quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Ainda o artigo no Expresso

Há alguns dias atrás publiquei aqui um post a propósito de um artigo publicado no jornal Expresso. O artigo tinha por título Inconformados com a Revolução e a autora, Margarida Mota, apresentava um retrato social do Irão actual. O post que aqui publiquei foi parte de uma carta que então dirigi ao Expresso.

Hoje, a Dina chamou-me a atenção para o facto da carta ter sido publicada. Além da carta, foi publicada também a seguinte nota da jornalista Margarida Mota:
Durante a estadia no Irão, o Expresso pode, em boa verdade, constatar a discriminação a que são sujeitos os crentes Bahá’í. Curiosamente, através de uma família com nacionalidade portuguesa, por força do casamento de uma iraniana Bahá’í com um cidadão português. Apesar de não falar uma palavra de português, a filha mais velha encarava a possibilidade de vir estudar para Portugal, por lhe ser vedado o acesso às universidades iranianas.

O Reino dos Céus... e a informática!



Desenho de José Luis Cortés, autor do livro Um Deus chamado Abba


Levando mais longe esta analogia, poderiamos falar das pessoas que têm horror a computadores, dos que têm tendência cometer todos os tipos de erro com diversos programas de computador, dos que insistem em manter-se agarrados a antigas versões de software (conheço uma pessoa que ainda usa Windows 3.1 e orgulha-se disso!)... E no lado contrário há os obcecados: eternos fanáticos das versões mais recentes, beta-testers ansiosos, gente que conhece todos os truques e manhas para resolver qualquer problema de hardware ou software (geralmente são uns chatos que só sabem falar de informática).

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Centro de Justiça Tahirih

Na Wikipedia, o artigo em destaque no dia de hoje é dedicado a uma Organização Não-Governamental de inspiração Baha'i, o Centro de Justiça Tahirih. Confesso que desconhecia a existência desta organização; mas não resisto a partilhar um pouco do que a Wikipedia escreve a seu respeito.

Esta ONG americana - também conhecida apenas por Tahirih - tem por objectivo auxiliar mulheres e raparigas imigrantes que fogem perseguições e violência baseada no género. A Tahirih auxilia mulheres que tentam fugir a abusos como a mutilação genital feminina, violência doméstica, tráfico de seres humanos, tortura e violação. Esta organização também desenvolve iniciativas destinadas a realizar alterações legislativas especificamente dirigidas a mulheres imigrantes nos Estados Unidos.

O Centro de Justiça Tahirih (site oficial) foi fundado em 1997 por Layli Miller-Muro após um caso mediático de asilo em que ela esteve envolvida enquanto estudante. Em 2005, esta organização já tinha ajudado 4500 mulheres e crianças que fugiram a diversos abusos. Esta organização teve um papel importante na aprovação de uma lei americana sobre casamentos internacionais, que foi assinada pelo presidente Bush no início de 2006, e que incluía uma cláusula referente a Violência sobre Mulheres; esta cláusula dá às mulheres estrangeiras informação importante sobre os futuros maridos americanos.

O nome da organização é inspirado numa poetiza persa que defendeu os direitos das mulheres (ver este post). Apesar de ser uma organização de inspiração Baha'i, os clientes e empregados provêm de diferentes origens étnicas, religiosas e nacionais.

domingo, 24 de setembro de 2006

O Papa e o Islão

Jorge Almeida Fernandes, na sua crónica de hoje no Público – "O Papa e o Islão" – cita vários jornais estrangeiros (incluindo alguns de língua árabe) e reflecte sobre a reacção do mundo islâmico ao discurso do Papa, na Universidade de Ratisbona.

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(...) Bento XVI interpelou intelectualmente o islão. Em lugar de uma resposta teológica ou histórica dos ulemas, houve uma explosão de violência, que alguns árabes denunciaram. "Aparecemos aos olhos do mundo como a nação de Drácula e não de Maomé, como a nação que na era do progresso científico nada mais sabe fazer do que inventar inimigos e pretextos para querelar com eles", lamentou o jornal árabe Elaph, editado em Londres.

(...) o Papa quis frisar o contraste entre a religião aliada à razão (logos) – o cristianismo – e outra em que Deus "é absolutamente transcendente" – o islão o que impede o exercício da razão no campo religioso. Também isto é algo redutor, pois há tradições opostas no islão, caso do sufismo.

(...) "Há ou não germes de violência nos textos sagrados? Há ou não, tanto no islão como noutras confissões, instâncias críticas que permitam uma hermenêutica livre – direito de interpretação – dos textos? Há ou não autoridades religiosas capazes e livres de enunciar um direito, de denunciar os excessos, de atacar o fundamentalismo?" (Henri Tinq, Le Monde)

(...) o Elaph denuncia os religiosos: "O que se exige ao Papa [pedido de desculpas] nunca ninguém o fez aos teólogos de Al-Zahar [universidade islâmica do Cairo]. Sua excelência Mohammed Tantawi, que dirige esta instituição suprema do islão [sunita] nunca se desculpou de nada. Manteve sempre um silêncio vergonhoso perante o terrorismo, ataca os ocidentais e os cristãos – incluindo os coptas do próprio Egipto, os cristãos do Iraque, do Sudão e de outros países árabes e muçulmanos"
(...)

A autoridade do Estado

Nunca se viu uma democracia evoluir para uma ditadura por excesso de autoridade do Estado; mas já se viram democracias serem derrubadas e substituídas por ditaduras em consequência da falta de autoridade do Estado.

José António Saraiva, Sol, 23-Setembro-2006

sábado, 23 de setembro de 2006

Querem mudar o mundo

Aqui fica a transcrição do artigo "Querem mudar o mundo" publicado hoje no semanário Sol, de autoria da jornalista Andreia Félix Coelho.
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Bahá'í é uma religião ensinada nas escolas públicas portuguesas

Stella Rodrigues ensina contabilidade em Viana do Castelo, mas é na Secundária de Monserrate, do mesmo concelho, que lecciona uma aula especial: a Educação Religiosa segundo os Ensinamentos Bahá'í (EREB).

