segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A Baha'i perspective on Aristotle, "the well-known man of knowledge"

This presentation is a brief look at the Greek philosopher Aristotle, his main ideas and teachings, and how they relate to Bahá’í teachings.
It is not a philosophical essay or an in-depth study of Aristotle.
My purpose is to show that many of the ideas of the “the well-known man of knowledge” are at the origin of Western cultural values and are “validated” by the Bahá’í Faith.

sábado, 13 de setembro de 2025

Deus é pessoal ou está para lá da compreensão humana?

Por Maya Bohnhoff.


O meu amigo do Facebook, Ari, começou a perguntar-me sobre o que eu acreditava ou pensava sobre um aspecto específico da religião. Entre as coisas que ele perguntou estava o conceito de um “Deus pessoal”. Eu acreditava nisso?

Na minha experiência, a definição de um Deus pessoal varia de grupo para grupo e até de crente para crente. Alguns grupos religiosos consideram que Deus é literalmente uma pessoa, tal como os humanos são pessoas — que Ele tem um corpo físico perfeito, mas está acima da natureza noutros aspetos. Para outros, o termo significa que Deus, qualquer que seja a Sua forma, é um Ser capaz de se relacionar com a Sua criação — especificamente, com os seres que Ele criou à Sua imagem.

Portanto, dependendo de como define "Deus pessoal", a minha resposta pode variar. Bahá’u’lláh ensina que Deus não é meramente um ser físico com uma componente espiritual, mas antes que Deus é, como nos dizem as escrituras, Espírito — um plano de existência diferente, não regido pelas leis que o Criador criou, tal como eu não estou limitada pelas leis dos mundos ou pelas personagens que crio nos meus livros.

Há consenso em muitas eras e em diferentes lugares da fé sobre a natureza de Deus. Vejamos alguns deles:

Deus é um e único, e nenhum outro existe com Ele. Deus é o Único, Aquele que criou todas as coisas. Deus é um espírito, um espírito oculto, o espírito dos espíritos, o grande espírito dos egípcios, o espírito divino… Ele existe desde o princípio, existe desde a antiguidade e existia quando nada mais existia... Deus é o Eterno... e sim — Deus está oculto e nenhum homem conhece a Sua forma... O Seu nome é um mistério para os Seus filhos... Deus é a Verdade, Ele vive pela Verdade, Ele alimenta-se dela, Ele é o Rei da Verdade e estabeleceu a Terra sobre ela.

Deus é vida, e só por Ele o homem vive. Ele dá vida ao homem, Ele lança o sopro da vida nas suas narinas. Deus é pai e mãe, o pai dos pais e a mãe das mães… O próprio Deus é existência. Perdura sem aumento nem diminuição… Deus fez o universo e criou tudo o que nele existe… O que o Seu coração concebeu realizou-se imediatamente. Quando Ele falou, aconteceu e permaneceu para sempre. (Papiro de Ani, escrituras egípcias)

Quem sabe verdadeiramente e quem pode aqui declarar de onde nasceu e de onde vem esta criação? Os deuses são posteriores à criação deste mundo. Quem sabe então de onde surgiu? Aquele, a primeira origem desta criação, quer a tenha formado ou não, cujo olho controla este mundo no céu mais elevado, ele sabe-o verdadeiramente. (Rig-Veda, Escrituras Hindu)

Mas o espírito mais elevado é outro: chama-se Espírito Supremo. Ele é o Deus da Eternidade que tudo permeia e tudo sustenta. (Bhagavad Gita, Escritura Hindu)

Escuta, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. (Tora, Escrituras Judaicas)

O Elemento (ou Causa) não tem princípio no tempo. É o fundamento comum de todos os dharmas (verdades). (Ratnagotravibhaga, Escrituras Budistas)

Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade. (Evangelho de João, Escrituras Cristãs)

Deus é o Criador de todas as coisas e o Guardião e Mestre de todos os assuntos. A Ele pertencem as chaves dos céus e da terra: e aqueles que rejeitarem os Sinais de Deus, serão os que sofrerão a perda. (Alcorão, Sura 39, Escrituras Islâmicas)

