Povo de Bahá
quarta-feira, 23 de julho de 2025
sábado, 19 de julho de 2025
Como a Fé Bahá'í me ajudou a ficar sóbrio
Por David Langness.
O meu pai era alcoólico. Por isso, poderia supor-se que eu teria aprendido algumas lições com essa experiência, mas quando cheguei à adolescência, eu já estava bem adiantado nesse caminho.
O álcool arruinou a vida do meu pai. Alistou-se nos fuzileiros navais aos 18 anos e lutou corajosamente nas campanhas do Pacífico da Segunda Guerra Mundial, onde foi gravemente ferido e promovido após combates brutais em Tarawa e Iwo Jima; tudo isso deixou-o profundamente traumatizado. Quando a guerra terminou, o seu consumo ocasional de bebidas alcoólicas tinha-se transformado gradualmente num hábito diário e, mais tarde, num vício.
Penso que, na ausência de qualquer terapia, usou o álcool para se automedicar, para apagar o grave trauma e a lesão moral que sofreu na guerra. Infelizmente, os veteranos da Segunda Guerra Mundial não tiveram acesso a tratamento para esses traumas.
O meu pai não parecia um alcoólico – quando era criança, nunca o vi cambalear ou arrastar as palavras. "Não estou bêbado", dizia com orgulho, "só tomo duas bebidas por dia". Essa parte das "duas bebidas" era verdade – mas cada uma dessas suas bebidas era servida num copo de 240 ml com cerca de 95% de Bourbon, com um bocadinho de água. O Bourbon é um tipo de whisky que normalmente contém 40 a 50% de álcool puro. Além disso, costumava começar a beber à noite, antes de consumir as bebidas mais fortes, com algumas cervejas, que ele não considerava uma bebida a sério.
Assim, o meu pai bebia, todas as noites, pelo menos 240 ml de álcool puro. A maioria das pessoas não conseguiria fazê-lo fisicamente. Orgulhava-se de conseguir "aguentar a bebida", como ele próprio dizia. Hoje, os médicos compreendem que a tolerância ao álcool aumenta com o tempo, tal como acontece com qualquer droga, e sabem também que consumir tanto álcool de uma só vez sem prejuízo visível significa que o alcoolismo atingiu um estado muito avançado. Talvez por isso o seu estômago, com úlceras graves, teve de ser removido aos 45 anos.
Sob a sua tutela, comecei a beber aos cinco anos.
Tudo começou quando o meu pai me oferecia goles da sua cerveja ou Bourbon, pensando que "me ensinaria a beber em casa". Era um ritual para ele, uma prática que ele, erradamente, achou que seria boa para mim a longo prazo. Em vez disso, fez-me sentir o gosto pelo álcool desde cedo, normalizou-o na minha vida, e quando eu tinha 14 anos já bebia muito.
Felizmente, aos 15 anos, fiz um novo amigo: Bill Davis. Considerava-o um tipo mais velho, embora provavelmente estivesse na casa dos 20. Bill tinha um emprego a sério e uma pequena casa que transformara num Centro Bahá'í para jovens como eu em busca de um sentido na vida. Todas as noites, depois do trabalho, podíamos encontrar o Bill, uma das pessoas mais bondosas que já conheci, fosse numa reunião Bahá’í em sua casa ou na cave de uma igreja algures, a participar numa reunião dos Alcoólicos Anónimos.
Um dia, o Bill chamou-me à parte e perguntou: "Ouve, Dave, porque é que não vens comigo a uma das minhas reuniões dos Alcoólicos Anónimos?".
“Porque é que eu iria querer fazer isso?” perguntei-lhe.
“Bem, porque obviamente está a ter problemas com a bebida, não é?”
Isto chocou-me, mas admito que era verdade. Na adolescência, já tinha sofrido com alguns apagões e alguns incidentes de embriaguez que preferia esquecer. O meu consumo diário de bebidas alcoólicas tinha passado de recreativo a obrigatório. Relutantemente, aceitei ir a uma das reuniões com o Bill.
Naquele grupo, onde eu era o único adolescente, conheci outros alcoólicos mais velhos e grisalhos, que tentavam afastar-se da bebida. Alguns receberam-me bem, mas outros ridicularizaram-me: "Sai daqui, miúdo", rosnou um deles, "volta depois de 30 anos a beber na sarjeta, como nós".
Aqueles homens – eram todos homens – assustaram-me. Mostraram-me como seria o meu futuro se continuasse no naquele caminho. Comecei a estudar o alcoolismo, li sobre os efeitos reais do álcool no cérebro e no corpo humano, e tornei-me membro regular dos Alcoólicos Anónimos. Deixei definitivamente de beber aos 17 anos e, um ano depois, no meu 18º aniversário, tornei-me Bahá'í.
Os ensinamentos Bahá’ís, e a forma como o meu amigo Bill os explicou devagar, sem juízos ou qualquer insistência para que eu os seguisse, tiveram um enorme impacto na minha sobriedade. Assim que deixei de beber, pude perceber que os princípios Bahá’ís de evitar qualquer substância viciante tornaram a minha mente mais clara, as minhas acções mais responsáveis e a minha alma mais capaz de funcionar sem falhas ou danos.
Durante aquele período inicial e formativo da minha vida, apoiava-me todos os dias em duas orações: uma, a oração da serenidade dos Alcoólicos Anónimos, que diz: “Deus, concede-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso e a sabedoria para saber a diferença”; e esta oração de ‘Abdu’l-Bahá, das Escrituras Bahá’ís:
Nos próximos artigos desta série, examinaremos alguns dos dados científicos actuais sobre o álcool e veremos se podemos obter uma melhor compreensão dos seus efeitos nos indivíduos e na sociedade como um todo.
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Texto original: How the Baha’i Faith Helped Me Get Sober (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
O meu pai era alcoólico. Por isso, poderia supor-se que eu teria aprendido algumas lições com essa experiência, mas quando cheguei à adolescência, eu já estava bem adiantado nesse caminho.
O álcool arruinou a vida do meu pai. Alistou-se nos fuzileiros navais aos 18 anos e lutou corajosamente nas campanhas do Pacífico da Segunda Guerra Mundial, onde foi gravemente ferido e promovido após combates brutais em Tarawa e Iwo Jima; tudo isso deixou-o profundamente traumatizado. Quando a guerra terminou, o seu consumo ocasional de bebidas alcoólicas tinha-se transformado gradualmente num hábito diário e, mais tarde, num vício.
Penso que, na ausência de qualquer terapia, usou o álcool para se automedicar, para apagar o grave trauma e a lesão moral que sofreu na guerra. Infelizmente, os veteranos da Segunda Guerra Mundial não tiveram acesso a tratamento para esses traumas.
O meu pai não parecia um alcoólico – quando era criança, nunca o vi cambalear ou arrastar as palavras. "Não estou bêbado", dizia com orgulho, "só tomo duas bebidas por dia". Essa parte das "duas bebidas" era verdade – mas cada uma dessas suas bebidas era servida num copo de 240 ml com cerca de 95% de Bourbon, com um bocadinho de água. O Bourbon é um tipo de whisky que normalmente contém 40 a 50% de álcool puro. Além disso, costumava começar a beber à noite, antes de consumir as bebidas mais fortes, com algumas cervejas, que ele não considerava uma bebida a sério.
Assim, o meu pai bebia, todas as noites, pelo menos 240 ml de álcool puro. A maioria das pessoas não conseguiria fazê-lo fisicamente. Orgulhava-se de conseguir "aguentar a bebida", como ele próprio dizia. Hoje, os médicos compreendem que a tolerância ao álcool aumenta com o tempo, tal como acontece com qualquer droga, e sabem também que consumir tanto álcool de uma só vez sem prejuízo visível significa que o alcoolismo atingiu um estado muito avançado. Talvez por isso o seu estômago, com úlceras graves, teve de ser removido aos 45 anos.
Sob a sua tutela, comecei a beber aos cinco anos.
Tudo começou quando o meu pai me oferecia goles da sua cerveja ou Bourbon, pensando que "me ensinaria a beber em casa". Era um ritual para ele, uma prática que ele, erradamente, achou que seria boa para mim a longo prazo. Em vez disso, fez-me sentir o gosto pelo álcool desde cedo, normalizou-o na minha vida, e quando eu tinha 14 anos já bebia muito.
