sábado, 27 de outubro de 2018

Ninguém vence uma corrida aos armamentos

Por David Langness.


Os ensinamentos Bahá’ís apelam aos dirigentes da humanidade que desarmem – que abdiquem dos seus enormes depósitos de armamento - reconhecendo colectivamente que a era da guerra está a chegar ao fim:
Através de um acordo geral, todos os governos do mundo devem desarmar simultaneamente e ao mesmo tempo. Isto não terá efeito se um depuser as armas e outro recusar fazê-lo. As nações do mundo devem acordar umas com as outras sobre este assunto de importância suprema, para que assim possam abandonar em conjunto as armas mortais de carnificina humana. Enquanto uma nação aumentar os seus gastos militares e navais, outra nação será forçada a entrar neste despique louco pelos seus supostos interesses naturais. (‘Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 3, p. 116)
Devemos chegar a um acordo para nos unirmos e pormos fim à guerra, dizem os ensinamentos Bahá’ís, não só devido à sua carnificina, morte e destruição, mas também devido aos seus custos ocultos para as sociedades que fazem a guerra. As guerras aparentemente intermináveis no mundo – aquelas onde estamos agora a combater e as que estamos a planear e preparar para combater no futuro – custam-nos enormes quantidades de dinheiro e de vidas humanas. Por exemplo, no meu país, os Estados Unidos, as despesas com guerra excedem as despesas de todas as outras áreas.

Aqui fica o detalhe: os EUA gastam 6% do seu orçamento anual na educação das suas crianças; 6% no próprio governo; 5,5% em habitação e despesas comunitárias; 5% em saúde e cuidados de saúde; 4% em assuntos internacionais, incluindo toda a ajuda externa; 3% em energia e ambiente; 2,5% em ciência e investigação médica; 2,5% em trabalho; 2% em transportes; 1% em alimentação e agricultura - e 62,5 % no Departamento de Defesa, guerras, programas de armamento e apoio a militares veteranos.

Por outras palavras, os Estados Unidos gastam mais de três quintos do seu dinheiro em despesas militares.

Consegue imaginar o que poderia ser feito com esse dinheiro se reduzíssemos as nossas despesas militares para um nível mais razoável?

O tremendo volume das despesas militares em algumas culturas belicistas pode chocar a maioria de nós, porque - a menos que sejamos militares ou trabalhemos numa instalação militar – temos pouco ou nenhum conhecimento sobre os custos de um empreendimento dessa natureza.

Depósito de aviões militares retirados do serviço
O Exército dos Estados Unidos deu-me uma formação directa dobre despesas militares. Alguns dias após ter iniciado a recruta num campo de treino inserido numa base militar do tamanho de uma cidade, comecei a pensar nos custos de manutenção de uma grande força permanente de combate. Via os milhares de soldados com quem treinava; comia em enormes refeitórios; compreendia quanto custava construir, equipar e manter tanques, helicópteros e aviões de combate; e comecei a compreender a enorme dimensão das nossas despesas militares. Em pouco tempo percebi como se poderia usar aquele dinheiro para construir um futuro pacífico e não belicista.

Se quer ter uma noção da magnitude das despesas militares, comece por imaginar o que é alimentar, alojar, fornecer roupa, transportes e cuidados de saúde a 1,3 milhões de homens e mulheres. Depois imagine o custo de pagar e treinar (e re-treinar) esses homens e mulheres. E depois, em cima de tudo isso, tente estimar o custo tremendo dos sistemas de armamento, o armamento avançado, de alta-tecnologia, as chamadas “armas inteligentes” que hoje se usam na guerra. Um míssil guiado por computador custa um milhão de dólares. Um bombardeiro B-2 custa 2 mil milhões de dólares.

