Povo de Bahá
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Traduzir as Escrituras Bahá’ís em Portugal
sábado, 11 de janeiro de 2025
Não tenho medo da morte, por isso vou viver para um lar de idosos!
Estou em preparativos para me mudar para um lar de idosos. Olho ao meu redor, no meu pequeno apartamento, preparando-me para esta última mudança, antes daquela derradeira mudança que todos devemos fazer.
Vejo tantas coisas que em determinados momentos da minha vida adorei e guardei na memória, que em breve irei abandonar. Olho para trás, para a minha vida, e pergunto-me o que realmente consegui.
Numa das gavetas do meu arquivo, encontro os restos de quatro diplomas académicos, os trabalhos de investigação que escrevi e muito mais. À medida vou deitando fora tudo isto, fico surpreendida por não sentir absolutamente nenhuma dor ou arrependimento. Percebo que guardá-los todos estes anos foi apenas o peso de um amontoado de papéis e livros que, nesta altura da minha vida, não têm valor nem significado.
E por cada coisa que deito fora, sinto-me mais leve. Uma sensação de liberdade apodera-se de mim, e esta libertação do peso da minha alma e das minhas emoções deixa-me feliz. Finalmente, estou em paz.
Por um lado, estes diplomas e trabalhos, são tão antigos que ninguém, no seu juízo perfeito, quereria as minhas descobertas imaturas ou os resultados da minha investigação, uma vez que, desde então, temos assistido a uma enorme explosão de novas informações. No que diz respeito às coisas materiais no meu apartamento, que não posso ou não quero levar para o meu novo lar, percebo que elas não têm absolutamente nenhum significado ou valor - parecem-me estranhas, e mal posso esperar por me livrar delas.
Então, pergunto-me, o que tenho eu agora que posso assumir como meu?
Na verdade, tenho muito coisa, tanta coisa que não consigo contar. No decorrer da minha vida, acumulei uma quantidade enorme de verdadeiros tesouros duradouros – o amor da Fé Bahá’í e de Bahá’u’lláh; os amigos queridos e altruístas que me mantêm no caminho íntegro; e a recompensa vitalícia de servir aos poderosos ideais da minha Fé – a unidade da humanidade, a unidade e a paz globais, e o amor por todos.
À medida que diminui a minha capacidade para ajudar e servir fisicamente os outros, e a minha memória, especialmente a de curto prazo, começou a falhar, também estou a aprender algo novo: que posso tolerar cada vez mais as perdas da minha vida e realmente rir delas, de todo o coração, porque elas são realmente engraçadas.
Estou feliz com a mudança para uma bela unidade de apoio a idosos. Estou feliz também por esta oportunidade que Deus, o Todo-Misericordioso, colocou à minha frente. Então agora é a hora de decidir o que levar comigo – e que será o mínimo – e também como me livrar dos restos do que acumulei durante quase 60 anos de vida nesta parte do mundo. Quando vivermos o suficiente, todos nós acabaremos por enfrentar este tipo de decisão.
Lembro-me de quando deixei o Irão, o meu país natal, com apenas uma mala meio cheia. Lembro-me de há apenas dois anos, quando vendi a minha casa, tive de me desfazer de muitas coisas para me mudar para o apartamento onde vivo agora. Hoje tenho de abdicar da maior parte dos meus bens, porque para onde me vou mudar será o último lugar onde vou viver – para além daquela que será a minha última morada, que como disse uma vez uma grande pessoa com bom sentido de humor, tem apenas um metro e oitenta de comprimento.
Pergunto-me: como me sinto emocionalmente e o que estou a aprender?
Parece-me que nenhum de nós quer realmente morrer, independentemente da condição em que nos encontremos. Mas não temo a morte. Sinto-me muito sortuda por ser Bahá’í, porque Bahá’u’lláh escreveu n’ As Palavras Ocultas que:
Fiz da morte uma mensageira de alegria para ti. Porque te lamentas? Fiz a luz para derramar sobre ti o seu esplendor? Porque te ocultas dela?
Com as alegras novas de luz, Eu te saúdo; regozija-te! À corte da santidade, Eu te chamo; permanece aí para que possas viver em paz para sempre.
Acredito nisto e estou realmente ansiosa para ir onde aquele mensageiro de alegria me possa transmitir a mensagem que desejo.
