Povo de Bahá
"Povo de Bahá" é uma expressão frequentemente utilizada nas Escrituras Bahá'ís para designar os crentes em Bahá'u'lláh, i.e., os Bahá’ís.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
sábado, 13 de dezembro de 2025
Os Benefícios Espirituais de uma Vida Livre de Drogas
Por David Langness.
Cresci no Arizona, por isso cresci rodeado de drogas. Nas rotas de contrabando vindas do México, as estradas que atravessam o sul e o centro do Arizona transportaram toneladas de canábis, cocaína, heroína e metanfetamina em direcção ao norte. Uma vez, ao caminhar pelo deserto, encontrei um enorme fardo de canábis, embrulhado em plástico e juta, que parecia ter caído de um avião que sobrevoava o local, ou talvez tivesse sido deixado por um contrabandista a caminho de um ponto de encontro.
Deixei-o ali e continuei a caminhada.
Noutra ocasião, durante a pós-graduação, tive um colega de quarto que era traficante de canábis. Quando soube o que ele estava a fazer, pedi-lhe que parasse de traficar ou que se mudasse. Nessa altura, no Arizona, a posse de mais de 56 gramas de canábis numa residência podia resultar numa pena de vinte anos para todos os residentes. O meu colega de quarto mudou-se no dia seguinte, mas não sem antes dois polícias baterem à minha porta de madrugada e perguntarem por ele. Que momento assustador — imaginava-me preso, a protestar a minha inocência atrás das grades durante as próximas duas décadas. Por sorte, os polícias tinham acabado de passar por lá para o multar por estacionamento irregular. Acontece que tinha deixado o carro aberto e parado no meio da rua quando regressou a casa na noite anterior. Conseguimos imaginar o motivo.
De qualquer forma, decidi desde cedo nunca ingerir qualquer substância psicotrópica. Muito antes de sequer ter ouvido falar da Fé Bahá’í — que pede aos seus seguidores que se abstenham de consumir drogas ou álcool, a menos que sejam prescritos por um médico — já tinha decidido que não queria correr riscos com a minha mente. Eu sabia que nunca seria uma estrela de cinema ou um atleta de classe mundial, por isso imaginei que o meu cérebro constituía o meu único bem fiável neste mundo. Depois, tive algumas experiências que confirmaram a minha decisão inicial de me manter longe de todas as drogas.
Ironicamente, comecei a beber álcool por volta dos 14 anos. Sim, o álcool é uma droga. Eu sabia disso? Não. O consumo de álcool do meu pai era algo normal no seu dia a dia, e ele começou a dar-me goles da sua cerveja quando eu tinha cinco anos, por isso eu pensava que as pessoas normais bebiam a toda a hora. Nessa altura, trabalhava num restaurante com um monte de estudantes universitários que compravam e bebiam álcool todas as noites, por isso simplesmente entrei na onda, sem me aperceber dos danos que causavam à minha jovem mente e ao meu corpo. Aliás, depressa descobriria que o álcool é a droga mais abusada e, provavelmente, a mais perigosa do mundo.
Descobri isso quando uma noite conduzi bêbado para casa. Por sorte, não magoei ninguém, nem bati em nenhum carro, mas no dia seguinte percebi que não me lembrava de nada da noite anterior. Um amigo disse-me que eu tinha tido um apagão alcoólico, uma perda permanente de memória provocada por uma overdose. "O que é que esperavas?", perguntou o meu amigo, "sabes que cada bebida mata cerca de 500 células cerebrais, certo?". De repente, percebi que o lento declínio mental que tinha visto em adultos alcoólicos também poderia acontecer comigo. Na noite seguinte, fui à minha primeira reunião dos Alcoólicos Anónimos. Não bebo desde essa reunião, há 47 anos.
Quando tive o meu primeiro contacto com os Bahá’ís, perguntei: "Os Bahá’ís bebem?" O meu amigo Bahá’í entregou-me esta citação de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé:
Acautelai-vos para que não troqueis o Vinho de Deus pelo vosso próprio vinho, pois isso vos entorpecerá a mente e vos desviará o rosto da Face de Deus, o Todo-Glorioso, o Incomparável, o Inacessível. Não vos aproximeis dele, pois foi-vos proibido por ordem de Deus, o Exaltado, o Omnipotente. (de uma epístola de Bahá’u’lláh citada no Kitab-i-Adqas, P.266[EN])
"Nem mesmo vinho?", perguntei. O meu amigo respondeu: "Nada que te possa afastar de Deus."
Depois, um ano mais tarde, com apenas 18 anos, pouco depois de decidir tornar-me Bahá’í, consegui um emprego num grande hospital psiquiátrico estatal. Fui destacado para trabalhar numa ala de esquizofrénicos do sexo masculino, que também incluía homens com danos cerebrais causados por alcoolismo e overdose de drogas. Um dia, internamos um conhecido meu, um amigo da faculdade, que tinha descoberto que uma dose de LSD (a droga alucinógena) era tão boa que ele deve ter tomado dez. O meu amigo — vou chamar-lhe Sebastian — nunca recuperou. Ficou com danos cerebrais permanentes e viveu durante o resto da vida numa instituição para pessoas com lesões cerebrais graves.
