terça-feira, 7 de outubro de 2025

Tribunal iraniano confirma penas de 90 anos de prisão para 10 mulheres Bahá'ís


Um Tribunal de Última Instância de Isfahan (Irão) confirmou os veredictos de penas de prisão para 10 mulheres Baha’is. A informação foi divulgada pela Organização Hengaw para os Direitos Humanos.

Oito mulheres — Negin Khademi, 34 anos; Shana Shoghi-Far, 27 anos; Yeganeh Agahi, 31 anos; Parastoo Hakim, 47 anos; Mojgan Shahrzayi, 32 anos; Yeganeh Rouhbakhsh, 19 anos; Arezoo Sobhaniyan, 48 anos; e Neda Badakhsh, de 60 anos — receberam penas de 10 anos de prisão e diversas multas.

Outras duas, Bahareh Lotfi, de 27 anos, e Neda Emadi, de 42 anos, receberam penas de cinco anos e diversas multas.

Todas as 10 mulheres enfrentam também proibições de viagem e restrições de utilização das redes sociais.

As mulheres foram acusadas de "propaganda contra a República Islâmica do Irão", "proselitismo desviante e actividades educativas contrárias ao Islão através da promoção e ensino das crenças Bahá'ís entre os muçulmanos" e "colaboração com grupos hostis contra o governo".

As mulheres foram detidas a 23 de outubro de 2023 e libertadas sob fiança após dois meses de detenção. Os veredictos foram emitidos à revelia e comunicados apenas verbalmente aos representantes legais, alegando a segurança e a natureza confidencial do caso.

De acordo com a Hengaw, as mulheres relataram ter sido torturadas durante interrogatórios pelo Departamento de Inteligência de Isfahan, incluindo ameaças de violação, agressão sexual e outros abusos. Também afirmaram que os interrogadores tentaram extrair confissões forçadas contra elas próprias, outros detidos e as suas famílias.

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FONTE: Iranian Court Upholds 90-Year Prison Sentences for 10 Baha'i Women (IranWire)

sábado, 4 de outubro de 2025

O Significado Espiritual e o Simbolismo da Lua

Por Radiance Talley.


Sempre que olhamos para o céu nocturno, não conseguimos deixar de voltar a nossa atenção para a lua — especialmente quando está cheia e brilhante. Seja uma lua azul, uma lua da colheita, uma lua da neve, uma super-lua ou uma lua do lobo, o tamanho e o brilho da lua cheia deixam-nos maravilhados.

Por isso, não é de admirar que a lua cheia seja frequentemente retratada como magia na literatura e no cinema, e até tenha significado espiritual e simbolismo em muitas crenças e religiões.

As Escrituras Bahá’ís dizem:

Com os termos “sol e “lua”, mencionados nas Escrituras dos Profetas de Deus, não se quer dizer apenas o sol e a lua do universo visível. Pelo contrário, são múltiplos os significados que eles pretendiam com estes termos. Em cada ocasião eles atribuíram-lhes um significado particular. (Bahá’u’lláh, Kitab-i-Iqan, ¶31)

De facto, a lua tem um significado espiritual nas orações Bahá’ís e em todas as Escrituras Bahá’ís.

O Significado Espiritual da Lua nas Orações Bahá’ís

Acreditando que Deus enviou muitos profetas ao longo dos tempos para transmitir a Sua mensagem única para a humanidade, os Bahá’ís honram a verdade e a sabedoria de todas as religiões. Em algumas orações Bahá’ís, o brilho da lua é utilizado para simbolizar a iluminação que os muitos profetas de Deus trouxeram a este mundo.

Por exemplo, numa oração afirma-se:

Para onde foram os Sóis resplandecentes? Para onde se foram aquelas Luas brilhantes e Estrelas cintilantes?

Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá’í, escreveu “que os termos «sol», «lua» e «estrelas» significam primeiramente os Profetas de Deus, os santos e os seus companheiros, esses Luminares, Cuja luz do conhecimento ilumina os mundos do visível e do invisível.” (Kitab-i-Iqan, ¶33)

E tal como a lua física começa a desaparecer da nossa vista à medida que a luz do sol começa a crescer, também "o luminar do conhecimento mundano, da sabedoria e da compreensão se desvanece no nada quando colocada face a face com as glórias resplandecentes do Sol da Verdade, o astro do esclarecimento divino" – destes profetas. Pois como podem as nossas inteligências humanas comparar-se ao conhecimento do nosso Criador?