Por outro lado, todos nós ainda queremos manter um controlo firme sobre a vida neste mundo material. Afinal, é o que conhecemos. Por um lado, uma pequena parte de mim quer ficar com os meus bens, mas por outro lado estou muito feliz por já não fazer tarefas domésticas e estar sobrecarregada com a posse de tantas coisas. Por outras palavras, sinto uma fricção entre o meu ego e o meu eu espiritual.
Acho interessante, enquanto ser humano, observar em primeira mão esta luta tão pessoal. Penso que quanto mais o meu eu espiritual tem sucesso, mais feliz eu sou – e, mais importante, vejo melhor a mão do nosso Criador na minha felicidade. Quando sou forçada a renunciar ao meu ego e a permitir que a vontade de Deus me conduza, é maravilhoso não ter a responsabilidade de tomar essas decisões sozinha. Porquê lutar para seguir o meu próprio caminho, quando o nosso Criador pode fazê-lo por nós em menos de um piscar de olhos e o resultado será um milhão de vezes melhor?
Espero continuar a crescer espiritualmente, por isso peço a todos que rezem por este desejo, por mim e por vós.
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Texto original: I Don’t Fear Death, So Yay! I’m Moving to Assisted Living! (www.bahaiteachings.org)
Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
sábado, 4 de janeiro de 2025
A Água Vivificadora das Palavras Sagradas
Escrituras, n. Os livros sagrados da nossa religião sagrada, diferentes dos textos falsos e profanos em que todas as outras religiões se baseiam. (Ambrose Bierce, O Dicionário do Diabo)
O famoso escritor satírico americano Ambrose Bierce alude à possibilidade de todos os livros sagrados serem verdadeiros na sua definição intencionalmente irónica da palavra “Escrituras”. No fundo, os dicionários comuns definem as Escrituras como “qualquer livro sagrado”.
Tente pensar da seguinte forma: e se as Escrituras Sagradas de todas as grandes religiões do mundo fossem capítulos do mesmo livro? E se todos estes capítulos com nomes distintos, tivessem o mesmo autor? E se as Escrituras Sagradas de todas as religiões narrassem uma revelação contínua para a humanidade? E se as Escrituras Sagradas de todas as religiões revelassem a sagrada palavra de Deus?
Os ensinamentos Baha'is definem a palavra “Escritura” exactamente desta forma, e aplicam a definição aos textos sagrados de todas as grandes religiões. Para os Baha'is, as sagradas Escrituras de todas as religiões testificam eloquentemente, não só a sua própria unidade essencial, mas também a unidade da humanidade:
Se alguém meditasse naquilo que revelaram as Escrituras, enviadas do céu da santa Vontade de Deus, reconheceria prontamente que o seu propósito é que todos os homens sejam considerados como uma só alma, de modo que o selo que contém as palavras “O Reino será de Deus” possa ser gravado em cada coração, e a luz da generosidade, da graça e da misericórdia Divinas possa envolver toda a humanidade. (Baha'u'llah, Gleanings, CXXII)
Vamos prosseguir com a nossa discussão sobre as Escrituras com esta definição em mente. Todas as Escrituras, escreveu Baha'u'llah, são “enviadas do céu da santa Vontade de Deus…”, o que afirma que estas Escrituras sagradas chegam até nós inspiradas pelo Criador.
Cada profeta de Deus, cada fundador de uma grande religião - dizem os ensinamentos Bahá'ís - traz um livro sagrado. As palavras sagradas reveladas nesse livro, iluminadas pela luz da generosidade divina, transcendem as simples palavras humanas. De facto, os ensinamentos Baha'is dizem que a “irresistível Verbo de Deus” é “a Causa de toda a criação…”
Aquele que comunica a influência geradora e aquele que recebe o seu impacto são de facto criados através do irresistível Verbo de Deus, que é a Causa de toda a criação, enquanto todo o resto para além do Seu Verbo são apenas as criaturas e os efeitos do mesmo. Em verdade, o teu Senhor é o Esclarecedor, o Sapientíssimo.