Vi então a “agulha e o estrago feito”, como canta Neil Young, e decidi que não iria permitir que este tipo de estrago me acontecesse. Livre de drogas e álcool, e muitas vezes obrigado a ser o “condutor de serviço”, ainda assim testemunhei muitas tragédias relacionadas com drogas entre amigos — pelo menos duas mortes por condução sob o efeito do álcool, um suicídio, detenções e penas de prisão, vidas gravemente arruinadas, overdoses ainda mais devastadoras e inúmeros corações despedaçados. Uma overdose particularmente grave quase matou alguém próximo de mim — descobriu-se que um traficante lhe tinha vendido estricnina, um veneno mortal, afirmando ser outra coisa. Ele nunca mais foi o mesmo.
Depois, à medida que me fui envolvendo cada vez mais com os Bahá’ís, percebi que a minha decisão de me livrar do vício e da dependência também começou a trazer-me alguns benefícios espirituais internos.
Aos poucos, fui aprendendo que a clareza mental me permitia focar no meu espírito, compreender a minha própria alma e captar melhor a verdadeira realidade das coisas. Muitas vezes, desejava uma breve pausa no meu lado racional e lógico, mas, em vez de recorrer temporariamente às drogas ou ao álcool, aprendi gradualmente a procurá-la como um estado mais permanente na oração, na meditação e na contemplação. Sendo introvertido por natureza, descobri que a abstinência me obrigava a esforçar-me por ser sociável e comunicativo, em vez de estimular artificialmente essa sociabilidade com o "lubrificante social" do álcool. Cedo percebi quanto tempo, energia e dinheiro os meus amigos e conhecidos gastavam na procura das suas drogas preferidas; e quanto eu não gastava. Pesquisei os efeitos do consumo de drogas na saúde e aprendi como os abstémios vivem vidas mais longas e saudáveis. Mais importante ainda, cheguei à conclusão de que uma vida sem drogas me permitia viver uma existência muito mais enriquecedora espiritualmente, abrindo a minha percepção, livre de amarras e límpida, à beleza natural do mundo e das pessoas que me rodeavam.
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Texto original: The Spiritual Benefits of a Drug-Free Life (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
domingo, 7 de dezembro de 2025
Quem foram as Pessoas Mais Influentes na História?
Por David Langness.
Pense um pouco nestas questões: quem foram as pessoas mais influentes na história? Quem teve maior influência sobre toda a humanidade?
Os historiadores fizeram muitas listas classificando as pessoas mais influentes de sempre, mas há alguns anos a revista Time colocou esta questão, fez uma análise baseada em dados e até a submeteu a algum rigor científico:
Quando nos propusemos classificar a importância das figuras históricas, decidimos não abordar o projecto da mesma forma que os historiadores, através de uma avaliação baseada em princípios das suas realizações individuais. Em vez disso, avaliamos cada pessoa agregando milhões de traços de opiniões numa análise computorizada centrada em dados. Classificamos as figuras históricas da mesma forma que o Google classifica as páginas web, integrando um conjunto diversificado de métricas sobre a sua reputação num único valor consensual. (Who’s Biggest? The 100 Most Significant Figures in History, por Steven Skiena e Charles B. Ward, Time Magazine, 10 de Dezembro de 2013)
De longe, a maior percentagem de indivíduos na lista da Time das 100 pessoas mais significativas da história — um quarto deles — eram grandes figuras religiosas ou filósofos, os influentes profetas e mensageiros cujos conceitos, ideias e acções influenciaram milhões e milhões de pessoas ao longo de muitos séculos. Eis os cinco primeiros classificados pela Time:
- Jesus
- Napoleão
- Muhammad
- William Shakespeare
- Abraham Lincoln
É fácil compreender porque é que Cristo e Maomé ocupam posições tão elevadas nesta lista: porque deram origem a religiões globais com milhares de milhões de adeptos e porque é que os seus ensinamentos tiveram um impacto tão profundo nos seus seguidores, em múltiplas civilizações e na própria história da humanidade ao longo dos séculos. A posição de Napoleão em segundo lugar reflecte, sem dúvida, o facto de ele ter mudado a face da Europa durante a sua era, mas, afinal, tanto Cristo como Maomé mudaram a face do mundo inteiro — durante milhares de anos.
A lista da Time, como muitas listas semelhantes, tem reconhecidamente algum pendor ocidental — várias pessoas nela incluídas são presidentes americanos, por exemplo, e figuras históricas seminais como Buda e Moisés ocupam posições muito aquém do esperado —, mas tem em conta o enorme impacto dos fundadores das religiões do mundo. Podemos contar pelos dedos das mãos os profetas e mensageiros mais conhecidos: Krishna, Abraão, Moisés, Buda, Zoroastro, Cristo, Muhammad e agora Bahá’u’lláh, todos fundadores de religiões globais que inspiraram milhões de seguidores e, de facto, mudaram o pensamento da humanidade e, consequentemente, o progresso.
Assim, aqui fica uma ideia: e se modificássemos um pouco a Teoria do Grande Homem da história, considerando esta perspectiva espiritual, e lhe chamássemos a teoria dos Profetas de Deus? E se começássemos a ver estes profetas e mensageiros como os verdadeiros fundadores não só da religião, mas da própria civilização?
A leitura da história leva-nos à conclusão de que todos os homens verdadeiramente grandes, os benfeitores da raça humana, aqueles que levaram os homens a amar o certo e a odiar o errado e que causaram progressos reais, todos estes foram inspirados pela força do Espírito Santo.
Nem todos os Profetas de Deus se formaram nas escolas de filosofia erudita; na verdade, eram frequentemente homens de origem humilde, aparentemente ignorantes, homens desconhecidos e sem importância aos olhos do mundo; por vezes, nem sequer tinham conhecimentos de leitura e de escrita.