Felizmente, aos 15 anos, fiz um novo amigo: Bill Davis. Considerava-o um tipo mais velho, embora provavelmente estivesse na casa dos 20. Bill tinha um emprego a sério e uma pequena casa que transformara num Centro Bahá'í para jovens como eu em busca de um sentido na vida. Todas as noites, depois do trabalho, podíamos encontrar o Bill, uma das pessoas mais bondosas que já conheci, fosse numa reunião Bahá’í em sua casa ou na cave de uma igreja algures, a participar numa reunião dos Alcoólicos Anónimos.
Um dia, o Bill chamou-me à parte e perguntou: "Ouve, Dave, porque é que não vens comigo a uma das minhas reuniões dos Alcoólicos Anónimos?".
“Porque é que eu iria querer fazer isso?” perguntei-lhe.
“Bem, porque obviamente está a ter problemas com a bebida, não é?”
Isto chocou-me, mas admito que era verdade. Na adolescência, já tinha sofrido com alguns apagões e alguns incidentes de embriaguez que preferia esquecer. O meu consumo diário de bebidas alcoólicas tinha passado de recreativo a obrigatório. Relutantemente, aceitei ir a uma das reuniões com o Bill.
Naquele grupo, onde eu era o único adolescente, conheci outros alcoólicos mais velhos e grisalhos, que tentavam afastar-se da bebida. Alguns receberam-me bem, mas outros ridicularizaram-me: "Sai daqui, miúdo", rosnou um deles, "volta depois de 30 anos a beber na sarjeta, como nós".
Aqueles homens – eram todos homens – assustaram-me. Mostraram-me como seria o meu futuro se continuasse no naquele caminho. Comecei a estudar o alcoolismo, li sobre os efeitos reais do álcool no cérebro e no corpo humano, e tornei-me membro regular dos Alcoólicos Anónimos. Deixei definitivamente de beber aos 17 anos e, um ano depois, no meu 18º aniversário, tornei-me Bahá'í.
Os ensinamentos Bahá’ís, e a forma como o meu amigo Bill os explicou devagar, sem juízos ou qualquer insistência para que eu os seguisse, tiveram um enorme impacto na minha sobriedade. Assim que deixei de beber, pude perceber que os princípios Bahá’ís de evitar qualquer substância viciante tornaram a minha mente mais clara, as minhas acções mais responsáveis e a minha alma mais capaz de funcionar sem falhas ou danos.
Durante aquele período inicial e formativo da minha vida, apoiava-me todos os dias em duas orações: uma, a oração da serenidade dos Alcoólicos Anónimos, que diz: “Deus, concede-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso e a sabedoria para saber a diferença”; e esta oração de ‘Abdu’l-Bahá, das Escrituras Bahá’ís:
Ó Divina Providência! Concede pureza e limpeza em todas as coisas ao povo de Bahá. Permite que sejam libertados de toda a mácula e de todos os vícios. Salva-os de cometer qualquer acto repugnante, liberta-os das correntes de todo o mau hábito, para que possam viver puros e livres, saudáveis e limpos, dignos de servir no Teu Sagrado Limiar e aptos para se relacionarem com o seu Senhor. Livra-os das bebidas embriagantes e do tabaco, salva-os, resgata-os deste ópio que traz a loucura, permite-lhes desfrutar dos doces sabores da santidade, para que possam beber profundamente da taça mística do amor celestial e conhecer o êxtase de serem atraídos para cada vez mais perto do Reino do Todo-Glorioso.
Nos próximos artigos desta série, examinaremos alguns dos dados científicos actuais sobre o álcool e veremos se podemos obter uma melhor compreensão dos seus efeitos nos indivíduos e na sociedade como um todo.
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Texto original: How the Baha’i Faith Helped Me Get Sober (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
terça-feira, 15 de julho de 2025
Quem são os "Manifestantes de Deus"?
A expressão "Manifestante de Deus" é usada na literatura Bahá'í para referir os fundadores das grandes religiões mundiais.
A forma como a Fé Baha'i descreve os Manifestantes de Deus é inovadora e diferente das religiões anteriores.
Programa "A Fé dos Homens" transmitido no dia 14 de Julho de 2025.
A forma como a Fé Baha'i descreve os Manifestantes de Deus é inovadora e diferente das religiões anteriores.
Programa "A Fé dos Homens" transmitido no dia 14 de Julho de 2025.
sábado, 12 de julho de 2025
terça-feira, 8 de julho de 2025
O Martírio Impressionante do Báb
... os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e assassinaram os teus profetas. Só eu escapei; mas também a mim me querem matar! (Elias, 1Reis 19:10)
Como todos sabemos, os profetas, têm muitas vezes uma vida curta. Cristo morreu na cruz com 33 anos, depois de ensinar a sua nova Fé durante apenas três anos. Por alguma razão que não compreendemos, os líderes da humanidade costumam reagir mal aos fundadores das grandes religiões do mundo e perseguem-nos terrivelmente. Abraão e Moisés enfrentaram a prisão, o exílio, o escárnio e a perseguição. Krishna e Buda sofreram desprezo e censura oficial. Os líderes da sociedade crucificaram Cristo; declararam guerra a Muhammad; torturaram, exilaram e aprisionaram Bahá'u'lláh; e executaram o Báb.
Já ouviu falar do Báb? Se não, talvez queira saber sobre a Sua mensagem e sobre o que aconteceu a este jovem profeta, que iniciou uma nova Fé progressista no meio de uma das sociedades mais corruptas e atrasadas do mundo. Como consequência, sofreu tremendamente, mas mesmo após a Sua morte trágica, a Fé do Báb abriu caminho para o surgimento global da Fé Bahá’í, tal como João Batista fez para a nova Fé de Jesus.
A sua história começou há menos de dois séculos. O Báb (que significa “Porta” em árabe) iniciou a sua nova Fé em 1844. Surgiu do misticismo profético sufi predominante na Pérsia do século XIX. A mensagem inspiradora do Báb — cujos ensinamentos anunciavam o futuro aparecimento de uma grande revelação mundial — rapidamente se consolidou naquela cultura muçulmana xiita, muito assente na tradição. A princípio, poucas pessoas souberam da existência do Báb, mas depois milhares e dezenas de milhares começaram a tornar-se Bábis, rompendo com as tradições e práticas islâmicas da sua sociedade e desafiando a autoridade dos seus líderes. O rápido crescimento da Fé Bábi abalou os alicerces da sociedade persa.
Os clérigos e os governantes da Pérsia reagiram mal a este novo desenvolvimento religioso, para dizer o mínimo.
Apenas seis anos após o anúncio da nova Fé do Báb, em 1844, o governo Qajar ordenou a execução deste jovem mensageiro profundamente carismático — que tinha então apenas trinta anos. O governo e os clérigos islâmicos já tinham torturado e assassinado cruelmente mais de 20.000 fervorosos seguidores do Báb durante os curtos e intensos seis anos de duração do movimento Bábi. Como o Báb exigia mudanças revolucionárias no sistema predominante de crença e governação religiosa, e porque pregava a unidade de todas as religiões, as autoridades temiam que este novo e dinâmico desafio e o seu crescente apoio os afastassem rapidamente do poder.
Apesar do massacre generalizado contra os Seus seguidores, cada vez mais pessoas continuavam a tornar-se Bábis. Em 1850, receosas da sua crescente influência e desesperadas por esmagar o movimento Bábi, as autoridades decidiram executar o Báb. Quando O acusaram de apostasia — a mesma acusação que os fariseus fizeram contra Jesus —, o Báb rejeitou arrepender-se ou refutar os Seus ensinamentos, aceitando calmamente as consequências.
Depois, a 9 de Julho de 1850, as autoridades Xiitas ordenaram que o Báb fosse executado por fuzilamento na praça de Tabriz, na Pérsia. Um dos jovens seguidores do Báb insistiu em acompanhá-lo na morte, e as autoridades consentiram de bom grado. Uma multidão de dez mil pessoas assistiu dos telhados dos quartéis e das casas junto à praça.
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Sam Khan |
"Segue as tuas instruções", disse o Báb gentilmente ao comandante. "E se a tua intenção for sincera, o Omnipotente poderá certamente livrar-te-á da tua perplexidade."
