Povo de Bahá
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
sábado, 15 de fevereiro de 2025
A Relação Espiritual entre Conhecimento, Crença e Acção
Os ensinamentos Bahá'ís enfatizam fortemente a relação espiritual inextricável entre o conhecimento e a ação.
Este princípio estabelece uma distinção clara entre a visão Bahá’í sobre os propósitos legítimos da realidade física e as visões de Boécio e também do conceito protestante de salvação pela graça.
O debate interminável entre teólogos cristãos sobre se alguém é “salvo” pela fé ou pelas obras é tão crítico para qualquer discussão sobre o propósito da realidade física — mesmo no discurso cristão contemporâneo — que seria útil aqui rever brevemente as suas origens e o seu significado.
Certamente que os primeiros cristãos estavam divididos sobre esta questão. Paulo e Tiago parecem discutir sobre o que tem a primazia, a fé ou as obras. Paulo declarou que a fé é o único requisito para a salvação, enquanto Tiago afirmou que todos devem ser “praticantes da palavra, e não somente ouvintes” (Tiago 1:22), e que as obras completam a fé.
Em termos mais axiomáticos, numa perspectiva Bahá’í, a fé, juntamente com a virtude de todo o tipo, é inteiramente teórica até se expressar em acção.
Esta divisão inicial no Cristianismo sobre a questão da salvação pela graça, especialmente no que diz respeito à questão de saber se Cristo era ou não Deus, estabeleceu para sempre a percepção de muitos Cristãos de que o martírio de Cristo foi o acontecimento singular e significativo na vida de Cristo ou na história religiosa como um todo. Nesta perspectiva, a religião Cristã é necessariamente um acontecimento único na expressão do amor de Deus pela humanidade e o único caminho através do qual a graça de Deus pode ser alcançada — o único caminho para a salvação.
Uma referência igualmente comum é feita pela Enciclopédia Britânica que alude a esta divisão ideológica inicial entre os discípulos de Cristo e entre os primeiros seguidores do Cristianismo, mencionando também, a este propósito, que o apóstolo Paulo enfatizou uma ruptura completa com a ênfase judaica na lei, e considerava a crucificação como “o supremo acto redentor e também como o meio de expiação pelo pecado do homem”. (Chadwick, “Christianity before the Schism of 1054”, p. 535)
No entanto, o discípulo Tiago, irmão de Jesus, via o ministério de Cristo como um cumprimento da religião judaica, não como uma rejeição da mesma:
Paulo associou esta doutrina [da salvação pela graça de Deus] ao seu tema de que o Evangelho representa a libertação da Lei Mosaica. A última tese criou dificuldades em Jerusalém, onde a igreja era dirigida por de Tiago, irmão de Jesus... a carta canónica atribuída a Tiago opõe-se às interpretações antinomianas (anti-lei) da doutrina da justificação pela fé. Uma posição intermédia parece ter sido ocupada por Pedro. – Ibidem.
O próprio Cristo declarou: “Não pensem que vim anular a Lei de Moisés ou o ensino dos profetas. Não vim para anular, mas para dar cumprimento.” E continua aconselhando os seus seguidores que as suas próprias acções são essenciais para a sua salvação: “Digo-vos mais: vocês não entrarão de maneira nenhuma no reino dos céus, se não cumprirem a vontade de Deus com mais fidelidade do que os doutores da lei e os fariseus.” (Mt 5:17, 20)
Seguidamente, Ele começa a revelar um código de leis bastante rigoroso, no qual revoga algumas das leis judaicas, confirma outras e acrescenta mais algumas ao longo dos restantes vinte e sete versículos do capítulo 5 de Mateus e dos sessenta e dois versículos dos capítulos 6 e 7.