O Ministério da Educação aprovou a disciplina no ensino público há uma década. Muitos dos alunos de Stella são seguidores da Fé Bahá'í, e a aulas da escola são apenas uma ínfima parte de todo o trabalho que desenvolvem na comunidade.

NÃO TÊM RITUAIS NEM LIDERES

Em Agosto, as portas da casa da professora, em Viana do Castelo, abriram-se a um grupo de jovens que ali aprendem, riem, dançam. Um ambiente descontraído.

Os Bahá'í não têm rituais, nem lideres ou imagens para adoração. Falam de temáticas sociais e de problemas que afectam a humanidade. Nada é tabu.

Stella explica o funcionamento das aulas que dá na escola: «Cada um tem liberdade para falar abertamente. Abordamos temas como a justiça, igualdade entre sexos, direitos humanos, racismo e xenofobia, sexualidade, entre outras». Defende a professora que a «educação deve ser livre de preconceitos».

As aulas de Ensinamentos Bahá'í fazem parte de uma filosofia de vida aberta a todos.

«Valorizamos o cidadão pró-activo», explica Stella. O grupo de dança Geração Viva é resultado deste conceito. São jovens que usam a expressão cultural para divulgar princípios Bahá'í.

Dançam em todo o lado quando estão juntos. «Nas estações de comboio, no meio da rua, na escola», garantem.

Mudar o mundo é o objectivo. E nunca ninguém o quis tanto como os mais novos. Chegaram a vestir-se de ecopontos para ensinar crianças do 1º ciclo a separar o lixo.

Afonso é estudante universitário. Segue hoje os princípios Bahá'í e conta que o álcool e as drogas são proibidos. Nada que o faça sentir-se diferente dos amigos da faculdade. «Quando saímos à noite acham estranho eu não beber nem fumar charros. Mas curto a ‘moca’ à minha maneira». Stella sublinha: «São miúdos iguais aos outros, mas com uma consciência de cidadania muito apurada». O ano lectivo já começou e a professora lamenta que haja falta de docentes. «Muitos Bahá'í têm outras profissões. São médicos, advogados ou têm ocupações que não deixam tempo para dar aulas». Ainda se conhece pouco esta confissão religiosa em Portugal e a confusão é frequente: «Pensam que é uma seita»

PRIMEIRAS CRENTES CHEGARAM EM 1926

A Fé Bahá'í defende a unidade da Humanidade, a união das religiões e a harmonia com a ciência. Preconiza também a educação para todos e a igualdade de direitos entre homens e mulheres.

Há 80 anos em Portugal - as primeiras crentes foram duas americanas que chegaram ao nosso país em 1926 -, a Fé Bahá'í tem estatuto de Organização Não Governamental e assento nas Nações Unidas.

A comunidade não tem hierarquia, sendo todos os anos eleitos representantes por voto directo.

EXEMPLO DE DEVOÇÃO

Matilde Lima, hoje com 74 anos, é uma das mais antigas bahá'í de Portugal. A linguagem pouco polida não faz dela menos sábia. É uma referência para todos os crentes. Menina católica, estudou até à quarta classe porque os patrões da mãe engraçaram com ela. A paixão levou-a a casar-se com Ventura, um devoto da Fé Bahá'í. «Eu dizia que era um seita. E a minha mãezinha avisava para não falar daquilo». Em pleno Estado Novo, não podia ser diferente.

Um dia abriu o livro de orações do marido. «Que sacrilégio, pensei». Guardou para si o momento pecaminoso. Mas mais tarde declarava-se bahá'í. Uma doença traiu-lhe a energia e não sabe por quanto tempo cá fica. Os jovens bahá'í vão filmá-la enquanto repete a história da sua vida. «É essencial termos um registo de viva voz da Matilde».

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Governantes e governados



Os governos vivem muito da preguiça dos governados e da sua falta de iniciativa. (...) No fim de contas, meu amigo, é a fábula do lobo e do cão: o cão que queria convencer o lobo a ficar ali, porque tinha comida certa e quando chovia o dono recolhia-o, etc. O lobo ouviu aquilo tudo e depois perguntou ao cão: "E essa falta de pêlo no pescoço o que é?" O cão explicou e o lobo ficou muito assustado: "Não, não quero, vou de novo para a liberdade."

Agostinho da Silva, Vida Conversável, pag. 68-69

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Ahmadinejad e a justiça

O que se segue é um pequeno excerto de uma conferência de imprensa com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que teve lugar hoje (21 de Setembro) nos Estados Unidos e foi transcrita na totalidade no Washington Post. Tanto a pergunta como a resposta foram feitas através de um tradutor.

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(...)

PERGUNTA: Nas suas intervenções mencionou que os lideres e presidentes do mundo se devem voltar para a justiça e aplicá-la

Você é presidente do Irão e tem a oportunidade de aplicar a justiça. Os relatórios vindos do Irão parecem indicar que os movimentos estudantis estão a ser reprimidos, que a justiça não está a ser aplicada, no que toca aos seguidores da fé Bahá’í e também às mulheres, que se opõem à lei islâmica que os discrimina.

Assim essa justiça que você fala no campo da política não existe. Porque é que você é contra a justiça?

AHMADINEJAD: Na reunião que tivemos com a Associação da Imprensa Estrangeira na noite passada, pareceu-me que esta era a principal questão na mente de muitas pessoas.

Quero dar-vos alguns números.

Existem cerca de 219 milhões de pessoas nos Estados Unidos e no Irão vivem cerca de 68 milhões de pessoas.

Mas existem 3 milhões de presos nos EUA. Existem cerca de 130.000 – existem exactamente 130.000 mil de presos no Irão, 90% dos quais são traficantes de drogas ilícitas que foram presos após conflito armado directo com as nossas forças de segurança, que estavam a tentar impedir o tráfico de drogas do Irão para a Europa e Estados Unidos

Agora devemos tentar saber - penso que vocês o devem fazer – quais as origens dos presos nos Estados Unidos.