Quando Sam Khan deu ordem para disparar, os mosquetes deram um estrondo. Um jornalista ocidental que testemunhou o facto relatou que "o fumo dos disparos das setecentas e cinquenta espingardas era tal que transformou a luz do sol do meio-dia em escuridão".
Depois do fumo se ter dissipado, a multidão ficou estupefacta: o Báb tinha desaparecido. O seu jovem e dedicado seguidor permanecia completamente ileso junto ao muro, e as cordas que o prendiam a ele e ao Báb estavam despedaçadas. Incrédula, a multidão começou a gritar que tinha presenciado um milagre. Sam Khan, agora aliviado do seu dilema, ordenou imediatamente aos seus 750 soldados que se afastassem para longe, jurando que nunca mais obedeceria a uma nova ordem, mesmo que isso lhe custasse a própria vida.
Assim que as tropas de Khan abandonaram a praça, o coronel da guarnição de Tabriz ofereceu-se para proceder à execução. Depois de os guardas terem encontrado o Báb na Sua cela, terminando pacificamente uma conversa, levaram-no e amarraram-no mais uma vez, juntamente com o seu jovem seguidor. As Suas palavras finais foram as seguintes:
"Ó geração perversa! Se tivésseis acreditado em Mim, cada um de vós teria seguido o exemplo deste jovem cuja condição é superior à maioria de vós, e de bom grado se teria se sacrificado em Meu caminho. Dia virá em que Me tereis reconhecido; nesse dia, Eu terei deixado de estar convosco." (citado por Shoghi Effendi, God Passes By, p. 53.)
O segundo pelotão de fuzilamento apontou e disparou. Desta vez, a execução foi bem-sucedida.
Os corpos unidos e crivados de balas do Báb e do Seu fiel seguidor — chamado Anis, que significa companheiro próximo — repousam agora sob uma cúpula dourada no Monte Carmelo, em Haifa, Israel. Milhões de pessoas de todo o mundo visitam este local sagrado, e todos os dias o Santuário do Báb proclama a mensagem Bahá’í de unidade, paz, amor e altruísmo ao mundo.
Os Bahá'ís acreditam que o Báb, o Precursor e Arauto da Fé Bahá’í, deu início a um novo ciclo de revelação progressiva para a humanidade. Os Seus novos ensinamentos revolucionários abriram o caminho para a nova mensagem de Bahá’u’lláh, e o Seu sacrifício supremo deu-nos a todos uma nova visão de um mundo unificado.
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Texto original: The Shocking Martyrdom of the Bab (www.bahaiteachings.org)
sábado, 5 de julho de 2025
Desafiando a “Teoria do Grande Homem” da história
Por David Langness.
Aposto que quando o leitor era criança, aprendeu os nomes dos antigos governantes do seu país, as pessoas que foram reis, rainhas, presidentes ou primeiros-ministros.
Eu tive que aprender isso. Como rapaz americano, aprendi sobre George Washington, o homem que não conseguia mentir depois de cortar uma cerejeira, o primeiro presidente do jovem país, o herói militar da Revolução Americana. Todos os alunos do ensino básico nos Estados Unidos conhecem a vida de Washington. Poucos sabem, no entanto, que George Washington era também um agricultor abastado que escreveu que não acreditava na instituição da escravatura — mas era dono de 200 escravos.
E isto leva-me a uma boa pergunta, uma pergunta que fiz mais do que uma vez na escola primária: porque é que memorizamos os nomes dos nossos governantes do passado, enaltecemos o seu estatuto e estudamos as suas vidas? Porque é que a história enfatiza os famosos e os conhecidos, mas ignora todos os outros?
A razão deve-se, provavelmente, a Thomas Carlyle, escritor, filósofo e historiador escocês da década de 1840. Ele formulou a "Teoria do Grande Homem" no seu livro " Hero-Worship and the Heroic in History" [N.T. “Os Heróis”, na edição portuguesa de 2002], escrevendo que "A história do mundo é apenas a biografia de grandes homens". Carlyle acreditava que os indivíduos heroicos e imponentes moldam a história, não só pessoalmente através dos seus atributos de carácter e da força da sua vontade, mas também através da inspiração divina. No seu livro, enumerou poetas como Dante e Shakespeare, religiosos como Lutero, governantes como Cromwell e Napoleão, e até o profeta Muhammad, como os principais agentes de mudança no mundo.
Assim, a teoria do Grande Homem propõe o conceito de que os indivíduos ou pequenos grupos de pessoas, através do poder do seu carácter, do seu intelecto ou da força da sua vontade, determinam o curso da história.
Temos de admitir que é uma teoria fascinante: a de que alguns indivíduos alteraram fundamentalmente o rumo da história ao viverem as suas vidas de forma única e poderosa.
A teoria da primazia dos grandes homens de Carlyle dominou a era vitoriana, mas caiu em desuso no início do século XX por várias razões — nomeadamente, a exclusão das mulheres. Entretanto, aqui ficam algumas perguntas contemporâneas que os historiadores têm feito sobre a Teoria do Grande Homem: Será que os nossos líderes nacionais têm realmente muita influência a longo prazo? Têm alguma? Os grandes homens e as grandes mulheres fazem realmente história — ou será que a história os faz? Os nossos líderes políticos realmente lideram ou seguem?
Para responder a estas questões, podemos considerar Abraham Lincoln — o maior presidente americano por aclamação universal, que os historiadores e o público concordam que preservou o país, defendeu a democracia e libertou os escravos. As qualidades de liderança de Lincoln, as suas capacidades de negociação e de gestão de crises, e a integridade do seu carácter, fazem dele o líder mais venerado da história dos Estados Unidos.
Mas os historiadores também concordam que o legado de Lincoln não durou muito após a sua morte. Ainda no início do século XX, quatro décadas após o assassinato de Lincoln, o Congresso americano e os seus tribunais criaram e aplicaram as chamadas leis Jim Crow, que reinstituíram funcionalmente a escravatura, pelo menos economicamente. O racismo voltou em força. O Sul dos Estados Unidos, embora tecnicamente reunido com a sua mãe-pátria, continuou a revoltar-se, resistindo à integração com todas as suas forças. Um século depois de Lincoln nos ter deixado, ainda travávamos as mesmas batalhas. Lincoln teve impacto, mas foi um impacto limitado.
Os ensinamentos Bahá’ís dizem que o poder de um líder temporal não consegue persistir muito tempo depois da sua inevitável morte:
Se quiser verificar este conceito, tente o seguinte: tente lembrar-se do nome do governante que, há algumas centenas de anos, governou a terra onde agora vive. Na minha cidade, na Califórnia, isso envolvia provavelmente um governador espanhol que concedia terras ou um chefe indígena tribal — e não faço ideia de quem eram. As pessoas podem ter-se curvado perante estes governantes na altura, ou até mesmo tê-los venerado como semideuses durante algum tempo, mas uma visão de longo prazo da história esquece-os e desconsidera-os completamente. O tempo sepulta todos — os fracos, os mansos e os fortes:
Eis a questão central sobre a Teoria do Grande Homem: temos alguma evidência de que as pessoas mais influentes da nossa história colectiva causaram verdadeiras mudanças? Se acredita na causalidade, então sabe que cada grande homem ou mulher teve forças históricas significativas a actuar sobre eles, e eles próprios foram efeitos dessas forças.
Todo este conceito — o impacto e a influência duradoura de qualquer indivíduo sobre todos os outros — é fascinante e controverso. Voltaremos a ele no final desta série de artigos; e no próximo artigo, aprofundaremos um pouco mais os ensinamentos Bahá’ís para ver como a teoria da história do Grande Homem se apresenta quando vista de longe.
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Texto original: Challenging the “Great Man Theory” of History (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
Aposto que quando o leitor era criança, aprendeu os nomes dos antigos governantes do seu país, as pessoas que foram reis, rainhas, presidentes ou primeiros-ministros.
Eu tive que aprender isso. Como rapaz americano, aprendi sobre George Washington, o homem que não conseguia mentir depois de cortar uma cerejeira, o primeiro presidente do jovem país, o herói militar da Revolução Americana. Todos os alunos do ensino básico nos Estados Unidos conhecem a vida de Washington. Poucos sabem, no entanto, que George Washington era também um agricultor abastado que escreveu que não acreditava na instituição da escravatura — mas era dono de 200 escravos.