O Simbolismo Espiritual da Lua nos Textos Bahá'ís

Noutros textos Bahá’ís, a lua é usada para simbolizar leis religiosas, como a necessidade de fazer uma oração obrigatória diária. Bahá'u'lláh escreveu:

Em boa verdade, a religião de Deus é semelhante ao céu; o jejum é o seu sol e a oração obrigatória é a sua lua. Em verdade, eles são os pilares da religião pelos quais os justos se distinguem daqueles que transgridem os Seus mandamentos.

Tal como o sol e a lua sustentam a vida na Terra, os Bahá’ís acreditam que a oração e o jejum são dois pilares que sustentam a religião porque são essenciais para nos ajudar a crescer e a desenvolver espiritualmente e a aproximarmo-nos de Deus.

A lua não poderia dar uma luz brilhante no nosso céu nocturno sem a iluminação que recebe do sol. Ao comparar o jejum ao sol e a oração obrigatória à lua, Bahá'u'lláh quer também dizer que "o jejum é iluminação, [e] a oração é luz".

É claro que estes são apenas alguns dos muitos significados espirituais da lua nas Escrituras Bahá'ís. Por ser uma das luzes mais visíveis no nosso céu, não é de admirar que seja frequentemente usada para simbolizar a proximidade com Deus e a iluminação divina. Como dizem as Escrituras Bahá'ís:

Este é o século da Manifestação, a era do Sol dos Horizontes e a bela primavera de Sua Santidade, o Eterno!

A terra está em movimento e em crescimento; as montanhas, as colinas e as planícies estão verdes e agradáveis; a abundância transborda; a misericórdia é universal; a chuva desce da nuvem da misericórdia; o Sol resplandecente brilha; a lua cheia ornamenta o horizonte do éter; a grande maré oceânica inunda cada pequeno riacho; as dádivas são sucessivas; os favores consecutivos; e a brisa refrescante sopra, trazendo o perfume fragrante das flores. Um tesouro sem limites está nas mãos do Rei dos Reis! Levanta a orla da tua veste para o receberes.

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Texto original: The Spiritual Meaning and Symbolism of the Moon (www.bahaiteachings.org)

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Radiance Talley é licenciada em comunicação pela Universidade de Maryland. Além da escrita, do desenho, e da comunicação em público, Radiance tem um profundo conhecimento da teoria da construção, técnicas de negociação, gestão de conflitos, comunicação organizacional e intercultural, antropologia e sociologia..

sábado, 27 de setembro de 2025

Deus causa o sofrimento dos inocentes?

Por John Hatcher.


Mais cedo ou mais tarde, todos nós colocamos a questão antiga: um Deus omnipotente e omnisciente provoca — ou pelo menos não consegue impedir — o sofrimento dos inocentes?

Vários princípios importantes nas Escrituras Bahá’ís impelem-nos a encontrar uma solução para este dilema fundamental. Por exemplo, Deus não se restringe a esta vida física para corrigir as injustiças que sofremos nas nossas vidas individuais, nem se limita a um determinado período de tempo para exercer justiça na história.

Esta observação pode parecer óbvia, mas é o factor mais crucial para se chegar a um acordo sobre a teodiceia — a importante questão de por que razão um Criador bom permite que o mal exista. Isto significa que não podemos avaliar ou julgar o que nos acontece (ou a qualquer outra pessoa) em termos do que suportamos nesta vivência terrena. Se o sofrimento, em última análise, resulta em justiça ou injustiça, algo benéfico ou prejudicial, seria semelhante a tentar avaliar como alguém se irá sair na sua profissão enquanto ainda se encontra numa fase formativa dentro do útero materno.

