sábado, 29 de março de 2025

Com a morte a aproximar-se, porque não divertirmo-nos?

Por Mahin Pouryaghma.


Sou uma terapeuta reformada com 87 anos de idade. Tenho cancro terminal e estou num lar de idosos, mas o meu apetite é enorme e estou o mais activa que posso. Que melhor altura, imagino, para um pouco de diversão na vida?

Todos os dias, faço caminhadas lentas pelo lar com a ajuda do meu andarilho. Durante estas deambulações, anunciei a todos, em termos inequívocos, que sou a Inspetora-Geral – e é melhor que se portem bem!

O que posso dizer? Sou uma vigilante da igualdade de oportunidades. A minha principal missão é provocar as pessoas de forma gentil e bem-humorada, e essas pessoas deixam-me fazer todos os meus disparates. Estou a fazer amizade com os outros residentes do lar, embora seja difícil comunicar com a maioria deles devido à demência ou doença física.

Fiquei bastante interessada em saber onde estão na sua fase da vida e o quanto vivem no passado, e tento comunicar com eles de acordo com a fase em que se encontram. Na minha vida profissional como terapeuta, nunca tinha lidado com pessoas afectadas pela demência, e agora tenho a oportunidade de aprender sobre isso, estando com elas. É triste ver o quanto mudaram ou regrediram, mas também é delicioso ouvir as suas histórias, e, por assim dizer, as suas ilusões. São pessoas muito simpáticas e é óbvio que muitos têm diplomas universitários, e alguns deles foram professores, escritores e assim por diante. Estou a tentar desenvolver amizades com todos, mesmo com aqueles que não respondem devido à demência, dizendo olá e fazendo contacto com eles, mesmo fisicamente, tocando e acariciando suavemente as suas mãos.

Há alguns dias, fez-se luz na minha mente. Era no final da tarde e eu estava a fazer o meu passeio habitual, a conversar e a brincar com a equipa, e a provocar toda a gente, como é meu hábito normal. De repente, percebi que adoro este lugar – adoro a equipa e adoro os residentes do lar.

Percebi que sou eu quem mais beneficia destas ações – como salientam os ensinamentos Bahá’ís, exemplificados por estas palavras de uma palestra que 'Abdu'l-Bahá proferiu no Maine em 1912:

Bahá’u’lláh proclamou a promessa da unidade da humanidade. Por isso, devemos ter o maior amor uns pelos outros. Devemos ser afectuosos com todas as pessoas do mundo. Devemos … conhecer e reconhecer todos como servos do Deus único. ... o doente não deve ser odiado por estar doente, a criança não deve ser evitada por ser criança, o ignorante não deve ser desprezado por lhe faltar conhecimento. Todos eles devem ser tratados, educados, instruídos e assistidos com amor. Tudo deve ser feito para que a humanidade possa viver à sombra de Deus na maior segurança, desfrutando do mais alto grau de felicidade.

Estou a vivenciar pessoalmente que posso ser muitíssimo feliz, independentemente das minhas circunstâncias. Aprendi a amar estas pessoas e sei que algumas das que cuidam de mim realmente me amam – ou pelo menos oferecem-me acções amorosas. Assim, sinto as bênçãos de Deus e, neste momento da minha vida, não quero estar em mais lado nenhum a não ser aqui – salvo o reino espiritual, mas isso será Deus a decidir o momento e o local. Um dos motivos da minha felicidade é esta maravilhosa oportunidade de transmitir e ensinar aos outros o amor de Deus. Deixa-me tão feliz que é quase inebriante.

Mas, por favor, não me ponham uma auréola à volta da cabeça! Confesso que, por vezes, sinto falta das alegrias da minha existência anterior, mas tudo isso parece muito insignificante agora, em comparação com as bênçãos espirituais que o Senhor derrama sobre mim continuamente.

Quero aproveitar estas bênçãos, por isso estou a trabalhar arduamente para estar presente no presente, sem ansiedade antecipada sobre possíveis experiências futuras da dor oncológica. Mas, por vezes e por um momento, entrego-me às minhas fantasias ociosas e imaginações vãs – por isso tenho de me lembrar que não sou Deus. Não sei absolutamente nada sobre o que vai acontecer daqui a alguns instantes, ou depois disso, por isso trabalho para estar presente aqui e agora, e para expressar amor àqueles que me rodeiam. O que mais temos?