E isto leva-me a uma boa pergunta, uma pergunta que fiz mais do que uma vez na escola primária: porque é que memorizamos os nomes dos nossos governantes do passado, enaltecemos o seu estatuto e estudamos as suas vidas? Porque é que a história enfatiza os famosos e os conhecidos, mas ignora todos os outros?
A razão deve-se, provavelmente, a Thomas Carlyle, escritor, filósofo e historiador escocês da década de 1840. Ele formulou a "Teoria do Grande Homem" no seu livro " Hero-Worship and the Heroic in History" [N.T. “Os Heróis”, na edição portuguesa de 2002], escrevendo que "A história do mundo é apenas a biografia de grandes homens". Carlyle acreditava que os indivíduos heroicos e imponentes moldam a história, não só pessoalmente através dos seus atributos de carácter e da força da sua vontade, mas também através da inspiração divina. No seu livro, enumerou poetas como Dante e Shakespeare, religiosos como Lutero, governantes como Cromwell e Napoleão, e até o profeta Muhammad, como os principais agentes de mudança no mundo.
Assim, a teoria do Grande Homem propõe o conceito de que os indivíduos ou pequenos grupos de pessoas, através do poder do seu carácter, do seu intelecto ou da força da sua vontade, determinam o curso da história.
Temos de admitir que é uma teoria fascinante: a de que alguns indivíduos alteraram fundamentalmente o rumo da história ao viverem as suas vidas de forma única e poderosa.
A teoria da primazia dos grandes homens de Carlyle dominou a era vitoriana, mas caiu em desuso no início do século XX por várias razões — nomeadamente, a exclusão das mulheres. Entretanto, aqui ficam algumas perguntas contemporâneas que os historiadores têm feito sobre a Teoria do Grande Homem: Será que os nossos líderes nacionais têm realmente muita influência a longo prazo? Têm alguma? Os grandes homens e as grandes mulheres fazem realmente história — ou será que a história os faz? Os nossos líderes políticos realmente lideram ou seguem?
Para responder a estas questões, podemos considerar Abraham Lincoln — o maior presidente americano por aclamação universal, que os historiadores e o público concordam que preservou o país, defendeu a democracia e libertou os escravos. As qualidades de liderança de Lincoln, as suas capacidades de negociação e de gestão de crises, e a integridade do seu carácter, fazem dele o líder mais venerado da história dos Estados Unidos.
Mas os historiadores também concordam que o legado de Lincoln não durou muito após a sua morte. Ainda no início do século XX, quatro décadas após o assassinato de Lincoln, o Congresso americano e os seus tribunais criaram e aplicaram as chamadas leis Jim Crow, que reinstituíram funcionalmente a escravatura, pelo menos economicamente. O racismo voltou em força. O Sul dos Estados Unidos, embora tecnicamente reunido com a sua mãe-pátria, continuou a revoltar-se, resistindo à integração com todas as suas forças. Um século depois de Lincoln nos ter deixado, ainda travávamos as mesmas batalhas. Lincoln teve impacto, mas foi um impacto limitado.
Os ensinamentos Bahá’ís dizem que o poder de um líder temporal não consegue persistir muito tempo depois da sua inevitável morte:
Todas as criaturas dependem de Deus, por maior que possa parecer o seu conhecimento, poder e independência.
Vejam os poderosos reis da Terra, pois eles têm todo o poder do mundo que o homem lhes pode dar, e, no entanto, quando a morte os chama, eles têm de obedecer, tal como os camponeses às suas portas. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pags. 19-20)
Se quiser verificar este conceito, tente o seguinte: tente lembrar-se do nome do governante que, há algumas centenas de anos, governou a terra onde agora vive. Na minha cidade, na Califórnia, isso envolvia provavelmente um governador espanhol que concedia terras ou um chefe indígena tribal — e não faço ideia de quem eram. As pessoas podem ter-se curvado perante estes governantes na altura, ou até mesmo tê-los venerado como semideuses durante algum tempo, mas uma visão de longo prazo da história esquece-os e desconsidera-os completamente. O tempo sepulta todos — os fracos, os mansos e os fortes:
Sabei, em verdade, que as condições deste mundo mortal, mesmo que seja a realeza de toda a extensão deste globo, são efémeras. É uma ilusão. Termina em nada; nem têm quaisquer resultados, nem, aos olhos de Deus, se compara à asa de um mosquito.
Onde estão os reis e as rainhas? Onde estão os palácios e as suas amantes? Onde estão os tronos imperiais e as coroas adornadas com joias? Onde estão os poderosos governantes da Pérsia, da Grécia e de Roma? Na verdade, os seus palácios estão em ruínas e desolados, os seus tronos destruídos, e as suas coroas lançadas ao pó. (‘Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 3, pags. 252-253)
Eis a questão central sobre a Teoria do Grande Homem: temos alguma evidência de que as pessoas mais influentes da nossa história colectiva causaram verdadeiras mudanças? Se acredita na causalidade, então sabe que cada grande homem ou mulher teve forças históricas significativas a actuar sobre eles, e eles próprios foram efeitos dessas forças.
Todo este conceito — o impacto e a influência duradoura de qualquer indivíduo sobre todos os outros — é fascinante e controverso. Voltaremos a ele no final desta série de artigos; e no próximo artigo, aprofundaremos um pouco mais os ensinamentos Bahá’ís para ver como a teoria da história do Grande Homem se apresenta quando vista de longe.
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Texto original: Challenging the “Great Man Theory” of History (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
quarta-feira, 2 de julho de 2025
sábado, 28 de junho de 2025
A Solidão no Fim da Vida
Por Maya Pouryaghma.
Quando caminho ocasionalmente pelo lar de idosos onde vivo, noto sempre um dos sentimentos predominantes produzidos por estar nesta instituição e noutras semelhantes: a solidão.
Geralmente, quando pessoas idosas como eu são colocadas em lares de idosos, seja numa base voluntária como eu fiz, ou quando são forçadas a mudar-se para este tipo de instalações por membros da família que já não podem cuidar delas, o sentimento inicial pode ser de alívio – tanto para os idosos como para as suas famílias e cuidadores.
Seja como for, eu sei que foi assim para mim. Não queria ser um fardo para ninguém e, aqui no lar de idosos, sabia que teria os cuidados necessários 24 horas por dia.
Mas estas coisas têm um padrão previsível. No início, pelo menos durante algum tempo, dependendo do número de familiares e da distância que a família e os amigos têm de percorrer, ocorrem visitas frequentes e telefonemas frequentes. Depois, quando instalados e os familiares e amigos têm a certeza de que estamos bem tratados, a frequência das visitas e dos telefonemas pode diminuir, e até o tempo passado com os entes queridos no lar também se torna mais curto.
É então que surge a solidão.
Outras culturas podem não enfrentar este problema, uma vez que as suas tradições significam que tendem a manter os seus idosos por perto e podem até não ter lares de idosos para cuidar deles.
É claro que ninguém pode esperar que os entes queridos estejam constantemente conosco, ignorando as suas necessidades e as das suas famílias, colocando as suas próprias vidas em espera. Isto seria egoísmo por parte dos residentes de qualquer instituição de cuidados continuados.
Eis o melhor conselho que ouvi sobre este assunto dos ensinamentos Bahá’ís, apresentado por ‘Abdu’l-Bahá numa palestra que proferiu na cidade de Nova Iorque em 1912:
Posso dizer-vos, por experiência própria, que os residentes daqui, e provavelmente de todo o lado, tentam o seu melhor para pensar racionalmente sobre estas questões, mas muitas vezes têm a sensação de estar esquecidos e abandonados. Lembro-me que, quando fui voluntária numa residência para idosos durante alguns anos, antes de ficar doente, havia senhora em particular – uma veterana da Segunda Guerra Mundial – que dizia a todos para não a esquecerem. Era uma senhora maravilhosa, com grandes histórias para contar sobre a sua vida activa. Ela estava consciente da realidade da situação, mas ainda assim a sensação de solidão e o medo de ser esquecida era real e humana.
Eu própria tenho sentido isso. Com tudo o que me mantém ocupada diariamente, e apesar do sono, que agora ocupa uma boa parte da minha vida, por vezes a solidão ainda se manifesta.