Sabe, além disso, que o Verbo de Deus – exaltada seja a Sua glória – está mais elevado e é muito superior àquilo que os sentidos podem perceber, pois está santificada de qualquer propriedade ou substância. Transcende as limitações dos elementos conhecidos e está exaltado acima de todas as substâncias essenciais e reconhecidas. Tornou-se manifesto sem qualquer sílaba ou som, e não é mais do que o Mandamento de Deus que permeia todas as coisas criadas. Nunca foi negado ao mundo da existência. É a graça omnipresente de Deus, da qual emana toda a graça. É uma entidade muito distante de tudo o que foi e será. (Baha'u'llah, Epístola da Sabedoria, ¶9 ¶10)
Se olharmos com atenção, podemos ver esta ideia fundamental do Verbo Criador em cada livro sagrado:
E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca. E assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares. E viu Deus que era bom. (Gen 1:9-10)
E a palavra de Deus crescia e multiplicava-se. (Actos 12:24)
Na verdade, foi Ele quem criou os céus e a terra; e no dia em que Ele disser: ‘SÊ’, então é. A Sua palavra é a verdade… (Alcorão, sura 6)
Glorificado seja o Teu nome, ó Senhor meu Deus! Suplico-Te pelo Teu poder que envolveu todas as coisas criadas, e pela Tua Soberania que transcendeu toda a criação, e pelo Teu Verbo que estava oculto na Tua sabedoria, e através do qual criaste o Teu céu e a Tua terra, ambos para nos capacitar a ser firmes no nosso amor por Ti e na nossa obediência ao Teu agrado, e a fixar o nosso olhar na Tua face e a celebrar a Tua glória. (Baha’u’llah, Baha’i Prayers, p. 159)
As palavras sagradas, as palavras santas, as palavras criativas nas Escrituras do mundo — são todas simbolizadas pela água vivificadora e corrente. Ilimitada e imortal, fonte de toda a vida na Terra, nunca estagnadas, mas sempre fluindo, a água representa a generosidade e o amor eterno do Criador:
Ó amigos do Deus Puro e Omnipotente! Ser puro e santo em todas as coisas é um atributo da alma consagrada e uma característica necessária da mente não escravizada. A melhor das perfeições é a imaculabilidade e libertarmo-nos de todos os defeitos. Quando o indivíduo estiver, em todos os aspectos, limpo e purificado, então tornar-se-á um centro focal que reflete a Luz Manifesta.
Primeiro, no modo de vida de um ser humano, deve haver pureza, depois vitalidade, decência e independência de espírito. Primeiro o leito do rio deve estar limpo, e depois as águas doces do rio podem ser conduzidas para ele. Os olhos castos desfrutam da visão beatífica do Senhor, e sabem o que significa este encontro; um sentido puro inala as fragrâncias que sopram dos jardins de rosas da Sua graça; um coração lustroso reflectirá a bela face da verdade.
É por isso que, nas Sagradas Escrituras, os conselhos do céu são comparados à água, tal como diz o Alcorão: “E enviámos água pura do céu”, e o Evangelho: “Aquele que não for baptizado da água e do espírito, não pode entrar no Reino de Deus.” Assim torna-se claro que os Ensinamentos que vêm de Deus são efusões celestes de graça; são aguaceiros de misericórdia divina e purificam o coração humano. (Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, #129)
Se vemos os livros sagrados das grandes religiões como água vivificadora e corrente, capaz de nutrir e sustentar a alma, não gostaríamos de nos hidratarmos todos os dias? Não faria sentido refrescarmos e alegrarmos as nossas almas com a água da vida? No próximo artigo desta série, veremos exactamente como pode fazer isso acontecer.
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Texto original: The Living Water of the Sacred Words (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Os Bahá’ís e o Nascimento de Jesus
Mais de mil milhões de pessoas em todos os continentes irão celebrar, de diversas formas, o nascimento de Jesus Cristo, no dia 25 de dezembro. Neste período que antecede o Natal, cada uma delas terá inúmeras ocasiões para desejar Feliz Natal a outras pessoas – cada uma aquecendo o outro com o entusiasmo que vem de uma tradição popular bem conhecida.
A música, as festas, os gestos de amor e de bondade, cada um à sua maneira, reflectem a forma como recordamos juntos os benefícios do nascimento de Jesus Cristo. Mas nem sempre foi assim. No início, nem parecia que a criança iria sobreviver à ira do rei do seu país. Lemos no Novo Testamento que Jesus não surgiu num mundo acolhedor:
E, tendo nascido Jesus, em Belém de Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram, do oriente, a Jerusalém, Dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente e viemos a adorá-lo. E o rei Herodes ouvindo isto, perturbou-se, e toda Jerusalém com ele. E, congregados todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo. E eles lhe disseram: Em Belém de Judeia; porque assim está escrito pelo profeta:
E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel. (Mt 2:1-6)
O rei Herodes tinha um problema. Pediu aos sábios que lhe dissessem o paradeiro da criança. Movidos por um anjo que os advertiu, os magos esconderam o segredo sobre o menino Jesus. Tinha aparecido um novo rei, e Herodes não fazia ideia de quem era, ou quando afirmaria a sua autoridade. Herodes sentiu-se ameaçado. Ele precisava de um plano para preservar o seu poder. Desesperado, Herodes decidiu tomar medidas drásticas:
Então Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos, irritou-se muito e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todos os seus arredores, de dois anos para baixo, segundo o tempo que diligentemente inquirira dos magos. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, que diz:
Em Ramá, ouviu-se uma voz, lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos e não querendo ser consolada, porque já não existem. (Mt 2:16-18)
José e Maria, os pais de Jesus, foram avisados por um anjo e escaparam aos planos malévolos de Herodes. Isto é extraordinário – tal como o são muitos outros milagres associados à vida e aos ensinamentos de Sua Santidade, o Filho de Deus. Contudo, nada disto se compara à influência duradoura dos Seus ensinamentos.