Na semana passada tivemos uma celebração aqui no lar de idosos, e a equipa fez o melhor que pôde para proporcionar entretenimento a todos nós – trabalharam realmente muito nisso. A celebração durou vários dias, e o último dia terminou com a fotografia individual de cada residente. Foi servido gelado, e os residentes esperaram ansiosamente pelo seu gelado. Observei algo interessante: o mundo dos habitantes locais tornou-se tão pequeno que houve uma concentração colectiva em obter aquele gelado. Eu também me tornei parte dessa concentração colectiva. Não é interessante e surpreendente que alguém se possa contentar com uma bênção ou recompensa tão pequena? A questão é que o nosso foco pode diminuir tanto que uma bola de gelado se torna o centro da nossa existência.

Quando me apercebi disso, alguns sentimentos conflituosos tomaram conta de mim. Por um lado, sentia-me muito pequena e sem importância, uma daquelas “pessoas” que não deveria ter julgado quando entrei para um lar de idosos – e por outro lado, talvez sentisse que esta é a fase natural da contínua desintegração do ego, da minha importância ilusória enquanto profissional que se tornou agora um ser humano idoso.

Durante alguns dias depois de tudo isto, tive sentimentos de depressão e tristeza, bem como muita ansiedade. Cheguei ao ponto de não querer comer, não fazer a minha caminhada diária habitual e ficar na cama. Senti tristeza e pesar, bem como resignação perante o fenómeno natural do envelhecimento e da morte iminente.

Mas agora, recuperei daquela depressão. Estou a reaprender, ou a ser confirmada no meu conhecimento, de que não posso ter a certeza sobre nada, seja positivo ou negativo, e isso inclui a estabilidade do meu humor. A única coisa de que tenho a certeza é que Deus me ama e me acompanhará, sempre. Uma das coisas que me sustenta na minha luta é esta oração reconfortante atribuída a ‘Abdu’l-Bahá:

Ó Deus, refresca e alegra o meu espírito. Purifica o meu coração. Ilumina os meus poderes. Em Tuas mãos confio todos os meus interesses. És o meu Guia e o meu Refúgio. Não mais se apossarão de mim a tristeza e a ansiedade, mas sim, o contentamento e a alegria. Ó Deus, jamais me entregarei à aflição, nem permitirei que os desgostos me atormentem ou as coisas desagradáveis da vida me inquietem. Ó Deus, és mais meu amigo do que eu o sou de mim mesmo. Dedico-me a Ti, ó Senhor

Quando recito esta oração, sinto muita afinidade com os outros residentes aqui, tanto na secção de Cuidados Especiais - que significa que precisam de cuidados parciais, como eu - como na secção de Acompanhamento a Tempo Inteiro, onde estão as pessoas acamadas. Todos eles estão a tornar-se o meu povo. Conheço os seus rostos, e essa afinidade estende-se aos funcionários e à administração, que tanto aprecio. Aqueles que dedicam a sua vida a cuidar dos outros são anjos na terra.

Consigo ver a tristeza nos rostos e no tom da equipa quando um residente morre. Uma das funcionárias disse-me que quando um residente morre, sente que parte dela também morre. Muitos destes doentes estão aqui há muito tempo, e tanto a equipa como os doentes desenvolveram algum tipo de ligação — e essa ligação é quebrada com a morte dos residentes. Então, pergunto-me: quando isso acontecer na minha viagem, será que também se sentirão tristes?

Espero que se lembrem da Inspetora-Geral com boas memórias e saibam o quanto os adoro. Espero o mesmo de todos vós.

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Texto original: As Death Approaches, Why Not Have Some Fun? (www.bahaiteachings.org)

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Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.

sábado, 22 de março de 2025

O Deus das Cores e a Cor de Deus

Por Necati Alkan.


Consegue imaginar o nosso mundo sem cores?

Quase tudo na criação tem uma cor. Ficamos felizes quando vemos determinadas cores, e outras podem deixar-nos tristes e preocupados. O facto de as cores terem efeito sobre os seres humanos é provavelmente tão antigo como a filosofia.

