sábado, 2 de agosto de 2025

Os governantes têm um impacto duradouro na História?

Por David Langness.


Conhece a história do encontro entre Diógenes, o famoso filósofo que buscava a verdade, e Alexandre, o Grande? O encontro não correu bem para o rei.

Diógenes e Alexandre
Diógenes, conhecido em todo o mundo pela sua filosofia que rejeitava o materialismo e as restrições artificiais da sociedade grega, vivia num barril nas ruas de Corinto. Na verdade, tinha desistido de tudo o que possuía e tornara-se um sem-abrigo voluntário para demonstrar o seu desdém pelo materialismo. Plutarco escreveu que Alexandre, que procurou e ficou entusiasmado ao conhecer o famoso filósofo, parou diante de Diógenes sentado e perguntou-lhe se podia fazer alguma coisa por ele.

"Sim", disse Diógenes. "Sai da frente do sol; estás a fazer-me sombra".

O filósofo olhava fixamente uma pilha de ossos humanos à sua frente, e Alexandre, o Grande, o homem mais poderoso do mundo na época, aluno de Aristóteles e filho do rei Filipe II, perguntou a Diógenes o que estava a fazer.

Estou à procura dos ossos do seu pai”, disse Diógenes, “mas não consigo distingui-los dos ossos de um escravo”.

Estas lendas e histórias tendem a ser embelezadas com o tempo e, porque já passaram 2300 anos desde o suposto encontro, é preciso levar o relato de Plutarco sobre Diógenes e Alexandre, o Grande, com uma boa dose de cepticismo, ou talvez várias. A história, apócrifa ou não, sobreviveu tanto tempo porque ilustra uma verdade importante: na vida, as nossas condições podem ser muito diferentes; mas na morte tornamo-nos iguais. Riqueza, pompa e circunstância terrenas não significam nada na sepultura.

Os ensinamentos Bahá’ís reflectem longa e frequentemente sobre este importante tema, tal como os ensinamentos de todas as grandes religiões. Alertam-nos para não darmos demasiada importância ao estatuto social, à hierarquia ou à distinção mundana — porque tudo isto é temporário, importante neste mundo por um curto período, mas não no mundo que é eterno.

Neste excerto muito socrático de uma das suas epístolas, Bahá'u'lláh faz-nos a todos a mesma pergunta essencial que Diógenes fez a Alexandre:

Olhando para os que dormem sob as lápides, rodeados pelo pó, poder-se-ia distinguir entre a caveira desfeita do soberano e os ossos em decomposição do súbdito? Não, por Aquele que é o Rei dos Reis! Pode-se distinguir o senhor do vassalo, ou aqueles que disfrutaram riquezas daqueles que não possuíam sapatos ou uma esteira? Por Deus! Toda a distinção foi eliminada, salvo para aqueles que defendem o que é correcto e governam com justiça.

Para onde foram os homens instruídos, os sacerdotes e os potentados de outrora? Os que aconteceu às suas perspectivas criteriosas, às suas percepções sensatas, às suas declarações sábias? Onde estão os seus cofres ocultos, os seus ornamentos aparatosos, os seus divãs dourados, os seus tapetes e almofadões espalhados? Desapareceu para sempre a sua geração! Todos pereceram, e, pelo mandamento de Deus, nada restou deles salvo pó disperso. Esgotada está a riqueza que amealharam, espalhados estão os bens que acumularam, dissipados estão os tesouros que esconderam. Agora, nada se pode ver salvo os seus lugares favoritos desertos, as suas habitações sem telhado, as suas vigas arrancadas, e o seu esplendor desvanecido. Nenhum homem de discernimento permitirá que a riqueza distraia o seu olhar do seu derradeiro objectivo, e nenhum homem de compreensão permitirá que as riquezas o impeçam de se voltar para Aquele Que é o Possuidor de Tudo, o Altíssimo.

Onde está aquele que detinha o domínio sobre tudo onde o sol brilha, que vivia extravagantemente na terra, procurando os luxos do mundo e tudo o que foi criado nele? Onde está o comandante da legião negra e que erguia o estandarte dourado? … Onde estão aqueles perante cuja munificência as casas de tesouros da terra se encolhiam de vergonha, e ante cuja generosidade e vastidão de espírito o próprio oceano se envergonhava? Onde está aquele que estendeu o seu braço em rebelião, e voltou a sua mão contra o Todo-Misericordioso?

Onde estão aqueles que foram em busca dos prazeres mundanos e frutos dos desejos carnais? Para onde fugiram as suas mulheres belas e graciosas? Onde estão os seus ramos ondulantes, os seus galhos que se expandem, as suas mansões grandiosas, os seus jardins protegidos? E sobre os encantos desses jardins – os seus solos refinados e brisas suaves, os seus regatos murmurantes, os seus ventos sussurrantes, o arrulho das suas pombas, o som leve das suas folhas? Onde estão agora as suas manhãs resplandecentes e os seus rostos brilhantes envoltos em sorrisos? Ai deles! Todos pereceram e foram repousar sob uma abóbada de pó. Deles, não ouvimos nem o nome, nem menção; nada se sabe dos seus assuntos, e nada resta dos seus sinais.