Como o nosso desenvolvimento está destinado a outro plano de existência, dificilmente podemos avaliar o que beneficia ou não este processo, tal como uma árvore de fruto não poderia avaliar os resultados benéficos da sua própria poda. Do nosso ponto de vista limitado, a morte de uma criança parece inútil e injusta, tal como o sofrimento de um inocente. No entanto, é claro nas Escrituras Bahá’ís que estas crianças são cuidadas, assim como todos os que sofrem inocentemente:

Estas crianças permanecem à sombra da Providência Divina e, como não cometeram qualquer pecado e não estão contaminadas pelas impurezas do mundo natural, tornar-se-ão manifestações da generosidade divina e os olhos da misericórdia divina estarão voltados para elas. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, pp. 277-278)

Quanto ao assunto dos bebés, crianças e fracos que são atormentados pelas mãos dos opressores: isto contém uma grande sabedoria e é de importância primordial. Em síntese, para estas almas existe uma recompensa noutro mundo e muitos pormenores estão relacionados com este assunto. Para estas almas, este sofrimento é a maior misericórdia de Deus. Em verdade, esta misericórdia do Senhor é muito melhor e preferível a todo o conforto deste mundo e ao crescimento e desenvolvimento deste lugar de mortalidade. (Tablets of Abdu’l-Baha, Volume 2, pp. 336-337)

Por outras palavras, enquanto aqueles de nós que têm a oportunidade de fazer uso da nossa existência física são encorajados, até mesmo obrigados a fazê-lo, aqueles que por qualquer razão são privados dessa oportunidade recebem outros meios de serem preparados para a sua existência contínua no reino do espírito.

Compreendido correctamente, então, o verdadeiro sofrimento em relação ao que consideramos a "morte prematura" ou o "sofrimento injusto" de outras almas é vivenciado por aqueles de nós que ficam para trás, privados da sua companhia. Na sua perspectiva, a justiça foi realizada porque progridem sem impedimentos. Não são de forma alguma prejudicados por terem sido impedidos de participar plenamente nesta vida. Da mesma forma, temos a garantia de que aqueles que, devido a doenças mentais ou físicas, já não nos parecem estar a progredir espiritualmente, na verdade não são negativamente afectados por essa experiência:

… o homem está enaltecido acima de tudo e é independente de todas as enfermidades do corpo ou da mente. O facto de uma pessoa doente apresentar sinais de fraqueza deve-se aos obstáculos que se interpõem entre a sua alma e o seu corpo, pois a própria alma permanece inalterada por quaisquer enfermidades corporais. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXX)

Não perceber este conceito essencial do paradigma Bahá’í de que a vida é um continuum e não se limita ao mundo físico é ver como ridículos os sofrimentos e todas as indignidades que os próprios profetas suportam voluntariamente:

Como poderiam essas Almas ter consentido em entregar-se aos seus inimigos se acreditassem que todos os mundos de Deus estavam reduzidos a esta vida terrena? Teriam elas sofrido de bom grado tamanhas aflições e tormentos como nenhum homem jamais experimentou ou testemunhou? (Idem)

Mas ainda temos um dilema quanto à intervenção de Deus. Se Deus previu o nosso sofrimento, não seria Ele de alguma forma responsável? Porque é que Ele não intervém para evitar o nosso sofrimento, para que possamos colher os benefícios da sala de aula metafórica que Ele tão criativamente concebeu para a nossa educação?

Já vimos que a presciência divina de algo não é a causa da sua ocorrência, tal como o nosso conhecimento da operação de uma lei física não faz com que essa lei seja aplicada. Mas, se Deus previu o nosso sofrimento, porque não o impede?

A resposta mais importante a esta questão essencial da teodiceia é que Deus intervém!

Intervém repetidamente, consistentemente, progressivamente, até mesmo diariamente, a título pessoal, se optarmos por estar conscientes dessa intervenção e aproveitar ao máximo as oportunidades que ela nos oferece. Por exemplo, no contexto mais amplo da história humana neste planeta, Deus dirige precisamente o rumo da história, enviando sucessivos Manifestantes de acordo com a antiga Aliança entre Deus e a humanidade, não porque mereçamos tais dádivas, mas porque Deus é amoroso, perdoador e tem a intenção de nos ajudar a desenvolvermo-nos como indivíduos e como comunidade global.

