domingo, 9 de novembro de 2014

Os Judeus na Alemanha Nazi, os Bahá’ís no Irão

Por David Langness.

O próprio Deus foi, de facto, destronado dos corações dos homens, e um mundo idólatra saúda e adora clamorosa e apaixonadamente os falsos deuses que as suas próprias vãs fantasias criaram com tamanha insanidade... Os seus sacerdotes são os políticos e os especialistas do mundo, os chamados sábios da época; o seu sacrifício são a carne e sangue das multidões massacradas; os seus encantamentos são costumes obsoletos e fórmulas insidiosas e irreverentes; o seu incenso é o fumo da angústia que se eleva nos corações dilacerados dos desamparados, dos amputados, dos desalojados. (Shoghi Effendi, The Promised Day is Come, p. 113.)
Todos ouvimos falar do Holocausto, das atrocidades genocidas de horror indescritível a que o povo Judeu chama Shoah, quando os Nazis exterminaram seis milhões de Judeus durante a 2ª Guerra Mundial.

Mas apenas alguns sobreviventes e historiadores compreenderam o que levou às mortes em massa. O partido Nazi não começou a exterminar imediatamente os Judeus; em vez disso, quando tomaram o poder, aprovaram uma série de leis e emitiram memorandos internos secretos, dando inicio a uma campanha geral que gradualmente privava os Judeus alemães dos seus direitos.

Tudo começou no dia 27 de Fevereiro de 1933, quando agentes do partido Nazi incendiaram o edifício do Reichstag, a sede do Governo alemão, e posteriormente atribuíram a culpa aos “comunistas”. A opinião pública alemã, revoltada com o ataque às suas tradições e à sua democracia, insistiu que os Nazis respondessem àquela “crise” fabricada.

E assim, no dia 1 de Abril de 1933, apenas uma semana depois do Parlamento Alemão ter aprovado a Lei de “Concessão de Plenos Poderes” que transformava o Chanceler em Ditador, Hitler ordenou que os alemães boicotassem bancos, lojas, empresas e estabelecimentos que fossem propriedade de Judeus. Inicialmente o boicote não funcionou, porque a maioria dos alemães o ignorou - o que levou Hitler a cancelá-lo após três dias. Mas depois deste boicote inicial falhado, os governantes Nazis implementaram de forma agressiva um conjunto de oito leis severas que gradualmente eliminaram os direitos, a cultura e as vidas de todos os Judeus alemães.

Estas medidas do governo provocaram a ostracização dos Judeus alemães, empurrando-os para as margens da sociedade, isolando-os e tornando-os alvos de futuras perseguições.

Estas leis iniciais levaram ao posterior extermínio de toda uma população, culminando num dos maiores genocídios da história. Vejamos a lista:
  • A primeira lei anti-semita alemã exigiu que todos os funcionários públicos e governamentais fossem “arianos”. Isto levou à expulsão de todos os judeus que trabalhavam na administração pública.
  • A segunda lei ilegalizou os pagamentos do Estado a médicos e advogados judeus.
  • A terceira lei, pretensamente para aliviar as escolas com demasiados alunos, tornou praticamente impossível que as crianças Judias frequentassem as escolas públicas.
  • A quarta lei impedia que os dentistas judeus exercessem a sua profissão.
  • A quinta lei excluiu os professores Judeus das Universidades.
  • A sexta lei declarava que os conjugues dos “não-Arianos” não podiam trabalhar na administração pública.
  • A sétima lei impedia os Judeus de participar em actividades culturais e de entretenimento, incluindo a literatura, o cinema, os teatros e as artes.
  • E a oitava lei afastou todos os jornalistas Judeus da sua profissão - e colocou todos os jornais alemães sob controlo nazi.
Com estas leis aprovadas e implementadas num curto espaço de seis meses, os Nazis transformaram os preconceitos anti-semitas da maioria da população alemã em campanhas legais destinadas a marginalizar, oprimir e exterminar a minoria Judaica. Na prática, juntamente com as infames leis de Nuremberga, que os Nazis implementaram dois anos mais tarde, em 1935, estas tornaram ilegal ser judeu.

Mas esta horrível cadeia de acontecimentos não pode voltar a acontecer outra vez, certo? Agora sabemos demasiado para permitir que este tipo de adulterações da justiça ocorram no século XXI, não é verdade? Infelizmente, a resposta é não.

Mas é exactamente o mesmo padrão que se está a desenvolver actualmente no Irão, onde o governo, de forma sistemática e discreta, tenta destabilizar, marginalizar e exterminar a comunidade Bahá’í. Na verdade, para quem conhece a forma como começou o Holocausto na Alemanha Nazi, os paralelismos são surpreendentemente familiares.

Cinema Rex, em Abadan, após o incêndio
Durante o verão de 1978, na cidade de Abadan, no sul do Irão, quatro indivíduos bloquearam as portas de um cinema e incendiaram-no, matando mais de 400 pessoas fechadas no interior. Posteriormente, manifestantes islamitas incendiaram cerca de 180 cinemas no Irão. Os revolucionários, com a sua fúria, culparam o Xá, e o público revoltado acreditava neles. Seguiram-se grandes manifestações, e o governo do Xá caiu passados alguns meses. Mais tarde, alguns militantes islamitas admitiram ter lançado o incêndio que alimentou a revolução.

Em Janeiro de 1979, o governo fundamentalista islâmico tomou o poder com a promessa de responder à “crise” social do Irão – uma crise gerada e inflamada por greves e manifestações por pessoas que se curvaram perante a criação de uma teocracia autoritária, usando as mesmas tácticas que os nazis usaram 46 anos antes.

Quando o domínio fundamentalista dos ayatollahs se estabeleceu no Irão, rapidamente foram postos em prática planos para destruir a comunidade Baha’i. Devido aos ideais Baha’is progressistas - entre eles, a unidade da humanidade, a igualdade entre homens e mulheres, a unidade das religiões - os ayatollahs conservadores denunciaram e demonizaram publicamente os Bahá’ís; então, a campanha governamental tornou-se mortal. O regime prendeu, torturou e enforcou centenas de Bahá’ís, incluindo jovens adolescentes e idosos. Expulsaram estudantes Bahá’ís das escolas, expropriaram empresas pertencentes a Baha’is, destruíram lugares sagrados e cemitérios Baha’is, recusaram-se a processar judicialmente assassinos e agressores de Baha’is, e ilegalizaram a Fé Baha’i tal como os Nazis ilegalizaram o Judaísmo.

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Texto original: Iran and the Baha’is; Nazi Germany and the Jews (bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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