Na sua Teoria das Cores, Goethe diz: “As cores são o sofrimento e a alegria da luz”. As cores podem encantar-nos e refletir o princípio Bahá'í da “unidade na diversidade”, como as cores das flores num jardim, imagem que 'Abdu'l-Bahá utilizou frequentemente. Mas também enfatizou, sobretudo nas Suas palestras sobre o racismo nos Estados Unidos, que as cores podem causar preconceito:

Não existem brancos e negros perante Deus. Todas as cores são uma só, e essa é a cor da submissão a Deus. O perfume e a cor não são importantes. O coração é importante. Se o coração é puro, branco, preto ou qualquer cor não faz diferença. Deus não olha para as cores; Ele olha para os corações. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 44)

Aqui chegamos a um reino onde todas as cores se fundem numa só: a “cor da submissão a Deus”. Se ignorarmos as diferenças exteriores, servirmos a Deus e adorarmos a Deus com um coração puro, cumpriremos o propósito da criação. Neste sentido, submergimo-nos na cor de Deus.

As cores também nos podem distrair do nosso propósito principal neste mundo, o que significa que, se mergulharmos nos prazeres materialistas, podemos esquecer-nos de Deus. Nas palavras de Bahá’u’lláh:

Ó Filhos da Vanglória! Por uma soberania efémera, abandonastes o Meu domínio imperecível e adornastes-vos com os trajes alegres do mundo, fazendo deles a vossa ostentação. Pela minha beleza! Reunirei tudo sob a cobertura de pó de uma só cor, e apagarei todas estas cores diversas, salvo aqueles que escolherem a Minha, e esta está expurgada de todas as cores. (As Palavras Ocultas, do persa, #74)

Na teoria das cores de Bahá'u'lláh, por assim dizer, o reino de Deus tem uma cor transcendente e unificadora, que representa o desapego do mundo físico e o apego ao espiritual:

Ó servo de Deus! Aquele que é o Mestre da expressão e do significado, e que dá cor a todas as coisas criadas, diz: Meditai naquilo que revelamos anteriormente: “[A nossa vida recebe] a cor de Deus, e quem é melhor do que Deus para colorir?” (Alcorão 2:138) O propósito desta cor não foi nem será cores de pigmentos metálicos. Pelo contrário, é a coloração dos corações puros com a cor de Deus, e esta é a santificação de todos os homens entre as diversas cores do mundo. Esforçai-vos para vos poderes destacar nesta arte e adornar os homens com a cor divina. (de uma Epístola de Bahá’u’lláh, tradução provisória do autor)

O Alcorão, no versículo 2:138 (citado acima), também apela à humanidade para usar “a cor de Deus”. Isto ocorre no contexto da religião do profeta Abraão, chamada a primordial ou imaculada religião de Deus — o arquétipo da fé original da humanidade num Deus único. De facto, todo o mensageiro de Deus apela a esta imersão na cor unificadora de Deus. Bahá’u’lláh veio unir a humanidade numa “fé comum” e transformar a humanidade numa nova criação com um novo batismo espiritual:

Ó Pena da Revelação! Lembra-te d’Aquele que Baptizava [lit. “o Tintureiro”, i.e. João Batista]. Dize: Chegou o dia do baptismo. Bem-aventurado aquele que se baptizou com o baptismo de Deus. Em verdade, é o seu desprendimento de tudo menos d’Ele. Assim vos ordena a Pena do Todo-Glorioso, tal como foi decretado pelo vosso Senhor, o Omnipotente, o Sapientíssimo. (de uma Epístola de Bahá’u’lláh, tradução provisória do autor)

Os textos cristãos da Antiguidade tardia também relacionam o baptismo com a coloração, e enfatizam os aspectos transformadores e curativos do baptismo na purificação dos seres humanos. Basta ler esta impressionante passagem onde Deus é chamado “o Tintureiro”, a mesma expressão que Bahá’u’lláh utiliza:

Deus é um tintureiro. Assim como os bons corantes — chamados “verdadeiros” (corantes) — morrem com aquelas (coisas) que neles foram tingidas, assim acontece com aqueles que Deus tingiu. Como os Seus corantes são imortais, tornam-se imortais através dos Seus remédios. Mas Deus mergulha/baptiza na água aqueles que Ele mergulha/batiza. (Evangelho de Filipe, 61.12-20)

Por outras palavras, tal como as cores/tinturas boas e verdadeiras se tornam uma só ou “morrem com” os itens tingidos, também as cores/tinturas imortais de Deus imbuem aqueles a quem Deus tinge de imortalidade durante o baptismo. Bahá’u’lláh chama a este acto “arte” e faz eco de uma ideia antiga em que a arte de tingir é vista como divina e literalmente como a arte da transformação.