Ontem coloquei esta questão e ninguém me soube responder

Vejamos: uma elevada percentagem do povo americano está na prisão, enquanto que apenas 0,2% da população iraniana está na prisão. Coloquemos então estes números em proporção.

(...)

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COMENTÁRIO:
Com a habilidade tradicional de um político, o presidente iraniano fugiu à pergunta e falou do que lhe convinha. A verdade é que a comparação da dimensão população prisional entre os EUA e o Irão não é algo comparável – ou relacionável – com a falta de direitos cívicos de alguns sectores da população destes dois países.

Por ventura as mulheres iranianas usufruem dos mesmos direitos e liberdades que as mulheres americanas? Os movimentos estudantis americanos usufruem das mesmas liberdades e direitos que os seus congéneres iranianos? E os bahá’ís? Quantos foram presos arbitrariamente nos últimos anos nos Estados Unidos por motivos religiosos? Quantos jovens bahá’ís americanos foram impedidos de entrar nas universidades americanas por motivos religiosos?

É este o tipo de comparações que deve ser feito. Para estas perguntas o presidente iraniano dificilmente terá uma resposta, pois a falta de direitos cívicos de uma qualquer segmento da população é sempre injustificável.

Ainda sobre a situação das mulheres no Irão recomendo este artigo da BBC: Women graduates challenge Iran

The Bahai Question

A facilidade de colocar pequenos filmes no YouTube permite fazer coisas destas.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Kitáb-i-Íqán (24)

O Sermão no Monte das Oliveiras (2ª parte)

No âmbito destes posts sobre o Kitáb-i-Íqán, apresento hoje o segundo post dedicado à análise dos parágrafos que Bahá'u'lláh dedica nesse livro a um excerto do sermão profético de Jesus(Mt 24:29-31). Neste post abordo os significados de alguns termos simbólicos existentes nesse excerto. Entre parêntesis rectos indica-se o nº do parágrafo do Kitáb-i-Íqán. Sobre a numeração dos parágrafos do Kitáb-í-Iqan, ver Notes on paragraph numbering of the Kitab-i-Iqan.
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A QUEDA DAS ESTRELAS

Sabemos hoje que existem fenómenos astronómicos vulgarmente descritos como "queda de estrelas" ou "chuva de estrelas". Apesar da ciência explicar em que consiste uma chuva de meteoritos, torna-se difícil imaginar que um tal fenómeno possa ter uma influência significativa na história da humanidade.

Para explicar o significado das palavras "as estrelas cairão do céu", Bahá'u'lláh afirma que o termo "céu" é frequentemente usado para representar a religião, enquanto que o termo
"estrelas" é usado para simbolizar o clero e os líderes religiosos. Para o fundador da religião Bahá’í " a expressão «as estrelas cairão do céu» –refere-se à perversidade dos sacerdotes e à anulação das leis firmemente estabelecidas pela Revelação Divina, tudo o que foi predito, em linguagem simbólica, pelo Manifestante de Deus"[41]. Por outras palavras, esta expressão simboliza o declínio da liderança, dos valores e da prática religiosa.


Uma chuva de meteoritos, observada em Novembro de 1833.

O Kitáb-i-Íqán também descreve as estrelas referidas pelo evangelista como "estrelas da compreensão e da palavra"[73] e "Estrelas da Sabedoria divina"[74]. É interessante notar que Bahá'u'lláh também aplica a analogia estrelas/clero na Epístola aos Cristãos:
Ó assembleia de bispos! Sois as estrelas do céu do Meu conhecimento. A Minha misericórdia não deseja a vossa queda na terra. A Minha justiça, porém, declara: «Foi isso que o Filho decretou». E qualquer coisa que tenha procedido dos Seus lábios imaculados, verídicos, fidedignos, jamais será alterada.(a)

UM SINAL NO CÉU

Segundo Bahá'u'lláh, a expressão "...aparecerá o sinal do Filho do homem no céu" possui um significado literal e um significado simbólico. O fundador da religião bahá’í recorda vários relatos dos Textos Sagrados de religiões do passado onde a descrição do advento de um Manifestante de Deus é precedido por um fenómeno astronómico que não passa despercebido a alguns sábios. E recorda que isso aconteceu com Abraão[67], com Moisés[68], com Jesus[69, 70](b) e com Maomé[71] (c).

Mas o Kitáb-i-Íqán leva o leitor a perceber que mais importante que esse sinal físico, é o sinal espiritual. Assim, segundo Bahá'u'lláh, o sinal no céu deve ser entendido como uma voz profética que anuncia o iminente advento de um Novo Manifestante de Deus. Isso aconteceu no tempo de Moisés, quando "…também apareceu, na escuridão da noite, um sábio trazendo novas de júbilo ao povo de Israel, consolando-lhe a alma e tranquilizando-lhe o coração"[68]; aconteceu no tempo de Jesus quando o "...sinal no céu invisível – céu do conhecimento e da compreensão divinos – foi Yahyá(d), filho de Zacarias, quem deu ao povo as boas novas da Manifestação de Jesus"[70]; aconteceu no tempo de Maomé, quando "…apareceram quatro homens que sucessivamente anunciaram ao povo as boas novas de que nascera aquele Luminar divino"[71]; e relativamente a Si próprio, Bahá'u'lláh refere Sheik Ahmad(e) e Siyyid Kazim [72](f).

O CÉU

A palavra céu surge duas vezes no excerto do Evangelho citado por Bahá'u'lláh. Se esquecermos o seu significado literal(g) – a abóbada celeste visível da superfície terrestre – podemos identificá-lo como um nível de existência ou de conhecimento, que transcende a compreensão humana. Num sentido, Bahá'u'lláh identifica-o como toda a mensagem religiosa que surge com cada Manifestante de Deus, e as suas influências em diferentes sociedades ao longo dos tempos. E aplica esta analogia:
Sabe tu, que quaisquer corações sob os quais caiam as chuvas das graças misericordiosas provenientes do “céu” da Revelação Divina, a terra desses corações, em verdade, transforma-se na terra da sabedoria e conhecimentos divinos.[48]
Bahá'u'lláh acrescenta ainda que nas palavras dos Manifestantes do passado, o termo céu sempre teve múltiplos significados: "céu dos Mandamentos", o "céu da Vontade", o "céu do Propósito Divino", o "céu do Conhecimento divino", o "céu da Certeza", o "céu das Palavras", o "céu da Revelação", o "céu da Ocultação"[75] e outros.