Para todo o coração perspicaz e iluminado, é evidente que Deus, a Essência incognoscível, o Ser divino, está imensamente elevado acima todos os atributos humanos, tais como existência corpórea, subida e descida, saída e regresso. Longe esteja da Sua glória que a língua humana celebre adequadamente o Seu louvor, ou o coração humano compreenda o Seu insondável mistério. Ele está, e sempre esteve, velado na eternidade antiga da Sua Essência, e permanecerá na Sua Realidade eternamente oculto da vista dos homens... (Bahá’u’lláh, Escrituras Bahá’ís)

Estas representam apenas uma pequena amostra das referências escriturais aos aspectos primordiais do Ser a que muitos de nós chamamos Deus, Brahman, Alá ou o Grande Espírito. Todos concordam em vários pontos: Deus é um Ser de um plano de existência diferente do nosso; não corpóreo, mas a essência do Espírito. Este Espírito é eterno e criou o universo em que habitamos. Deus é, como escreveu Bahá'u'lláh, "a Essência incognoscível" que deseja ser conhecida.

Se a existência corpórea é um requisito para um "Deus pessoal", então os Bahá'ís não acreditam nisso. Mas Bahá’u’lláh, tal como os mensageiros divinos que o antecederam, ensinou sobre a necessidade de uma relação entre as almas dos seres humanos e o Espírito de Deus. Bahá’u’lláh refere-Se frequentemente a esta relação como a relação entre um amante e o Amado — um amor profundo, verdadeiro e eterno.

É claro que qualquer concepção humana de Deus se limita ao que nós, humanos, podemos imaginar. Isto significa que a crença de cada um é única... e inerentemente imperfeita. É porque Deus deseja ser conhecido, que profetas como Krishna, Cristo, Bahá’u’lláh e outros vêm ao nosso mundo para nos ajudar a compreender a vida, o universo e tudo o resto.

Suponho que se poderia dizer que para os Bahá’ís são cartas do Amado.

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Texto original: Is God Personal or Beyond Human Comprehension? (www.bahaiteachings.org)

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Secretário-Geral da ONU condena crescente perseguição aos Bahá'ís no Irão

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, classificou a perseguição aos Bahá’ís no Irão como uma das mais graves preocupações de direitos humanos do mundo, no seu mais recente relatório global sobre a intolerância e a violência baseadas na religião ou na crença. Este relatório sublinha que a perseguição aos Bahá’ís é uma política sistemática e de longa data de repressão religiosa que exige uma atenção internacional urgente.

Os Bahá’ís da República Islâmica do Irão continuam a enfrentar detenções arbitrárias, encarceramento e restrições no acesso à educação e aos meios de subsistência, visando exclusivamente as suas crenças religiosas”, refere o relatório. “As autoridades invocam rotineiramente acusações vagas, como ‘divulgar propaganda contra o regime’, para criminalizar as actividades comunitárias pacíficas. Os direitos dos Bahá’ís, incluindo o de manifestar a sua religião ou crença, permanecem severamente restringidos”.

O relatório do Secretário-Geral tem um peso especial, pois é publicado em nome da ONU e reflecte uma visão consensual ao mais alto nível da comunidade internacional. O seu reconhecimento confirma a perseguição aos Bahá’ís pelo Irão como parte integrante da agenda global, desmontando as repetidas negações do governo iraniano sobre violações dos direitos humanos nas suas intervenções nas Nações Unidas.

Este é mais um poderoso reconhecimento, vindo dos mais altos níveis da ONU, de que a perseguição aos Bahá’ís por parte do Irão não só continua, como também se intensifica”, afirmou Simin Fahandej, representante da Comunidade Internacional Bahá’í na ONU, em Genebra. “A voz do Secretário-Geral junta-se agora à da Missão de Investigação da ONU sobre o Irão, dos sucessivos Relatores Especiais, da Human Rights Watch, do Conselho dos Direitos Humanos e de muitos governos e organizações de todo o mundo, que condenaram esta campanha governamental para apagar toda uma comunidade da sociedade iraniana.