O reino de Deus é uma cor unificadora, um domínio onde morremos em Deus e Deus nos tinge!

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Texto original: God’s Colors and the Color of God (www.bahaiteachings.org)


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Necati Alkan é um historiador turco-alemão, especialista no período final da história do Império Otomano. É investigador na Universidade de Bamberg (Alemanha) e trabalha com temas relacionados com minorias religiosas. Entre os seus livros contam-se: “The eternal enemy of Islam’: Abdullah Cevdet and the Baha’i religion” (2005); “Süleyman Nazif's 'Open Letter to Jesus': An Anti-Christian Polemic in the Early Turkish Republic” (2008); "Fighting for the Nuṣayrī Soul: State, Protestant Missionaries and the ʿAlawīs in the Late Ottoman Empire" (2012); "Divide and Rule: The Creation of the Alawi State after World War I (2013)

sábado, 15 de março de 2025

4 Conselhos para ler os Livros Sagrados de todas as Religiões

Por David Langness.


Não leia, como fazem as crianças, para se divertir, ou como os ambiciosos, com o propósito de instrução. Não, leia para viver. – Gustave Flaubert

Pensas que a tua dor e o teu desgosto não têm precedentes na história do mundo, mas depois lês. Foram os livros que me ensinaram que as coisas que mais me atormentavam eram exactamente aquelas que me ligavam a todas as pessoas que estavam vivas, ou que já viveram. – James Baldwin

Sente-se numa sala e leia, leia e leia. E leia os livros certos, pelas pessoas certas. A sua mente é levada a esse nível e sentirá um êxtase agradável, suave e lento o tempo todo. – Joseph Campbell

E tudo o que está na Sagrada Escritura foi escrito para nosso ensinamento, a fim de termos esperança por meio da paciência e da coragem que nos vêm da mesma Escritura. – Romanos 15:4

Assim, talvez, depois de ler os três primeiros artigos desta série sobre as Escrituras Sagradas, tenha decidido começar a ler os documentos base das grandes religiões do mundo. Como foi isso?

Isto não é uma pergunta simples.

O acto de nos sentarmos e lermos estes livros sequencialmente, do princípio até ao fim, pode nem sempre funcionar para todos. Porquê? Porque são escritos em estilos com os quais talvez não estejamos habituados; porque a linguagem arcaica que usam pode inicialmente confundir-nos; porque as histórias complexas que contam podem confundir-nos; porque podem parecer vêm de outro tempo e outra época. À partida, ler as Escrituras Sagradas pode parecer um trabalho árduo, entre termos, nomes e conceitos desconhecidos. À partida, as Escrituras podem parecer opacas, onde é difícil perceber facilmente o seu significado. A princípio, ler as Escrituras sagradas todos os dias pode causar indigestão espiritual, como comer rapidamente muita comida rica muito.

Mas não deixe que isso o impeça de começar, uma vez que as Escrituras sagradas têm muito para oferecer:

O propósito de Deus ao criar o homem sempre foi, e sempre será, permitir-lhe conhecer o seu Criador e alcançar a Sua Presença. Deste propósito excelso, deste objectivo supremo, dão testemunho inequívoco todos os livros celestiais e todas as poderosas Escrituras divinamente reveladas. (Bahá’u’lláh, Gleanings, XXIX)

A mensagem dos profetas, as revelações das sagradas Escrituras não têm outro objetivo senão o conhecimento de Deus e a unidade da humanidade. (Bahá’u’lláh, citado por 'Abdu'l-Bahá, Star of the West, Volume 1, p. 5)

Ao começar, pode querer considerar estes quatro conselhos para a leitura das escrituras sagradas dos ensinamentos Bahá’ís. Em primeiro lugar, não tente ler demasiado rápido:

Não vos orgulheis da muita leitura dos versículos ou de uma infinidade de actos piedosos, de noite e de dia; pois se um homem lesse um único versículo com alegria e esplendor, seria melhor para ele do que ler com lassidão todos os Livros Sagrados de Deus, o Amparo no Perigo, o Subsiste por Si Próprio. Lede os versículos sagrados com tal medida que não sejais dominados pela languidez e pelo desânimo.