Como? Irão então as pessoas contestar aquilo de que elas próprias são testemunhas? Irão elas negar aquilo que elas sabem ser verdade? Não sei em que deserto deambulam! Será que eles não vêem que embarcaram numa viagem que não tem retorno? Durante quanto tempo irão vaguear da montanha para o vale, da várzea para a colina? “Não chegou o momento para aqueles que acreditam tornarem humildes os seus corações à menção de Deus?” Bendito seja aquele que disse, ou diz agora, “Sim, pelo meu Senhor! O momento chegou e a hora soou!”, e, depois disso, desprende-se de tudo o que existe, e entrega-se inteiramente Àquele Que é o Possuidor do universo e Senhor de toda a criação. (Bahá’u’lláh, Súriy-i-Haykal, ¶259-¶263)

Os únicos líderes que têm um impacto duradouro na história, diz aqui Bahá'u'lláh claramente, são aqueles "defendem o que é correcto e governam com justiça". O seu poder e prazeres mundanos, os seus castelos, as suas riquezas e os seus poderosos exércitos, tudo se desmorona, se dissipa e desaparece no passado esquecido, e a única coisa que permanece é a memória dos atributos espirituais internos que revelaram ao povo que governaram.

Com isto em mente, no próximo artigo desta série, vamos analisar uma das explicações modernas da história mais populares e amplamente aceites: a teoria do homem comum.

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Texto original: Do Leaders Have a Lasting Impact on History? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

sábado, 26 de julho de 2025

Quem gostaria de ser famoso?

Por David Langness.


Recentemente, uma menina de 12 anos surpreendeu-me quando lhe fiz aquela pergunta padrão dos adultos: "O que queres ser quando fores grande?". Entusiasmada, respondeu: "YouTuber! Influencer! Qualquer coisa que me torne famosa!".

Entre as gerações criadas nas redes sociais, este desejo de fama tem-se tornado uma tendência cada vez mais evidente.

Sondagens e inquéritos também identificaram esta tendência — um estudo recente de uma revista de psicologia descobriu que as crianças dos 9 aos 11 anos identificam agora a fama como o seu primeiro valor. Em 1997, quando as redes sociais estavam apenas a começar, a fama ocupava o 15º lugar.

Numa entrevista ao Palm Beach Post sobre o seu artigo "Poder, Fama e Recuperação", o conceituado psiquiatra norte-americano Reef Karim afirmou: "As crianças de hoje não querem ser médicas ou advogadas. Só querem ser famosas." Caramba!

Como me interesso por esta tendência de obsessão por celebridades — e também me sinto um pouco horrorizado com ela — comecei a fazer a pergunta «o que gostarias de ser?» a todas as crianças e jovens que conheço, e adivinhem? Os resultados do meu inquérito informal revelam que muitos jovens, salvo raras excepções, gostariam muito de ser famosos. Alguns não o admitem de imediato, mas, quando me aprofundo um pouco, o desejo de fama parece estar presente na maioria das crianças mais velhas e dos adolescentes que encontro.

Talvez isso não seja surpreendente. Obviamente, vivemos numa era que venera a fama. Grande parte da cultura ocidental centra-se agora nas celebridades — basta testemunhar a glorificação infinita daqueles que consideramos famosos, em todos os meios de comunicação e por qualquer motivo.

Sim, todos gostaríamos de ser vistos, valorizados, amados — mas qual a melhor forma de o fazer? Os ensinamentos Bahá’ís apresentam uma enorme sabedoria sobre o assunto, por isso vamos aprofundá-los.

‘Abdu’l-Bahá — filho e sucessor de Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá’í — proferiu um importante discurso em Paris, em 1911, sobre o tema da busca da fama mundana:

A vida de alguns homens está ocupada apenas com as coisas deste mundo; as suas mentes estão tão circunscritas pelos costumes exteriores e pelos interesses tradicionais que eles ficam cegos para qualquer outro reino da existência, para o significado espiritual de todas as coisas! Pensam e sonham com a fama mundana, com o progresso material. Prazeres sensuais e ambientes confortáveis limitam o seu horizonte; as suas maiores ambições centram-se nos sucessos em condições e circunstâncias mundanas! Não refreiam as suas propensões inferiores; comem, bebem e dormem! Tal como o animal, não pensam para além do seu próprio bem-estar físico. É certo que essas necessidades devem ser satisfeitas. A vida é um fardo que deve ser carregado enquanto estamos na Terra, mas não se deve permitir que os cuidados com as coisas inferiores da vida monopolizem todos os pensamentos e aspirações de um ser humano. As ambições do coração devem ascender a um objetivo mais glorioso, a actividade mental deve elevar-se a níveis superiores! Os homens devem manter nas suas almas a visão da perfeição celestial e aí preparar uma morada para a inesgotável dádiva do Espírito Divino.