O que elevou estes grandes seres acima dos homens, e pelo qual puderam tornar-se Mestres da verdade, foi o poder do Espírito Santo. A sua influência sobre a humanidade, em virtude desta poderosa inspiração, foi grande e profunda.
A influência dos filósofos mais sábios, sem este Espírito Divino, tem sido relativamente insignificante, por mais extenso que seja o seu conhecimento e profunda a sua erudição.
Os intelectos fora do comum, por exemplo, de Platão, Aristóteles, Plínio e Sócrates, não influenciaram tanto os homens ao ponto de estes se mostrarem desejosos de sacrificar as suas vidas pelos seus ensinamentos; por outro lado, alguns destes homens simples comoveram de tal forma a humanidade que milhares de homens se tornaram mártires dispostos a defender as suas palavras; pois estas palavras foram inspiradas pelo Espírito Divino de Deus! (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pp. 164-165)
O filósofo Hegel concordou quando disse: “Estes são os grandes homens históricos — cujos objetivos particulares envolvem aquelas grandes questões que são a vontade do Espírito do Mundo.”
É claro que apenas mencionei o mais conhecido dos grandes fundadores da Fé. Cada cultura e civilização teve o seu próprio mensageiro divino, herói cultural ou profeta, o líder espiritual que conduziu as pessoas em direcção à paz, à unidade e ao amor ao próximo. Cada povo e cultura indígena tem pelo menos um destes mensageiros espirituais. Poderá ter ouvido falar de alguns deles — o mensageiro maia Quetzlcoatl, por exemplo, ou Deganawida, o Grande Pacificador, o venerado profeta dos Haudenosaunee, da Confederação Iroquesa —, mas os nomes de muitos outros perderam-se com o passar do tempo:
Repetidamente vos enviei os meus servos, os profetas, que insistiram convosco para mudarem de procedimento e fazerem o que é recto. Preveniram-vos para que não prestassem culto nem servissem a outros deuses… (Jeremias 35:15)
E a todos os povos enviámos um apóstolo. (Alcorão 16:38)
Deus tem levantado profetas e revelado livros tão numerosos como as criaturas do mundo, e continuará a fazê-lo por toda a eternidade. (The Bab, Selections from the Writings of the Bab, p. 125)
Sabei que a ausência de qualquer referência a eles [Profetas anteriores a Adão] não é prova de que, de facto, não tenham existido. O facto de actualmente não existirem registos disponíveis sobre eles deve ser atribuído à sua extrema distância, bem como às imensas mudanças que a Terra sofreu desde então. (Bahá’u’lláh, Gleanings from the Writings of Bahá’u’lláh, LXXXVII)
Quando observar este padrão histórico ao analisar todo o âmbito da história humana, e avaliar a influência destes imponentes líderes espirituais, começará a reconhecer o seu poderoso impacto.
Mas… e se levássemos esta teoria da história dos Profetas de Deus um pouco mais longe — como fazem os ensinamentos Bahá’ís — e começássemos a considerar cada um destes mensageiros divinos como um só?
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Texto original: Who Were History’s Most Influential People? (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
Paixão e Ressurreição: Perspectivas Histórica e Bahá'í
6ª sessão do curso "Evangelhos: Perspectivas Histórica e Bahá'í"
sábado, 29 de novembro de 2025
A Ilusão da Busca pela Verdadeira Felicidade
Por Natalie Peach.
Em média, a actual população mundial vive com mais conforto material, menos doenças, maior igualdade e muito mais oportunidades do que as pessoas que viveram em qualquer outra época da história. Apesar disso, a Organização Mundial de Saúde estima que, em 2030, a depressão será a doença mais comum e debilitante do mundo – tanto nos países ricos como nos países pobres.
A julgar pelas vendas de grandes quantidades de livros de autoajuda sobre como alcançar a felicidade na vida, diríamos que esta questão parece ser bastante importante para muitas pessoas. Parece que muitos reconhecem que a verdadeira felicidade ainda está longe, apesar de terem conforto financeiro, um bom emprego e uma vida social activa.
Não precisamos de nos esforçar muito para perceber a enorme quantidade de mensagens com que somos bombardeados diariamente sobre o que precisamos para viver felizes. O mundo da publicidade faz-nos acreditar que a felicidade está à distância de uma compra – roupa da moda, carros velozes, boa aparência, estatuto social. Isto faz parte de um modo de viver numa sociedade, guiado por objectivos e resultados, na qual a felicidade é algo que pode ser procurado e adquirido – se não através de bens materiais, então de inúmeras outras formas.
Quinze minutos no Facebook podem levar-nos a acreditar que as pessoas mais felizes são aquelas que têm inúmeros amigos, que vivem grandes aventuras no estrangeiro e que têm empregos incríveis. Focarmo-nos nas coisas que os outros têm e que nós não temos pode facilmente levar-nos a acreditar que a nossa felicidade depende da nossa vida ser exatamente como a idealizámos.
É interessante observar o que as Escrituras Bahá’ís têm a dizer sobre o assunto. ‘Abdu’l-Bahá fala sobre dois tipos de felicidade:
A felicidade tem duas formas: física e espiritual. A felicidade física é limitada; a sua duração máxima é de um dia, um mês, um ano. Ela não tem efeito duradouro. A felicidade espiritual é eterna e insondável. Esta felicidade surge na alma com o amor de Deus e permite à pessoa alcançar as virtudes e as perfeições do mundo da humanidade. Por isso, esforçai-vos ao máximo para iluminar a lâmpada do vosso coração com a luz do amor.
