sexta-feira, 30 de abril de 2004

Liberdade de Culto

Não vivi o 25 de Abril como bahá’í. Apenas me tornei bahá’í em 1984. Do contacto com os bahá’ís mais velhos, percebi sempre que o 25 de Abril foi recebido com grande alívio.

Durante o anterior regime, a pressão sobre a Comunidade Bahá’í foi grande. Em Lisboa, o Centro Bahá’í foi várias vezes "visitado" pela PIDE, e muito material (livros, cartazes, máquinas de escrever) foi confiscado. A maioria dos crentes tinham sempre receio de falar da Fé a alguém que não conhecessem.

Nas chamadas "províncias ultramarinas", os problemas não era muito diferentes. Além do caso de Duarte Marques Vieira houve na Guiné casos de crentes que foram privados de cuidados médicos, crentes que recebiam ordem de expulsão para a metrópole. Em Angola, a polícia política também desconfiava das actividades bahá’ís; chegou mesmo a efectuar detenções.

Alguns dos crentes mais "entradotes" têm histórias bem interessantes das actividades nesses tempos junto das aldeias africanas.

Só após a revolução (mais precisamente, em 1975), a Comunidade Bahá’í de Portugal conseguiu obter o tão desejado reconhecimento jurídico; as actividades ganham novo fôlego, e os crentes deixam de ser perseguidos ou incomodados por causa das suas convicções ou actividades. As facilidades de deslocação ao estrangeiro permitem ainda maior contacto com outras comunidades da Europa e do Brasil. Em 1979, a revolução iraniana trouxe para Portugal algumas dezenas de refugiados bahá’ís; alguns ficaram por cá; prosperaram e dinamizaram a comunidade.

Mas esta liberdade de culto e de associação que imediatamente se sentiu em Portugal tardou em chegar aos povos africanos que viviam sob a ditadura portuguesa. Para eles a administração colonial foi substituída por outros regimes totalitários. As comunidades bahá’ís nesses novos países sentiram novas dificuldades; em alguns casos as actividades eram proibidas e alguns crentes chegaram a ser perseguidos.

No final da década de 80 a situação política nesses países começou a evoluir e a situação dessas comunidades começou a melhorar. Os governos começam a tolerar as actividades bahá’ís; os crentes deixam de ser alvo de suspeitas políticas. “Pioneiros” de Portugal e do Brasil chegaram àqueles países para dinamizar e reanimar aquelas comunidades.

Só em 1992, numa celebração do Centenário do falecimento de Bahá'u'lláh em Haifa, encontrei bahá’ís angolanos; era a primeira vez que podiam viajar em grupo para o exterior. Na altura tive a oportunidade de conhecer uma das mais antigas bahá’ís angolanas; estava profundamente emocionada por finalmente ter visto uma foto de Bahá'u'lláh.

Nesse mesmo ano, no Congresso Mundial de Nova Iorque, encontrámos bahá’ís moçambicanos; fizemos questão de fossem entrevistados para um programa da TV portuguesa. Nesse mesmo congresso, ao serem anunciados todos os países presentes notámos que todos os países africanos que língua portuguesa tinham crentes ali presentes.

A liberdade de culto e de associação, prometida pelo 25 de Abril, só chegou mais tarde aos povos africanos. Mas chegou! Graças a Deus.

quinta-feira, 29 de abril de 2004

Sorriam: vem aí a Luvânia

Será que isto é o reflexo da cultura geral de um povo?

No Reino Unido fizeram uma sondagem telefónica sobre a adesão de novos países à União Europeia. Nessa sondagem era pedido aos entrevistados que identificassem os 10 países que vão aderir à União, no próximo dia 1 de Maio. Por brincadeira acrescentaram um país fictício: a Luvânia.

Cerca de 10% dos inquiridos afirmaram que a Luvânia era um dos novos membros da UE. Outro facto curioso é que 15% dos inquiridos afirmaram que a Áustria é um desses novos países membros (aderiram em 1995!).

Gostaria de ver o resultado se uma sondagem semelhante fosse feita em Portugal.

S.Paulo de Piratininga

Como se constroi uma metrópole?
A propósito dos 450 anos da cidade de S. Paulo, o Estadão apresenta trabalhos muito interessantes aqui e aqui.

quarta-feira, 28 de abril de 2004

Uma foto pouco conhecida



A foto publicada a propósito da efeméride de ontem é muito conhecida entre os Bahá’ís. É frequentemente entendida como um testemunho da consideração que o Império Britânico tinha pelo trabalho de 'Abdu'l-Bahá.

O Mestre (também gostamos de O chamar assim) não se furtava a contactos com representantes ou dignatários de qualquer nação. Além dos contactos com as autoridades Otomanas, recebia com frequência delegações estrangeiras que visitavam a Palestina. Durante as suas viagens à Europa e aos Estados Unidos também existiram contactos desses que foram testemunhados por alguns crentes

A foto seguinte é pouco conhecida, mesmo entre os Bahá’ís;mostra-nos 'Abdu'l-Bahá recebendo oficiais alemães que visitavam a Palestina. Infelizmente, desconheço a data em que a foto foi tirada e as circunstâncias da visita daqueles oficiais alemães.

terça-feira, 27 de abril de 2004

Há 84 anos...




Na tarde de 27 de Abril de 1920, no jardim da residência do Governador Militar de Haifa, 'Abdu'l-Bahá recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico. Era um reconhecimento pelo Seu trabalho humanitário durante a 1ª Guerra Mundial; nesses anos 'Abdu'l-Bahá tinha apoiado desalojados e coordenado a produção e distribuição de alimentos na Palestina. Aceitou essa honra como uma oferta de um "rei justo", mas nunca usou esse título.