Não coloqueis sobre as vossas almas algo que as canse e oprima, mas sim aquilo que as ilumine e eleve, para que possam voar nas asas dos versículos Divinos em direcção ao Lugar de Alvorada dos Seus sinais manifestos; isso aproximá-la-á de Deus, se apenas o compreendêsseis. (Baha’u’llah, The Most Holy Book, pp. 73-74)

O primeiro requisito é o desejo intenso e o amor das almas santificadas pela leitura da Palavra de Deus. Ler um versículo, ou mesmo uma palavra, com espírito de alegria e de brilho, é preferível à leitura de muitos livros. (Baha’u’llah, The Most Holy Book, pp. 126-127)

Em segundo lugar, leia o significado interior das palavras, e não o seu significado exterior:

...em todas as eras, a leitura das Escrituras e dos livros sagrados, não tem outro propósito salvo permitir ao leitor perceber o seu significado e deslindar os seus mistérios mais profundos. De outra forma, a leitura sem compreensão não tem qualquer proveito duradouro para o homem. (Bahá'u'lláh, Kitab-i-Iqan, ¶185)

Não vos contenteis com palavras. Procurai compreender os significados das Escrituras ocultos no coração das palavras. É difícil compreender as palavras até de um filósofo; então, podeis ver como é difícil compreender a palavra de Deus. ('Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 7, pp. 147-148)

Em terceiro lugar, leia bastante e procure cuidadosamente temas e ensinamentos comuns – tente não concentrar toda a sua atenção num livro ou numa religião:

Lede o evangelho e os outros livros sagrados. Vereis que os seus fundamentos são os mesmos. (‘Abdu’l-Bahá, Foundations of World Unity, p. 50)

Pedistes para adquirir conhecimento: lede os Livros e as Epístolas de Deus, e os artigos escritos para demonstrar a verdade desta Fé. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, nº 160)

Em quarto lugar, tente compreender os livros sagrados com o coração e com a mente:

É fácil ler as Sagradas Escrituras, mas só com um coração limpo e uma mente pura se pode compreender o seu verdadeiro significado. Peçamos a ajuda de Deus para nos capacitar a compreender os Livros Sagrados. Rezemos para que os olhos vejam e os ouvidos ouçam , e pelos os corações que anseiam pela paz… O Espírito que respira através das Sagradas Escrituras é alimento para todos os que têm fome. Deus, que deu a revelação aos Seus Profetas, dará certamente o seu abundante pão de cada dia a todos aqueles que Lhe pedirem fielmente. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pp. 57-58)

Quando começar a ler e a compreender as Escrituras sagradas, vai querer fazer disto uma prática para toda a vida.

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Texto original: 4 Guidelines for Reading the Sacred Books of All Faiths (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA

quinta-feira, 13 de março de 2025

Siyyid Mustafá Rumi (1846-1945)

Neste dia (13 de Março), em 1945, Siyyid Mustafá Rumi, nomeado postumamente Mão da Causa de Deus por Shoghi Effendi, foi assassinado por uma multidão numa aldeia do distrito de Kungyangon, na Birmânia (actual Myanmar).


Siyyid Mustafá Rumi nasceu em Bagdade, mas a sua família mudou-se para Madras (actual Chenai), na Índia, quando ele era criança. Conheceu a Fé Bahá’í em 1876 através de Jamal Effendi, e tornou-se Bahá’í em Calcutá no final de 1877. Em Maio de 1878, viajou para a Birmânia com Jamal Effendi.

No final do século XIX, a comunidade Bahá’í birmanesa construiu um sarcófago para o Báb e, em 1899, Siyyid Mustafa levou-o para a Terra Santa, onde o entregou a ‘Abdu’l-Bahá. Os restos mortais do Báb foram colocados no sarcófago em 1909.

Posteriormente, Siyyid Mustafa viajou para as Índias Orientais Holandesas com Jamal Effendi na década de 1880, e os dois converteram o Rei e a Rainha de Boné, na ilha de Celebes. Foi eleito para a Assembleia Espiritual Nacional da Índia e Birmânia no final da década de 1930.