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REFERÊNCIAS
(a) - Epístolas de Bahá'u'lláh, Epístola aos Cristãos, pag 22 [edição 1983]
(b) – Alusão ao episódio dos Reis Magos e da estrela. É possível admitir a historicidade do fenómeno se for identificado com o cometa Haley (12 a.C.) ou com um posicionamento de planetas (7 a.C.). Isto não significa que todos os cometas ou posicionamentos de planetas anunciem o aparecimento de um Profeta.
(c) – Alguns autores baha’is, como William Sears, sustentam que um cometa aparecido entre 1845-1846 também seria um sinal no céu anunciando um novo Manifestante de Deus.
(d) – João Baptista.
(e) – Shaykh Ahmad: O primeiro dos dois precursores do Báb, nascido no ano de 1753, fundador
da Escola Shaykhí e autor de 96 livros. Faleceu em 1831.
(f) – Siyyid Kázim: Principal discípulo de Shaykh Ahmad e seu sucessor. Mullah Husayn e outros
eminentes bábís se encontravam entre seus estudantes. Faleceu em 31 de dezembro
de 1843.
(g) – Nas escrituras bahá’ís, o texto traduzido em inglês a palavra é “heaven” que pode ser traduzido como paraíso ou céu. O mesmo se passa com o texto bíblico.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Leituras

At the UN, Baha'is host panel on violence against women (BWNS)

An eclectic faith that transcends barriers (The Times of India)

Zaragoza.- La capital aragonesa se convierte, con motivo de unas jornadas, en el centro del diálogo entre religiones (Europa Press via Yahoo)

EEUU denuncia la falta de libertad religiosa en Irán, Arabia Saudí o China (Europa Press via Yahoo)

Intervenção social do projecto Bahá'i (Jornal de Noticias)

ACTUALIZAÇÃO

O artigo publicado na revista "Le Monde des Religions", no número de Setembro/Outubro. Como não há link disponível, fica aqui a imagem (eu sei que não está legível, mas não tenho tempo para transcrever).



Re-ligare


Fruto da minha colaboração no livro Religiões, conheci o Paulo Mendes Pinto há pouco mais de um ano. Durante estes últimos meses voltámo-nos a encontrar-nos várias vezes. E da última vez que li um artigo assinado por ele, pensei cá para mim: "Ele devia ter um blog..." Curiosamente, na semana passada recebi um email dele, anunciando a sua actividade bloguistica.

O blog tem o nome Re-ligare, e naturalmente que o considero de visita obrigatória.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Um mau pressentimento

"O ódio e o fanatismo religioso são um fogo que devora o mundo, e cuja violência ninguém pode extinguir." Bahá'u'lláh

A recente polémica levantada por dirigentes muçulmanos a propósito de um discurso do Papa Bento XVI na Universidade de Regensburg, durante a sua visita à Alemanha, deixam-me um mau pressentimento.

Nesse discurso, o Pontífice da Igreja Católica cita um excerto de um diálogo entre o imperador Manuel II Paleólogo e um sábio persa sobre o Cristianismo, o Islão e a verdade de ambos. Segundo o texto desse diálogo, o Imperador, ao referir-se ao tema da guerra santa, teria dito de forma brusca: "Mostre-me apenas aquilo que Maomé trouxe de novo, e aí encontrareis coisas más e inumanas, tais como espalhar pela espada a fé que ele pregava". Segundo o Papa, o Imperador pretendia mostrar que a violência é incompatível com a natureza de Deus e a natureza da alma. E apresenta outra citação do monarca bizantino: "Deus não fica agradado com o sangue e não agir de forma sensata é contrário à natureza de Deus. A fé nasce da alma e não do corpo. Quem quer levar alguém para a fé deve falar bem, e raciocinar adequadamente, sem violência ou ameaças... Para convencer uma alma racional, não é necessário um braço forte, ou armas de qualquer tipo ou quaisquer outros meios de ameaça de morte à pessoa... "

Desde hoje de manhã que os media noticiam que vários governos e organizações islâmicas manifestaram o seu repúdio pelas palavras do Papa. Ali Bardakoglu, director do departamento dos assuntos religiosos na Turquia, foi um dos primeiros líderes muçulmanos que disseram sentir-se ofendidos com o discurso de Bento XVI. Considerou os comentários "infelizes" e "preocupantes". O ministério dos Negócios Estrangeiros Paquistanês qualificou as declarações do Papa de "lamentáveis", denunciando a "ignorância" do Sumo Pontífice acerca do Islão. "Todo aquele que afirma a existência de qualquer coisa de mal ou de desumano no Islão mostra a sua própria ignorância acerca dessa grande religião", afirmou a porta-voz do ministério, Tasnim Aslam. Semelhantes comentários são "lamentáveis" e "não fazem mais de aumentar o fosso entre religiões que nós nos esforçamos por combater", afirmou, acrescentando que eles "mostram igualmente uma ignorância da História". "Não são certamente os muçulmanos que perseguiram os fiéis de outras religiões (...). O Islão é a religião mais tolerante".

Podemos discutir se a citação (sombreada a amarelo) usada por Bento XVI é a mais adequada para sustentar o argumento da incompatibilidade entre religião e violência. Até podemos estranhar que, tendo o Vaticano uma máquina diplomática tão hábil e experiente, tenha deixado no discurso de Bento XVI uma citação que poderia ser facilmente usada como catalisador de tensões religiosas. As palavras do Imperador Bizantino reflectem uma perspectiva de um monarca que tinha às portas de Constantinopla o poderosíssimo Império Otomano; o ambiente da época e os seus receios políticos condicionavam naturalmente a sua opinião sobre a religião professada pelos otomanos.