Os Bahá’ís acreditam que Jesus, um Manifestante divino de Deus, revelou novamente o espírito de Cristo, para que as almas dos homens pudessem reflectir mais perfeitamente os atributos de Deus na terra:
Jesus Cristo foi um Educador da humanidade. Galeno, o médico e filósofo grego que viveu no século II d.C., escreveu um tratado sobre a civilização das nações. Ele não era cristão, mas testemunhou que as crenças religiosas exercem um efeito extraordinário sobre os problemas da civilização. Essencialmente, disse: “Há entre nós certas pessoas, seguidores de Jesus, o Nazareno, que foi morto em Jerusalém. Estas pessoas estão verdadeiramente imbuídas de princípios morais que causam inveja aos filósofos. Acreditam em Deus e temem-n’O. Têm esperança nos Seus favores; por isso, evitam todos os actos e acções indignas, e inclinam-se para uma ética e uma moral louváveis.” ('Abdu’l-Baha, The Promulgation of Universal Peace, p 86)
A maravilha da época do Natal reflecte o espírito do propósito sublime de Cristo nas noções elevadas e nos incontáveis actos louváveis de serviço que os humanos prestam uns aos outros. Este notável testamento da soberania de Deus mostra que após 2000 anos a mensagem de Cristo se tornou mais convincente. Na verdade, se eu tivesse vivido nessa época, provavelmente não seria capaz de imaginar a autoridade e a influência de Cristo a estender-se de modo a abranger a Terra como acontece agora.
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Texto original: Baha’is and the Birth of Jesus (www.bahaiteachings.org)
quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
Richard Betts: algumas memórias pessoais
Com o Richard Betts (2009) [Foto de Helena Vasco] |
Conhecemo-nos desde Agosto de 1984. Foi numa escola de verão, em Coimbra. Ele encontrava-se naquele evento com a família. Eu ainda estava a conhecer a Fé Bahá’í. Mas aquele Bahá’í americano tinha qualquer coisa de especial. Simpatizámos um com o outro, descobrimos diversas afinidades e percebemos que podíamos falar de diversos temas com muita profundidade.
As raízes do Richard estendem-se ao Peru, onde o seu pai fora
um dos primeiros Bahá’ís peruanos. Mas fora nos Estados Unidos que ele crescera
e amadurecera. Formado em engenharia, trabalhou na NASA, e serviu durante
vários anos na Assembleia Espiritual Nacional dos Estados Unidos. Conhecia
profundamente a Comunidade Bahá’í Americana e tinha um vasto conhecimento das Escrituras
Bahá’ís, e frequentemente citava os textos do Guardião.
Em 1980, mudou-se com a família para Portugal; eram
pioneiros Bahá’ís. A mudança implicou uma alteração na sua vida profissional. Foi
assim que assumiu a direção de uma empresa exportadora de porcelanas. Mas essa deslocação
para Portugal não impediu de colaborar activamente na organização do Congresso
Mundial Bahá’í de 1992, em Nova Iorque.
Frequentemente, falava de ciência, religião e questões
sociais, com um raciocínio que sempre seguia uma linha de racionalidade.
Recordava os muitos problemas que enfrentara no projecto do Space Shuttle (“Imaginas
o que é despejar em seis segundos um depósito de hidrogénio com um volume
equivalente a uma piscina olímpica?”), os desafios da comunidade Bahá’í (“Temos
de desenvolver actividades básicas, mas também devemos ser capazes de relacionar
as questões actuais com os ensinamentos Bahá’ís. Precisamos de ter um discurso público
que seja apelativo para a sociedade…”) e as preocupações do momento (“os
efeitos das próximas eleições nos Estados Unidos são apenas parte de um
processo de transformação mundial…”).