Por fim, conclui esta exegese sobre a lei e o comportamento moral com a conhecida advertência:
Aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática pode comparar-se ao homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu muita chuva, vieram as cheias e os ventos sopraram com força contra aquela casa. Ela caiu e ficou arruinada. (Mt 7:26-27)
As numerosas afirmações de Paulo, desvalorizando e até denunciando as “obras” e a “obediência à lei” como tendo qualquer relevância para a salvação, parecem estranhamente em desacordo com os conselhos do próprio Cristo. Paulo declarou:
Nós somos judeus por nascimento e não somos pecadores como os não-judeus. Sabemos, porém, que uma pessoa não é justificada pelo cumprimento da lei, mas por meio da fé em Jesus Cristo. Ora nós cremos em Jesus Cristo para sermos justificados pela fé e não por termos feito o que a lei manda. Pois ninguém será justificado perante Deus por cumprir a lei. (Gal. 2:15–16)
No livro “The Light Shineth in Darkness” (A Luz Brilha nas Trevas), Udo Schaefer chega ao ponto de afirmar que a polémica de Paulo contra a lei era da própria teologia de Paulo, não da de Cristo. Afirma mesmo que grande parte do Cristianismo futuro derivaria o seu sistema de crenças dos ensinamentos de Paulo, e não dos ensinamentos de Cristo. Ver págs 95-97.
A forma como Paulo interpretou os ensinamentos de Cristo determinou em grande parte o curso futuro do pensamento cristão; por esse motivo, grande parte do cristianismo contemporâneo aceita a doutrina de que Cristo e Deus são a mesma entidade, e que o martírio de Cristo foi pagamento suficiente pela salvação da humanidade. Por exemplo, um tratado cristão afirma esta crença sucintamente da seguinte forma:
Nada podeis fazer para ganhar a vida eterna. Não são as nossas obras que nos salvam, mas a fé no Senhor Jesus Cristo. Não recebereis a vida eterna trabalhando por ela ou tentando agir correctamente. Aceitai o pagamento que Ele fez pelos vossos pecados e podereis descansar, e ter a certeza de que tereis a vida eterna.
Para os Bahá’ís, reconhecer os mensageiros de Deus e apreciar a natureza absolutamente essencial dos Seus sacrifícios em prol da nossa salvação e iluminação é extremamente significativo, mas não é suficiente por si só para nos permitir a transformação espiritual. De mãos dadas com o reconhecimento dos Profetas e com o reconhecimento da Sua condição elevada e vida exemplar, deve andar a obediência às leis e mandamentos que Eles revelam para nossa orientação.
Para os Bahá’ís, esta relação entre a crença e a acção é indissociável. Na perspectiva Bahá’í, a realidade física e a nossa participação nela não são meramente reflexos de crença ou ornamentos de fé. Bahá’u’lláh afirmou sucintamente que a crença e a acção são constituintes inseparáveis de um processo integral: “Estes deveres gémeos são inseparáveis. Nenhum é aceitável sem o outro.” (The Most Holy Book, p. 19)
Assim, as Escrituras Bahá’ís concordam com o espírito da observação de Boécio de que a justiça universal está a ser construída ao longo de um período de tempo. O ponto de vista Bahá’í também concorda com a ideia de que, enquanto indivíduos, podemos ter de esperar pela vida após a morte antes de vermos a justiça ser feita. Mas a perspectiva Bahá'í sobre os propósitos justos e a atitude adequada em relação à realidade física difere radicalmente das visões dos Cristãos estoicos que encontraram na obra de Boécio apoio para rejeitar a vita activa. Em vez disso, os ensinamentos Bahá’ís exortam-nos a todos a “Que as acções, e não as palavras, sejam o vosso adorno”. (Baha’u’llah, The Hidden Words, p. 24)
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Texto original: The Spiritual Relationship of Knowledge, Belief and Action (www.bahaiteachings.org)
John S. Hatcher é formado em Literatura Inglesa pela Universidade de Vanderbilt e Doutorado em Literatura Inglesa pela Universidade da Georgia (EUA). É professor Emérito na Universidade de South Florida (Tampa, EUA). É também conhecido como poeta, palestrante e autor de numerosos livros sobre literatura, filosofia e teologia e escrituras Baha’is. Entre as suas obras contam-se Close Connections; From the Auroral Darkness: The Life and Poetry of Robert E. Hayden; A Sense of History: The Poetry of John Hatcher; The Ocean of His Words: A Reader's Guide to the Art of Baha'u'llah; and The Purpose of Physical Reality; The Kingdom of Names.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
sábado, 8 de fevereiro de 2025
Ser Bahá'í e Gay
Apenas um pouco sobre mim: tal como outras pessoas neste país que estudaram na década de 1980 ou antes, fui ensinado pela sociedade americana que um homem sentir-se atraído por homens era considerado moralmente errado, mesmo antes de eu saber associar esse conceito a mim próprio. Mais tarde, quando finalmente aceitei em mim uma atração inata por outros homens, podem imaginar o impacto na minha autoestima, pois tive de aceitar que o meu novo impulso sexual enquanto jovem, era uma parte tão importante da excitação de qualquer jovem quando se encaminha em direção à idade adulta, estava desfeito.