Esta citação vai directa ao assunto, diagnosticando a falha fundamental na nossa compreensão da felicidade que deixa tantas pessoas frustradas e perdidas: a verdadeira felicidade é uma atitude que cultivamos, e não algo que possuímos. Trata-se de um estado de ser, e não de ter.
Para compreendermos o que nos traz verdadeira felicidade, precisamos de compreender a nossa verdadeira natureza enquanto seres humanos. O facto de tantas pessoas terem dificuldade em descobrir o que exatamente as faz felizes significa que ainda não compreendemos quem realmente somos. Como podemos fazer isso? O que podemos fazer para aprofundar a nossa compreensão da nossa própria natureza?
1º Passo: Serviço aos Outros
Uma das citações mais fascinantes que li em resposta a isto é de Shoghi Effendi, que diz que a chave para nos conhecermos é, curiosamente, deixar de nos concentrarmos em nós próprios!
Quanto mais nos procuramos a nós próprios, menos provável é que nos encontremos; e quanto mais procurarmos a Deus e servirmos o nosso próximo, mais profundamente nos conheceremos e mais seguros de nós mesmos estaremos. Esta é uma das grandes leis espirituais da vida. (de uma carta escrita em nome do Guardião a um crente individual, 08 de Fevereiro de 1954)
Esta grande lei espiritual de que fala o Guardião – conhecermo-nos a nós mesmos através da busca de Deus e do serviço ao próximo – é algo que a nossa sociedade ainda não compreendeu plenamente. Parece contraintuitivo que, para nos conhecermos melhor, devamos desviar a nossa atenção de nós próprios e dirigi-la para os outros.
Mas imagine como seria a nossa sociedade se a maioria das pessoas começasse a adoptar esta abordagem da vida. Em vez de nos questionarmos constantemente sobre o que mais precisamos nas nossas vidas para aumentar a nossa felicidade e nos sentirmos sobrecarregados pela quantidade de coisas que ainda não temos, as nossas mentes seriam direcionadas para considerar o que já possuímos – as nossas capacidades, os nossos recursos, o nosso tempo – que podemos utilizar para contribuir para a felicidade dos outros.
E imagine como seria a nossa sociedade se a maioria das pessoas começasse a adoptar esta abordagem da vida. Em vez de nos questionarmos constantemente sobre o que precisamos nas nossas vidas para aumentar a nossa felicidade e nos sentirmos sobrecarregados pela quantidade de coisas que ainda não temos, as nossas mentes seriam direccionadas para considerar o que já possuímos – as nossas capacidades, os nossos recursos, o nosso tempo – que podemos utilizar para contribuir para a felicidade dos outros.
É através dos nossos esforços colectivos para servir os outros que nos familiarizamos mais profundamente com os dons e talentos, que possuímos e recebemos inúmeras oportunidades para desenvolver as nossas capacidades e o nosso carácter!
2º Passo: Foco na Aquisição de Virtudes
Como nos diz ‘Abdu’l-Bahá na citação anterior, a verdadeira felicidade anda de mãos dadas com a conquista das “virtudes e perfeições do mundo da humanidade”. Este é mais um princípio que pode não vir à mente da maioria das pessoas quando pensam em como aumentar a sua felicidade.
As mais recentes descobertas da psicologia mostram que as pessoas mais felizes são aquelas que identificaram e desenvolveram as suas próprias forças e virtudes, utilizando-as para fins que transcendem os seus objectivos pessoais. Ao esforçarmo-nos por cultivar as nossas virtudes, fortalecemos os nossos recursos espirituais e psicológicos, tornando-nos mais bem preparados para enfrentar os desafios e as dificuldades da vida sem sermos profundamente afectados por elas.
A chave para a felicidade – a verdadeira felicidade – parece ser um esforço constante: esforço no nosso caminho de serviço, esforço no desenvolvimento do nosso carácter e esforço em desprendermo-nos do ego e reconhecermos a nossa verdadeira natureza espiritual.
Ao reconhecermos que a felicidade física e a felicidade espiritual são dois estados de existência distintos, e ao compreendermos que é somente a felicidade espiritual – e não a física – que perdura e é, em última análise, aquilo que devemos procurar, somos capazes de realinhar os nossos esforços e energias.
Procurar a felicidade como único objectivo das nossas vidas só pode ser uma receita para a frustração e a decepção – encontraremos sempre, em algum momento, alguma coisa que falta nas nossas vidas. Ao procurarmos a felicidade espiritual e concentrarmos os nossos esforços em servir os outros em crescer espiritualmente, os nossos olhos abrir-se-ão para as inúmeras bênçãos das nossas vidas.
O que pensa sobre encontrar a “verdadeira felicidade”? Partilhe as suas ideias nos comentários.
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Texto original: The Elusive Quest for True Happiness (www.bahaiblog.net)
quinta-feira, 27 de novembro de 2025
O Evangelho de João: Perspectivas Histórica e Bahá'í
sábado, 22 de novembro de 2025
Quando ‘Abdu’l-Bahá abandonou este mundo
No final deste mês de Novembro, os Bahá’ís assinalam o aniversário do falecimento de 'Abdu’l-Bahá, que nos deixou em 1921, deixando um legado de grande serviço e devoção aos ideais Bahá’ís de paz, amor e unidade.
