um pai humano realmente fizer essas coisas, a maioria de nós considerá-lo-á um criminoso. E, no entanto, eu acreditava que essa era a maneira que Deus agia.

Tive que me perguntar: Será que Deus dá o Pão da Vida apenas a um só povo favorecido e dá pedras a todos os outros? Será que Ele envia a Sua Palavra apenas para uma nação numa única ocasião em toda a história do mundo, e permite que os falsos profetas conduzam todos os outros? Se eu acreditava na palavra de Cristo, então a resposta era um sonoro "NÃO". Parecia claro das palavras e actos de Jesus que, como disse Pedro, "... Deus falou outrora pela boca dos seus santos profetas" desde o começo do mundo.

Tinha-me sido ensinado que Jesus foi a última revelação de Deus até ao fim de todas as coisas. No entanto, quem entre nós pode imaginar que um pai humano falasse com o seu filho uma única vez, quando ele fosse muito pequeno, e desde então permanecesse calado, sem lhe transmitir qualquer orientação ou palavras de amor, até que a criança estivesse no seu leito de morte?

Se nós, que somos imperfeitos, sabemos dar coisas boas aos nossos filhos, quanto mais sabe o Deus revelado por Cristo dar coisas boas a quem Lhe pede?

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Texto Original: Jesus Christ: The Bread of Life (BahaiTeachings.org)
Texto Anterior: Jesus Cristo: Frente a Frente com Deus
NOTA: Todas as citações biblicas são retiradas da tradução dos Capuchinhos.

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.


7 comentários:

Anónimo disse...

A questão é ver Cristo apenas como mensageiro. Ele é muito mais do que isso. Cristo veio salvar a Humanidade, através da Sua morte e ressurreição. Isso ninguém fez, antes ou depois. O que se pode acrescenter à obra de Cristo? Nada (se sequer pode ser igualada...) Nesta perspectiva, Jesus Cristo é o derradeiro enviado de Deus. Depois Dele tudo fica aquém.

Marco Oliveira disse...

Anónimo,
Jesus NUNCA disse que era o derradeiro.
E a obra dele pode ser igualada, pois Ele próprio afirmou ser um profeta como Moisés (e S. Pedro confirmou esse facto).
E quanto a essa pretensão de superioridade e exclusivismo do Cristianismo recomendo-lhe esta minha resposta a um comentário anterior.

Fátima B. disse...

Pois é.
Sendo cristã, reconheço que há aqui questões que me tocam e muitas vezes ignorei porque as considerei irrelevantes.
Obrigado por este texto.

Anónimo disse...

Marco
Jesus foi profeta, assim como foi rei, sumo-sacerdote, mestre, Messias, etc. É assim que o Novo Testamento o apresenta. Reduzi-lo a uma das facetas apenas, neste caso profeta, pode ser útil, na perspectiva Bahai, mas não mostra toda a verdade. Por definição, o profeta traz uma mensagem da parte de Deus, e Jesus Cristo fez isso. Mas fez mais. E esse "mais" é que o torna único. Não é uma questão de "superioridade" ou "exclusivismo" (ou "reducionismo", no caso do Marco), apenas a constação de que não há mais nada a acrescentar.

Marco Oliveira disse...

Anónimo,
Todos os fundadores das grandes religiões mundiais foram profetas assim como “reis, sumo-sacerdotes, mestres, Messias”. Eles partilham essa condição, que é claramente superior às dos “profetas menores “ex: Isaias, Jeremias, Daniel, etc). Esse facto torna-Os únicos.
E porque Deus os envia para orientar a evolução da espécie humana, porque motivo iria Ele deixar de os enviar? Que Deus é esse que deixa de falar aos seus filhos? Que Deus é esse que prefere enviar a sua revelação apenas a um povo e apenas num momento muito específico da sua história? Que Deus é esse que fala uma vez à humanidade e depois cala-Se? Nem um pai faz isso aos seus filhos!
A revelação divina é um processo evolutivo que acompanha humanidade. É uma constatação.

Anónimo disse...

Marco
Que Deus é esse? O Deus que talvez não encaixe nos pressupostos do Marco mas que fez algo que nenhum dos tais "fundadores de religiões" pôde fazer: enviar o Seu Filho ao mundo para levar sobre Si os pecados que condenavam a Humanidade.
Evolução? Técnica, científica, civilizacional, sim. Quanto à natureza humana mantém-se precisamente igual, não há evolução que lhe valha. Jesus Cristo veio para resolver este problema. Mas isto já o Marco deve saber porque é o "core" do Novo Testamento. Aceitar ou não é opção de cada um, claro, o que me leva a comentar aqui é apenas a "moldagem redutora" de Jesus Cristo a algo que Ele nunca foi.

Marco Oliveira disse...

Que Deus é esse? É o Deus de toda a humanidade, que envia regularmente os Seus Mensageiros à humanidade, que acompanha e inspira a evolução humana.
E a natureza humana tem evoluído, sim. Os nossos valores espirituais e morais elevam-se com o surgimento de cada novo mensageiro de Deus. E sempre que caem, surge um novo Mensageiro. Tem sido assim desde o começo (como diz S. Pedro) e continuará assim enquanto a humanidade existir.