Além disto, as despesas militares não seguem as leis normais da economia. O ritmo acelerado das evoluções científicas e tecnologias leva a que os chamados “custos de defesa” tipicamente cresçam de forma mais rápida do que as despesas não-militares. A corrida global aos armamentos para construir sistemas de armas maiores, mais mortíferos e temíveis levam-nos a orçamentos militares cada vez mais elevados. E por fim, estes sistemas de armamentos tornam-se obsoletos quando tecnologias mais recentes e mais caras acabam inevitavelmente por aparecer.

Esta interminável competição armamentista entre nações, e a constante prontidão para uma guerra global que as nações sentem dever estar preparadas, tornou-se um dos maiores falhanços da nossa civilização moderna, um ciclo vicioso que constitui um abominável crime colectivo contra a humanidade. Leva-nos a prosperidade, rouba comida da boca das crianças e gasta enormes quantidades de dinheiro na morte e não na vida.

As armas não produzem o que quer que seja. Quando uma fábrica produz um camião, por exemplo, esse camião realiza trabalho, e continua a fazê-lo ao longo da sua vida útil, contribuindo para a economia e para as pessoas que o utilizam. Mas quando uma fábrica produz uma arma, esta não dá qualquer contributo. Essa arma fica estática – um míssil num silo não faz qualquer trabalho útil – não tendo qualquer proveito para a sociedade que o produz, excepto no momento em que é usada e produz morte. O último presidente militar dos EUA, o general Dwight D. Eisenhower, afirmou:
Cada arma que é produzida, cada navio de guerra que é lançado, cada míssil que é disparado, significa, no fundo, um roubo aos que têm fome e não são alimentados, aos que têm frio e não têm roupa. Um mundo com armas não está só a gastar dinheiro. Está a consumir o suor dos seus operários, o génio dos seus cientistas, as esperanças das suas crianças. O custo de um bombardeiro moderno é este: uma escola moderna em mais de 30 cidades; são duas centrais eléctricas que servem cidades de 60.000 pessoas; são dois hospitais completamente equipados; são 75 quilómetros de estrada pavimentada. Pagamos por um único avião de combate meio milhão de alqueires de trigo. Pagamos por um único cruzador uma quantidade de casas que podia alojar 8000 pessoas. Esta é, repito, a melhor forma de vida que encontramos no caminho que o mundo está a tomar. Mas isto não é sequer uma forma de vida, em qualquer verdadeiro sentido. Sob as nuvens de uma guerra ameaçadora, é a humanidade que se coloca numa cruz de ferro. (…) Não haverá outra forma para o mundo viver? (“The Chance for Peace,” from a speech given to the American Society of Newspaper Editors, April 16, 1953.)
Os ensinamentos Bahá’ís concordam, dizendo que cada uma destas armas e sistemas de armamento representam um falhanço espiritual e proporções épicas, designando-os como “os frutos malignos da civilização material”:
...entre os ensinamentos de Bahá’u’lláh está o de apesar da civilização material ser meio de progresso do mundo da humanidade, enquanto não se combinar com a civilização Divina, o resultado desejado – que é a felicidade da humanidade - não será alcançado. Pensem! Estes couraçados que reduzem uma cidade a ruínas no espaço de uma hora são o resultado da civilização material; igualmente, os canhões Krupp, as espingardas Mauser, a dinamite, os submarinos, torpedos, aviões armados e bombardeiros - todas estas armas de guerra são os frutos malignos da civilização material. Se a civilização material tivesse sido combinada com a civilização Divina, estas armas de fogo nunca teriam sido inventadas. Pelo contrário, a energia humana teria sido totalmente dedicada a invenções úteis e ter-se-ia concentrado em descobertas louváveis. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, p. 303)
Então o que pode transformar a nossa civilização material altamente militarizada numa civilização divinamente unida, pacífica e produtiva, tal como previsto pelos ensinamentos Bahá’ís? No próximo artigo vamos tentar responder a esta pergunta fundamental, analisando as principais causas da guerra.

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Texto original: No One Wins an Arms Race (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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