Todos os residentes do lar de idosos sabem qual é a realidade, e sabemos que ninguém pode realmente fazer nada em relação à sua situação familiar, mas por vezes aflige-nos um sentimento de irrealidade ou de expectativa ilógica. É nesse momento que devo recorrer ao meu amigo mais próximo e verdadeiro, o Criador amoroso e misericordioso, e pedir a Deus força e pureza de coração. Também peço ajuda para ser paciente, em vez de continuar a perguntar-me quando poderei voltar para casa.
Nesta situação, devo, mais uma vez, repetir esta oração reconfortante atribuída a ‘Abdu’l-Bahá:
O meu espírito, refrescado e alegre, ainda está a crescer – mas fisicamente estou a deteriorar-me gradualmente. Ainda tenho a sensação de estar viva e activa, mas a minha Síndrome de Raynaud está a agravar-se e isso, segundo o Dr. Google, pode ser uma das razões para os meus ataques isquémicos passageiros se tornarem mais frequentes – o que pode levar a um AVC. A Síndrome de Raynaud, pelo que percebi, significa que temporariamente não há fluxo de sangue suficiente para alguma parte do corpo e, no meu caso, pode ser uma parte do cérebro.
Isto preocupa-me porque se eu tiver um AVC e não morrer por causa dele, tornar-me-ei um fardo ainda maior para os outros – mas digo a mim mesmo: Então, o que acontece? Mais uma vez, entrego-me a Deus com o meu destino, repetindo: “Em Tuas mãos confio TODOS os meus interesses.” Isso acalma-me. E volto novamente a ser uma velha resmungona.
Eu ia dizer, para quê preocupar-me, a vida é demasiado curta. No entanto, parece que isto não se aplica a mim, uma vez que vivi muito mais tempo do que esperava devido a um cancro do qual já não estou a ser tratada, uma vez que o tratamento é claramente pior do que a doença. Como sempre digo, Deus tem um sentido de humor infinito.
Perceber isto mantém-me humilde, grata e alegre.
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Texto original: Loneliness at the End of This Life (www.bahaiteachings.org)
Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.
Quando caminho ocasionalmente pelo lar de idosos onde vivo, noto sempre um dos sentimentos predominantes produzidos por estar nesta instituição e noutras semelhantes: a solidão.
Geralmente, quando pessoas idosas como eu são colocadas em lares de idosos, seja numa base voluntária como eu fiz, ou quando são forçadas a mudar-se para este tipo de instalações por membros da família que já não podem cuidar delas, o sentimento inicial pode ser de alívio – tanto para os idosos como para as suas famílias e cuidadores.
Seja como for, eu sei que foi assim para mim. Não queria ser um fardo para ninguém e, aqui no lar de idosos, sabia que teria os cuidados necessários 24 horas por dia.
Mas estas coisas têm um padrão previsível. No início, pelo menos durante algum tempo, dependendo do número de familiares e da distância que a família e os amigos têm de percorrer, ocorrem visitas frequentes e telefonemas frequentes. Depois, quando instalados e os familiares e amigos têm a certeza de que estamos bem tratados, a frequência das visitas e dos telefonemas pode diminuir, e até o tempo passado com os entes queridos no lar também se torna mais curto.
É então que surge a solidão.
Outras culturas podem não enfrentar este problema, uma vez que as suas tradições significam que tendem a manter os seus idosos por perto e podem até não ter lares de idosos para cuidar deles.
É claro que ninguém pode esperar que os entes queridos estejam constantemente conosco, ignorando as suas necessidades e as das suas famílias, colocando as suas próprias vidas em espera. Isto seria egoísmo por parte dos residentes de qualquer instituição de cuidados continuados.
Eis o melhor conselho que ouvi sobre este assunto dos ensinamentos Bahá’ís, apresentado por ‘Abdu’l-Bahá numa palestra que proferiu na cidade de Nova Iorque em 1912:
Todos deveríamos visitar os doentes. Quando estão tristes e em sofrimento, é uma verdadeira ajuda e benefício ter um amigo que visita. A felicidade é uma grande cura para aqueles que estão doentes. No Oriente é costume visitar frequentemente o doente, e fazê-lo individualmente. As pessoas do Oriente demonstram a maior bondade e compaixão pelos doentes e pelos que padecem. Isto tem um efeito maior do que o próprio medicamento. Deveis ter sempre este pensamento de amor e carinho ao visitar os doentes e os aflitos.
Posso dizer-vos, por experiência própria, que os residentes daqui, e provavelmente de todo o lado, tentam o seu melhor para pensar racionalmente sobre estas questões, mas muitas vezes têm a sensação de estar esquecidos e abandonados. Lembro-me que, quando fui voluntária numa residência para idosos durante alguns anos, antes de ficar doente, havia senhora em particular – uma veterana da Segunda Guerra Mundial – que dizia a todos para não a esquecerem. Era uma senhora maravilhosa, com grandes histórias para contar sobre a sua vida activa. Ela estava consciente da realidade da situação, mas ainda assim a sensação de solidão e o medo de ser esquecida era real e humana.
Eu própria tenho sentido isso. Com tudo o que me mantém ocupada diariamente, e apesar do sono, que agora ocupa uma boa parte da minha vida, por vezes a solidão ainda se manifesta.
Todos os residentes do lar de idosos sabem qual é a realidade, e sabemos que ninguém pode realmente fazer nada em relação à sua situação familiar, mas por vezes aflige-nos um sentimento de irrealidade ou de expectativa ilógica. É nesse momento que devo recorrer ao meu amigo mais próximo e verdadeiro, o Criador amoroso e misericordioso, e pedir a Deus força e pureza de coração. Também peço ajuda para ser paciente, em vez de continuar a perguntar-me quando poderei voltar para casa.
Nesta situação, devo, mais uma vez, repetir esta oração reconfortante atribuída a ‘Abdu’l-Bahá:
Ó Deus, refresca e alegra o meu espírito. Purifica o meu coração. Ilumina os meus poderes. Em Tuas mãos confio todos os meus interesses. És o meu Guia e o meu Refúgio. Não mais se apossarão de mim a tristeza e a ansiedade, mas sim, o contentamento e a alegria. Ó Deus, jamais me entregarei à aflição, nem permitirei que os desgostos me atormentem ou as coisas desagradáveis da vida me inquietem. Ó Deus, és mais meu amigo do que eu o sou de mim mesmo. Dedico-me a Ti, ó Senhor
O meu espírito, refrescado e alegre, ainda está a crescer – mas fisicamente estou a deteriorar-me gradualmente. Ainda tenho a sensação de estar viva e activa, mas a minha Síndrome de Raynaud está a agravar-se e isso, segundo o Dr. Google, pode ser uma das razões para os meus ataques isquémicos passageiros se tornarem mais frequentes – o que pode levar a um AVC. A Síndrome de Raynaud, pelo que percebi, significa que temporariamente não há fluxo de sangue suficiente para alguma parte do corpo e, no meu caso, pode ser uma parte do cérebro.
Isto preocupa-me porque se eu tiver um AVC e não morrer por causa dele, tornar-me-ei um fardo ainda maior para os outros – mas digo a mim mesmo: Então, o que acontece? Mais uma vez, entrego-me a Deus com o meu destino, repetindo: “Em Tuas mãos confio TODOS os meus interesses.” Isso acalma-me. E volto novamente a ser uma velha resmungona.
Eu ia dizer, para quê preocupar-me, a vida é demasiado curta. No entanto, parece que isto não se aplica a mim, uma vez que vivi muito mais tempo do que esperava devido a um cancro do qual já não estou a ser tratada, uma vez que o tratamento é claramente pior do que a doença. Como sempre digo, Deus tem um sentido de humor infinito.
Perceber isto mantém-me humilde, grata e alegre.
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Texto original: Loneliness at the End of This Life (www.bahaiteachings.org)
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Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.
quarta-feira, 25 de junho de 2025
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Uma Peregrinação à Casa do Báb
Por Manijeh Khorshidi.
Aos doze anos, encontrei-me num espaço sagrado — o quarto onde o Profeta de Deus agraciou a existência em meados do século XIX. Quão prontamente, nos lugares sagrados, a alma se apercebe do amor de Deus e alcança o mistério do sacrifício. Quão facilmente a alma encantada inala o ar doce e perfumado com a fragrância das vestes do Amado e discerne a harmonia tranquila da criação.
No primeiro dia de primavera, ao alvorar do dia, um grupo de Bahá’ís — incluindo os meus pais e os seus filhos — iniciou uma peregrinação gloriosa e inesquecível àquele local santificado. O pequeno grupo, que teve a honra de ter o Sr. Afnan como guia, caminhou em silêncio e reverência em direcção à Casa do seu Amado — a Casa do Báb.