Como era esse legado amoroso?
‘Abdu’l-Bahá viveu uma vida dedicada a amar e a servir o próximo. Numa conversa informal com um grupo de estudantes universitários, registada na revista Bahá’í Star of the West, definiu como seria o legado amoroso de qualquer pessoa — inadvertidamente, descrevendo o Seu próprio:
O homem deve viver de tal modo que se torne amado aos olhos de Deus, amado na opinião dos justos e amado e louvado pelo povo. Quando ele alcança esta condição, a festa da felicidade eterna desfralda-se perante ele. O seu coração está sereno e sóbrio porque ele vê-se aceite no limiar do Altíssimo, o Único. A sua alma está na felicidade e bem-aventurança supremas, mesmo que esteja cercada por montanhas de provações e dificuldades. Ele será semelhante a um mar em cuja superfície se podem ver enormes ondas brancas, mas nas suas profundezas é calmo, sereno e imperturbável. Se ele confia a sua felicidade a objectos mundanos e a condições flutuantes, está condenado à desilusão. Se ele ganhar uma fortuna e nela ancorar a sua felicidade, poderá hipnotizar-se num estado de suposta alegria durante alguns dias, e depois essa mesma fortuna tornar-se-á uma pedra de moinho à volta do seu pescoço, o motivo da sua preocupação e melancolia.
Mas se ele viver de acordo com a vontade do Senhor, ele será favorecido na corte do Omnipotente. Será atraído para junto do trono da Majestade. Será respeitado por toda a humanidade, amado e honrado pelos fiéis. Esta fortuna concede a felicidade eterna. A árvore desta fortuna está sempre verdejante. O vento outonal não lhe queima as folhas, nem a geada do inverno lhe rouba a frescura perene. Esta é uma felicidade que não é seguida de qualquer miséria, mas é sempre uma fonte de gratidão e bem-aventurança. O maior e incomparável dom de Deus ao mundo da humanidade é a felicidade nascida do amor...
Aos 77 anos, a 28 de novembro de 1921, o líder da comunidade Bahá’í, de Seu nome Abbas Effendi e carinhosamente tratado por “O Mestre” – filho de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í e o Centro da Sua Aliança; muito amado e venerado em todo o mundo pelo Seu serviço à humanidade e pela Sua defesa da paz e da unidade; condecorado cavaleiro pelo Império Britânico devido ao Seu trabalho na alimentação dos pobres e na prevenção da fome na Palestina durante a Primeira Guerra Mundial – passou para o outro mundo.
‘Abdu’l-Bahá esteve prisioneiro e exilado durante a maior parte da Sua vida, mas a Sua prisão nunca comprometeu a Sua alegria, o Seu amor ou o Seu serviço à humanidade.
O Seu falecimento libertou uma torrente de profunda angústia e pesar, não só para os Bahá’ís de todo o mundo, mas para todos os que O conheciam. Pessoas de todas as religiões e sem religião lamentaram-se profundamente. O funeral de ‘Abdu’l-Bahá uniu a dividida Terra Santa, atraindo admiradores de todas as raças, idades, origens, classes e estilos de vida. Um profundo e intenso sentimento de perda e pesar uniu todos os presentes, no funeral. Na Terra Santa, o impacto único de ‘Abdu’l-Bahá resultou num funeral completamente sem precedentes.
‘Abdu’l-Bahá foi homenageado e sepultado na terça-feira, 29 de novembro de 1921, na encosta do Monte Carmelo, em Haifa, na Palestina. Milhares e milhares de pessoas subiram a encosta íngreme da montanha. "Uma grande multidão", escreveu o Alto Comissário britânico para a Palestina, "reuniu-se, lamentando a Sua morte, mas também regozijando-se pela Sua vida".
O governador de Jerusalém disse: “Nunca conheci uma expressão mais unida de pesar e respeito do que aquela que foi suscitada pela absoluta simplicidade da cerimónia”.
Observadores dos media estimaram que compareceram mais de dez mil pessoas: árabes, turcos, persas, curdos, arménios, europeus, americanos, judeus, católicos, cristãos ortodoxos, anglicanos, drusos, muçulmanos e bahá’ís, autoridades governamentais e clérigos, os mais ricos e os mais pobres, todos ali para mostrar o seu permanente respeito pelo homem a que um jornal chamou "A Personificação do Humanitarismo".
Em luto, gemidos e lamentações, a enorme multidão sentiu colectivamente uma sensação tão profunda de perda que muitos dos presentes lutaram contra as suas emoções. Os sons dos soluços e do choro enchiam o ar. Os enlutados choravam porque tinham perdido alguém tão único e tão humilde, tão sábio, altruísta e dedicado ao serviço do próximo, que temiam ter perdido algo insubstituível, algo tremendamente precioso, não apenas um homem, mas uma alma verdadeiramente heroica e transcendente.
A sua tristeza era compreensível. Muitos naquela gigantesca multidão deviam literalmente a sua vida a ‘Abdu’l-Bahá, quer pelas generosas doações que fizera aos pobres durante décadas, quer pelos cereais que armazenara para alimentar o povo faminto da Palestina durante a Primeira Guerra Mundial, quer pela Sua longa história de cuidados aos doentes, quer pelos gentis conselhos espirituais que dera a todos.