As conclusões do Secretário-Geral somam-se ao crescente clamor internacional contra a perseguição aos Bahá'ís no Irão. A Missão de Investigação da ONU relatou, por exemplo, a perseguição desproporcional  de mulheres Bahá'ís desde a revolta de 2022, enquanto o ex-Relator Especial do Irão, Javaid Rehman, concluiu que a perseguição aos Bahá'ís foi realizada com "intenção genocida". Dezoito especialistas da ONU emitiram também uma declaração conjunta condenando os ataques às mulheres Bahá'ís, e a Human Rights Watch afirmou que a perseguição equivale ao "crime de perseguição contra a humanidade". A Fundação Boroumand, no seu relatório "outsiders", documentou "violência multifacetada" contra os Bahá'ís no Irão, que vai desde a prisão e expropriação até à exclusão social.

"As provas são contundentes e a comunidade mundial está a falar a uma só voz para acabar com a perseguição aos Bahá'ís no Irão", afirmou Fahandej. "Os Bahá’ís do Irão estão a ser alvo de hostilidades patrocinadas pelo Estado, expropriação dos seus bens, discursos de ódio, detenções arbitrárias e longas penas de prisão. O Irão deve responder imediatamente aos apelos da comunidade internacional e pôr fim às graves violações dos direitos humanos fundamentais contra os Bahá’ís no país."

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FONTE: UN Secretary-General condemns escalating persecution of Bahá’ís in Iran (BIC)


terça-feira, 9 de setembro de 2025

Irão bloqueia centenas de estudantes Bahá'ís na admissão à universidade


As autoridades iranianas bloquearam o ingresso de centenas de estudantes Bahá'ís nas universidades iranianas, ocultando os seus resultados dos exames de admissão. Para estes alunos Bahá’ís, o sistema informático online mostra a mensagem “Em Análise” em vez de mostrar as notas nos exames de admissão.

Com isto, os alunos ficam impedidos de se matricularem em qualquer curso universitário.

Esta medida atinge centenas de estudantes Bahá'ís que tentavam ingressar no ensino superior durante o presente ano lectivo.

No ano passado, pelo menos 129 estudantes Bahá’ís foram excluídos das universidades, de acordo com relatos de grupos de defesa dos direitos humanos que monitorizam a comunidade Bahá’í no Irão. Nessa ocasião, os alunos Bahá’ís eram informados que o seu processo de candidatura tinha “Documentos Incompletos”, e com isso era-lhes impedido o ingresso no ensino superior.

Um decreto confidencial de 2018 do Conselho Supremo da Revolução Cultural do Irão determinou a proibição de entrada de Bahá’ís nas universidades e a expulsão de qualquer aluno posteriormente identificado como Bahá’í.

A discriminação educativa contra os Bahá’ís estende-se também ao ensino primário e secundário, onde muitas crianças enfrentam pressões administrativas e de segurança que as obrigam a abandonar os estudos.

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FONTE: Iran Blocks Hundreds of Baha'i Students from University Course Selection

sábado, 6 de setembro de 2025

O Simbolismo Espiritual do Sol

Por Makeena Rivers.


Adoro o sol, a forma como muda de forma à medida que se move pelo céu, a forma como aquece o humor da minha comunidade e ilumina o mundo inteiro.

As referências ao sol estão presentes na nossa literatura, poesia, canções e histórias. A maioria de nós gosta do sol. Não só sustenta o nosso bem-estar físico, mas também é portador de um significado espiritual. Tal como acontece com muitas outras religiões, o sol representa um símbolo e uma metáfora importante nas Escrituras Bahá’ís.

Numa metáfora Bahá’í, o sol simboliza o Criador, e os profetas - como Krishna, Moisés, Jesus Cristo, Maomé, Zoroastro, Buda, o Báb e Bahá’u’lláh - actuam como espelhos, como reflectores puros e perfeitamente polidos dos raios solares. Este excerto descreve esta metáfora no contexto da revelação progressiva, um dos principais ensinamentos Fé Bahá’í:

O Sol da Divindade e da Realidade revelou-se em vários espelhos. Embora estes espelhos sejam muitos, o Sol é um só. As dádivas de Deus são uma só; a realidade da religião divina é uma só. Considerem como uma mesma e única luz se reflectiu nos diferentes espelhos ou manifestantes da mesma. Há algumas almas que são amantes do Sol; percebem o esplendor do Sol em cada espelho. Não estão acorrentadas ou apegadas aos espelhos; estão apegadas ao próprio Sol e adoram-no, não importa de que ponto ele brilhe. Mas aqueles que adoram o espelho e estão apegados a ele, ficam privados de testemunhar a luz do Sol quando esta brilha noutro espelho. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 115)

O conceito de revelação progressiva afirma que Deus nunca deixará a humanidade sem orientação espiritual – e, com o passar do tempo e a humanidade a mudar com ele, precisamos de orientação actualizada. Podemos desenvolver níveis cada vez mais elevados de compreensão à medida que Deus nos revela novos ensinamentos.

Através de uma sequência de diferentes profetas - afirmam os ensinamentos Bahá’ís - Deus envia-nos a mensagem espiritual necessária para cada época da história humana. Cada um destes profetas e mensageiros provém da mesma fonte e não rivalizam entre si. É isto que os Bahá’ís querem dizer quando afirmam acreditar na unidade da religião. Ao estudar os textos sagrados de religiões diferentes, torna-se claro que os propósitos subjacentes destes diversos textos são coerentes e harmoniosos entre si. Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá’í, escreveu:

Os Profetas e Mensageiros de Deus foram enviados com o único propósito de guiar a humanidade para o Caminho íntegro da Verdade... A luz que estas almas irradiam é responsável pelo progresso do mundo e pelo desenvolvimento dos seus povos. (Gleanings, LXXXI)

Os Bahá’ís acreditam que o Espírito Santo guia estes mensageiros e profetas para que reflictam a luz de Deus para a humanidade. Através do Espírito Santo, podemos desenvolver potencialidades humanas únicas: podemos usar a ciência para descobrir e criar, e podemos desenvolver virtudes espirituais que se sobrepõem à nossa natureza animal:

O Espírito Santo é a Luz do Sol da Verdade, que traz, com o seu poder infinito, vida e iluminação a toda a humanidade, e inunda todas as almas com a Radiância Divina e transmitindo as bênçãos da Misericórdia de Deus ao mundo inteiro. A Terra, sem o calor e a luz dos raios solares, não poderia receber qualquer benefício do sol.

... É o Espírito Santo que, através da mediação dos Profetas de Deus, ensina virtudes espirituais ao homem e o capacita para alcançar a Vida Eterna.

Todas estas bênçãos são trazidas ao homem pelo Espírito Santo; assim sendo, podemos compreender que o Espírito Santo é o Intermediário entre o Criador e a criatura. A luz e o calor do sol fazem com que a terra seja fértil e crie vida em todas as coisas que crescem; e o Espírito Santo vivifica as almas dos homens. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p.58-59)

Nesta citação, o sol representa simbolicamente a fonte divina do Espírito Santo. Se nos imaginarmos como espelhos capazes de reflectir a luz solar, torna-se claro que, embora nunca nos possamos tornar Deus, ou o próprio sol, podemos sempre esforçar-nos por reflectir melhor a sua luz.

Quando penso no sol como Deus, penso em como, mesmo no dia mais nublado, ou à noite, o sol está presente algures. Toda a vida depende do seu esplendor. Mesmo quando parece que o sol se foi, nunca nos abandona verdadeiramente. As Escrituras Bahá'ís dizem:

Tal como a luz do sol brilha sobre o mundo inteiro, também a Misericórdia do Deus infinito é derramada sobre todas as criaturas. Assim como o sol amadurece os frutos da terra e dá vida e calor a todos os seres vivos, o Sol da Verdade brilha sobre todas as almas, enchendo-as com o fogo do amor e da compreensão Divinos. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p.25)

Penso nisto quando os tempos se tornam difíceis e a vida parece difícil de suportar. Por vezes, podemos sentir-nos sozinhos, como se vivêssemos num mundo caótico e sem Deus. Mas talvez nestes tempos mais sombrios o sol se tenha obscurecido. Talvez simplesmente não reconheçamos a sua luz por detrás de uma nuvem de tempestade formada pelas nossas próprias ansiedades, ou escondida atrás de uma barreira mental que nós próprios construímos. Se imaginarmos Deus como o sol, mesmo quando nos sentimos sós, só nos resta esperar pacientemente pelo amanhecer.