Que a vossa ambição seja a consecução de uma civilização celestial na Terra! Peço para vós a bênção suprema, para que estejais tão plenos da vitalidade do Espírito Paradisíaco que possais ser a causa da vida para o mundo.

Por isso, em vez de procurarmos a fama — que está inevitavelmente condenada a desaparecer— os ensinamentos Bahá'ís sugerem que conservemos nas nossas almas "a visão da perfeição celestial" e estabeleçamos como nossa principal ambição "a consecução de uma civilização celestial na Terra". Estas ambições grandiosas não se centram no indivíduo, mas na massa da humanidade. De certa forma, são exactamente o oposto de querer ser famoso — em vez disso, incentivam-nos a esforçarmo-nos para sermos humildes, compassivos e centrados no bem maior.

A fama mundana, salientam os ensinamentos Bahá'ís, é efémera — nunca é duradoura. Pela sua própria natureza, e devido aos caprichos inconstantes do que é popular no momento, quase toda a fama é passageira. Por isso, em vez de empenharmos esforços procurando algo tão temporário e, por isso, sem sentido, ‘Abdu’l-Bahá recomendou que todos procurássemos uma fonte de honra mais permanente e duradoura:

Cada alma procura um objetivo e nutre um desejo, e de dia e de noite esforça-se para atingir o seu objetivo. Uma anseia por riquezas, outra tem sede de glória e ainda outra anseia por fama, arte, prosperidade e coisas do género. No entanto, no final, todos estão condenados à perda e à desilusão. Todos eles deixam para trás tudo o que lhes pertence e, de mãos vazias, correm para o reino além, e todos os seus esforços serão em vão. Todos regressarão ao pó, despidos, deprimidos, desanimados e em completo desespero.

Mas, louvado seja o Senhor, tu estás empenhado naquilo que te assegura um ganho que durará eternamente; e isto não é mais do que a tua atracção pelo Reino de Deus, a tua fé e o teu conhecimento, a iluminação do teu coração e o teu sincero esforço para promover os Ensinamentos Divinos.

Em verdade, esta dádiva é imperecível e esta riqueza é um tesouro do alto!

Esta dádiva imperecível — a iluminação do nosso próprio coração, o conhecimento interior, a fé e o amor duradouro pelos outros — durará para sempre. Bahá’u’lláh prometeu:

Assim como a conceção da fé existe desde o princípio, que não tem princípio, e perdurará até ao fim, que não tem fim, da mesma forma o verdadeiro crente viverá e perdurará eternamente. O seu espírito circulará eternamente em torno da Vontade de Deus. Ele perdurará enquanto o próprio Deus perdurar.

Quem trocaria uma fama temporária e fugaz por uma eterna?

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Texto original: How Would You Like To Be Famous? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

sábado, 19 de julho de 2025

Como a Fé Bahá'í me ajudou a ficar sóbrio

Por David Langness.


O meu pai era alcoólico. Por isso, poderia supor-se que eu teria aprendido algumas lições com essa experiência, mas quando cheguei à adolescência, eu já estava bem adiantado nesse caminho.

O álcool arruinou a vida do meu pai. Alistou-se nos fuzileiros navais aos 18 anos e lutou corajosamente nas campanhas do Pacífico da Segunda Guerra Mundial, onde foi gravemente ferido e promovido após combates brutais em Tarawa e Iwo Jima; tudo isso deixou-o profundamente traumatizado. Quando a guerra terminou, o seu consumo ocasional de bebidas alcoólicas tinha-se transformado gradualmente num hábito diário e, mais tarde, num vício.

Penso que, na ausência de qualquer terapia, usou o álcool para se automedicar, para apagar o grave trauma e a lesão moral que sofreu na guerra. Infelizmente, os veteranos da Segunda Guerra Mundial não tiveram acesso a tratamento para esses traumas.

O meu pai não parecia um alcoólico – quando era criança, nunca o vi cambalear ou arrastar as palavras. "Não estou bêbado", dizia com orgulho, "só tomo duas bebidas por dia". Essa parte das "duas bebidas" era verdade – mas cada uma dessas suas bebidas era servida num copo de 240 ml com cerca de 95% de Bourbon, com um bocadinho de água. O Bourbon é um tipo de whisky que normalmente contém 40 a 50% de álcool puro. Além disso, costumava começar a beber à noite, antes de consumir as bebidas mais fortes, com algumas cervejas, que ele não considerava uma bebida a sério.