Se o velho ditado que diz que se pode julgar um homem pelo seu funeral for verdadeiro, então o funeral de ‘Abdu’l-Bahá produziu uma das mais espontâneas, profundas e públicas demonstrações de afecto, calor e ternura que a Terra Santa já viu — e provou o ensinamento de ‘Abdu’l-Bahá de que o amor dura para sempre.
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Texto Original: When Abdu’l-Baha Left This World (www.bahaiteachings.org)
quarta-feira, 19 de novembro de 2025
sábado, 15 de novembro de 2025
Por que razão procuramos a fama?
Por David Langness.
O que motiva as pessoas que procuram e desejam a fama? Quem, como eu, já viveu em Hollywood pode começar a acreditar que ser famoso representa um desejo universal, comum a todos.
Isto pode explicar porque é que grandes concentrações de sedentos de fama se reúnem nas capitais do entretenimento.
Quando vivi e trabalhei em Hollywood, o encontro com tantas pessoas desejosas de celebridade pública fez-me pensar: porque é que aqueles que procuram incansavelmente a fama têm um desejo tão ardente de aprovação, de renome, pelo ruído estrondoso da aprovação e dos aplausos, tudo isto vindo de grandes multidões de desconhecidos? O que os motiva a procurar a fama com tanta determinação? Porque é que as pessoas precisam tão desesperadamente de amor, aprovação ou validação pelas massas?
Uma actriz famosa que dá aulas de teatro em Los Angeles contou-me uma vez esta história ilustrativa sobre a busca pela fama: numa das suas aulas, pediu a todos os seus 17 jovens alunos que explicassem honestamente porque queriam ser actores, e cada um deles deu alguma variante de "porque gostava de ser amplamente conhecido".
Ela perguntou então: “Quantos de vocês vieram de famílias disfuncionais ou alcoólicos?”
Dezasseis deles — todos os alunos, excepto um — levantaram a mão. Seguidamente, todos os que tinham a mão levantada olharam de soslaio para o aluno que restava, que disse "Estou lixado!", e levantou lentamente a mão.
Será possível que todos procuremos o amor de formas diferentes, e que aqueles que fazem da fama o seu principal objectivo procurem o amor de todos? Será que a falta de amor e de atenção dos pais ou de outras pessoas na infância contribui, na idade adulta, para uma forte necessidade de fama, honra e do "amor" generalizado de muitos?
Estas questões podem ser respondidas com um categórico sim, dizem os especialistas. O psicólogo Alfie Kohn, num artigo da revista Psychology Today, definiu o comportamento de procura de fama como uma procura de validação social:
A fama, mais do que a riqueza, tem a ver com validação social, e este facto realça a triste ironia de que as pessoas que a desejam tendem a sentir-se isoladas e alienadas. Tal como a fome de aplausos de um artista, a autoestima de quem procura a fama depende da forma como é visto pelos outros.
Este tipo de validação externa — procurar a aclamação, a visibilidade e o prestígio que acreditamos que a fama e a celebridade proporcionarão — impulsiona e motiva um número cada vez maior de pessoas na nossa cultura obcecada por celebridades nos dias de hoje. Esta atracção — se for famoso, todos o vão adorar, admirar e invejar — funciona como um chamariz para quem se sente rejeitado e abandonado.
Mas os ensinamentos Bahá’ís alertam que agir apenas com base nesse desejo resultará inevitavelmente num desfecho infeliz. Bahá'u'lláh afirmou:
Acautelai-vos para não vos apegueis àquilo que possuís, nem vos orgulheis da vossa fama e prestígio. O que vos convém é desapegar-vos completamente de tudo o que está nos céus e na terra. Assim foi ordenado por Aquele que é o Todo-Poderoso, o Omnipotente.
Na mesma linha, uma antiga publicação Bahá’í chamada True Belief citou ‘Abdu’l-Bahá dizendo:
Todos os seres humanos são mundanos; os seus corações estão ligados com este mundo. De dia e de noite, os seus pensamentos e ocupações são mundanas; todos pertencem a este mundo. Pensam nas honras deste mundo, ou nas riquezas e riquezas deste mundo, ou no nome e na fama neste mundo. Os seus dias e noites passam assim. A orientação de Deus torna evidente e claro quando se abre o caminho do Reino, o percurso divino, que esta é a estrada do Reino.
Não basta apenas distinguir o caminho do Reino, apenas descobrir o caminho celeste: é preciso percorrê-lo até ao fim.
Os ensinamentos Bahá’ís pedem a cada um de nós que desenvolva um horizonte mais elevado, uma visão mais duradoura e um objectivo mais profundo do que a efémera fama mundana. ‘Abdu’l-Bahá aconselhou todas as pessoas a concentrarem-se não em procurar a admiração e a aprovação pelos outros, mas em procurar o amor verdadeiro e duradouro de Deus:
A luz deste amor acende-se, através do conhecimento de Deus, na lâmpada do coração, e os seus raios difusos iluminam o mundo e conferem ao homem a vida do Reino. E, em verdade, o fruto da existência humana é o amor de Deus, que é o espírito da vida e da graça eterna. Não fosse o amor de Deus, o mundo contingente estaria mergulhado nas trevas. Não fosse o amor de Deus, os corações dos homens estariam destituídos de vida e privados de consciência. Não fosse o amor de Deus, as perfeições do mundo humano desapareceriam por completo. Não fosse o amor de Deus, nenhuma ligação real poderia existir entre os corações humanos. Não fosse o amor de Deus, a união espiritual perder-se-ia… Não fosse o amor de Deus, a discórdia e a divisão não se transformariam em camaradagem. Não fosse o amor de Deus, o distanciamento não daria lugar à unidade. Não fosse o amor de Deus, o estranho não se tornaria o amigo. De facto, o amor no mundo humano é um raio do amor de Deus e um reflexo da graça da Sua generosidade.