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Texto original: The Spiritual Symbolism of the Sun (www.bahaiteachings.org)

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Makeena Rivers é uma recém-graduada pela Columbia School of Social Work (Nova Iorque) onde se focou em assuntos de raça, reclusão, educação e classe. Anteriormente tinha estudado psicologia e sociologia na Emory University.

sábado, 30 de agosto de 2025

É possível beber até morrer?

Por David Langness.


Se já visitou o Memorial da Guerra do Vietname em Washington, D.C., viu os nomes dos 58.000 americanos que morreram nessa guerra. Estou aqui para lhe dizer: alguns deles não morreram em combate.

Como militar e objector de consciência durante a guerra do Vietname, vi a morte nas suas formas mais horríveis, mas, estranhamente, a morte acidental ou auto-infligida pelo álcool parecia muito pior do que a morte em combate.

Por isso, digo: é possível beber até morrer. Eu vi isso acontecer.

Muitos militares em guerras morrem em consequência dos ferimentos, mas poucas pessoas que não vivenciaram conflitos armados sabem que um número considerável desses militares morre devido aos seus próprios comportamentos. O consumo excessivo da droga, e também de álcool, mata muitos. Vi isto acontecer várias vezes – a causa oficial da morte: a intoxicação alcoólica. Também vi oficiais a escreverem cartas às famílias dos soldados mortos, dizendo que morreram corajosamente em combate para poupar os sobreviventes da vergonha e do estigma de uma morte causada pelo álcool.

Como é que isso acontece? Simplesmente, um militar começa a beber o mais intensamente e o mais rapidamente possível, determinado a apagar a terrível realidade da guerra. Procurando o esquecimento, o militar tem geralmente como objetivo ingerir rapidamente uma quantidade tão grande de álcool na corrente sanguínea que provoque uma perda de consciência agradável, pelo menos durante algum tempo. Alguns destes militares até podem ter tido pensamentos suicidas, mas a maioria dos que conheci queria apenas um alívio temporário, uma breve anestesia para a enorme dor psíquica que os rodeava.

Mas é fácil calcular mal e beber demais. Quando isto acontece, dá-se uma overdose de álcool, o que significa que as áreas do cérebro que controlam as funções básicas de suporte de vida do seu corpo – ritmo cardíaco, respiração, temperatura interna – começam a deixar de funcionar. E rapidamente se segue a morte.

Foi exatamente isso que aconteceu com um amigo próximo a quem chamarei Ernie (nome fictício), um camarada do meu pelotão na 101ª Divisão Aerotransportada no Vietname. Ernie veio de uma pequena cidade agrícola no Missouri e, quando se alistou no Exército, era apenas um rapaz – tinha 17 anos e vinha do mundo rural. Acho que o Ernie nunca bebeu antes de usar a farda. Inocente e ingénuo, Ernie passou por experiências terríveis no início da sua missão e sofreu muito com isso. Perdeu a fé na humanidade, como acontece a muita gente em tempos de guerra. Isso fez com que quisesse afogar a sua decepção. Um dia, voltou à base depois de sobreviver a um violento tiroteio, disse: "Vou ficar o mais bêbado que puder esta noite", e não viveu para ver a manhã seguinte.

Agora sei que se não tivesse conhecido a Fé Bahá’í e parado com a bebedeira da adolescência antes de ser chamado ao exército, poderia facilmente ter acabado assim.

Em vez disso, tento ser um Bahá'í. Como disse 'Abdu'l-Bahá em Londres, em 1911:

Um Bahá'í não nega nenhuma religião; aceita a Verdade em tudo, e morreria para a defender. Ama todos os homens como seus irmãos, de qualquer classe, raça ou nacionalidade, credo ou cor, bons ou maus, ricos ou pobres, belos ou hediondos. Ele não comete violência; se for atingido, não retribui o golpe... Como proteção contra a intemperança, não bebe vinho nem bebidas alcoólicas. Bahá’u’lláh disse que não é bom para um homem são tomar aquilo que lhe vai destruir a saúde e os sentidos.