Na escola secundária, frequentava bibliotecas com esperanças intensas — mas, em última análise, inúteis — de encontrar provas de que esta característica odiosa era uma fase que eu iria ultrapassar ou uma condição que poderia ser curada. Acabei por descobrir que a cura não funciona, e prejudica muito quem a tenta, aumentando a ideia suicida em caso de recaída, e outras coisas.
A dada altura, percebi: “Ok. Então, os meus desejos homossexuais espontâneos, mas inabaláveis, são malignos… já percebi. O que fiz eu para nascer maligno? Tenho de continuar maligno? Ou posso simplesmente esconder que sou maligno e fingir que sou bom?” Isso significa fazer o que os homens gays fazem há séculos: esconder isso como loucos, negar, fazer sexo em segredo e casar com uma mulher para realmente o ocultar? Desculpem, para mim isto parece mais maligno do que fazer sexo com homens.
Percebo que viver com um homem e ter uma relação emocional e sexual com ele É uma escolha de vida e é algo proibido na Fé. Afirmo que, no meu caso, pelo menos a atracção NÃO É uma escolha: nos anos 1980, quem escolheria ser uma espécie de leproso social? Eu não.
Infelizmente, a sexualidade não pode ser alterada por meios humanos, pelo menos não neste momento da história, e poucos de nós têm a capacidade espiritual de simplesmente ignorar os nossos desejos interiores. Uma pessoa pode retirar a prioridade ao sexo e às fantasias na sua cabeça até certo ponto, claro, mas isso estará sempre presente, em segundo plano. E uma pessoa que nasceu tal como eu — isto é, não foi moldada dessa forma por agressões ou outros meios abusivos — tem de transferir o ódio às suas características, porque as tem.
Assim, ao longo dos anos, fui lendo algumas coisas e, aos poucos, fui encontrando o que procurava, camada a camada. Em primeiro lugar, descobri que Shoghi Effendi interpretou a lei de Bahá’u’lláh contra a pederastia como também contra os Bahá’ís terem relações sexuais homossexuais. Conversei com Bahá’ís gays e não-bahá’ís heterossexuais que estão interessados na Fé, mas que não conseguem ultrapassar o que consideram ser uma intolerância e uma negação dos direitos humanos.
Mas continuando a ler, descobri que o Guardião também disse que se começarmos a sancionar os Bahá’ís que praticam sexo homossexual, também teremos de começar a sancionar os Bahá’ís que praticam sexo heterossexual extraconjugal e os Bahá’ís que cometem adultério, e observou que naquela época – a que chamou “ponto baixo na história espiritual” – envolver-se nessas sanções seria “ridículo”.
Face à lei Bahá’í, pela primeira vez na minha vida, vi o sexo homossexual listado ao lado de sexo heterossexual extraconjugal em qualquer contexto, e de repente tudo fez sentido para mim. Quantas pessoas conhece que se casaram virgens? Não muitos? Eu conheço poucas. Na verdade, não me consigo lembrar de nenhuma. Pensando bem, o sexo extraconjugal é a norma neste país, não a excepção, e é difícil encontrar virgens actualmente.
Será isto, então, um indício de que, mesmo que eu tenha relações sexuais com um homem, isso não é assim tão diferente de dois heterossexuais terem relações sexuais fora do casamento; contra a lei, certamente, mas não é algo tão grave que eu deva — ou qualquer pessoa deva — odiar-me por isso? Isso parece-me mais correcto.
Agora estou mais certo de que as leis de Bahá’u’lláh são para proteger toda a humanidade, em todo o mundo, e promover a melhoria do mundo inteiro. Olhando para isto, fomos criados, como foi dito, por Deus com amor, por amor, para O amar e servir o próximo. Parece mais razoável, então, que Bahá'u'lláh nos tenha dado estas leis para evitar que nos magoássemos a nós próprios; uma espécie directrizes protectoras que podemos ultrapassar, mas que provavelmente nos levam por caminho mais pedregoso. Assim, estas leis foram-nos dadas da mesma forma que um pai amoroso dá regras a um filho amado, que não quer ver magoado, nem exposto a sofrimentos aleatórios.