Como escreveu 'Abdu'l-Bahá nas suas Epístolas do Plano Divino, isto significa desprendermo-nos da fama mundana e efémera, enquanto fazemos o máximo para procurar a fama permanente e eterna oferecida pelos “tesouros celestiais” da iluminação espiritual:
... não descanseis, não procureis a compostura, não vos apegueis aos luxos deste mundo efémero, libertai-vos de todo o apego e esforçai-vos de corpo e alma para vos estabelecerdes plenamente no Reino de Deus. Alcançai os tesouros celestiais. Dia a dia, tornai-vos mais iluminados. Aproximai-vos cada vez mais do limiar da unidade. Tornai-vos os manifestadores de favores espirituais e os alvores de luzes infinitas!
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Texto original: Why Do We Seek Fame? (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
O Evangelho de Lucas: Perspectivas Histórica e Bahá'í
sábado, 8 de novembro de 2025
Que Tipo de Governo Recomendam os Ensinamentos Bahá’ís?
Por David Langness.
Das formas conhecidas de governo humano — aristocracia, autocracia, teocracia ou democracia — quais são recomendadas pelos ensinamentos Bahá’ís e porquê?
As respostas a estas questões reflectem o facto de todas as três figuras centrais da Fé Bahá’í — o Báb, Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá — terem sofrido terrivelmente sob o regime severo, arbitrário e repressivo de governos autoritários e teocráticos.
A nova religião do Báb surgiu em Shiraz, na Pérsia, em 1844, e cedo se transformou num movimento espiritual impactante por toda a Pérsia, então governada pela Dinastia Qajar, um governo aristocrático fortemente influenciado por clérigos teocráticos. Por serem considerados hereges pelo clero e pelo governo da Pérsia, mais de 20.000 Bábis morreram numa série de massacres por todo o país. O Báb, por ordem do primeiro-ministro do Xá, foi executado publicamente por um pelotão de fuzilamento na cidade de Tabriz, a 9 de Julho de 1850.
Bahá’u’lláh, anunciado pelo Báb, proclamou e fundou a Fé Bahá’í em 1863 — o que resultou na Sua prisão, tortura e exílio para a colónia penal mais distante do Império Otomano, a cidade-prisão de Acre, no que é hoje Israel. Apesar de não ter cometido qualquer crime, Bahá’u’lláh passou os últimos quarenta anos da Sua vida como prisioneiro exilado do corrupto regime persa do Xá Nasiri-din e do sultão otomano Abdul-Aziz.
‘Abdu’l-Bahá, filho e sucessor de Bahá’u’lláh, liderou a comunidade Bahá’í mundial até ao Seu falecimento em 1921. Exilado e preso durante 40 anos juntamente com o Seu pai, ‘Abdu’l-Bahá foi finalmente libertado da opressão das aristocracias otomana e persa após a Revolução dos Jovens Turcos de 1908, que obrigou o governante do Império Otomano a realizar eleições democráticas e a restaurar o Estado de direito constitucional.
As Características Distintivas da Revelação Bahá'í
Dado o tratamento severo e injustificado que recebem por parte dos regimes autoritários rígidos, seria de esperar que as figuras centrais da Fé Bahá’í recomendassem formas alternativas de governo, não autocráticas — e foi isso que aconteceu.
Bahá'u'lláh, nas Suas epístolas aos governantes e líderes religiosos do mundo, recomendou formas de governo democrático, elogiando as democracias parlamentares que conservavam uma forma moderada de aristocracia. Neste excerto da sua Epístola do Mundo, Bahá'u'lláh elogiou monarquias constitucionais democráticas como a da Inglaterra:
O sistema de governo que o povo britânico adoptou em Londres parece ser bom, pois está adornado pela luz tanto da realeza como da consulta ao povo...
Ó vós que habitais na terra! A característica distintiva que marca o carácter preeminente desta Revelação Suprema consiste em termos, por um lado, apagado das páginas do Santo Livro de Deus tudo o que tenha sido causa de contenda, malícia e maldade entre os filhos dos homens, e, por outro, estabelecido os pré-requisitos essenciais da concórdia, da compreensão, da unidade completa e duradoura.
Numa das suas epístolas inspiradoras aos governantes do mundo, Bahá'u'lláh elogiou a Rainha Vitória pelo seu apoio ao governo democrático:
… Ouvimos também dizer que confiaste as rédeas do conselho nas mãos dos representantes do povo. Na verdade, agiste bem, pois assim os alicerces do edifício dos teus assuntos serão fortalecidos e os corações de todos os que estão sob a tua protecção, sejam eles nobres ou humildes, estarão tranquilizados.
O Governo Constitucional e o Estado de Direito
Os Bahá'ís acreditam no governo constitucional baseado no Estado de Direito, como disse 'Abdu'l-Bahá nas Suas Epístolas: "O Governo Constitucional, de acordo com o texto irrefutável da Religião de Deus, é a causa da glória e prosperidade da nação, bem como da civilização e liberdade do povo."
Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá'í após o falecimento de 'Abdu'l-Bahá, escreveu no seu livro "A Presença de Deus" que:
O estabelecimento de uma forma constitucional de governo, na qual os ideais republicanismo e a majestade da realeza, caracterizada por Ele como “um dos sinais de Deus”, são combinados, são recomendados por Ele [Bahá’u’lláh] como uma realização meritória…
Nas Suas viagens ao hemisfério ocidental e às nações da Europa e da América do Norte, no início do século XX, após a Sua libertação de quatro décadas de prisão, ‘Abdu’l-Bahá abordou frequentemente estes temas relacionados com a democracia nos Seus discursos e palestras, como ilustra este discurso proferido em Nova Iorque em 1912:
Considerem a enorme diferença que existe entre a democracia moderna e as antigas formas de despotismo. Sob um governo autocrático, as opiniões dos homens não são livres e o desenvolvimento é sufocado, enquanto em democracia, como o pensamento e a expressão não são restringidos, assiste-se ao maior progresso. O mesmo se aplica ao mundo da religião. Quando prevalece a liberdade de consciência, a liberdade de pensamento e o direito de expressão — isto é, quando cada homem, de acordo com os seus próprios ideais, pode exprimir as suas crenças — o desenvolvimento e o crescimento são inevitáveis.
É por demais evidente que, no futuro, não haverá centralização nos países do mundo, sejam eles de governo constitucional, republicanos ou democráticos. Os Estados Unidos podem ser citados como exemplo de governo futuro — ou seja, cada província será independente em si mesma, mas haverá uma união federal a proteger os interesses dos vários estados independentes.
Resistir à Opressão com Justiça
As Escrituras Bahá'ís elogiam as formas democráticas de governo e o Estado de direito, não só porque os governos tirânicos e autocráticos restringem a liberdade e tratam o seu povo injustamente, mas porque, como 'Abdu'l-Bahá escreveu aos Bahá'ís persas há mais de um século, devemos "resistir à opressão com justiça" enquanto "promovemos a civilização para toda a humanidade".
Em resumo, ó amados do Senhor! Não considerem a tirania e a iniquidade dos ignorantes. Resistam à opressão com justiça, oponham-se à tirania com equidade e respondam à sede de sangue com amor e bondade. Sede benfeitores do progresso da Pérsia e do seu povo, e esforçai-vos por promover a civilização para toda a humanidade.
Apesar dos constantes ataques à própria democracia, o número de governos democráticos livres no mundo aumentou rapidamente desde a revelação de Bahá’u’lláh. Até ao século XIX, a maioria dos líderes das nações e das religiões opunha-se amplamente à democracia, e muito poucos governos podiam ser descritos como democráticos; mas hoje, de acordo com o "Fórum Mundial sobre a Democracia", existem democracias eleitorais em 120 dos 192 países existentes, representando quase 60% da população mundial.
Será que o Mundo Inteiro poderia ser uma Democracia?
A Fé Bahá’í contém elementos importantes da democracia na sua própria ordem administrativa. Os Bahá'ís não têm clero; todas as decisões administrativas são tomadas por grupos de Bahá’ís eleitos democraticamente, compostos por nove membros — designados por Assembleias Espirituais Locais e Nacionais nestes respectivos níveis e designados por Casa Universal de Justiça a nível internacional. Hoje, a Casa Universal de Justiça é o único órgão governamental global eleito por aqueles que representa em todo o mundo — embora os Bahá’ís acreditem que, um dia, toda a humanidade poderá ser governada pacificamente por uma democracia eleitoral.
Numa das Suas conversas com um funcionário do governo americano durante a Sua viagem aos Estados Unidos em 1912, ‘Abdu’l-Bahá deu este conselho, como relata Shoghi Effendi no seu livro A Ordem Mundial Bahá’u’lláh:
"Poderá servir melhor o seu país", foi a resposta de 'Abdu'l-Bahá a um alto funcionário do governo federal dos Estados Unidos da América, que O questionara sobre a melhor forma de promover os interesses do seu governo e povo, "se se esforçar, na sua condição de cidadão do mundo, por auxiliar na eventual aplicação do princípio do federalismo que fundamenta o governo do seu próprio país às relações existentes entre os povos e as nações do mundo."
Os ensinamentos Bahá’ís citam frequentemente as democracias representativas como modelos de um futuro sistema mundial de governação — rejeitando a tirania, proibindo a escravatura e defendendo reiteradamente o estabelecimento de uma democracia constitucional baseada no Estado de direito — não apenas em todas as nações, mas também numa futura ordem mundial federalizada.
Visando este objectivo global, Bahá'u'lláh escreveu:
Não pode haver dúvida alguma de que, se a estrela da justiça, que foi obscurecida pelas nuvens da tirania, lançasse a sua luz sobre os homens, a face da Terra seria completamente transformada.
O Grande Ser, desejando revelar os pré-requisitos para a paz e a tranquilidade do mundo e o progresso dos seus povos, escreveu: Chegará o tempo em que a necessidade imperativa de se realizar uma vasta e abrangente assembleia de homens será universalmente compreendida. Os governantes e os reis da Terra deverão comparecer nela e, participando nas suas deliberações, deverão examinar os meios e as formas que lançarão os alicerces da Grande Paz mundial entre os homens.
Esta visão inspiradora de um governo global democrático que apoia e defende a paz mundial inspira pessoas em todo o mundo — o que explica porque é que os Bahá’ís trabalham diligentemente todos os dias para a tornar realidade.
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Texto original: What Type of Government Do the Baha’i Teachings Recommend? (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