Traduzindo uma palestra do Richard (2019) [Foto de Jack Harmsen] |
Quando por volta de 2008, o Centro Mundial Bahá’í começou a
planear o restauro das telhas douradas do santuário do Báb, o Richard
identificou uma empresa de Leiria capaz de produzir as telhas de acordo com os
requisitos exigidos. No fundo, ele tinha um vasto conhecimento sobre produção
de porcelanas, e conhecia as competências de diversas empresas portuguesas
nesse mercado
Após vários contactos e negociações, o restauro foi feito
com as telhas produzidas em Portugal. Havia um indisfarçável sentimento de
orgulho entre os Bahá’ís de Portugal por ver o “nosso” contributo no Santuário.
Nessa ocasião, o Richard confidenciou: “Tenho a impressão que foi a Providência
que me trouxe como pioneiro para Portugal para que eu pudesse prestar este
serviço”. Para mim, fazia sentido.
Nas muitas conversas que tivemos as suas palavras tinham
sempre um encorajamento para várias iniciativas que tomei. Nos primeiros anos
do blog Povo de Bahá, constatava: “Tu és presença Bahá’í na internet em língua
portuguesa”. Quando lhe falei das minhas apresentações nos seminários do Irfan,
comentou “Definitivamente, tornaste-te um erudito. A Fé Bahá’í precisa de
eruditos.” Quando surgiu a oportunidade de publicar um livro Bahá’í numa
editora comercial, não escondeu o seu entusiasmo: “É uma oportunidade a não
perder! E se é preciso financiamento, digo-te já algumas pessoas que muito
provavelmente estarão interessadas em financiar esse projecto…” Foi assim que
surgiu o livro Terapia Divina. E quando lhe falei da minha investigação sobre a
história de Joaquim Sampaio, foi assertivo: “Isto é aquele tipo de histórias
que devemos preservar e divulgar na comunidade”.
Os anos passavam, perdia algum vigor físico, mas mantinha-se
intelectualmente activo. Estava sempre a ler algum livro que trazia uma nova
perspectiva sobre um assunto. E também seguia alguns programas na TV. Muita do
que lia e assistia na TV era tema de conversa. E as nossas conversas começavam
sempre da mesma maneira.
- Olá Richard, como estás?
- Olá Marco! Como é que eu estou? Sabes, na minha idade,
quando acordo e percebo que estou vivo, fico feliz. É uma bênção estar vivo e
conseguir ter autonomia.
- Ainda bem que te sentes bem. E como estão os teus filhos?
- Falo com eles todas as noites. Eles estão bem e querem
sempre que todos os dias eu lhes diga que estou bem.
- Tens visto as notícias? O que achas de tudo isto que está
a acontecer no mundo?
- É incrível. Há transformações surpreendentes e outras
assustadoras. Mas tudo isto é um processo que vai levar a humanidade a
amadurecer colectivamente…
Ao telefone a conversa prolongava-se durante longos minutos;
mas quando nos encontrávamos pessoalmente, geralmente para um almoço, o diálogo
demorava algumas horas. E as conversas eram sempre interessantes e marcadas
pelo seu bom humor.
Recentemente, perguntei-lhe porque estava a viver sozinho em
Portugal. Não preferia estar a viver próximo dos filhos, tal como o meu Pai. A
resposta veio com um grande sorriso.
- Gosto tanto de Portugal. É aqui que quero ficar, é aqui
que quero morrer. Estou grato a Bahá’u’lláh pela vida que tive.
O Richard deixou-nos na madrugada do dia 16 de Dezembro.
Já sinto falta dele.
terça-feira, 17 de dezembro de 2024
sábado, 14 de dezembro de 2024
O que dizem os hábitos de leitura sobre cada um de nós?
Uma pessoa que não lê não tem qualquer vantagem sobre aquela que não sabe ler. - Mark Twain
Muitas pessoas perguntam-me se eu naufragasse e pudesse ter apenas um livro, qual seria? Eu digo sempre: “Como construir um barco”. - Stephen Wright
Você lê muito?
Provavelmente não preciso de fazer esta pergunta – afinal, você está a ler agora. Mas vamos explorar um pouco mais a fundo e ver se conseguimos descobrir alguma coisa sobre os seus hábitos de leitura. Segundo os especialistas, os seus hábitos de leitura dizem muito sobre si.
Assim, vejamos um teste simples de cinco questões:
- Qual foi o último livro que leu, do início ao fim?