Siyyid Mustafa foi convidado a viver na aldeia de Daidanaw pelo chefe da aldeia, que tinha conhecido a Fé através de dois Bahá’ís que o defenderam num processo legal. Converteu aproximadamente 800 residentes de Daidanaw à Fé Bahá'í e fundou uma escola naquela localidade. Nos seus últimos anos, traduziu o Kitab-i-Iqan, As Palavras Ocultas e Respostas a Algumas Perguntas para birmanês.

Em 1945, uma multidão de 3000 nacionalistas atacou os estrangeiros em Daidanaw, destruindo muitas propriedades Bahá’ís e assassinando onze Bahá’ís, incluindo Siyyid Mustafa.

A 14 de Julho de 1945, Shoghi Effendi nomeou-o postumamente Mão da Causa, enviando o seguinte telegrama:

“Corações condoídos passagem (à) Assembleia Suprema, distinto pioneiro Fé Bahá’u’lláh, o muito amado, leal e nobre espírito Siyyid Mustafa. O longo registo dos seus excelentes serviços (tanto no) campo do ensino (como) administrativo lançou brilho sobre as eras heroicas e formativas (da) Dispensação Bahá’í. As suas magníficas realizações dão-lhe pleno direito de ingressar nas fileiras das Mãos da Causa de Bahá’u’lláh. A sua última morada deve ser considerada o santuário mais importante (na) comunidade de crentes birmaneses. Encorajo os Bahá’ís indianos (e) birmaneses a participarem na construção (do seu) túmulo. “Envio trezentas libras (como) a minha contribuição pessoal (para) tão louvável (um) propósito.”

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Sobre Siyyid Mustafá Rumi: Baha'is Heroes & Heroines

sábado, 8 de março de 2025

A Cidade da Bahia

Neste dia (8 de Março) em 1917, ‘Abdu’l-Bahá revelava uma das Epístolas do Plano Divino em que Se referiu à cidade da Bahia.




Dizzy Gillespie, a Música, e a Fé Bahá'í

Por Jennifer Campbell.


...a música, cantada ou tocada, é alimento espiritual para a alma e para o coração. A arte do músico está entre aquelas artes dignas dos mais rasgados elogios e comove os corações de todos... (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #74)

No Centro Bahá’í da cidade de Nova Iorque encontra-se o Auditório John Birks Gillespie, dedicado ao grande e saudoso músico de jazz, carinhosamente chamado de "Dizzy" devido às suas brincadeiras em palco. É claro que muitas pessoas se lembrarão das suas capacidades como trompetista; alguns podem lembrar-se do seu humor malicioso, e outros ainda podem pensar com carinho no seu famoso trompete e nas bochechas inchadas. E também podem saber dos seus inúmeros prémios e reconhecimentos. No entanto, talvez poucos saibam que este virtuoso trompetista e famoso músico de bebop era Bahá’í. Dizzy Gillespie escreveu:

Tornar-me Bahá'í mudou a minha vida em todos os sentidos e deu-me um novo conceito do relacionamento entre Deus e o homem — entre o homem e o seu semelhante — o homem e a sua família... Tornei-me mais consciente espiritualmente, e quando estamos espiritualmente conscientes, isso reflete-se no que fazemos... As Escrituras [Bahá'ís] deram-me uma nova visão sobre qual é o plano — o plano de Deus — para este tempo, a verdade da unicidade de Deus, a verdade da unicidade dos profetas, a verdade da unicidade da humanidade.

Nascido na Carolina do Sul, John Birks Gillespie era o mais novo de nove irmãos. Começou a aprender piano aos quatro anos, quando muitos de nós brincávamos no parque e ainda não estávamos prontos para a escola. Como o seu pai tocava numa banda, conviveu com muitos instrumentos quando era criança. Aos 12 anos, Dizzy aprendeu sozinho a tocar trompete. Os seus talentos de alto calibre acabaram por lhe valer uma bolsa para estudar música no Instituto Laurinburg, na Carolina do Norte.

Este jovem talentoso começou a criar música notável. Para além de tocar trompete, Dizzy foi também cantor e compositor de scat, inovador e improvisador.