Shiraz, deslumbrante na primavera, com as suas colinas e jardins repletos de cores, onde o jasmim e as rosas competem para perfumar o ar, tornou-se o local escolhido na terra onde se ouviu o chamamento de Deus – em Maio de 1844. Uma cidade que viu nascer poetas como Saadi e Hafiz, foi favorecida por Deus como o lugar do José do Amor, o Seu jovem Profeta, Siyyid Ali Muhammad, o Báb.
A brisa da graça de Deus soprou sobre a terra dos rouxinóis e das flores, fazendo de Shiraz a anfitriã do Rouxinol Espiritual. Naquela noite espetacular e histórica, a Terra — jubilosa e expectante, a esfera celeste pronta a receber — testemunhou a revelação da condição do Profeta e ouviu a Sua mensagem. O manto da aceitação da poderosa Revelação de Deus através do Seu novo Mensageiro naquela noite posou sobre um jovem erudito, o primeiro crente, Mulla Husayn.
Mais de um século depois, nesse dia de primavera, o nosso pequeno grupo de peregrinos – à semelhança de milhares vindos de todo o mundo – viajou até à Casa sagrada onde o chamamento de Deus tinha rejuvenescido cada átomo da Terra. Ansiosa por ver a Casa do Profeta, esta criança com grandes expectativas imaginou uma casa palaciana rodeada de jardins grandiosos. No fundo, a mais preciosa dádiva de Deus à humanidade, o Seu Mensageiro – o construtor de uma nova civilização – vivera e caminhara naquele lugar.
No beco estreito não se viam casas ou jardins imponentes; apenas muros altos e portas de madeira fechadas emolduravam o caminho para a Casa do Báb. E então, surgiu uma casa modesta e pequena. Esta era a morada do Bem-Amado do mundo — um ponto brilhante no vasto universo que albergara o Ponto Mais Exaltado, o Ponto Primordial, o iniciador da era Bahá’í nos reinos da existência.
Como é grande o eco destas Palavras em cada coração receptivo, abrangendo o tempo e o espaço para a eternidade:
Assim, cada tijolo daquela Casa tinha uma história para contar, pois “…o Semblante de Deus…, a Luz de Deus…” apareceram ali.
Entrámos no pátio e subimos à sala superior — a sala privilegiada que ouviu o chamamento do Divino, onde estas Palavras foram erguidas:
As paredes brancas, com nichos para Livros Sagrados e objetos ornamentais, os vitrais, os tapetes persas e a lamparina a óleo ornamentada no centro compunham a beleza simples da sala. Ajoelhei-me no chão, seguindo os outros. Os meus pais, numa oração profunda com olhos fechados, pareciam livres deste mundo — até da relação entre pais e filhos. Recordo a harmonia das cores, o ambiente tranquilo, a forma como tudo pedia que a vida fosse celebrada.
Recitei orações em silêncio, mas elas ecoavam no meu coração. Como esta bela oração do Báb descreve o anseio de cada alma:
Extasiados e sentindo-nos próximos do nosso Senhor, descemos as escadas do lado oposto e regressámos ao pátio, onde se destacava como testemunha a laranjeira que o próprio Profeta tinha plantado. Ver aquela árvore transportou-nos para os dias alegres em que o jovem Profeta e a sua esposa se poderiam ter sentado debaixo dela, apreciando as suas flores e frutos.
A Casa evocava um reflexo luminoso daquela alegria — por mais breve que fosse — quando o Báb e a Sua esposa ali viveram. Transportava a mente para cenas onde os primeiros crentes, as Letras dos Viventes, frequentavam a Casa e levavam ao mundo a poderosa mensagem do Profeta de Deus.
Na profundeza das emoções despertadas naquela Casa Sagrada, era fácil recordar o significado do chamamento do jovem Profeta — que resgatou a Sua vida no altar da existência apenas seis anos após a Sua Declaração. O Seu chamamento preparou os corações dos Seus seguidores para o chamamento ainda maior de "Aquele Que Deus tornará manifesto" — Bahá'u'lláh.
Profeticamente, o Báb previu esse futuro com estas palavras:
Eu tinha doze anos, não conseguia imaginar como a vida iria mudar para sempre por causa daquela experiência. Aquele lugar sagrado na Terra proporcionou momentos inesquecíveis, indescritíveis.
Estas palavras comoventes de ‘Abdu’l-Bahá vêm-me à mente:
A destruição da Casa do Báb pelo regime islâmico no Irão em 1979 — após muitas tentativas anteriores — repercute o medo dos corações que se abrem à brisa da Primavera Divina. Revela o tormento que alguns sentem perante a novidade, o ar fresco da renovação espiritual que chama a humanidade à unidade:
Hoje, as almas sedentas em todo o mundo estão privadas da oportunidade de contemplar este edifício sagrado. No entanto, a alma do universo e os mundos de Deus preservam este Lugar Sagrado — quer os seus tijolos e paredes permaneçam no mundo material ou não.
Estas palavras encantadoras de Bahá'u'lláh trazem consolo e esperança:
Na Revelação de Bahá’u’lláh, nenhuma alma é privada da experiência de “…efusão da graça divina…”
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Texto original: Where the Soul Remembers: A Pilgrimage to the House of the Bab (www.bahaiteachings.org)
Manijeh Khorshidi nasceu e cresceu numa família Bahá'í em Teerão, no Irão. Licenciou-se em odontologia Infantil pela Universidade de Teerão. Em 1979, devido à perseguição sistemática e implacável dos Bahá’ís no Irão pela revolução islâmica, ela abandonou o Irão. Estabelecendo-se na Europa, viveu na Irlanda do Norte e em Londres. Posteriormente, foi para os Estados Unidos da América para prosseguir os seus estudos e a sua carreira. Trabalha como Médica Dentista Infantil há 28 anos em Wisconsin e lecciona no Waukesha Technical College como médica dentista supervisora há 16 anos. A sua paixão na vida, assim como a de milhões de pessoas, é trabalhar pela "Unidade da Humanidade", o princípio fundamental da Fé Bahá'í. O seu livro "Prompts of the Heart, Prose and Poetry" foi publicado em 2023. Alguns dos seus escritos foram publicados em reedsy.com e medium.com. Vive com o marido, Robert Malouf, um poeta, em Brookfield, Wisconsin.
Aos doze anos, encontrei-me num espaço sagrado — o quarto onde o Profeta de Deus agraciou a existência em meados do século XIX. Quão prontamente, nos lugares sagrados, a alma se apercebe do amor de Deus e alcança o mistério do sacrifício. Quão facilmente a alma encantada inala o ar doce e perfumado com a fragrância das vestes do Amado e discerne a harmonia tranquila da criação.
No primeiro dia de primavera, ao alvorar do dia, um grupo de Bahá’ís — incluindo os meus pais e os seus filhos — iniciou uma peregrinação gloriosa e inesquecível àquele local santificado. O pequeno grupo, que teve a honra de ter o Sr. Afnan como guia, caminhou em silêncio e reverência em direcção à Casa do seu Amado — a Casa do Báb.
Shiraz, deslumbrante na primavera, com as suas colinas e jardins repletos de cores, onde o jasmim e as rosas competem para perfumar o ar, tornou-se o local escolhido na terra onde se ouviu o chamamento de Deus – em Maio de 1844. Uma cidade que viu nascer poetas como Saadi e Hafiz, foi favorecida por Deus como o lugar do José do Amor, o Seu jovem Profeta, Siyyid Ali Muhammad, o Báb.
A brisa da graça de Deus soprou sobre a terra dos rouxinóis e das flores, fazendo de Shiraz a anfitriã do Rouxinol Espiritual. Naquela noite espetacular e histórica, a Terra — jubilosa e expectante, a esfera celeste pronta a receber — testemunhou a revelação da condição do Profeta e ouviu a Sua mensagem. O manto da aceitação da poderosa Revelação de Deus através do Seu novo Mensageiro naquela noite posou sobre um jovem erudito, o primeiro crente, Mulla Husayn.