Os ensinamentos Bahá’ís asseguram-nos também que a mesma assistência está disponível nas nossas vidas pessoais se a pedirmos:

Deus é misericordioso, e na Sua misericórdia responde às orações de todos os Seus servos quando, de acordo com a Sua suprema sabedoria, é necessário. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 247)

As Escrituras Bahá’ís confirmam esta perspectiva ao afirmarem que a história humana é uma dinâmica espiritual e que, sem a intervenção de Deus através dos intermediários que são os mensageiros de Deus, não existiria história humana:

… os santos Manifestantes de Deus são os Centros focais da luz da verdade, as Fontes dos mistérios ocultos e a Fonte das efusões do amor divino. Lançam o Seu esplendor sobre o reino dos corações e das mentes, e concedem a graça eterna ao mundo dos espíritos. Conferem vida espiritual e brilham com o esplendor das verdades e significados interiores. A iluminação do reino do pensamento provem destes Centros de luz e Expoentes de mistérios. Não fosse a graça da revelação e da instrução destes Seres santificados, o mundo das almas e o reino do pensamento tornar-se-iam trevas sobre trevas. Não fossem os ensinamentos sólidos e verdadeiros destes Expoentes de mistérios, o mundo tornar-se-ia a arena das características e qualidades animais, toda a existência tornar-se-ia uma ilusão evanescente e a verdadeira vida perder-se-ia. É por isso que se diz no Evangelho: “No princípio era o Verbo”, isto é, era a fonte de toda a vida. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, pp. 184-185)

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Texto original: Does God Cause the Suffering of the Innocent? (www.bahaiteachings.org)

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John S. Hatcher é formado em Literatura Inglesa pela Universidade de Vanderbilt e Doutorado em Literatura Inglesa pela Universidade da Georgia (EUA). É professor Emérito na Universidade de South Florida (Tampa, EUA). É também conhecido como poeta, palestrante e autor de numerosos livros sobre literatura, filosofia e teologia e escrituras Baha’is. Entre as suas obras contam-se Close Connections; From the Auroral Darkness: The Life and Poetry of Robert E. Hayden; A Sense of History: The Poetry of John Hatcher; The Ocean of His Words: A Reader's Guide to the Art of Baha'u'llah; and The Purpose of Physical Reality; The Kingdom of Names.

sábado, 20 de setembro de 2025

A Economia determina a História Humana?

Por David Langness.


Karl Marx disse: "A história de todas as sociedades existentes até hoje é a história da luta de classes." Você concorda? A história é um registo de guerras económicas?

Marx, Engels e Lenine definiram as classes sociais segundo características económicas, separando o opressor e o oprimido, a burguesia e o proletariado, em termos puramente financeiros:

Por burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social e empregadores de trabalho assalariado. Por proletariado, a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, não dispondo de meios de produção próprios, são reduzidos a vender a sua força de trabalho para sobreviver. (Friedrich Engels)

A liberdade na sociedade capitalista permanece sempre a mesma que era nas antigas repúblicas gregas: liberdade para os proprietários de escravos. (Vladimir Lenin)

O homem livre e o escravo, o patrício e o plebeu, o senhor e o servo, o mestre de guilda e o jornaleiro, numa palavra, o opressor e o oprimido, estavam em constante oposição um ao outro, travando uma luta ininterrupta, ora oculta, ora aberta, que terminava sempre, quer na reconstituição revolucionária da sociedade no seu todo, quer na ruína comum das classes em conflito. (Karl Marx)

Os marxistas definem a história como a batalha permanente entre as diferentes classes sociais, uma luta constante entre os grupos poderosos que controlam a riqueza e os recursos e os grupos impotentes que lutam para sobreviver sob o seu jugo económico. O mundo actual, com as suas enormes e inéditas disparidades entre riqueza e pobreza, poderá servir de modelo a essa teoria.

Assim, na perspectiva marxista, a economia torna-se o factor determinante na história, porque as teorias marxistas da história negam completamente os aspectos espirituais da humanidade, afirmando que todas as pessoas agem principalmente por interesse económico, e a religião apenas oprime ainda mais as massas. O comunismo tentou transformar esta filosofia da história numa sociedade sem classes e irreligiosa, mas na maioria dos casos esta tentativa falhou no palco mundial.