Assim, o meu pai bebia, todas as noites, pelo menos 240 ml de álcool puro. A maioria das pessoas não conseguiria fazê-lo fisicamente. Orgulhava-se de conseguir "aguentar a bebida", como ele próprio dizia. Hoje, os médicos compreendem que a tolerância ao álcool aumenta com o tempo, tal como acontece com qualquer droga, e sabem também que consumir tanto álcool de uma só vez sem prejuízo visível significa que o alcoolismo atingiu um estado muito avançado. Talvez por isso o seu estômago, com úlceras graves, teve de ser removido aos 45 anos.

Sob a sua tutela, comecei a beber aos cinco anos.

Tudo começou quando o meu pai me oferecia goles da sua cerveja ou Bourbon, pensando que "me ensinaria a beber em casa". Era um ritual para ele, uma prática que ele, erradamente, achou que seria boa para mim a longo prazo. Em vez disso, fez-me sentir o gosto pelo álcool desde cedo, normalizou-o na minha vida, e quando eu tinha 14 anos já bebia muito.

Felizmente, aos 15 anos, fiz um novo amigo: Bill Davis. Considerava-o um tipo mais velho, embora provavelmente estivesse na casa dos 20. Bill tinha um emprego a sério e uma pequena casa que transformara num Centro Bahá'í para jovens como eu em busca de um sentido na vida. Todas as noites, depois do trabalho, podíamos encontrar o Bill, uma das pessoas mais bondosas que já conheci, fosse numa reunião Bahá’í em sua casa ou na cave de uma igreja algures, a participar numa reunião dos Alcoólicos Anónimos.

Um dia, o Bill chamou-me à parte e perguntou: "Ouve, Dave, porque é que não vens comigo a uma das minhas reuniões dos Alcoólicos Anónimos?".

Porque é que eu iria querer fazer isso?” perguntei-lhe.

Bem, porque obviamente está a ter problemas com a bebida, não é?

Isto chocou-me, mas admito que era verdade. Na adolescência, já tinha sofrido com alguns apagões e alguns incidentes de embriaguez que preferia esquecer. O meu consumo diário de bebidas alcoólicas tinha passado de recreativo a obrigatório. Relutantemente, aceitei ir a uma das reuniões com o Bill.

Naquele grupo, onde eu era o único adolescente, conheci outros alcoólicos mais velhos e grisalhos, que tentavam afastar-se da bebida. Alguns receberam-me bem, mas outros ridicularizaram-me: "Sai daqui, miúdo", rosnou um deles, "volta depois de 30 anos a beber na sarjeta, como nós".

Aqueles homens – eram todos homens – assustaram-me. Mostraram-me como seria o meu futuro se continuasse no naquele caminho. Comecei a estudar o alcoolismo, li sobre os efeitos reais do álcool no cérebro e no corpo humano, e tornei-me membro regular dos Alcoólicos Anónimos. Deixei definitivamente de beber aos 17 anos e, um ano depois, no meu 18º aniversário, tornei-me Bahá'í.

Os ensinamentos Bahá’ís, e a forma como o meu amigo Bill os explicou devagar, sem juízos ou qualquer insistência para que eu os seguisse, tiveram um enorme impacto na minha sobriedade. Assim que deixei de beber, pude perceber que os princípios Bahá’ís de evitar qualquer substância viciante tornaram a minha mente mais clara, as minhas acções mais responsáveis e a minha alma mais capaz de funcionar sem falhas ou danos.

Durante aquele período inicial e formativo da minha vida, apoiava-me todos os dias em duas orações: uma, a oração da serenidade dos Alcoólicos Anónimos, que diz: “Deus, concede-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso e a sabedoria para saber a diferença”; e esta oração de ‘Abdu’l-Bahá, das Escrituras Bahá’ís:

Ó Divina Providência! Concede pureza e limpeza em todas as coisas ao povo de Bahá. Permite que sejam libertados de toda a mácula e de todos os vícios. Salva-os de cometer qualquer acto repugnante, liberta-os das correntes de todo o mau hábito, para que possam viver puros e livres, saudáveis e limpos, dignos de servir no Teu Sagrado Limiar e aptos para se relacionarem com o seu Senhor. Livra-os das bebidas embriagantes e do tabaco, salva-os, resgata-os deste ópio que traz a loucura, permite-lhes desfrutar dos doces sabores da santidade, para que possam beber profundamente da taça mística do amor celestial e conhecer o êxtase de serem atraídos para cada vez mais perto do Reino do Todo-Glorioso.

Nos próximos artigos desta série, examinaremos alguns dos dados científicos actuais sobre o álcool e veremos se podemos obter uma melhor compreensão dos seus efeitos nos indivíduos e na sociedade como um todo.

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Texto original: How the Baha’i Faith Helped Me Get Sober (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Quem são os "Manifestantes de Deus"?