Ó tu que és o primeiro a acreditar em Mim! Em verdade Eu digo: Eu sou o Báb, a Porta de Deus. (The Dawnbreakers, p.57)
Mais de um século depois, nesse dia de primavera, o nosso pequeno grupo de peregrinos – à semelhança de milhares vindos de todo o mundo – viajou até à Casa sagrada onde o chamamento de Deus tinha rejuvenescido cada átomo da Terra. Ansiosa por ver a Casa do Profeta, esta criança com grandes expectativas imaginou uma casa palaciana rodeada de jardins grandiosos. No fundo, a mais preciosa dádiva de Deus à humanidade, o Seu Mensageiro – o construtor de uma nova civilização – vivera e caminhara naquele lugar.
No beco estreito não se viam casas ou jardins imponentes; apenas muros altos e portas de madeira fechadas emolduravam o caminho para a Casa do Báb. E então, surgiu uma casa modesta e pequena. Esta era a morada do Bem-Amado do mundo — um ponto brilhante no vasto universo que albergara o Ponto Mais Exaltado, o Ponto Primordial, o iniciador da era Bahá’í nos reinos da existência.
Como é grande o eco destas Palavras em cada coração receptivo, abrangendo o tempo e o espaço para a eternidade:
Eu sou o Ponto Primordial do qual foram geradas todas as coisas criadas. Eu sou o Semblante de Deus, cujo esplendor nunca poderá ser obscurecido, a Luz de Deus, cujo brilho nunca poderá apagar-se. Quem Me reconhece, estão-lhe reservados a segurança e todo o bem, e quem não Me reconhece, esperam-no o fogo infernal e todo o mal… (Epistle to Muhammad Shah)
Assim, cada tijolo daquela Casa tinha uma história para contar, pois “…o Semblante de Deus…, a Luz de Deus…” apareceram ali.
Entrámos no pátio e subimos à sala superior — a sala privilegiada que ouviu o chamamento do Divino, onde estas Palavras foram erguidas:
"Esta noite, esta própria hora, serão celebradas nos dias vindouros como um dos maiores e mais significativos festivais. Agradece a Deus por te ter ajudado graciosamente a alcançar o desejo do teu coração, e por teres sorvido do vinho selecto da Sua palavra." (The Dawn-Breakers, p.62)
As paredes brancas, com nichos para Livros Sagrados e objetos ornamentais, os vitrais, os tapetes persas e a lamparina a óleo ornamentada no centro compunham a beleza simples da sala. Ajoelhei-me no chão, seguindo os outros. Os meus pais, numa oração profunda com olhos fechados, pareciam livres deste mundo — até da relação entre pais e filhos. Recordo a harmonia das cores, o ambiente tranquilo, a forma como tudo pedia que a vida fosse celebrada.
Recitei orações em silêncio, mas elas ecoavam no meu coração. Como esta bela oração do Báb descreve o anseio de cada alma:
Ó meu Deus, meu Senhor e meu Mestre! Desprendi-me dos meus parentes e procurei, através de Ti, tornar-me independente de todos os que habitam a terra e sempre pronto a receber o que é louvável aos Teus olhos. Concede-me o bem que me torne independente de tudo, excepto de Ti, e concede-me uma parte mais ampla dos Teus favores ilimitados. Em verdade, Tu és o Senhor da graça abundante. (Bahá'í Prayers)
Extasiados e sentindo-nos próximos do nosso Senhor, descemos as escadas do lado oposto e regressámos ao pátio, onde se destacava como testemunha a laranjeira que o próprio Profeta tinha plantado. Ver aquela árvore transportou-nos para os dias alegres em que o jovem Profeta e a sua esposa se poderiam ter sentado debaixo dela, apreciando as suas flores e frutos.
A Casa evocava um reflexo luminoso daquela alegria — por mais breve que fosse — quando o Báb e a Sua esposa ali viveram. Transportava a mente para cenas onde os primeiros crentes, as Letras dos Viventes, frequentavam a Casa e levavam ao mundo a poderosa mensagem do Profeta de Deus.
Na profundeza das emoções despertadas naquela Casa Sagrada, era fácil recordar o significado do chamamento do jovem Profeta — que resgatou a Sua vida no altar da existência apenas seis anos após a Sua Declaração. O Seu chamamento preparou os corações dos Seus seguidores para o chamamento ainda maior de "Aquele Que Deus tornará manifesto" — Bahá'u'lláh.
Profeticamente, o Báb previu esse futuro com estas palavras:
... Sacrifiquei-me completamente por Ti; aceitei os insultos por amor a Ti; e por nada ansiei salvo o martírio no caminho do Teu amor.... (O Bab, citado por Bahá’u’lláh no Livro da Certeza, ¶258)
Eu tinha doze anos, não conseguia imaginar como a vida iria mudar para sempre por causa daquela experiência. Aquele lugar sagrado na Terra proporcionou momentos inesquecíveis, indescritíveis.
Estas palavras comoventes de ‘Abdu’l-Bahá vêm-me à mente:
Os lugares sagrados são, sem dúvida, centros de efusão da graça divina, porque ao entrar nos locais iluminados associados aos mártires e às almas santas, e ao observar a reverência, tanto física como espiritual, o coração é tocado com grande ternura. (Synopsis and Codification of the Kitáb-i-Aqdas, p. 61)
A destruição da Casa do Báb pelo regime islâmico no Irão em 1979 — após muitas tentativas anteriores — repercute o medo dos corações que se abrem à brisa da Primavera Divina. Revela o tormento que alguns sentem perante a novidade, o ar fresco da renovação espiritual que chama a humanidade à unidade:
Sois os frutos da mesma árvore e as folhas do mesmo ramo.
Hoje, as almas sedentas em todo o mundo estão privadas da oportunidade de contemplar este edifício sagrado. No entanto, a alma do universo e os mundos de Deus preservam este Lugar Sagrado — quer os seus tijolos e paredes permaneçam no mundo material ou não.
Estas palavras encantadoras de Bahá'u'lláh trazem consolo e esperança:
Bem-aventurado o lugar, a casa, o espaço, a cidade, o coração, a montanha, o refúgio, a gruta, o vale, a terra, o mar, a ilha e o prado onde foi feita a menção de Deus e o glorificado Seu louvor. (Bahá’u’lláh, Baha’i Prayers, p. iii)
Na Revelação de Bahá’u’lláh, nenhuma alma é privada da experiência de “…efusão da graça divina…”
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Texto original: Where the Soul Remembers: A Pilgrimage to the House of the Bab (www.bahaiteachings.org)
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Manijeh Khorshidi nasceu e cresceu numa família Bahá'í em Teerão, no Irão. Licenciou-se em odontologia Infantil pela Universidade de Teerão. Em 1979, devido à perseguição sistemática e implacável dos Bahá’ís no Irão pela revolução islâmica, ela abandonou o Irão. Estabelecendo-se na Europa, viveu na Irlanda do Norte e em Londres. Posteriormente, foi para os Estados Unidos da América para prosseguir os seus estudos e a sua carreira. Trabalha como Médica Dentista Infantil há 28 anos em Wisconsin e lecciona no Waukesha Technical College como médica dentista supervisora há 16 anos. A sua paixão na vida, assim como a de milhões de pessoas, é trabalhar pela "Unidade da Humanidade", o princípio fundamental da Fé Bahá'í. O seu livro "Prompts of the Heart, Prose and Poetry" foi publicado em 2023. Alguns dos seus escritos foram publicados em reedsy.com e medium.com. Vive com o marido, Robert Malouf, um poeta, em Brookfield, Wisconsin.
segunda-feira, 16 de junho de 2025
sábado, 14 de junho de 2025
A sociedade humana progride?
Por David Langness.
Só para verificarem, aqui fica a premissa: um processo (a causa) interage com outro processo e produz o efeito. Os seus pais uniram-se e você nasceu — eles eram as causas, e você é o efeito. A água corrente de um rio flui para baixo devido à lei da gravidade; construímos uma barragem com turbinas; as turbinas produzem eletricidade; a eletricidade alimenta o aparelho que você está a usar agora para ler este texto. Causa e efeito: a causa é responsável e o efeito depende dessa causa.
Actualmente, a causalidade parece-nos elementar porque é a base de todo o método científico. Mas pensemos na causalidade em termos de história por um momento. Se a história é cíclica, como muitos gregos antigos acreditavam, isso negaria a lei da causalidade, porque num universo cíclico causas diferentes resultariam sempre no mesmo efeito básico. Foi assim que surgiu a Teoria Linear da história, e a própria ideia de progresso — os primeiros filósofos e cientistas observaram causas e os seus efeitos e depois aplicaram essa teoria linear à própria história.