No fundo, sei que tenho de escolher um homem ou uma mulher, e sei e aceito que estou a abdicar de algo que me é querido de qualquer forma. Ou vou contra a minha preferência sexual e tento encontrar uma companheira que realmente me queira depois de ser honesto com ela sobre a minha história e sexualidade; ou escolherei um bom homem e, ao fazê-lo, perderei as potencialidades de uma equipa familiar marido-mulher, na qual vejo grande valor para aqueles que são capazes. É claramente muito mais difícil ter bebés biológicos por razões óbvias, e não menos importante ter de lidar potencialmente com o preconceito anti-gay que não desapareceu apenas por causa da legalização do casamento gay. Está menos visível, mas não desapareceu.
Felizmente, depois desta viagem pelas Escrituras Bahá’ís e pela minha própria consciência, alma e bússola moral, está finalmente a tornar-se evidente para o meu coração e mente que não sou definido apenas (ou mesmo principalmente) pela minha sexualidade, não, pelo menos, por Bahá’u’lláh. E como homem, gay ou não, preciso de amar todo o meu ser, mesmo as partes de que talvez não goste ou não compreenda — porque até essas partes podem ter um valor oculto. Iria eu a escrever-vos sobre esta minha faceta tão pessoal que provavelmente deixará desconfortável pelo menos uma pessoa que a leia aqui? Não, não sou sádico. No entanto, eu talvez possa ajudar o próximo Bahá’í gay que encontrar, tão desiludido e autodestrutivo como eu já fui. Essa é a minha esperança.
O meu coração diz-me que, independentemente das outras pessoas e das suas crenças, Deus ama-me incondicionalmente e quer o melhor para mim, e a resposta à minha pergunta é que não, não sou menos homem aos olhos de Bahá’u’lláh. E também me diz que Deus nunca fomentaria o ódio contra nenhum dos Seus filhos, por nenhum motivo, mesmo que sejam gays. Agradeço a Deus por ter conseguido, não muito tarde na minha vida, aprender a ver-me como um homem, não como um "homem gay" ou como um "homem bi" ou incluindo qualquer outro identificador absurdo.
Penso que terá interesse em saber que existe uma organização oficial Bahá’í (uma comissão da Assembleia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Canadá) da qual faço parte, e que deverá expandir-se por toda a América do Norte assim que possível. Chama-se BNASAA (Baha’i Network on AIDS, Sexuality, Addictions and Abuse, “Rede Bahá'í sobre SIDA, Sexualidade, Vícios e Abuso”). Queremos iniciar grupos locais de serviço, um termo para pessoas que organizam grupos liderados por Bahá’ís, círculos de oração, aprofundamento juvenil e outras actividades semelhantes que também servem o plano de 5 anos. Por favor, partilhem a nossa página no Facebook.
Sou o James, sou gay, sou Bahá'í e faço o melhor que posso. Para mais informações podem contactar comigo através de jhrussell [at] gmail [ponto] com.
Obrigado por lerem este texto.
JHR
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Este texto foi publicado há cerca de dez anos no site de Susan Gamage, com o título "Being Gay and Baha'i".
É publicado neste blog com permissão do autor.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Uma foto histórica
Esta foto histórica foi tirada na Terra Santa, provavelmente em Haifa... pouco antes da ascensão do amado Mestre. Sentadas no centro estão:
- A Folha Mais Sagrada, Bahíyyih Khánum, filha de Bahá’u’lláh, vestida de preto e com um lenço.
- Ao seu lado, com um grande lenço branco, Munírih Khánum, a esposa de ‘Abdu’l-Bahá.
- E ao seu lado Díyá’íyyih Khánum, a filha de ‘Abdu’l-Bahá e mãe do amado Guardião, Shoghi Effendi.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
Uma Oração de ‘Abdu’l-Bahá por um Pai Falecido
O que se segue é uma tradução provisória (por outras palavras, não oficial) de uma oração de ‘Abdu’l-Bahá, cujo texto original foi publicado em Yárán-i-Pársí, p. 347 (selecção n.º 467).