Ver vídeos no YouTube das suas actuações ao lado de outros músicos, demonstrando as suas fantásticas técnicas de sopro, exibindo o seu comportamento encantador e usando o seu característico trompete não é apenas divertido, mas inspirador. Mas a sua proeza musical revela apenas uma faceta deste homem talentoso; era também um ser espiritual, atraído pelas Escrituras de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í.

O livro de William Sears “Ladrão na Noite” — um grande livro que se lê como um romance de mistério e que incentiva a investigação independente da realidade — teve impacto na alma de Dizzy e levou-o à Fé Bahá’í. Aprender sobre o lado espiritual deste génio musical fez-me lembrar como a música pode alegrar os nossos corações, e afastar as nossas mentes das nossas preocupações e tristezas. A música é uma forma de arte que pode realmente “mover os corações”. Senti esse poder em primeira mão quando enfrentei momentos desafiantes — momentos em que ouvir uma música animada ajudou a afastar a minha mente da dor.

De facto, a música é tão vital para todos nós que Bahá’u’lláh abordou este tema no Seu livro de leis:

Nós, em verdade, fizemos da música uma escada para as vossas almas, um meio pelo qual podem ser elevadas ao reino do alto; não a façam, portanto, como asas para o ego e a paixão. (The Most Holy Book, p. 38)

Não é uma analogia adorável? Pensar na música como uma “escada para as [nossas] almas” dá-nos uma imagem mental desta escada espiritual a elevar-nos literalmente do chão. Por outras palavras, a música ajuda-nos a ligar com o nosso lado etéreo, e permite-nos esquecer os assuntos mundanos.

Num outro excerto das Escrituras Bahá’ís, a música é utilizada como uma metáfora importante para nos ensinar sobre a unidade na diversidade:

A diversidade na família humana deve ser a causa do amor e da harmonia, tal como acontece na música, onde muitas notas diferentes se misturam para formar um acorde perfeito. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 53)

Esta citação dos ensinamentos Bahá’ís é uma das minhas favoritas, e estou certa de que muitas pessoas se podem identificar com o seu delicado aviso de que, apesar das nossas diferenças físicas superficiais, somos todos uma única raça humana, e devemos ser amados e apreciados pela singularidade da nossa individualidade. Quando unidas, as diferentes notas musicais criam uma bela melodia, tal como diferentes personalidades humanas, etnias, tamanhos e formas criam a nossa bela família humana global.

A vida desta lenda do jazz e a importância da música para a nossa existência espiritual não podem ser contidas apenas nos limites deste breve artigo. O legado da música de Dizzy perdurará para que as gerações futuras o possam apreciar. As suas canções intemporais e a alegria da sua música continuarão inspirando, elevando e alimentando as nossas almas.

Espero que este artigo incentive os leitores a saber mais sobre a vida de Dizzy, a ouvir a sua música e a aprofundar a fé que ele seguiu.

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Texto original: Dizzy Gillespie, Music, and the Baha’i Faith (www.bahaiteachings.org)

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Jennifer Campbell e o marido vivem perto de Chicago (EUA) e são ambos membros da comunidade Baha’i.

terça-feira, 4 de março de 2025

Hají Ákhúnd

Neste dia (4 de Março) em 1910, Hají Ákhúnd falecia em Teerão.

Ele foi um dos quatro Mãos da Causa de Deus nomeados por Bahá’u’lláh e designado Apóstolo de Bahá’u’lláh por Shoghi Effendi. Ele esteve envolvido na transferência os restos mortais do Báb de vários locais secretos no Irão para ‘Akká, onde permaneceram durante vários anos até serem finalmente sepultados no Santuário do Báb em Haifa.

Hají Ákhúnd nasceu na aldeia de Shahmírzád, no Irão, em 1842. Era filho de um Mullá e, após alguns estudos preliminares, foi frequentar um colégio religioso, em Mashhad. Em 1861, conheceu os Bábis e converteu-se à sua religião.

Mais tarde mudou-se para Teerão, onde se tornou Bahá'í. Foi preso várias vezes naquela cidade. Viajou três vezes até à Terra Santa (1873, 1888 e 1899) para visitar Bahá’u’lláh e a sua família.

Foi responsável por grande parte das actividades Bahá’ís no Irão até à sua morte, a 4 de Março de 1910, em Teerão.