- Tem algum cartão de biblioteca/livraria? Se sim, quantos livros tem requisitados?
- Quantos livros possui?
- Em quantos dias numa semana costuma ler por prazer?
Se naufragou, veja se consegue encontrar um exemplar do “Como construir um barco” enterrado na areia. Se gosta, digamos, de histórias sobre feiticeiros e vassouras voadoras, leia um livro do Harry Potter. Se gosta de um grande mistério, leia James Lee Burke ou Walter Mosley. Se gosta de literatura lírica, leia Susan Straight, Cormac McCarthy ou Toni Morrison. Se gosta do amor, leia Shakespeare.
Se, por outro lado, se lembra claramente do último livro que leu (porque o terminou ontem à noite); se tem um cartão de biblioteca bem usado e uma pilha de livros na mesa de cabeceira; se possui mais de uma dezena de livros e precisa de construir novas estantes; se lê sempre que pode, então estas respostas significam que é um leitor genuíno. Talvez, como eu, seja um viciado em livros. Bem-vindo ao clube. Repitam comigo: admitimos que os livros são mais fortes que nós – que as nossas bibliotecas se tornaram incontroláveis. (os AA que me desculpem!)
Qualquer que seja a categoria em que se encontrem, gostaria de vos convidar cordial e humildemente a ler algo novo, algo que talvez não pense ler com muita frequência, algo verdadeiramente notável: os livros sagrados. Nesta série de ensaios sobre a leitura de algo sagrado todos os dias, tentarei convencer-vos de que este tipo de leitura vai realmente mudar as vossas vidas – porque vai mesmo.
Mas primeiro, vamos tratar por um momento o termo “sagrado”, que é um tanto assustador e desencorajador. É uma palavra com uma característica excessivamente preciosa e algo pretensiosa nos dias de hoje, não é verdade? O meu dicionário apresenta vários sinónimos para sagrado: “santo, puro, venerável, sublime e excelso”. Alguém se considera santo, puro, venerável, sublime ou excelso? Não? Nem eu. Nem de perto. Mas estou a trabalhar nisso …
Mas o que podemos considerar sagrado? Talvez a Torá, ou o Bhagavad Gita, ou a Bíblia, ou o Alcorão, dependendo da sua orientação religiosa? Poderíamos classificar estes livros como sagrados?
Quando eu era criança tinha uma avó luterana muito devota e piedosa, de quem eu gostava muito. Era uma das pessoas mais bondosas e doces que já conheci. Uma vez, quando eu tinha cerca de quatro anos, ela estava a ler-me um livro infantil no sofá da sala. Quando terminámos, coloquei o livro numa mesa próxima, em cima de outro livro. A minha avó pegou imediatamente no livro infantil, colocou-o noutro lugar da mesa e, com voz baixa e algo admirada, disse: “David, nunca colocamos outros livros em cima da Bíblia”.
Isto foi algo que me marcou, não tanto por causa da sua regra invulgarmente piedosa sobre empilhar livros, mas porque me mostrou que ela considerava a sua Bíblia como sagrada. Ela tinha a Bíblia em alta consideração, venerava-a e protegia-a de ser desvalorizada ou desrespeitada – ou mesmo ser coberta por outro livro. Com isso, ela transmitiu-me a minha primeira percepção do sagrado. Aprendi, com a minha querida avó, que algumas coisas têm uma grande importância, e que devemos respeitar essa importância.
E vocês? O que consideram sagrado?
Para mim, o mais sagrado do mundo não é uma coisa – em vez disso, penso nos grandes ensinamentos religiosos do mundo, na sua forma original, como verdadeiramente sagrados:
A essência de todas as religiões é o Amor de Deus, e é a base de todos os ensinamentos sagrados. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 83)
Os Bahá’ís acreditam que estes ensinamentos sagrados chegam à humanidade através dos profetas de Deus, mensageiros sagrados que personificam a luz do Divino. Cristo, Moisés, Buda, Krishna, Maomé, Zoroastro e agora Bahá’u’lláh vieram todos trazer alegria infinita a esta Terra e fazê-la florescer mais uma vez:
O homem é como uma árvore. Se estiver adornado com frutos, foi e será sempre digno de louvor e elogios. Caso contrário, uma árvore infrutífera só serve para o fogo. Os frutos da árvore humana são requintados, muito desejados e muito apreciados. Entre eles estão o carácter íntegro, as acções virtuosas e uma boa expressão. A primavera para as árvores terrestres ocorre uma vez por ano, enquanto a primavera para as árvores humanas aparece nos Dias de Deus – exaltada seja a Sua glória. Se as árvores da vida dos homens fossem adornadas nesta Primavera divina com os frutos que foram mencionados, o brilho da luz da Justiça iluminaria, com certeza, todos os habitantes da terra, e todos permaneceriam em tranquilidade e contentamento, sob a sombra protetora d’Aquele que é o Objecto de toda a humanidade. A Água para estas árvores é a água vivificadora das Palavras sagradas proferidas pelo Amado do mundo. (Tablets of Baha’u’llah, p. 257)
No próximo artigo desta série, vamos ver quais as palavras que são verdadeiramente sagradas.