Os ensinamentos Bahá’ís reconhecem a existência de classes sociais e condenam os preconceitos económicos e de classe que lhes estão associados:

É o preconceito racial, patriótico, religioso e de classe que tem sido a causa da destruição da Humanidade. (‘Abdu’l-Bahá in London, p. 28)

A ordem mundial só pode ser fundada sobre uma consciência inabalável da unidade da humanidade, uma verdade espiritual que todas as ciências humanas confirmam. A antropologia, a fisiologia e a psicologia reconhecem apenas uma espécie humana, embora infinitamente variada nos aspectos secundários da vida. O reconhecimento desta verdade exige o abandono de preconceitos — preconceitos de toda a espécie — de raça, classe, cor, credo, nação, sexo, grau de civilização material, tudo o que permite às pessoas considerarem-se superiores às outras. (A Casa Universal de Justiça, The Promise of World Peace, p. 4)

Mas os ensinamentos Bahá’ís também alertam a humanidade para não criar “falsos deuses” a partir de algumas das teorias mais destrutivas da história, como o nacionalismo, o racismo e o comunismo:

O próprio Deus foi, de facto, destronado dos corações dos homens, e um mundo idólatra saúda e adora apaixonada e clamorosamente os falsos deuses que as suas próprias fantasias fúteis criaram fatuamente e as suas mãos mal guiadas tão impiamente exaltaram. Os principais ídolos no templo profanado da humanidade não são senão os triplos deuses do nacionalismo, do racismo e do comunismo, em cujos altares governos e povos, sejam democráticos ou totalitários, estejam em paz ou em guerra, sejam do Oriente ou do Ocidente, cristãos ou islâmicos, estão, de várias formas e em diferentes graus, agora a adorar. Os seus sumo-sacerdotes são os políticos e os doutores mundanos, os chamados sábios da época; o seu sacrifício, a carne e o sangue das multidões massacradas; os seus encantamentos, pregões antiquados e fórmulas insidiosas e irreverentes; o seu incenso, o fumo da angústia que emana dos corações dilacerados dos despojados, dos estropiados e dos desabrigados. (Shoghi Effendi, The Promised Day is Come, p. 113)

Na perspectiva Bahá’í, nenhuma teoria histórica do progresso da civilização que deixe completamente de fora o espírito humano e o seu Criador pode descrever completa e precisamente o passado, o presente ou o futuro:

Qualquer que seja o progresso feito pelo homem, ele necessita sempre do Poder do Espírito Santo, pois o poder do homem é limitado e o Poder Divino é ilimitado. (Bahá’u’lláh, citado por ‘Abdu’l-Bahá em Star of the West, Volume 2, p. 6)

Então, agora que já analisámos todas as seis teorias predominantes da história humana — a Teoria Cíclica, a Teoria Linear, a Teoria do Grande Homem, a Teoria do Povo, a Teoria Geográfica e a Teoria Marxista — qual delas acha que se enquadra com a realidade? Qual delas descreve melhor o longo caminho da nossa espécie até à civilização actual?

Antes de decidir qual destas teorias históricas mais gosta, ou se gosta de alguma delas, aqui fica uma pergunta. Voltemos ao conceito de Carlyle e pensemos um pouco mais sobre a questão do Grande Homem: de todos os indivíduos que já viveram — as pessoas mais influentes, homem ou mulher, na nossa história partilhada — quais tiveram o impacto mais duradouro e profundo na humanidade?

Entendeu? Agora, qual delas teve maior impacto em si pessoalmente? Pense nisso por uns tempos e voltaremos a falar do assunto.

Portanto, embora os Bahá’ís acreditem que a economia e a geografia têm um impacto profundo na história humana, os ensinamentos Bahá’ís afirmam que o espírito humano teve um impacto muito mais significativo ao longo do tempo. No próximo artigo desta série, examinaremos uma nova teoria Bahá’í da história que se baseia na importância da alma e do seu Criador.

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Texto original: Does Economics Determine Human History? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A Baha'i perspective on Aristotle, "the well-known man of knowledge"

This presentation is a brief look at the Greek philosopher Aristotle, his main ideas and teachings, and how they relate to Bahá’í teachings.
It is not a philosophical essay or an in-depth study of Aristotle.
My purpose is to show that many of the ideas of the “the well-known man of knowledge” are at the origin of Western cultural values and are “validated” by the Bahá’í Faith.

sábado, 13 de setembro de 2025

Deus é pessoal ou está para lá da compreensão humana?

Por Maya Bohnhoff.


O meu amigo do Facebook, Ari, começou a perguntar-me sobre o que eu acreditava ou pensava sobre um aspecto específico da religião. Entre as coisas que ele perguntou estava o conceito de um “Deus pessoal”. Eu acreditava nisso?