Muçulmanos indianos queimam um boneco representando o Papa Bento XVI


Como bahá'í, sou um observador externo desta polémica entre muçulmanos e católicos. Pessoalmente, penso que a citação foi mal escolhida; mas identificar aquela citação como sendo a opinião de Bento XVI, é fazer uma distorção grotesca das palavras do Papa. Na minha opinião, o Islão não sai beliscado com as palavras do Papa, mas a sua imagem no Ocidente é mais uma vez denegrida por reacções exacerbadas e violentas de muçulmanos.

Os tumultos provocados em várias capitais aquando da polémica sobre as caricaturas de Maomé publicadas por um jornal dinamarquês estão bem vivas entre nós. Sabemos que existem alguns dirigentes políticos e religiosos no mundo islâmico capazes de instigar reacções semelhantes, com o objectivo de obter dividendos políticos e de desviar a atenção de outros problemas, mesmo que isso signifique o fechar de portas ao diálogo inter-religioso, laboriosamente abertas ao longo das últimas décadas.

Por isto tenho um mau pressentimento...

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Notícias sobre este assunto:
Parlamento paquistanês pede ao Papa que retire as suas declarações sobre o Islão (Público)
Muçulmanos criticam discurso do Papa (Público)
Paquistão condena comentários do Papa sobre o Islão (Diário Digital)
Muslim anger grows at Pope speech (BBC)
In pictures: Muslim anger at Pope (BBC)
In quotes: Muslim reaction to Pope (BBC)
Muslim fury at pope jihad comments (CNN)
Muslim anger over papal comments grows (AP, via Yahoo)

A Educação é uma obrigação religiosa?

Aos três anos, o nosso filho mais velho tem pela primeira vez à sua espera um plano de actividades escolares que exige material adequado. Consequentemente, recebemos pela primeira vez, em casa uma lista de material escolar. É mesmo material escolar! Já não é um pedido de não-sei-quantas fraldas, duas mudas de roupa, uma manta... desta vez pediam cadernos de papel cavalinho, lápis de cor, lápis de cera, um bibe, pincéis, e outras coisas do género.

A maioria das famílias portuguesas cumpre em Setembro o ritual da compra do material escolar. É um momento de aperto financeiro para muitos pais (a minha mãe, com quatro filhos, lembra-se bem disso), e diversão para os filhos (a escolha de cadernos e mochilas sempre foi divertida). Quando aguardava na fila para pagar lembrei-me das palavras de Bahá'u'lláh onde refere a importância da educação para os seres humanos:
"Considerai o homem, como uma mina rica em jóias de inestimável valor. A educação, só por si, pode fazê-la revelar os seus tesouros e habilitar a humanidade a tirar dela algum benefício." (SEB, CXXII)
Pensar que as capacidades e talentos do meu filho - tal como as de todas as crianças - podem ser comparados a uma joia de valor inestimável, é algo que me deixa lisonjeado (um pai babado é mesmo assim!); mas também sinto o peso da responsabilidade que me toca no acompanhamento e extimulo que devo dar ao desenvolvimento dessas capacidades e talentos.

Já aqui citei vários excertos das escrituras bahá'ís sobre a importância da educação, e podia ainda apresentar muitas citações sobre o assunto. Bahá'u'lláh deixou um mandamento específico sobre a obrigação de educar as crianças no Seu Livro das Leis, o Kitáb-i-Aqdas. Também 'Abdu'l-Bahá encorajou os jovens baha’is a desenvolver os seu estudos em todas as áreas do conhecimento.

Isto não significa, que todos os que seguem a religião bahá'í devem obter um curso superior ou uma pós-graduação... A educação permite desenvolver o potencial e os talentos latentes num ser humano; mas não nos podemos esquecer que cada pessoa tem as suas próprias capacidades e talentos (e nós não somos todos iguais!).

Considerando a importância que a nossa sociedade dá à educação deixo duas questões para reflexão. Quando a obrigação de educar as crianças é apresentada como uma obrigação religiosa (está no Kitáb-i-Aqdas, o livro das leis!) será que para os bahá'ís o inicio do ano escolar é um ritual social ou o cumprimento de um mandamento divino? E como devemos encarar as notícias sobre insucesso escolar: serão apenas estatísticas sobre o nosso desenvolvimento social e humano ou serão também um indicador do quanto nos afastamos das leis reveladas por Bahá'u'lláh?

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Regresso às aulas, no Sudão



Após 21 anos de conflito no sul do Sudão, apenas 2% das crianças da região completaram a instrução primária- uma das mais baixas taxas do mundo. A situação é ainda pior para as raparigas. Numa população de mais de 6 milhões de pessoas, apenas 500 raparigas completaram a instrução primária em cada ano.

Nesta região que tenta volta à normalidade e onde praticamente tudo tem de ser reconstruído, muitos sudaneses desesperam por ir à escola, pois consideram a educação como um passaporte para abandonar a pobreza.

Uma foto-reportagem da BBC, a não perder.

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Sporting - Internazionale

Champions: l`Inter cade in Portogallo



Champions: Lisbona amara per l`Inter, 0-1



Fotos AP (via Yahoo)

Kitáb-i-Íqán (23)

A primeira parte de um texto sobre as referências de Bahá'u'lláh ao Discurso no Monte das Oliveiras. Entre parêntesis rectos indica-se o nº do parágrafo citado. Sobre a numeração dos parágrafos do Kitáb-í-Iqan, ver Notes on paragraph numbering of the Kitab-i-Iqan.
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O Sermão no Monte das Oliveiras (1ª parte)

