sábado, 7 de fevereiro de 2015

Guerras Trinitárias

Por Tom Tai-Seale.


Quando a intelectualidade cristã do século IV começou a definir Deus como três pessoas - Deus, Cristo e o Espírito Santo - eclodiu um enorme conflito e foi derramado muito sangue.

Na sua obra de 11 volumes intitulada The Story of Civilization, os historiadores Will e Ariel Durant dedicaram um livro, com o título The Age of Faith, ao período medieval entre 325-1300 dC. Neste livro, os Durants explicam que houve mais cristãos mortos por outros cristãos durante as controvérsias sobre a Trindade do que martírios de cristãos durante a Roma pagã.

A maioria dos livros de história deixa esse período de intensas guerras religiosas intestinais fora das suas descrições.

Os ensinamentos Bahá’ís condenam e proíbem a guerra religiosa, sempre provocada pelo poder, pelo dogma, e por interpretações e tradições incompatíveis.
Se um homem deseja ser bem-sucedido na busca da verdade, deverá, em primeiro lugar, fechar os olhos a todas as superstições tradicionais do passado.

Os judeus têm superstições tradicionais, os budistas e os zoroastrianos não estão livres delas, nem os cristãos! Todas as religiões têm-se tornado apegadas à tradição e ao dogma.

Todos se consideram que são os únicos guardiões da verdade e que as restantes religiões são feitas de erros. Eles próprios estão com a razão e os outros estão errados! Os Judeus acreditam que são os únicos detentores da verdade e condenam todas as outras religiões. Os Cristãos afirmam que a sua religião é a única verdadeira e que todas as outras são falsas. O mesmo fazem budistas e muçulmanos; todos se limitam a si próprios. Se todos se condenam mutuamente, onde podemos procurar a verdade? Se todos se contradizem uns aos outros, não podem ser todos verdadeiros. Se cada um acredita que a sua religião é a única verdadeira, então fecha os olhos para a verdade das outras. Se, por exemplo, um judeu está limitado à prática exterior da religião de Israel, ele não se permite perceber que a verdade pode existir em qualquer outra religião; esta deve estar totalmente contida na sua própria!

Assim, devemos desprender-nos das práticas e formas exteriores da religião. Devemos compreender que essas formas e práticas, por muito belas que sejam, são apenas ornamentos que cobrem o coração zeloso e os membros vivos da Verdade Divina. Devemos abandonar os preconceitos da tradição se queremos obter sucesso na procura da verdade que está no âmago de todas as religiões. (‘Abdu’l-Baha, Paris Talks, pp. 135-136)
Atanásio de Alexandria
Estas guerras intra-cristãs sobre a Trindade surgiram principalmente devido às proclamações dos "concílios" oficiais convocadas pelo clero e por governantes que se envolveram porque o cristianismo tinha crescido significativamente, tornando-se em alguns casos uma religião oficial. Um prelúdio significativo do Segundo Concílio Ecuménico sancionado imperialmente foi um pequeno concílio organizado por Atanásio (o Pai da Ortodoxia) na sede do seu bispado em Alexandria em 362 AD. Ali, ele forçou um acordo segundo o qual os cristãos ortodoxos devem falar das três pessoas (hipostases) de Deus - pois entendia-se que as pessoas não tinham "substância diferente". Isto foi feito para evitar ter três Deuses. Atanásio também esclareceu que aqueles que consideram que Deus era uma "pessoa", estavam, de facto, a usar o termo errado e que o que realmente queriam dizer era que Deus era uma "substância" (homoousia).

Mais tarde, outro Concílio Ecuménico, convocado pelo imperador em Constantinopla, em 381 dC, produziu o chamado de "Credo Niceno-Constantinopolitano". Este reafirmou a crença em "um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis"; proclamou que Jesus era "consubstancial (homoousia) ao Pai" e que o Espírito Santo era "o Senhor que dá a vida, que procede do Pai e do Filho, e que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado,… que falou pelos profetas". Também reafirmou que o Filho "desceu dos céus, e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem."

Isso tornou-se o dogma oficial, e tornou a interpretação de homens poderosos igual às palavras de Jesus, e, como sempre, tornou-se um prelúdio para a corrupção e queda da religião.

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Texto Original: The Trinity Wars (bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A & M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press

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