Até os filósofos pré-platónicos tinham algumas teorias de causalidade, mas Platão provavelmente disse-o melhor: “…tudo o que existe ou muda deve-o a alguma causa; pois nada pode existir sem uma causa.” – Timeu, 28a.
Aristóteles expandiu esta ideia de causalidade, e os filósofos estoicos, com a sua firme crença na derradeira coerência do universo, levaram-na ainda mais longe:
Faz sentido, certo? A Teoria Linear diz que a própria história se baseia na causa e no efeito, o que significa que o mundo progride constantemente, avançando para um objetivo final.
Na Teoria Linear, a história não se repete, embora alguns acontecimentos possam parecer semelhantes a outros do passado. Mark Twain disse a famosa frase: "A história não se repete, mas rima". Em vez disso, uma visão linear da história reflecte a regra da causalidade — uma coisa acontece, depois outra, e depois outra — tudo a partir da causa original do que quer que tenha acontecido primeiro. Na escola, respondíamos àquelas perguntas de causalidade em todos os testes ou composições de História: "O que causou a Guerra Civil Americana?" ou "Enuncie cinco factores que causaram o colapso da União Soviética".
Dadas as nossas crenças modernas na ciência e no método científico, é difícil argumentar contra a causalidade. Mas eis o principal argumento contra a sua aplicação à história: só porque a causalidade é verdadeira, não significa que a civilização humana progrida realmente. Como o progresso implica melhoria, e o século XX testemunhou tamanha barbárie e guerras globais destrutivas, muitos historiadores argumentam agora contra a própria ideia do progresso humano, chamando-lhe mito. O progresso, dizem, é na verdade uma invenção da era do Iluminismo, posteriormente avançada por Darwin e Spencer, que afirma que a evolução humana tende sempre a tornar a vida melhor. A Primeira Guerra Mundial praticamente acabou com a teoria do progresso de Spencer, chamada "darwinismo social", porque a humanidade viu como os avanços na tecnologia e na guerra nos poderiam levar a regredir em vez de progredir.
Os ensinamentos Bahá’ís apontavam esta dura realidade muito antes da Primeira Guerra Mundial:
A teoria linear da história caiu em desuso no mundo moderno, principalmente por causa deste problema do progresso levantado por ‘Abdu’l-Bahá. Vimos, vezes sem conta, como os avanços materiais e tecnológicos tornaram a vida melhor para uns e muito pior para muitos outros. Os ensinamentos Bahá’ís dizem que isto será sempre assim — até encontrarmos formas de incutir ideais espirituais nas nossas civilizações:
No próximo artigo desta série, veremos se conseguimos encontrar uma forma de compreender como estas virtudes individuais e ideais espirituais encontram o seu caminho nas nossas civilizações, examinando a Teoria do Grande Homem da história.
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Texto original: Does Human Society Progress? (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
Acredita na causa e efeito? Actualmente,
é difícil encontrar alguém que rejeite esta ideia — por isso, a maioria de nós aceita
o conceito de causalidade.
Só para verificarem, aqui fica a premissa: um processo (a causa) interage com outro processo e produz o efeito. Os seus pais uniram-se e você nasceu — eles eram as causas, e você é o efeito. A água corrente de um rio flui para baixo devido à lei da gravidade; construímos uma barragem com turbinas; as turbinas produzem eletricidade; a eletricidade alimenta o aparelho que você está a usar agora para ler este texto. Causa e efeito: a causa é responsável e o efeito depende dessa causa.
Actualmente, a causalidade parece-nos elementar porque é a base de todo o método científico. Mas pensemos na causalidade em termos de história por um momento. Se a história é cíclica, como muitos gregos antigos acreditavam, isso negaria a lei da causalidade, porque num universo cíclico causas diferentes resultariam sempre no mesmo efeito básico. Foi assim que surgiu a Teoria Linear da história, e a própria ideia de progresso — os primeiros filósofos e cientistas observaram causas e os seus efeitos e depois aplicaram essa teoria linear à própria história.
Até os filósofos pré-platónicos tinham algumas teorias de causalidade, mas Platão provavelmente disse-o melhor: “…tudo o que existe ou muda deve-o a alguma causa; pois nada pode existir sem uma causa.” – Timeu, 28a.
Aristóteles expandiu esta ideia de causalidade, e os filósofos estoicos, com a sua firme crença na derradeira coerência do universo, levaram-na ainda mais longe:
Os acontecimentos anteriores são causas daqueles que os seguem, e desta forma todas as coisas estão interligadas, e assim nada acontece no mundo que não seja inteiramente consequência disso e a ele ligado como causa. […] De tudo o que acontece segue-se algo mais, dependendo disso por necessidade como causa. (Um filósofo estoico desconhecido)
Faz sentido, certo? A Teoria Linear diz que a própria história se baseia na causa e no efeito, o que significa que o mundo progride constantemente, avançando para um objetivo final.
Na Teoria Linear, a história não se repete, embora alguns acontecimentos possam parecer semelhantes a outros do passado. Mark Twain disse a famosa frase: "A história não se repete, mas rima". Em vez disso, uma visão linear da história reflecte a regra da causalidade — uma coisa acontece, depois outra, e depois outra — tudo a partir da causa original do que quer que tenha acontecido primeiro. Na escola, respondíamos àquelas perguntas de causalidade em todos os testes ou composições de História: "O que causou a Guerra Civil Americana?" ou "Enuncie cinco factores que causaram o colapso da União Soviética".
Dadas as nossas crenças modernas na ciência e no método científico, é difícil argumentar contra a causalidade. Mas eis o principal argumento contra a sua aplicação à história: só porque a causalidade é verdadeira, não significa que a civilização humana progrida realmente. Como o progresso implica melhoria, e o século XX testemunhou tamanha barbárie e guerras globais destrutivas, muitos historiadores argumentam agora contra a própria ideia do progresso humano, chamando-lhe mito. O progresso, dizem, é na verdade uma invenção da era do Iluminismo, posteriormente avançada por Darwin e Spencer, que afirma que a evolução humana tende sempre a tornar a vida melhor. A Primeira Guerra Mundial praticamente acabou com a teoria do progresso de Spencer, chamada "darwinismo social", porque a humanidade viu como os avanços na tecnologia e na guerra nos poderiam levar a regredir em vez de progredir.
Os ensinamentos Bahá’ís apontavam esta dura realidade muito antes da Primeira Guerra Mundial:
Consequentemente, quando observares o padrão ordenado dos reinos, cidades e aldeias, com o encanto dos seus adornos, a frescura dos seus recursos naturais, o refinamento dos seus utensílios, a facilidade dos seus meios de transporte, a extensão do conhecimento disponível sobre o mundo natural, as grandes invenções, os empreendimentos colossais, as nobres descobertas e as pesquisas científicas, concluirás que a civilização conduz à felicidade e ao progresso do mundo humano. Contudo, se voltares o teu olhar para a descoberta de máquinas destrutivas e infernais, para o desenvolvimento de forças de demolição e para a invenção de instrumentos de fogo, que despedaçam a árvore da vida, tornar-se-á evidente e manifesto para ti que a civilização está conjugada com a barbárie. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, nº 225)
A teoria linear da história caiu em desuso no mundo moderno, principalmente por causa deste problema do progresso levantado por ‘Abdu’l-Bahá. Vimos, vezes sem conta, como os avanços materiais e tecnológicos tornaram a vida melhor para uns e muito pior para muitos outros. Os ensinamentos Bahá’ís dizem que isto será sempre assim — até encontrarmos formas de incutir ideais espirituais nas nossas civilizações:
O progresso e a barbárie andam de mãos dadas, a não ser que a civilização material seja confirmada pela Orientação Divina, pelas revelações do Todo-Misericordioso e pelas virtudes piedosas, e seja reforçada pela conduta espiritual, pelos ideais do Reino e pelas efusões do Reino do Poder. (Idem)
No próximo artigo desta série, veremos se conseguimos encontrar uma forma de compreender como estas virtudes individuais e ideais espirituais encontram o seu caminho nas nossas civilizações, examinando a Teoria do Grande Homem da história.
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Texto original: Does Human Society Progress? (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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