Apesar do Kitáb-i-Íqán ter sido revelado como resposta às questões de um muçulmano e, consequentemente, conter muitas referências ao Alcorão e às tradições islâmicas, existem vários parágrafos deste livro onde se citam e explicam excertos da Bíblia. Entre essas citações conhecidas dos leitores cristãos encontra-se alguns versículos do sermão profético de Jesus, registado no Evangelho de S. Mateus:
"E, logo depois da aflição daqueles dias, escurecerá o sol e a lua não dará a sua claridade, e as estrelas cairão do céu, e os poderes da terra serão abalados; e então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e, então, todos os povos da terra chorarão e verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade. E enviará os seus anjos com trombetas e com grande voz."(Mt 24:29-31) [24].
Este texto profético(a), também por vezes designado como o Sermão do Monte das Oliveiras, mereceu desde sempre a atenção de teólogos, comentadores e exegetas(b). Fruto dessa atenção, surgiram as mais diversificadas interpretações; nestas, podemos identificar duas grandes classes de exegese: as que sustentam que o regresso de Cristo não ocorrerá de uma forma literal, mas antes que ocorreu (ou ocorre) com o desenvolvimento do Cristianismo pelo mundo; e as que sustentam que Jesus Cristo regressará de forma corpórea e – literalmente – sobre as nuvens do céu.
Referindo-se ao mesmo versículo, 'Abdu'l-Bahá afirmou:
"As estrelas são inumeráveis, infinitas, e, de acordo com provas científicas modernas, matematicamente estabelecidas, o globo solar é cerca de um milhão e meio de vezes maior que a terra, e cada uma das estrelas fixas é mil vezes maior que o sol. Se fossem cair sobre a superfície da terra, onde iriam essas estrelas encontrar lugar? Seria como se mil milhões de Himalaias caíssem em cima de um grão de mostarda! De acordo com a razão e a ciência, isto é absolutamente impossível. "(c)
Tal como afirma 'Abdu'l-Bahá, o sentido literal dos versículos citados por Bahá'u'lláh leva-nos a fenómenos contrários às leis da natureza e ao senso comum. No Kitáb-i-Íqán, o fundador da religião bahá'í leva o leitor a reflectir e a identificar os simbolismos existentes neste excerto do Evangelho.

AFLIÇÃO

Como já referi, o Kitáb-i-Íqán apresenta alguns significados possíveis para os termos existentes no texto bíblico. Por exemplo, o termo "aflição" pode ser entendido como "a falta de capacidade para adquirir conhecimentos espirituais e compreender a Palavra de Deus"[30]; também pode ser entendido um desesperante vazio interior que muitas pessoas sentem devido à ausência de uma ligação com o Criador.

Segundo Bahá'u'lláh, a incapacidade para encontrar uma fonte de espiritualidade torna-se uma "aflição penosa" para qualquer "alma em busca da verdade, desejosa de atingir o conhecimento de Deus"[29]. Ainda segundo o fundador da religião bahá’í, esta aflição - que também pode ser entendida como uma iniquidade moral que se torna comum entre o povo - caracteriza o surgimento de uma nova religião. [29]

Neste excerto do Evangelho, a frase "... todos os povos da terra chorarão" sugere ainda que a aflição anteriormente referida será de carácter universal.

SOL E LUA

Apesar da ciência explicar a existência de fenómenos naturais onde podemos observar o escurecimento do sol ou da lua, torna-se inconcebível pensar que um eclipse possa influenciar de forma tão significativa a história da humanidade. No Kitáb-i-Íqán, Bahá'u'lláh afirma que os termos "sol" e "lua" no Livros Sagrados do passado não se referem “ao sol e à lua do universo visível, mas, antes, são múltiplos os sentidos em que se usam esses termos; em cada instância, tem-lhes sido dado um significado especial”[31].

As palavras que os evangelistas atribuiu a Jesus "Enquanto estiver no mundo, Eu sou a luz do mundo"(Jo 9:4-5) sugerem que, num sentido simbólico, os termos "sol" e "lua" podem ser entendidos como as fontes de luz espiritual do mundo. Seguindo esta analogia, o fundador da religião bahá’í identifica múltiplos significados para estes termos; o "sol" e a "lua" podem referir aos Manifestantes de Deus fundadores das religiões do passado[31], aos Seus companheiros[33] e ensinamentos e valores morais[38] e à Sua influência sobre a sociedade.

Desta forma, a expressão "escurecerá o sol e a lua não dará a sua claridade" pode ser entendida como descrevendo o declínio da influência dos ensinamentos das religiões do passado.

É interessante recordar que o termo "sol" é dos que possui mais significados nos Livros Sagrados. Bahá'u'lláh afirmou que falar sobre os significados deste termo durante mais de dois anos e mesmo assim muito ficaria por dizer.

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REFERÊNCIAS
(a) – Este discurso tem paralelismos no Cap. 13 do Evangelho de S. Marcos e no cap.21 do Evangelho de S. Lucas
(b) – Um comentário a todo o cap. 24 (versículo a versículo) do Evangelho de S. Mateus encontra-se no livro The Prophecies of Jesus de Michael Sours. Existe já uma tradução deste livro para português (do Brasil) .
(c) – Respostas a Algumas Perguntas, cap. 26

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Luisa Diogo

Fernando Alves na TSF, perguntava hoje de manhã se alguém sabia o nome do primeiro ministro de Moçambique. "Guebuza ou Mocumbi" pensei cá para mim. Mas Fernando Alves surpreende-me: "Luísa Diogo". Depois de descrever o seu percurso profissional (foi ministra das finanças e planeamento, antes de ter assumido o cargo de primeiro ministro em 2004), o jornalista da TSF questiona: "Como é possível que a esmagadora maioria dos portugueses desconheçam esta mulher?"



Confesso a minha ignorância. Nunca tinha ouvido falar nela. Mas também me questiono como é possível os media portugueses ignorarem a única voz da lusofonia que a Forbes incluiu – pela 3ª vez consecutiva – na lista das 100 mulheres mais influentes em todo o mundo.

Esta situação recordou-me as palavras de uma amiga que uma vez me disse que a maioria dos homens tem uma perspectiva demasiadamente masculina da realidade. Quase de forma inconsciente associamos homens aos órgãos de poder. E citou-me um(a) autor(a): "As mulheres têm de trabalhar o dobro dos homens para receberem metade da consideração que os homens recebem".

Talvez seja isso que esteja a acontecer com a atenção que os media portugueses dão a Luísa Diogo.