Na minha experiência, a definição de um Deus pessoal varia de grupo para grupo e até de crente para crente. Alguns grupos religiosos consideram que Deus é literalmente uma pessoa, tal como os humanos são pessoas — que Ele tem um corpo físico perfeito, mas está acima da natureza noutros aspetos. Para outros, o termo significa que Deus, qualquer que seja a Sua forma, é um Ser capaz de se relacionar com a Sua criação — especificamente, com os seres que Ele criou à Sua imagem.

Portanto, dependendo de como define "Deus pessoal", a minha resposta pode variar. Bahá’u’lláh ensina que Deus não é meramente um ser físico com uma componente espiritual, mas antes que Deus é, como nos dizem as escrituras, Espírito — um plano de existência diferente, não regido pelas leis que o Criador criou, tal como eu não estou limitada pelas leis dos mundos ou pelas personagens que crio nos meus livros.

Há consenso em muitas eras e em diferentes lugares da fé sobre a natureza de Deus. Vejamos alguns deles:

Deus é um e único, e nenhum outro existe com Ele. Deus é o Único, Aquele que criou todas as coisas. Deus é um espírito, um espírito oculto, o espírito dos espíritos, o grande espírito dos egípcios, o espírito divino… Ele existe desde o princípio, existe desde a antiguidade e existia quando nada mais existia... Deus é o Eterno... e sim — Deus está oculto e nenhum homem conhece a Sua forma... O Seu nome é um mistério para os Seus filhos... Deus é a Verdade, Ele vive pela Verdade, Ele alimenta-se dela, Ele é o Rei da Verdade e estabeleceu a Terra sobre ela.

Deus é vida, e só por Ele o homem vive. Ele dá vida ao homem, Ele lança o sopro da vida nas suas narinas. Deus é pai e mãe, o pai dos pais e a mãe das mães… O próprio Deus é existência. Perdura sem aumento nem diminuição… Deus fez o universo e criou tudo o que nele existe… O que o Seu coração concebeu realizou-se imediatamente. Quando Ele falou, aconteceu e permaneceu para sempre. (Papiro de Ani, escrituras egípcias)

Quem sabe verdadeiramente e quem pode aqui declarar de onde nasceu e de onde vem esta criação? Os deuses são posteriores à criação deste mundo. Quem sabe então de onde surgiu? Aquele, a primeira origem desta criação, quer a tenha formado ou não, cujo olho controla este mundo no céu mais elevado, ele sabe-o verdadeiramente. (Rig-Veda, Escrituras Hindu)

Mas o espírito mais elevado é outro: chama-se Espírito Supremo. Ele é o Deus da Eternidade que tudo permeia e tudo sustenta. (Bhagavad Gita, Escritura Hindu)

Escuta, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. (Tora, Escrituras Judaicas)

O Elemento (ou Causa) não tem princípio no tempo. É o fundamento comum de todos os dharmas (verdades). (Ratnagotravibhaga, Escrituras Budistas)

Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade. (Evangelho de João, Escrituras Cristãs)

Deus é o Criador de todas as coisas e o Guardião e Mestre de todos os assuntos. A Ele pertencem as chaves dos céus e da terra: e aqueles que rejeitarem os Sinais de Deus, serão os que sofrerão a perda. (Alcorão, Sura 39, Escrituras Islâmicas)

Para todo o coração perspicaz e iluminado, é evidente que Deus, a Essência incognoscível, o Ser divino, está imensamente elevado acima todos os atributos humanos, tais como existência corpórea, subida e descida, saída e regresso. Longe esteja da Sua glória que a língua humana celebre adequadamente o Seu louvor, ou o coração humano compreenda o Seu insondável mistério. Ele está, e sempre esteve, velado na eternidade antiga da Sua Essência, e permanecerá na Sua Realidade eternamente oculto da vista dos homens... (Bahá’u’lláh, Escrituras Bahá’ís)

Estas representam apenas uma pequena amostra das referências escriturais aos aspectos primordiais do Ser a que muitos de nós chamamos Deus, Brahman, Alá ou o Grande Espírito. Todos concordam em vários pontos: Deus é um Ser de um plano de existência diferente do nosso; não corpóreo, mas a essência do Espírito. Este Espírito é eterno e criou o universo em que habitamos. Deus é, como escreveu Bahá'u'lláh, "a Essência incognoscível" que deseja ser conhecida.