A expressão "Manifestante de Deus" é usada na literatura Bahá'í para referir os fundadores das grandes religiões mundiais.
A forma como a Fé Baha'i descreve os Manifestantes de Deus é inovadora e diferente das religiões anteriores.
Programa "A Fé dos Homens" transmitido no dia 14 de Julho de 2025.

terça-feira, 8 de julho de 2025

O Martírio Impressionante do Báb


... os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e assassinaram os teus profetas. Só eu escapei; mas também a mim me querem matar! (Elias, 1Reis 19:10)

Como todos sabemos, os profetas, têm muitas vezes uma vida curta. Cristo morreu na cruz com 33 anos, depois de ensinar a sua nova Fé durante apenas três anos. Por alguma razão que não compreendemos, os líderes da humanidade costumam reagir mal aos fundadores das grandes religiões do mundo e perseguem-nos terrivelmente. Abraão e Moisés enfrentaram a prisão, o exílio, o escárnio e a perseguição. Krishna e Buda sofreram desprezo e censura oficial. Os líderes da sociedade crucificaram Cristo; declararam guerra a Muhammad; torturaram, exilaram e aprisionaram Bahá'u'lláh; e executaram o Báb.

Já ouviu falar do Báb? Se não, talvez queira saber sobre a Sua mensagem e sobre o que aconteceu a este jovem profeta, que iniciou uma nova Fé progressista no meio de uma das sociedades mais corruptas e atrasadas do mundo. Como consequência, sofreu tremendamente, mas mesmo após a Sua morte trágica, a Fé do Báb abriu caminho para o surgimento global da Fé Bahá’í, tal como João Batista fez para a nova Fé de Jesus.

A sua história começou há menos de dois séculos. O Báb (que significa “Porta” em árabe) iniciou a sua nova Fé em 1844. Surgiu do misticismo profético sufi predominante na Pérsia do século XIX. A mensagem inspiradora do Báb — cujos ensinamentos anunciavam o futuro aparecimento de uma grande revelação mundial — rapidamente se consolidou naquela cultura muçulmana xiita, muito assente na tradição. A princípio, poucas pessoas souberam da existência do Báb, mas depois milhares e dezenas de milhares começaram a tornar-se Bábis, rompendo com as tradições e práticas islâmicas da sua sociedade e desafiando a autoridade dos seus líderes. O rápido crescimento da Fé Bábi abalou os alicerces da sociedade persa.

Os clérigos e os governantes da Pérsia reagiram mal a este novo desenvolvimento religioso, para dizer o mínimo.

Apenas seis anos após o anúncio da nova Fé do Báb, em 1844, o governo Qajar ordenou a execução deste jovem mensageiro profundamente carismático — que tinha então apenas trinta anos. O governo e os clérigos islâmicos já tinham torturado e assassinado cruelmente mais de 20.000 fervorosos seguidores do Báb durante os curtos e intensos seis anos de duração do movimento Bábi. Como o Báb exigia mudanças revolucionárias no sistema predominante de crença e governação religiosa, e porque pregava a unidade de todas as religiões, as autoridades temiam que este novo e dinâmico desafio e o seu crescente apoio os afastassem rapidamente do poder.

Apesar do massacre generalizado contra os Seus seguidores, cada vez mais pessoas continuavam a tornar-se Bábis. Em 1850, receosas da sua crescente influência e desesperadas por esmagar o movimento Bábi, as autoridades decidiram executar o Báb. Quando O acusaram de apostasia — a mesma acusação que os fariseus fizeram contra Jesus —, o Báb rejeitou arrepender-se ou refutar os Seus ensinamentos, aceitando calmamente as consequências.

Depois, a 9 de Julho de 1850, as autoridades Xiitas ordenaram que o Báb fosse executado por fuzilamento na praça de Tabriz, na Pérsia. Um dos jovens seguidores do Báb insistiu em acompanhá-lo na morte, e as autoridades consentiram de bom grado. Uma multidão de dez mil pessoas assistiu dos telhados dos quartéis e das casas junto à praça.

Sam Khan
Imediatamente, porém, surgiu um problema. Ao início dessa manhã, Sam Khan, o comandante do regimento de soldados arménios encarregado de executar o Báb, tinha implorado antecipadamente o Seu perdão. "Professo a fé cristã", disse o oficial ao Báb na Sua cela, "e não Lhe desejo mal. Se a Sua Causa for a Causa da Verdade, permita-me livrar-me da obrigação de derramar o Seu sangue."

"Segue as tuas instruções", disse o Báb gentilmente ao comandante. "E se a tua intenção for sincera, o Omnipotente poderá certamente livrar-te-á da tua perplexidade."

Quando Sam Khan deu ordem para disparar, os mosquetes deram um estrondo. Um jornalista ocidental que testemunhou o facto relatou que "o fumo dos disparos das setecentas e cinquenta espingardas era tal que transformou a luz do sol do meio-dia em escuridão".