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Religião Organizada

Um texto de Dale E. Lehman, Planet Baha'i(artigo em inglês: Being Organized)
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Muitas pessoas que acreditam em Deus afirmam que não gostam da religião organizada. Este é um sentimento compreensível. Quando olhamos para a história da religião, é difícil evitar o sentimento de que algo está muito mal. Parece que toda a religião organizada desempenhou um papel sinistro desde a corrupção e injustiça até à guerra e ao genocídio. Pode ser difícil, perante este cenário, perceber que também fez muito bem. Eu próprio também já rejeitei a religião organizada, considerando-a desnecessária e inútil.

Como bahá'í, porém, adquiri uma nova perspectiva. Vejo agora a religião organizada como uma ferramenta que existe com um determinado propósito. Tal como qualquer outra ferramenta, a religião pode ser usada de forma incorrecta; mas quando usada correctamente, proporciona-nos muitos benefícios. O propósito da religião foi definido por Bahá'u'lláh nestas palavras:
Diz o Grande Ser: Ó vós, filhos dos homens! O propósito fundamental que anima a Fé de Deus e a Sua Religião consiste em salvaguardar os interesses e promover a unidade do género humano, e nutrir entre os homens o espírito de amor e amizade. Não permitimos que se torne fonte de dissensão e discórdia, de ódio e inimizade.

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh)
Desde o seu início, toda a religião tem estes objectivos. No entanto, esta pequena frase indica que temos uma possibilidade de escolha: podemos usar a religião para atingir os objectivos propostos, ou podemos usá-la para atingir o oposto. Através da religião podemos aproximar-nos do Criador e da nossa família humana; mas também podemos fomentar divisões, conquistar poder pessoal, e até promover a guerra. A religião é uma força poderosa. Pode fazer um enorme bem, mas também se por tornar um grande mal.

As pessoas formam organizações para conseguir capitalizar o poder da unidade. Há muito que sabemos que "duas cabeças pensam melhor que uma", que "unidos sobrevivemos, divididos caímos". Uma grande empresa, captando o poder de muitas pessoas trabalhando para um objectivo comum, pode oferecer mais produtos e serviços, e consequentemente fazer mais dinheiro do que qualquer indivíduo isolado. A Constituição dos Estados Unidos começa com palavras que afirmam a importância da organização e unidade para a segurança e prosperidade dos seus povos. Uma comunidade religiosa também beneficia da organização e da unidade. Uma religião organizada pode proporcionar melhores recursos para a educação espiritual dos seus membros, pode oferecer mais e melhores serviços humanitários, e pode ter mais influência na sociedade.

Usemos, por um momento, a palavra "religião" num sentido muito restrito. Vamos usá-la para significar a correcta expressão dos ensinamentos divinos. Quando seguimos as leis e princípios de Deus, estamos a ser correctamente religiosos. Quando caímos no fanatismo, tentamos impor as nossas crenças aos outros, ou usamos a autoridade religiosa para nos servirmos a nós próprios, não estamos a ser religiosos. Tendo em mente estas distinções, consideremos o que Bahá'u'lláh escreveu:
A religião é, em verdade, o principal instrumento para o estabelecimento da ordem no mundo e da tranquilidade entre os seus povos. O enfraquecimento dos pilares da religião tem fortalecido os insensatos, tornando-os mais audazes e mais arrogantes. Em verdade digo: quanto maior o declínio da religião, mais penosa se torna a desobediência dos ímpios. Isso não pode levar, afinal, senão ao caos e confusão. Ouvi-me, ó homens de percepção, e precavei-vos, vós que estais dotados de discernimento!

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh)
A raiz do problema da religião organizada não está na organização em si, mas no coração humano. Um organização religiosa composta por pessoas cujos corações foram tocados pelo Espírito Santo, e que tentam sinceramente viver de acordo com os padrões divinos, será como uma luz para o mundo. Os seus membros procurarão aprofundar o seu conhecimento e fé, e esforçar-se-ão por ajudar o mundo. O poder da sua unidade permitir-lhe-á, enquanto organização, fazer exponencialmente mais bem no mundo do que qualquer um deles sozinho poderia fazer sozinho.

Todas as religiões organizadas têm em si este potencial. Se lhes falta alguma coisa, é apenas um meio para impedir a corrupção. Bahá'u'lláh, porém, estabeleceu uma ordem administrativa e criou uma Aliança com os Seus seguidores para a proteger contra a corrupção e o cisma. Isto não se deve ao factos dos Bahá'ís serem mais merecedores que os outros, mas porque Deus, nesta era, decretou que a unidade mundial seria estabelecida. Na verdade, Ele tomou o assunto nas Suas mãos, e não o entregou a outros.

Esta é a fonte da nossa confiança na religião organizada. Sabemos que cometeremos erros. Sabemos que algumas pessoas tentarão moldar a nossa religião de acordo com os seus propósitos. Mas também sabemos que os nossos erros acabarão por nos melhorar a nós próprios, e que os que se opõem à Aliança de Bahá'u'lláh serão incapazes de o derrotar. Com esta confiança, podemos centrar todas as nossas energias na promessa de Bahá'u'lláh para o futuro:
"Tão poderosa é a luz da unidade que pode iluminar a terra inteira."
(Bahá'u'lláh, SEB, CXXXII)

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

A ler

In focus: Haifa (BBC)
Les Baha'i à l'A.N. (Madagascar Tribune)
Text of secret Iran letter ordering "monitoring" of Baha'is made public (BWNS)

...e ainda:

The Fourth Faith? (Egypt Today)

Apetite

Está com nove meses e, como se vê nas fotos, alimenta-se bem. Durante este verão descobriu como é bom mordiscar e sugar fruta. Melancia e uvas são as suas preferências. Felizmente, apetite é coisa que não lhe falta!



terça-feira, 5 de setembro de 2006

Sobre o nome deste blog

"Povo de Bahá" é uma expressão frequentemente utilizada nas Escrituras da religião Bahá'í para designar os crentes em Bahá'u'lláh, i.e., os Bahá’ís. Seguidamente apresentam-se alguns excertos das escrituras Baha’is, onde surge esta expressão.