Se a existência corpórea é um requisito para um "Deus pessoal", então os Bahá'ís não acreditam nisso. Mas Bahá’u’lláh, tal como os mensageiros divinos que o antecederam, ensinou sobre a necessidade de uma relação entre as almas dos seres humanos e o Espírito de Deus. Bahá’u’lláh refere-Se frequentemente a esta relação como a relação entre um amante e o Amado — um amor profundo, verdadeiro e eterno.

É claro que qualquer concepção humana de Deus se limita ao que nós, humanos, podemos imaginar. Isto significa que a crença de cada um é única... e inerentemente imperfeita. É porque Deus deseja ser conhecido, que profetas como Krishna, Cristo, Bahá’u’lláh e outros vêm ao nosso mundo para nos ajudar a compreender a vida, o universo e tudo o resto.

Suponho que se poderia dizer que para os Bahá’ís são cartas do Amado.

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Texto original: Is God Personal or Beyond Human Comprehension? (www.bahaiteachings.org)

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Secretário-Geral da ONU condena crescente perseguição aos Bahá'ís no Irão

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, classificou a perseguição aos Bahá’ís no Irão como uma das mais graves preocupações de direitos humanos do mundo, no seu mais recente relatório global sobre a intolerância e a violência baseadas na religião ou na crença. Este relatório sublinha que a perseguição aos Bahá’ís é uma política sistemática e de longa data de repressão religiosa que exige uma atenção internacional urgente.

Os Bahá’ís da República Islâmica do Irão continuam a enfrentar detenções arbitrárias, encarceramento e restrições no acesso à educação e aos meios de subsistência, visando exclusivamente as suas crenças religiosas”, refere o relatório. “As autoridades invocam rotineiramente acusações vagas, como ‘divulgar propaganda contra o regime’, para criminalizar as actividades comunitárias pacíficas. Os direitos dos Bahá’ís, incluindo o de manifestar a sua religião ou crença, permanecem severamente restringidos”.

O relatório do Secretário-Geral tem um peso especial, pois é publicado em nome da ONU e reflecte uma visão consensual ao mais alto nível da comunidade internacional. O seu reconhecimento confirma a perseguição aos Bahá’ís pelo Irão como parte integrante da agenda global, desmontando as repetidas negações do governo iraniano sobre violações dos direitos humanos nas suas intervenções nas Nações Unidas.

Este é mais um poderoso reconhecimento, vindo dos mais altos níveis da ONU, de que a perseguição aos Bahá’ís por parte do Irão não só continua, como também se intensifica”, afirmou Simin Fahandej, representante da Comunidade Internacional Bahá’í na ONU, em Genebra. “A voz do Secretário-Geral junta-se agora à da Missão de Investigação da ONU sobre o Irão, dos sucessivos Relatores Especiais, da Human Rights Watch, do Conselho dos Direitos Humanos e de muitos governos e organizações de todo o mundo, que condenaram esta campanha governamental para apagar toda uma comunidade da sociedade iraniana.

As conclusões do Secretário-Geral somam-se ao crescente clamor internacional contra a perseguição aos Bahá'ís no Irão. A Missão de Investigação da ONU relatou, por exemplo, a perseguição desproporcional  de mulheres Bahá'ís desde a revolta de 2022, enquanto o ex-Relator Especial do Irão, Javaid Rehman, concluiu que a perseguição aos Bahá'ís foi realizada com "intenção genocida". Dezoito especialistas da ONU emitiram também uma declaração conjunta condenando os ataques às mulheres Bahá'ís, e a Human Rights Watch afirmou que a perseguição equivale ao "crime de perseguição contra a humanidade". A Fundação Boroumand, no seu relatório "outsiders", documentou "violência multifacetada" contra os Bahá'ís no Irão, que vai desde a prisão e expropriação até à exclusão social.

"As provas são contundentes e a comunidade mundial está a falar a uma só voz para acabar com a perseguição aos Bahá'ís no Irão", afirmou Fahandej. "Os Bahá’ís do Irão estão a ser alvo de hostilidades patrocinadas pelo Estado, expropriação dos seus bens, discursos de ódio, detenções arbitrárias e longas penas de prisão. O Irão deve responder imediatamente aos apelos da comunidade internacional e pôr fim às graves violações dos direitos humanos fundamentais contra os Bahá’ís no país."

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FONTE: UN Secretary-General condemns escalating persecution of Bahá’ís in Iran (BIC)