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Texto original: What Do Your Reading Habits Say About You? (www.bahaiteachings.org)
David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
sábado, 7 de dezembro de 2024
Jesus é Deus? A resposta Bahá'í
“Ela não era realmente Cristã.” Esta foi a conclusão de um encontro que a minha filha em idade universitária teve com um amigo Cristão, Eli, que conversou com ela e com vários outros estudantes Bahá’ís.
A pessoa em questão (“Ela”) era eu.
A opinião surgiu da curiosidade do Eli sobre como a minha filha se tornou Bahá’í. Ela explicou que nasceu numa família Bahá’í, mas que a sua mãe tinha vindo para a Fé a partir de uma formação Cristã.
O Eli perguntou “Qual era igreja?”
A resposta foi “muitas” por causa da forma como a minha mãe se sentia ao ouvir mensagens do púlpito sem fundamento no texto bíblico. Quando eu era criança, a nossa família frequentou igrejas baptistas, católicas, presbiterianas, metodistas, episcopais, congregacionalistas e não denominacionais.
Depois o Eli perguntou: “As igrejas dela ensinavam que Jesus era Deus?”
A minha filha disse-lhe que pensava que as minhas igrejas ensinavam que Jesus Cristo era o Filho de Deus, e isso provocou a resposta simples e imediata de Eli de que eu nunca tinha sido realmente Cristã.
Alguns de vós podem pensar que deveria ser uma resposta fácil e imediata. Ou Jesus é Deus, ou não é Deus; e podem pensar que acreditar numa ou noutra é o critério para a salvação. Mas a realidade é que esta certeza binária só existe na distinção entre a realidade espiritual infinita de Deus e a nossa capacidade de a compreender do nosso ponto de vista muito finito, físico – atrevo-me a dizer, materialista.
A resposta que eu teria dado ao Eli se ele me tivesse feito a pergunta directamente é esta: na medida em que podemos compreender Deus, Jesus Cristo é Deus. Na medida em que Deus está santificado acima das limitações humanas, Jesus não é Deus… mas reflecte perfeitamente a realidade divina de Deus porque o seu próprio Espírito — o Espírito que fala no Livro do Apocalipse — é gerado por Deus.
Vejamos a Bíblia para validar isto, começando pelo que Cristo nos diz no Evangelho de João sobre o tipo de Ser que Deus é: “Deus é espírito e os que o adoram devem fazê-lo no Espírito e em verdade.” (4:24)
A Bíblia afirma também na Epístola aos Hebreus (cap. 1) que embora apareça como ser humano, Jesus Cristo é o filho e “imagem expressa” deste Espírito:
Nos tempos antigos, Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos nossos antepassados pelos profetas. Mas agora, que o fim está perto, falou-nos por meio do seu Filho. Foi por meio dele que Deus criou o Universo… Ele é o reflexo da glória de Deus e a imagem perfeita da sua pessoa... ele tomou o seu lugar no trono celeste à direita da majestade divina.
A maioria das traduções portuguesas da Bíblia diz que Cristo é “o reflexo da glória de Deus”. Não é uma descrição que sugira sequer que Deus, a derradeira realidade espiritual, deixou o reino espiritual e desceu literalmente a um corpo humano, ou que o Infinito se tornou finito. Na verdade, todas as traduções mantêm Deus no “céu” ao descreverem Cristo como um selo, uma marca, uma expressão, um reflexo do Espírito de Deus em forma humana.