Não foi fácil durante a guerra, mas mantive a sobriedade durante todo o tempo em que estive destacado, e mantive-a desde então. Procurei a temperança, e devo a minha vida a isso.

Por temperança, não creio que 'Abdu'l-Bahá quisesse dizer apenas o sentido habitual da palavra:

temperança: moderação no consumo de bebidas alcoólicas ou abstinência total

Em vez disso, pode ter-se referido a esta definição alternativa mais ampla, listada em primeiro lugar no dicionário:

temperança: capacidade de moderar os seus próprios desejos e reações, sobriedade no comer e no beber

Claro que a raiz da palavra temperança é temperamento. Os adolescentes, sobretudo os jovens do sexo masculino, nem sempre controlam bem o seu próprio temperamento – o que talvez explique uma das razões pelas quais os exércitos procuram sempre jovens soldados que ainda não controlam totalmente a sua raiva, os seus apetites ou a sua racionalidade. Soubemos recentemente, através de vários estudos científicos, que aqueles que se encontram no final da adolescência ou no início da idade adulta, especialmente os homens, nem sempre desenvolvem as suas capacidades plenas de bom julgamento até atingirem os vinte e poucos anos. A tomada de decisões saudáveis ocorre no córtex pré-frontal do cérebro – mas, como o córtex pré-frontal continua a desenvolver-se até ao início ou meados dos vinte anos, as nossas capacidades de tomada de decisão não amadurecem completamente até ao início da idade adulta.

Suspeito que esta amadurecimento neurológico possa ser uma das razões pelas quais os ensinamentos Bahá’ís dizem “… a experiência tem mostrado o quanto a renúncia ao tabaco, ao vinho e ao ópio proporciona saúde, força e prazer intelectual, discernimento de julgamento e vigor físico”.

A expressão "discernimento de julgamento" refere-se, obviamente, a uma tomada de decisão saudável, sábia e criteriosa. Como as decisões que tomamos hoje determinam o nosso destino amanhã e mais além, cada um de nós precisa de procurar a melhor sabedoria que o nosso cérebro e a nossa alma podem reunir em cada momento do nosso desenvolvimento humano. Esta é uma das razões pelas quais os ensinamentos morais da religião podem ter um impacto tão positivo na sociedade – porque temperam os nossos temperamentos.

Quando retiramos as substâncias que causam dependência desta equação e as deixamos de fora, tomaremos melhores decisões e viveremos vidas mais longas, saudáveis e felizes.

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Texto original: Can You Drink Yourself to Death? 

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

sábado, 23 de agosto de 2025

A Geografia determina o nosso Destino?

Por David Langness.


Há vários anos, na UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), conheci um autor e biólogo evolucionista chamado Jared Diamond, que abriu uma nova perspectiva sobre a história humana, para mim e para muitos outros.

Diamond escreveu o livro vencedor do Prémio Pulitzer, Armas, Germes e Aço: O Destino das Sociedades Humanas, onde disse:

A história das interacções entre povos distintos moldou o mundo moderno através de conquistas, epidemias e genocídios. Estas colisões tiveram repercussões que ainda não se extinguiram passados muitos séculos e que continuam activas em algumas das zonas mais problemáticas do mundo.

Armas, Germes e Aço apresenta uma premissa fascinante que deitou por terra muitas teorias históricas anteriores, ao colocarem uma questão muito óbvia:

Porque é que a riqueza e o poder foram distribuídos tal como estão hoje, e não de outra forma? Por exemplo, porque não foram os nativos americanos, os africanos e os aborígenes australianos que dizimaram, subjugaram ou exterminaram os europeus e os asiáticos? (Guns, Germs and Steel, p. 15)

No seu livro, Diamond responde a esta importante questão de uma nova forma, dizendo:

A história seguiu rumos diferentes para os diferentes povos devido às diferenças entre os ambientes dos povos, e não por causa das diferenças biológicas entre os próprios povos. (Idem, p.25)

O trabalho de Diamond destrói as antigas explicações para estas disparidades, retirando da equação histórica as justificações para o racismo. Após décadas de estudo sobre os povos indígenas, por exemplo, determinou que:

Todas as sociedades humanas contêm pessoas inventivas. Acontece que alguns ambientes fornecem mais matéria-prima e condições mais favoráveis para a utilização de invenções do que outros. (Idem, p. 408)

Esta ideia central, e o trabalho de muitos outros cientistas e historiadores, ajudou os estudantes de História a explicar porque é que algumas sociedades se tornaram tecnologicamente mais aptas e mais ricas do que outras. Também ajudou os historiadores a descartar as antigas explicações para as diferenças culturais, que se baseavam frequentemente em teorias racistas ou em medidas de inteligência relacionadas com a cultura em diferentes populações ou grupos raciais.