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Esforçai-vos, ó povo de Bahá, para que o tumulto da dissensão e luta religiosa que agita os povos da terra possa ser aquietado e todos os seus vestígios completamente eliminados.

(Bahá'u'lláh, Epístola ao Filho do Lobo)


Na opinião do povo de Bahá, a glória do homem está no seu conhecimento, na sua conduta íntegra, no seu carácter louvável e na sua sabedoria, e não em sua nacionalidade ou posição.

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh, Palavras do Paraíso)


Acautelai-vos, ó povo de Bahá, para não andar nos caminhos daqueles cujas palavras diferem das acções. Esforçai-vos para que possais manifestar aos povos da terra os sinais de Deus e reflectir os Seus mandamentos. Que os vossos actos sirvam de guia para toda a humanidade, pois o que é professado pela maioria dos homens, sejam de alta ou baixa condição, difere da sua conduta. É pelas vossas acções que vos podeis distinguir dos outros. Através delas o brilho da vossa luz pode irradiar-se sobre toda a terra.

(Bahá'u'lláh, Selecção dos Escritos de Bahá'u'lláh, CXXXIX)


Bem-aventurados são os governantes e os eruditos entre o povo de Bahá. São os Meus mandatários entre os Meus servos e as manifestações dos Meus mandamentos entre o Meu povo. Sobre eles repousem a Minha glória, as Minhas bênçãos e a Minha graça, as quais abrangeram o mundo existente.

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh, Livro da Aliança)


Ó povo de Bahá! Incumbe a cada um de vós ocupar-se com algum trabalho, seja um ofício, um comércio ou algo semelhante. Enaltecemos o vosso empenho nesse trabalho ao grau de adoração ao Deus Uno e Verdadeiro.

(Bahá'u'lláh, Kitáb-i-Aqdas, parag. 33)


Associai-vos com todos os homens, ó povo de Bahá, num espírito de amizade e camaradagem. Se estiverdes cientes de uma certa verdade, se possuirdes uma jóia da qual outros são privados, partilhai-a com eles numa linguagem da maior generosidade e boa-vontade. Se for aceite, se o seu propósito for cumprido, tereis atingido o vosso objectivo. Se alguém a recusar, deixai-o a sós e suplicai a Deus que o guie. Acautelai-vos para não o tratar de um modo pouco bondoso.

(Bahá'u'lláh, Selecção dos Escritos de Bahá’u’lláh, CXXXII)


O povo de Bahá não deve negar a qualquer alma a recompensa que lhe é devida, deve tratar com deferência os artífices e de modo diferente do povo de outrora, não deve macular a sua língua com injúrias.

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh, Tarazat)


Ó povo de Bahá! Sois os locais de alvorada do amor de Deus e as auroras da Sua benevolência. Não conspurqueis as vossas línguas com a maldição ou o ultraje de qualquer alma, e guardai vossos olhos contra aquilo que seja indigno. Apresentai aquilo que possuís. Se for recebido favoravelmente, o vosso objectivo será alcançado; se não, é inútil protestar.

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh, Bishárát)


Ó povo de Bahá! A fidedignidade é, em verdade, a melhor das vestes para os vossos templos e a mais gloriosa coroa para as vossas cabeças. Segurai-vos firmemente a ela, segundo o preceito de Quem ordena, d'Aquele que é de tudo informado.

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh, Tarazat)


Que Nossa Glória repouse sobre o povo de Bahá, o qual nem a tirania do opressor, nem a ascendência do agressor tem conseguido de Deus, o Senhor dos mundos.

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh, Tarazat)


Mais uma vez exortamos todos os crentes a observarem justiça e equidade e a manifestarem amor e contentamento. São eles, em verdade, o povo de Bahá, os companheiros da Arca Carmesim. Sobre eles esteja a paz de Deus, Senhor de todos os Nomes, o Criador dos céus.

(Bahá'u'lláh, Epístolas de Bahá'u'lláh, Ishraqat)


Entre o povo de Bahá, porém, o casamento deve ser uma união tanto física como espiritual, pois aqui marido e mulher estão extasiados com o mesmo vinho, enamorados pela mesma Face incomparável; ambos vivem através do mesmo espírito, através deles movem, e são iluminados pela mesma glória... Portanto, quando o povo de Bahá tenciona casar, a união deve ser uma relação verdadeira, uma ligação espiritual bem como física, de modo que ao longo de todas as fases da vida, e em todos os mundos de Deus, a sua união perdure; porque essa verdadeira unidade é uma centelha do amor de Deus.

('Abdu'l-Bahá, Selecção dos Escritos de 'Abdu'l-Bahá, nº 84)

sábado, 2 de setembro de 2006

Inconformados com a revolução

Na revista Única de hoje (suplemento do Expresso), a reportagem de Margarida Mota e António Pedro Ferreira ("Inconformados com a revolução") apresentou interessante um retrato do iraniano comum: gente com os mesmos interesses e ambições semelhantes aos de pessoas de outros pontos do globo. O facto de viverem sob um regime teocrático sujeita-os a um conjunto de constrangimentos nas suas actividades profissionais e afazeres pessoais, aos quais reagem com criatividade, cautela ou resignação.

Mas se este trabalho tem o mérito de mostrar que o cidadão comum iraniano, protegido pela Constituição e leis iranianas, não se conforma nem se acomoda com as restrições que a Republica Islâmica impõe, poderia ter ido um pouco mais longe e incluído um exemplo de um cidadão iraniano, que vive sem protecção legal ou jurídica, e é alvo de diferentes tipos de discriminação por professar uma religião que não o Islão, tal como acontece com os membros da comunidade bahá'í daquele país.

É verdade que as perseguições aos bahá'ís do Irão não são o caso mais grave de atropelo aos Direitos Humanos em todo o mundo. Mas creio que um bom retrato social daquele país deveria incluir um membro de uma minoria religiosa que o regime iraniano insiste em tratar como cidadãos de segunda classe. Afinal, já por 18 vezes a Assembleia Geral das Nações Unidas condenou o regime iraniano devido às perseguições aos bahá'ís.