Quando fui confrontada com a Fé Bahá'í aos 19 anos, naturalmente refugiei-me nas minhas próprias Escrituras Cristãs para lidar com as suas implicações. Fiquei impressionada com a forma como Bahá’u’lláh explicou aquilo que o autor da Epístola aos Hebreus lutou por captar – a natureza divina, mas humana, de Cristo. Eis uma dessas passagens, do Livro da Certeza de Bahá’u’lláh:
Assim, estando a porta do conhecimento do Ancião dos Dias fechada perante a face de todos os seres, a Fonte da graça infinita… fez surgir aquelas Joias luminosas da Santidade vindas do reino do espírito, na forma nobre do templo humano, e manifestarem-se a todos os homens, para pudessem transmitir ao mundo os mistérios do Ser imutável... Estes Espelhos santificados, estes Alvoreceres da antiga glória, são, cada um e todos, os Expoentes na terra d’Aquele que é o Orbe central do universo, a Sua Essência e o Seu Propósito derradeiro. Dele provêm os seus conhecimentos e o poder; d’Ele deriva a sua soberania. A beleza dos seus semblantes é apenas um reflexo da Sua imagem, e a Sua revelação, um sinal da Sua glória imortal. … Estes Tabernáculos da Santidade, estes Espelhos primordiais que reflectem a luz da glória inextinguível, são apenas expressões d’Aquele que é o Invisível dos Invisíveis. Com a revelação dessas Joias de virtude Divina todos os nomes e atributos de Deus, como conhecimento e poder, soberania e domínio, misericórdia e sabedoria, glória, bênção e graça, tornam-se manifestos. (¶106, ¶110)
Aqui, Bahá'u'lláh descreve os Eleitos que Deus envia para nos guiar como espelhos perfeitos apontados directamente para a Luz Primordial, reflectindo a realidade espiritual de Deus de tal forma que possamos reconhecê-la, e voltar os espelhos dos nossos próprios corações para ela. O agente pelo qual esta Luz Grandiosa se reflecte no espelho de carne e sangue é o Espírito Santo.
Com esta descrição, Bahá’u’lláh afirma as palavras que Cristo e os Seus discípulos usaram para explicar a união da divindade e da humanidade que Ele representava. No Jardim do Getsémani, Cristo orou ao Seu divino Pai com estas palavras: “Manifestei o Teu nome aos homens que do mundo Me deste; eram Teus, e Tu mos deste, e guardaram a Tua palavra.” (Jo 17:6)
E na 2ª Epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo também escreveu sobre esta relação entre Deus e Cristo:
Ora o Senhor Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas, todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. (3:17-18)
A mensagem de Paulo é clara: ao contemplar a glória de Deus no espelho de Jesus Cristo, os próprios crentes são transformados em reflectores (embora imperfeitos) das qualidades divinas de Cristo. Esta é a mesma analogia que Bahá’u’lláh sobre o “mistério” da manifestação divina: o espelho humano reflecte a glória do Espírito que é Deus.
Chegamos agora a uma diferença crucial na forma como o Eli e eu entendemos a relação de Cristo com Deus. Eli acredita, como eu já acreditei, que o Espírito de Cristo se manifestou apenas uma vez em toda a tormentosa história da humanidade. Manifestou-Se apenas numa pequena região capturada rapidamente pelas garras do Império Romano. Manifestou-Se por um breve período de três anos entre milhões de anos. Apenas alguns indivíduos foram agraciados com a Sua presença. Aqueles que viviam outras partes do mundo – Índia, Américas, Europa e Ásia – viveram e morreram nas trevas, fora do alcance da luz de Cristo.
Pior do que isso: não receberam qualquer manifestação do Ser a quem Bahá’u’lláh chama “o Orbe Central do Universo”, e a quem Jesus Cristo retrata como o Pai amoroso e omnipotente de todos, e foram deixados a inventar os seus próprios deuses, e por esse motivo as suas almas foram para o inferno (conforme me ensinaram). Isto, apesar do facto de que o seu Grande Espírito ou Espírito Supremo ou Ahura Mazda ou o Absoluto ou Aten-Amen-Ra ou Allah terem uma notável semelhança com o Deus que, por qualquer razão, não os guiou nem Se manifestou a eles.
Esta foi a minha grande questão sem resposta, que levei comigo de igreja em igreja. Era uma questão que colocava o Deus que Cristo revela no Evangelho de Mateus (cap. 7) contra o Deus do púlpito; e isso perturbava-me, perseguia-me: Como poderia o Deus que Cristo revelou fazer o que uma tantos pastores e sacerdotes afirmaram que Ele tinha feito – privar milhões dos Seus filhos humanos da generosidade da Sua palavra, da Sua orientação e do Seu amor porque nasceram no lugar errado e num momento errado?
Penso que esta questão merece uma resposta.
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Texto original: Is Jesus God? A Baha’i Answers (www.bahaiteachings.org)
Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.