Depois do fumo se ter dissipado, a multidão ficou estupefacta: o Báb tinha desaparecido. O seu jovem e dedicado seguidor permanecia completamente ileso junto ao muro, e as cordas que o prendiam a ele e ao Báb estavam despedaçadas. Incrédula, a multidão começou a gritar que tinha presenciado um milagre. Sam Khan, agora aliviado do seu dilema, ordenou imediatamente aos seus 750 soldados que se afastassem para longe, jurando que nunca mais obedeceria a uma nova ordem, mesmo que isso lhe custasse a própria vida.

Assim que as tropas de Khan abandonaram a praça, o coronel da guarnição de Tabriz ofereceu-se para proceder à execução. Depois de os guardas terem encontrado o Báb na Sua cela, terminando pacificamente uma conversa, levaram-no e amarraram-no mais uma vez, juntamente com o seu jovem seguidor. As Suas palavras finais foram as seguintes:

"Ó geração perversa! Se tivésseis acreditado em Mim, cada um de vós teria seguido o exemplo deste jovem cuja condição é superior à maioria de vós, e de bom grado se teria se sacrificado em Meu caminho. Dia virá em que Me tereis reconhecido; nesse dia, Eu terei deixado de estar convosco." (citado por Shoghi Effendi, God Passes By, p. 53.)

O segundo pelotão de fuzilamento apontou e disparou. Desta vez, a execução foi bem-sucedida.

Os corpos unidos e crivados de balas do Báb e do Seu fiel seguidor — chamado Anis, que significa companheiro próximo — repousam agora sob uma cúpula dourada no Monte Carmelo, em Haifa, Israel. Milhões de pessoas de todo o mundo visitam este local sagrado, e todos os dias o Santuário do Báb proclama a mensagem Bahá’í de unidade, paz, amor e altruísmo ao mundo.

Os Bahá'ís acreditam que o Báb, o Precursor e Arauto da Fé Bahá’í, deu início a um novo ciclo de revelação progressiva para a humanidade. Os Seus novos ensinamentos revolucionários abriram o caminho para a nova mensagem de Bahá’u’lláh, e o Seu sacrifício supremo deu-nos a todos uma nova visão de um mundo unificado.

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Texto original: The Shocking Martyrdom of the Bab (www.bahaiteachings.org)

sábado, 5 de julho de 2025

Desafiando a “Teoria do Grande Homem” da história

Por David Langness.


Aposto que quando o leitor era criança, aprendeu os nomes dos antigos governantes do seu país, as pessoas que foram reis, rainhas, presidentes ou primeiros-ministros.

Eu tive que aprender isso. Como rapaz americano, aprendi sobre George Washington, o homem que não conseguia mentir depois de cortar uma cerejeira, o primeiro presidente do jovem país, o herói militar da Revolução Americana. Todos os alunos do ensino básico nos Estados Unidos conhecem a vida de Washington. Poucos sabem, no entanto, que George Washington era também um agricultor abastado que escreveu que não acreditava na instituição da escravatura — mas era dono de 200 escravos.

E isto leva-me a uma boa pergunta, uma pergunta que fiz mais do que uma vez na escola primária: porque é que memorizamos os nomes dos nossos governantes do passado, enaltecemos o seu estatuto e estudamos as suas vidas? Porque é que a história enfatiza os famosos e os conhecidos, mas ignora todos os outros?

A razão deve-se, provavelmente, a Thomas Carlyle, escritor, filósofo e historiador escocês da década de 1840. Ele formulou a "Teoria do Grande Homem" no seu livro " Hero-Worship and the Heroic in History" [N.T. “Os Heróis”, na edição portuguesa de 2002], escrevendo que "A história do mundo é apenas a biografia de grandes homens". Carlyle acreditava que os indivíduos heroicos e imponentes moldam a história, não só pessoalmente através dos seus atributos de carácter e da força da sua vontade, mas também através da inspiração divina. No seu livro, enumerou poetas como Dante e Shakespeare, religiosos como Lutero, governantes como Cromwell e Napoleão, e até o profeta Muhammad, como os principais agentes de mudança no mundo.

Assim, a teoria do Grande Homem propõe o conceito de que os indivíduos ou pequenos grupos de pessoas, através do poder do seu carácter, do seu intelecto ou da força da sua vontade, determinam o curso da história.

Temos de admitir que é uma teoria fascinante: a de que alguns indivíduos alteraram fundamentalmente o rumo da história ao viverem as suas vidas de forma única e poderosa.

A teoria da primazia dos grandes homens de Carlyle dominou a era vitoriana, mas caiu em desuso no início do século XX por várias razões — nomeadamente, a exclusão das mulheres. Entretanto, aqui ficam algumas perguntas contemporâneas que os historiadores têm feito sobre a Teoria do Grande Homem: Será que os nossos líderes nacionais têm realmente muita influência a longo prazo? Têm alguma? Os grandes homens e as grandes mulheres fazem realmente história — ou será que a história os faz? Os nossos líderes políticos realmente lideram ou seguem?