Ele é Deus!
Ó Senhor que sustentas os Teus servos! Guia o pai deste ser amado ao mais alto Paraíso e perdoa as suas ofensas e pecados, para que, com um rosto radiante, possa juntar-se às almas nobres no mundo vindouro e se torne o receptor dos Teus favores graciosos. Tu és, em verdade, o Generoso, o Misericordioso, o Clemente, o Compassivo, o Amoroso.
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FONTE: A Prayer by ‘Abdu’l-Bahá for a Deceased Father (Adib Masumian)
sábado, 1 de fevereiro de 2025
O Livro de Inspiração Celestial
Existe um Deus; a humanidade é uma só; os fundamentos da religião são um só. Vamos adorá-Lo e louvar todos os Seus grandes Profetas e Mensageiros que manifestaram o Seu esplendor e glória. (‘Abdu’l-Bahá, numa palestra proferida no City Temple de Londres, em 10 de Setembro de 1911, ‘Abdu’l-Bahá in London, p. 19)
Se percorrer uma rua antiga no centro de Londres chamada Holborn Viaduct, acabará por chegar ao imponente e ornamentado City Temple de Londres, uma das igrejas mais grandiosas e mais veneradas de toda a Cristandade. Construída em 1874, a sua congregação remonta aos dias da Reforma Protestante entre os Puritanos, no século XVI. Não muito longe do Museu de Londres e a poucos quarteirões do rio Tamisa, o City Temple é fácil de encontrar, com a sua torre imponente e a sua grandiosa arquitetura formal.
City Temple, Londres |
Este livro é o Livro Sagrado de Deus, de inspiração celestial. É a Bíblia da Salvação, o Nobre Evangelho. É o mistério do Reino e da sua luz. É a Generosidade Divina, o sinal da orientação de Deus. (‘Abdu’l-Baha in London, p. 17)
Os Bahá’ís vêem as Escrituras Sagradas de todas as religiões desta forma – como inspiração celestial, como o mistério e a luz do Reino, como “o sinal da orientação de Deus”.
É por isso que os ensinamentos Bahá’ís recomendam a leitura diária das Escrituras Sagradas:
Imergi-vos no oceano das Minhas palavras, para que possais desvendar os seus segredos e descobrir todas as pérolas de sabedoria que se escondem nas suas profundezas. (Bahá’u’lláh, Gleanings, LXX)
Recitai os versículos de Deus todas as manhãs e todas as noites. (Bahá’u’lláh, The Most Holy Book, p. 73.)
Entoa, ó Meu servo, os versículos de Deus que foram recebidos por ti, tal como entoados por aqueles que se aproximaram d’Ele, para que a doçura da tua melodia possa acender a tua própria alma e atrair os corações de todos os homens. Quem recitar, na privacidade dos seus aposentos, os versículos revelados por Deus, os anjos do Todo-Poderoso, dispersando-se, espalharão a fragrância das palavras proferidas pela sua boca e farão vibrar o coração de todo o homem justo. Embora, a princípio, possa permanecer inconsciente do seu efeito, ainda assim a virtude da graça que lhe foi concedida deverá, mais cedo ou mais tarde, exercer a sua influência sobre a sua alma. (Bahá’u’lláh, Gleanings, CXXXVI)
Se quiser ler as Escrituras Sagradas das grandes religiões, aqui fica uma breve lista para começar:
As Escrituras Sagradas Hindus: entre outros, leia os Upanishads, os Vedas e o Bhagavad Gita (que significa a Canção de Deus). Os Upanishads, muitas vezes chamados Vedanta, revelam os principais conceitos filosóficos da crença hindu, enquanto os quatro Vedas – o Rigveda, o Yajurveda, o Samaveda e o Atharveda – provêm de antigos sábios. O Bhagavad Gita, vulgarmente conhecido como Gita, faz na verdade parte de um poema épico antigo chamado Mahabharata. O Gita apresenta uma extensa conversa de 700 versículos num campo de batalha entre o Príncipe Arjuna e o seu guia espiritual Krishna – referido no Gita como Bhagavan (o Divino), e geralmente considerado o principal profeta do Hinduísmo.