Diamond defende que este entendimento mais subtil e detalhado das forças da história deve incluir os efeitos profundos do ambiente natural na sua análise. Não acredita no "determinismo geográfico" - a ideia simplista de que o ambiente natural é responsável por todas as escolhas humanas - mas concede ao ambiente natural um lugar maior e mais proeminente na determinação da nossa história:

... muitas pessoas anseiam por acreditar que o espírito humano, o livre-arbítrio e a agência individual são as expressões mais nobres do ser humano e têm um amplo alcance. Mas mesmo estas coisas nobres têm limites. O espírito humano não aquece uma pessoa a norte do Círculo Polar Ártico no inverno se estiver quase nua, como acontece com os povos das terras baixas equatoriais. (“Geographic Determinism,” from www.JaredDiamond.org)

Portanto, para responder à questão do título deste artigo: a geografia não determina o nosso destino. Certamente, existem poucas diferenças geográficas entre, digamos, a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, e, no entanto, o desenvolvimento da governação, da cultura e da sociedade civil nestas duas nações apresenta diferenças acentuadas.

Este facto e muitos outros semelhantes levam a uma conclusão inevitável: a história humana, embora fortemente influenciada pela geografia e pelo ambiente, foi impulsionada por uma influência ainda maior: o próprio preconceito:

... entre os ensinamentos de Bahá’u’lláh está o de que os preconceitos religiosos, raciais, políticos, económicos e patrióticos destroem a estrutura da humanidade. Enquanto estes preconceitos prevalecerem, o mundo da humanidade não terá paz. Durante um período de 6000 anos, a história deu-nos informação sobre o mundo da humanidade. Durante estes 6000 anos, o mundo da humanidade não esteve livre de guerras, conflitos, assassinatos e sede de sangue. Em todos os períodos, a guerra foi travada num país ou noutro, e essa guerra deveu-se a preconceito religioso, preconceito racial, preconceito político ou preconceito patriótico. Portanto, foi constatado e provado que todos os preconceitos são destruidores da estrutura humana. Enquanto estes preconceitos persistirem, a luta pela existência deverá permanecer dominante, e a sede de sangue e a rapacidade continuarão. Assim, tal como aconteceu no passado, o mundo da humanidade não pode ser salvo das trevas da natureza e não pode alcançar a iluminação salvo através do abandono dos preconceitos e da aquisição da moral do Reino.

Se este preconceito e inimizade são devidos à religião, considere-se que a religião deve ser a causa da comunhão; caso contrário, é infrutífera. E se esse preconceito for o preconceito de nacionalidade, considere-se que toda a humanidade é de uma só nação; todos surgiram da árvore de Adão, e Adão é a raiz da árvore. Esta árvore é uma só e todas estas nações são como ramos, enquanto os indivíduos da humanidade são como as suas folhas, flores e frutos. Assim, o estabelecimento de várias nações, o consequente derramamento de sangue e a destruição da estrutura da humanidade resultam da ignorância humana e de motivos egoístas. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, nº 227)

Os Bahá'ís acreditam que o preconceito — seja ele de raça, nacionalidade ou religião — destrói as civilizações humanas. Os ensinamentos Bahá’ís pedem a toda a humanidade que se livre destes preconceitos, e afirmam que este é um pré-requisito para uma civilização humana verdadeiramente global.

Mas, e os profundos preconceitos de classe que os historiadores marxistas citam como factor causador da nossa evolução histórica? No próximo artigo desta série, examinaremos a teoria histórica marxista e as novas perspectivas que ela oferece.

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Texto original: Is Geography Destiny? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.