Para responder a estas questões, podemos considerar Abraham Lincoln — o maior presidente americano por aclamação universal, que os historiadores e o público concordam que preservou o país, defendeu a democracia e libertou os escravos. As qualidades de liderança de Lincoln, as suas capacidades de negociação e de gestão de crises, e a integridade do seu carácter, fazem dele o líder mais venerado da história dos Estados Unidos.

Mas os historiadores também concordam que o legado de Lincoln não durou muito após a sua morte. Ainda no início do século XX, quatro décadas após o assassinato de Lincoln, o Congresso americano e os seus tribunais criaram e aplicaram as chamadas leis Jim Crow, que reinstituíram funcionalmente a escravatura, pelo menos economicamente. O racismo voltou em força. O Sul dos Estados Unidos, embora tecnicamente reunido com a sua mãe-pátria, continuou a revoltar-se, resistindo à integração com todas as suas forças. Um século depois de Lincoln nos ter deixado, ainda travávamos as mesmas batalhas. Lincoln teve impacto, mas foi um impacto limitado.

Os ensinamentos Bahá’ís dizem que o poder de um líder temporal não consegue persistir muito tempo depois da sua inevitável morte:

Todas as criaturas dependem de Deus, por maior que possa parecer o seu conhecimento, poder e independência.

Vejam os poderosos reis da Terra, pois eles têm todo o poder do mundo que o homem lhes pode dar, e, no entanto, quando a morte os chama, eles têm de obedecer, tal como os camponeses às suas portas. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pags. 19-20)

Se quiser verificar este conceito, tente o seguinte: tente lembrar-se do nome do governante que, há algumas centenas de anos, governou a terra onde agora vive. Na minha cidade, na Califórnia, isso envolvia provavelmente um governador espanhol que concedia terras ou um chefe indígena tribal — e não faço ideia de quem eram. As pessoas podem ter-se curvado perante estes governantes na altura, ou até mesmo tê-los venerado como semideuses durante algum tempo, mas uma visão de longo prazo da história esquece-os e desconsidera-os completamente. O tempo sepulta todos — os fracos, os mansos e os fortes:

Sabei, em verdade, que as condições deste mundo mortal, mesmo que seja a realeza de toda a extensão deste globo, são efémeras. É uma ilusão. Termina em nada; nem têm quaisquer resultados, nem, aos olhos de Deus, se compara à asa de um mosquito.

Onde estão os reis e as rainhas? Onde estão os palácios e as suas amantes? Onde estão os tronos imperiais e as coroas adornadas com joias? Onde estão os poderosos governantes da Pérsia, da Grécia e de Roma? Na verdade, os seus palácios estão em ruínas e desolados, os seus tronos destruídos, e as suas coroas lançadas ao pó. (‘Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 3, pags. 252-253)

Eis a questão central sobre a Teoria do Grande Homem: temos alguma evidência de que as pessoas mais influentes da nossa história colectiva causaram verdadeiras mudanças? Se acredita na causalidade, então sabe que cada grande homem ou mulher teve forças históricas significativas a actuar sobre eles, e eles próprios foram efeitos dessas forças.

Todo este conceito — o impacto e a influência duradoura de qualquer indivíduo sobre todos os outros — é fascinante e controverso. Voltaremos a ele no final desta série de artigos; e no próximo artigo, aprofundaremos um pouco mais os ensinamentos Bahá’ís para ver como a teoria da história do Grande Homem se apresenta quando vista de longe.

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Texto original: Challenging the “Great Man Theory” of History (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

sábado, 28 de junho de 2025

A Solidão no Fim da Vida

Por Maya Pouryaghma.


Quando caminho ocasionalmente pelo lar de idosos onde vivo, noto sempre um dos sentimentos predominantes produzidos por estar nesta instituição e noutras semelhantes: a solidão.

Geralmente, quando pessoas idosas como eu são colocadas em lares de idosos, seja numa base voluntária como eu fiz, ou quando são forçadas a mudar-se para este tipo de instalações por membros da família que já não podem cuidar delas, o sentimento inicial pode ser de alívio – tanto para os idosos como para as suas famílias e cuidadores.

Seja como for, eu sei que foi assim para mim. Não queria ser um fardo para ninguém e, aqui no lar de idosos, sabia que teria os cuidados necessários 24 horas por dia.

Mas estas coisas têm um padrão previsível. No início, pelo menos durante algum tempo, dependendo do número de familiares e da distância que a família e os amigos têm de percorrer, ocorrem visitas frequentes e telefonemas frequentes. Depois, quando instalados e os familiares e amigos têm a certeza de que estamos bem tratados, a frequência das visitas e dos telefonemas pode diminuir, e até o tempo passado com os entes queridos no lar também se torna mais curto.