As Escrituras Sagradas Judaicas: O Tanakh, ou Bíblia Hebraica (aquilo a que os Cristãos chamam o Antigo Testamento), é o livro sagrado central. É composto pela Torá (que significa Ensinamentos), composta pelos primeiros cinco livros de Moisés (Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio); os Nevi’im (que significa Profetas), os capítulos da Bíblia Hebraica que começam com o Livro de Josué; e os Ketuvim (que significa Escrituras), os capítulos que começam com o Livro dos Salmos. Os 45 capítulos ou livros da Bíblia Hebraica ou do Tanakh descrevem a história, os ensinamentos espirituais e as leis do povo judeu antes da época de Cristo.
As Escrituras Sagradas Zoroastrianas: a religião do Médio Oriente e da Pérsia do profeta Zoroastro possui vários livros sagrados centrais, geralmente reunidos sob o nome de Zend-Avesta, que inclui o Yasna e os Gathas.
As Escrituras Sagradas Budistas: o livro sagrado Budista mais antigo e mais conhecido vem do Cânone Pali, da escola Theravada do Budismo, e é chamado Tipitaka, que significa Três Cestas: a Vinaya (Cesta da Disciplina), que trata das regras para monges e monjas budistas; o Sutta (Cesta dos Provérbios) composto por vários discursos, na sua maioria atribuídos a Buda, e também de alguns dos seus discípulos; e o Abhidhamma (resumos e listas metafísicas e filosóficas). No Budismo tibetano, o Kangyur de 108 volumes representa os ditos directos atribuídos a Buda.
As Escrituras Sagradas Cristãs: o Antigo Testamento ou Bíblia Hebraica do Judaísmo e o Novo Testamento do Cristianismo combinam-se para produzir a Bíblia Cristã. O Novo Testamento tem 27 livros e Epístolas, e conta a história da vida de Cristo, bem como os ensinamentos da Igreja e dos Apóstolos de Cristo. Embora possa encontrar os ensinamentos directos de Jesus Cristo em todo o Novo Testamento, os quatro livros chamados “Evangelhos” – Mateus, Marcos, Lucas e João – relatam a Sua vida e o Seu martírio.
As Escrituras Sagradas Islâmicas: O Alcorão (que significa literalmente a Recitação) é constituído por 114 capítulos, chamados suras. Os muçulmanos acreditam que o Alcorão, revelado por Deus a Muhammad, durante um período de 23 anos e compilado após a sua morte em 632 d.C., representa a orientação moral do Ser Supremo para a humanidade. O Islão aceita a validade dos livros sagrados abraâmicos anteriores (o Antigo e o Novo Testamento), tal como várias religiões mais recentes aceitam os ensinamentos das mais antigas.
As Escrituras Sagradas Bahá’ís: A Fé Bahá’í tem muitas Escrituras Sagradas, reveladas e escritas pessoalmente por Bahá’u’lláh, o Báb e ‘Abdu’l-Bahá. Incluem livros místicos como As Palavras Ocultas e os Sete Vales; livros de filosofia e religião como o Livro da Certeza; livros de leis e mandamentos, principalmente O Livro Sacratíssimo; inúmeras cartas, epístolas e até poesia mística. Bahá’u’lláh escreveu mais de 100 volumes – o que faz da Fé Bahá’í a única grande religião mundial com Escrituras Sagradas escritas directamente pelo seu fundador.
Estes livros de inspiração celestial – na verdade, são todos capítulos do mesmo livro – vão expandir a sua mente, o seu coração e a sua alma.
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Texto original: The Book of Celestial Inspiration (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Declaração conjunta dos membros do Parlamento Europeu e dos Parlamentos Nacionais Europeus sobre a situação das mulheres Bahá’ís no Irão
Bruxelas, 30 de Janeiro de 2025
Nós, membros do Parlamento Europeu e dos Parlamentos Nacionais Europeus, apoiamos os dezoito Relatores Especiais da ONU e os peritos do Grupo de Trabalho da ONU que publicaram uma marcante carta conjunta de alegações (link externo) denunciando a República Islâmica do Irão pelo recente aumento de ataques contra mulheres Bahá'ís - que enfrentam perseguição interseccional no Irão, como mulheres e como Bahá'ís.
Fazemos eco da declaração dos relatores e especialistas da ONU que manifestaram “séria preocupação com o que parece ser um aumento da perseguição sistemática contra as mulheres iranianas pertencentes à minoria religiosa Baha’i em todo o país”. Desde os protestos desencadeados pela trágica morte de Mahsa Jina Amini, a perseguição dirigida às mulheres Bahá’ís tem crescido, sendo as mulheres dois terços de todos os Bahá’ís perseguidos no Irão. Enfrentam uma série cruel de abusos, incluindo detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados, separações familiares, limitações à liberdade de circulação, rusgas nas suas casas e privação de educação.
A Missão de Investigação das Nações Unidas sobre o Irão e o relatório "Boot on my Neck" ("Bota no meu Pescoço") da Human Rights Watch detalham os abusos que os Bahá'ís sofrem em quase todos os aspectos da vida, com este último a classificar o tratamento dado pelo governo iraniano aos Bahá'ís como crime de perseguição contra a humanidade. Estas conclusões realçam o padrão perturbador de perseguição sistemática e patrocinada pelo Estado contra os Bahá’ís por parte do governo iraniano através de leis, políticas e práticas discriminatórias. A situação das mulheres Bahá’ís no Irão exige uma atenção e uma acção urgentes por parte da comunidade internacional. Instamos veementemente as autoridades iranianas a pôr fim à perseguição contra as mulheres Bahá’ís e a salvaguardar os seus direitos humanos.
Os 125 cossignatários que endossam
a declaração incluem membros do Parlamento Europeu (MEP) e membros de
parlamentos de toda a Europa.
Marino ALBANI, MP San Marino
Norbert ALTENKAMP, MP Germany
Marie-Noëlle BATTISTEL, MP France
Petra BAYR, MP Austria
Wouter BEKE, MEP
Simone BILLI, MP Italy
Lord St John of Bletso
Júlia BOADA, MP Spain
Lynn BOYLAN, MEP
Michael BRAND, MP Germany
Helmut BRANDSTÄTTER, MEP
Sen. Susanna CAMUSSO, Italy
Rt. Hon. Alistair CARMICHAEL, MP UK
Marián ČAUČÍK, MP Slovakia
Silvia CECCHETTI, MP San Marino
Veronika CIFROVÁ OSTRIHOŇOVÁ, MEP
Per CLAUSEN, MEP
Marie DAUCHY, MEP
Benedetto DELLA VEDOVA, MP Italy
Elio DI RUPO, MEP
Meri DISOSKI, MP Austria
Ondřej DOSTÁL, MP Slovakia
Paolo FORMENTINI, MP Italy
Emma FOURREAU, MEP
Johannes GASSER, MP Austria
Michael GAHLER, MEP
Hanna GEDIN, MEP
Niels GEUKING, MEP
Mary GLINDON, MP UK
Elisabeth GÖTZE, MP Austria
Hermann GRÖHE, MP Germany
Stéphane HABLOT, MP France
Ayda HADIZADEH, MP France
Peter HEIDT, MP Germany
Alojz HLINA, MP Slovakia
Markus HOFER, MP Austria
Martin HOJSÍK, MEP
Ján HORECKÝ, MP Slovakia
Senator Gerry HORKAN, Ireland
Evin INCIR, MEP
Yannick JADOT, MP France
Igor JANCKULÍK, MP Slovakia
Zora JAUROVÁ, MP Slovakia
Beáta JURÍK, MP Slovakia
Fernand KARTHEISER, MEP
Kadir KASIRGA, MP Sweden
Billy KELLEHER, MEP
Seán KELLY, MEP
Dana KLEINERT, MP Slovakia
Wolfgang KOCEVAR, MP Austria
Łukasz KOHUT, MEP
Mária KOLÍKOVÁ, MP Slovakia
Ingrid KOSOVÁ, MP Slovakia
Stephanie KRISPER, MP Austria
Juraj KRÚPA, MP Slovakia
Gudrun KUGLER, MP Austria
Merja KYLLÖNEN, MEP
Robert LAIMER, MP Austria
Vladimír LEDECKÝ, MP Slovakia