É então que surge a solidão.

Outras culturas podem não enfrentar este problema, uma vez que as suas tradições significam que tendem a manter os seus idosos por perto e podem até não ter lares de idosos para cuidar deles.

É claro que ninguém pode esperar que os entes queridos estejam constantemente conosco, ignorando as suas necessidades e as das suas famílias, colocando as suas próprias vidas em espera. Isto seria egoísmo por parte dos residentes de qualquer instituição de cuidados continuados.

Eis o melhor conselho que ouvi sobre este assunto dos ensinamentos Bahá’ís, apresentado por ‘Abdu’l-Bahá numa palestra que proferiu na cidade de Nova Iorque em 1912:

Todos deveríamos visitar os doentes. Quando estão tristes e em sofrimento, é uma verdadeira ajuda e benefício ter um amigo que visita. A felicidade é uma grande cura para aqueles que estão doentes. No Oriente é costume visitar frequentemente o doente, e fazê-lo individualmente. As pessoas do Oriente demonstram a maior bondade e compaixão pelos doentes e pelos que padecem. Isto tem um efeito maior do que o próprio medicamento. Deveis ter sempre este pensamento de amor e carinho ao visitar os doentes e os aflitos.

Posso dizer-vos, por experiência própria, que os residentes daqui, e provavelmente de todo o lado, tentam o seu melhor para pensar racionalmente sobre estas questões, mas muitas vezes têm a sensação de estar esquecidos e abandonados. Lembro-me que, quando fui voluntária numa residência para idosos durante alguns anos, antes de ficar doente, havia senhora em particular – uma veterana da Segunda Guerra Mundial – que dizia a todos para não a esquecerem. Era uma senhora maravilhosa, com grandes histórias para contar sobre a sua vida activa. Ela estava consciente da realidade da situação, mas ainda assim a sensação de solidão e o medo de ser esquecida era real e humana.

Eu própria tenho sentido isso. Com tudo o que me mantém ocupada diariamente, e apesar do sono, que agora ocupa uma boa parte da minha vida, por vezes a solidão ainda se manifesta.

Todos os residentes do lar de idosos sabem qual é a realidade, e sabemos que ninguém pode realmente fazer nada em relação à sua situação familiar, mas por vezes aflige-nos um sentimento de irrealidade ou de expectativa ilógica. É nesse momento que devo recorrer ao meu amigo mais próximo e verdadeiro, o Criador amoroso e misericordioso, e pedir a Deus força e pureza de coração. Também peço ajuda para ser paciente, em vez de continuar a perguntar-me quando poderei voltar para casa.

Nesta situação, devo, mais uma vez, repetir esta oração reconfortante atribuída a ‘Abdu’l-Bahá:

Ó Deus, refresca e alegra o meu espírito. Purifica o meu coração. Ilumina os meus poderes. Em Tuas mãos confio todos os meus interesses. És o meu Guia e o meu Refúgio. Não mais se apossarão de mim a tristeza e a ansiedade, mas sim, o contentamento e a alegria. Ó Deus, jamais me entregarei à aflição, nem permitirei que os desgostos me atormentem ou as coisas desagradáveis da vida me inquietem. Ó Deus, és mais meu amigo do que eu o sou de mim mesmo. Dedico-me a Ti, ó Senhor

O meu espírito, refrescado e alegre, ainda está a crescer – mas fisicamente estou a deteriorar-me gradualmente. Ainda tenho a sensação de estar viva e activa, mas a minha Síndrome de Raynaud está a agravar-se e isso, segundo o Dr. Google, pode ser uma das razões para os meus ataques isquémicos passageiros se tornarem mais frequentes – o que pode levar a um AVC. A Síndrome de Raynaud, pelo que percebi, significa que temporariamente não há fluxo de sangue suficiente para alguma parte do corpo e, no meu caso, pode ser uma parte do cérebro.

Isto preocupa-me porque se eu tiver um AVC e não morrer por causa dele, tornar-me-ei um fardo ainda maior para os outros – mas digo a mim mesmo: Então, o que acontece? Mais uma vez, entrego-me a Deus com o meu destino, repetindo: “Em Tuas mãos confio TODOS os meus interesses.” Isso acalma-me. E volto novamente a ser uma velha resmungona.

Eu ia dizer, para quê preocupar-me, a vida é demasiado curta. No entanto, parece que isto não se aplica a mim, uma vez que vivi muito mais tempo do que esperava devido a um cancro do qual já não estou a ser tratada, uma vez que o tratamento é claramente pior do que a doença. Como sempre digo, Deus tem um sentido de humor infinito.

Perceber isto mantém-me humilde, grata e alegre.

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Texto original: Loneliness at the End of This Life (www.bahaiteachings.org)


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Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.