Miriam LEXMANN, MEP
Lord Alton of Liverpool
Antonio LÓPEZ-ISTÚRIZ WHITE, MEP
Max LUCKS, MP Germany
František MAJERSKÝ, MP Slovakia
Milan MAJERSKÝ, MP Slovakia
Lukas MANDL, MEP
Vladimíra MARCINKOVÁ, MP Slovakia
Vicent MARZÀ IBÁÑEZ, MEP
Gabriel MATO, MEP
Sigrid MAURER, MP Austria
Tilly METZ, MEP
František MIKLOŠKO, MP Slovakia
Fabian MOLINA, MP Switzerland
Giuseppe Maria MORGANTI, MP San Marino
Michele MURATORI, MP San Marino
Paul MURPHY TD, Ireland
Francesco MUSSONI, MP San Marino
Sen. Luigi NAVE, Italy
Hannah NEUMANN, MEP
Joe O’BRIEN TD, Ireland
Jan-Christoph OETJEN, MEP
Maria OHISALO, MEP
Fernando MEDINA, MP Portugal
Nikos PAPANDREOU, MEP
Jutta PAULUS, MEP
Sen. Cinzia PELLEGRINO, Italy
Simona PETRÍK, MP Slovakia
Lucia PLAVÁKOVÁ, MP Slovakia
Ondrej PROSTREDNÍK, MP Slovakia
Nicola RENZI, MP San Marino
Nela RIEHL, MEP
Cristina RODRIGUES, MP Portugal
Andrea ROSSI, MP Italy
Tommaso ROSSINI, MP San Marino
Michal SABO, MP Slovakia
Agustín SANTOS, MP Spain
Rodrigo SARAIVA, MP Portugal
Silvia SARDONE, MEP
Frank SCHWABE, MP Germany
Günther SIDL, MEP
Nuno SIMÕES DE MELO, MP Portugal
Branislav ŠKRIPEK, MP Slovakia
Martin ŠMILŇÁK, MP Slovakia
Inês SOUSA REAL, MP Portugal
Anne SOUYRIS, MP France
Villy SØVNDAL, MEP
Sen. Luigi SPAGNOLLI, Italy
Peter STACHURA, MP Slovakia
Zuzana ŠTEVULOVÁ, MP Slovakia
Anna STROLENBERG, MEP
António TÂNGER CORRÊA, MEP
Barbara TEIBER, MP Austria
Marie TOUSSAINT, MEP
Andrea TURČANOVÁ, MP Slovakia
Derya TÜRK-NACHBAUR, MP Germany
Eric VAN DER BURG, MP Netherlands
Diederik VAN DIJK, MP Netherlands
Veronika VESLÁROVÁ, MP Slovakia
Martin VICKERS, MP UK
Marián VISKUPIČ, MP Slovakia
Sophie WOTSCHKE, MP Austria
Lucia YAR, MEP
Dainius ŽALIMAS, MEP
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Yuri Mochizuki
‘Abdu’l-Bahá dirigiu-lhe três epístolas. Aqui fica a tradução de uma dessas Epístolas.
Ó filha amada!
A tua carta foi recebida e lida com a maior alegria, pois, louvado seja Deus, na terra do Japão, a luz do amor de Deus apareceu resplandecentemente e um archote como tu foi aceso, pois o teu coração transborda com vinho do amor de Deus e o teu espírito está em chamas. Tal como um arbusto, tu és viçosa e sensível, crescendo e florescendo através das efusões da nuvem da Generosidade. A minha esperança é que em breve possas crescer, florescer e produzir frutos deliciosos.
O Verdadeiro Pastor é, sem dúvida, bondoso para com o seu rebanho e tem o maior apego, misericórdia e solicitude. Isto é apenas um facto natural. Fica certa, portanto, de que estás sempre visível e rodeada de cuidados afectuosos.
O povo do Japão é como um solo que foi privado de chuva durante ciclos e gerações e não recebeu qualquer da chuva e nem sequer do orvalho. Certamente está com muita sede. Agora tu deves tornar-te o jardineiro divino, e deves saciar esse solo sedento com a água dos ensinamentos divinos, para que as dádivas celestiais possam ser derramadas e as flores da realidade e as ervas perfumadas das perfeições humanas brotem e essa terra se transforme num paraíso do Éden.
(17 de dezembro de 1918. Traduzido por Shoghi Rabbani)