Os anos da 1ª Guerra Mundial foram de enorme ansiedade e aflição na Palestina. Pouco depois do Império Otomano entrar na guerra, os britânicos ocuparam Bassorá e proclamaram um protectorado sobre o Egipto; os árabes, a maior minoria étnica no Império, começam a ser incitados à revolta e a instabilidade política e social alastra-se por toda a parte.

Na Terra Santa, as autoridades tornavam-se cada vez mais repressivas; as preocupações centram-se cada vez mais nas medidas militares e políticas; as necessidades básicas das populações são esquecidas. Quando os rumores de possíveis bombardeamentos aliados às cidades de Haifa e Akká se tornam mais insistentes, 'Abdu'l-Bahá retira-se para uma aldeia drusa de Abu-Sinan, a leste de ‘Akka.

As comunicações com o Ocidente e com a Pérsia ficam cortadas. 'Abdu'l-Bahá sente-Se isolado do mundo; ocupa-Se então na coordenação da distribuição de alimentos às populações mais necessitadas. Aconselha alguns crentes sobre a produção de alimentos em propriedades no vale do Jordão e junto ao lago Tiberíades.

Fruto deste ambiente de enorme tensão social e intriga política, as relações de 'Abdu'l-Bahá com o governador militar Jamal Pashá, oscilam; existiram alguns encontros de enorme cordialidade e gentileza por parte do Governador, mas também se sabe que Jamal Pashá, ameaçou várias vezes que crucificaria 'Abdu'l-Bahá depois de derrotar os britânicos.

A guerra aproxima-se da Terra Santa; em Março de 1917 Bagdade é capturada pelos britânicos; em Dezembro do mesmo ano, o General Allenby ocupa Jerusalém; o fim do domínio Otomano na Palestina parece aproximar-se. Mas o avanço britânico atrasa-se devido a falta de homens e munições.

As ameaças à vida de 'Abdu'l-Bahá aumentam. Alguns Bahá’ís conseguem sensibilizar o estado-maior britânico no Egipto, no sentido de se fazerem todos os esforços para preservar a vida de 'Abdu'l-Bahá.

Em 23 de Setembro de 1918, as tropas britânicas contornam o Monte Carmelo e entram em Haifa, sem encontrar resistência. No acto de rendição do governador de Haifa, a primeira questão que o comandante britânico lhe coloca é "'Abdu'l-Bahá está na cidade? Ele está bem?" O Mestre estava calma e tranquilamente sentado no pátio da Sua casa.

domingo, 25 de abril de 2004

Um tanque à porta do Quartel-General

Como em todas as famílias portuguesas, na minha também cada pessoa com mais de 40 anos tem a sua história sobre o 25 de Abril.

Na época alguns familiares meus estavam na tropa; um deles estava mesmo em Santarém com o Salgueiro Maia e veio até Lisboa. Entre as histórias que já nos contou algumas vezes disse-nos que um dos maiores receios dessa coluna militar que vinha de Santarém era a possibilidade de alguma das panhards se avariar; isso acontecia sempre que saiam para exercícios, e os carros acabavam por ter de ser rebocados de volta para o quartel.

Eu tinha 10 anos e lembro-me de acordar com o toque do telefone cerca das 6 da manhã. Um tio avisava-nos para "não deixar os pequenos ir à escola porque andam barulhos na rua". Quando me deram essa explicação percebi que teria alguma coisa a ver com a tropa.

Mas a história mais curiosa que ouvi até hoje foi-me contada por um primo meu que estudava em Lisboa, e vivia numa residencial de estudantes na Av. Duque d’Ávila. Nesse dia, de manhã cedo, alguém gritou alto e bom som: "ESTÁ UM TANQUE À PORTA DO QUARTEL-GENERAL!!!". Todos se levantaram em grande reboliço. Uns foram à varanda e outros vieram para a rua; os olhares concentravam-se para a extremidade da Avenida onde estava o tanque.

Após a surpresa inicial, começaram a questionar-se: "Quem estará a dar o golpe? Será golpe de direita ou de esquerda?"” A Emissora Nacional estava calada; apenas o Rádio Clube ia repetindo um comunicado que não respondia a esta questão crucial. Quando souberam que o governo estava cercado no Largo do Carmo, decidiram ir no carro de um deles até ao local dos acontecimentos.

Assim um grupo de quatro ou cinco estudantes meteu-se no carro e lá foi. No caminho, porém, são parados por uma barreira militar. Um soldado dirige-se ao condutor e diz-lhe que não podem prosseguir porque decorrem operações militares naquela zona da cidade e, portanto, teria de fazer meia-volta.

Este afastamento dos acontecimentos deixou a maioria deles desapontados; mas um deles sossegou-os quanto à dúvida: "Se o soldado foi tão bem educado a falar connosco, é porque o golpe é de esquerda". E com este raciocínio ficaram mais tranquilos.

Esta maneira de pensar sobre a esquerda e a direita é das mais curiosas que ouvi até hoje.

Quddus

A propósito da destruição do Santuário de Quddus no Irão, tentei recolher alguma informação sobre Quddus. Servi-me da obra de H. Balyuzi The Báb e de alguns textos da Bahá’í Library On-line. Tentei enquadrar a sua história no contexto do movimento Bábí, e apresento alguns episódios da sua vida. Se alguém quiser acrescentar algum aspecto ou episódio relevante, basta enviar-me um email.

Tentei ainda preencher o texto com fotos ou ilustrações dos locais referidos. Uma cópia original de uma epistola escrita pelo Báb e enviada a Quddus encontra-se aqui.

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O MOVIMENTO BÁBÍ
As décadas de 30 e 40 do Século XIX assistiram ao aparecimento de movimentos messiânicos em muitos países. A Pérsia foi abalada pelo chamado "movimento Bábí". Tratava-se de uma nova religião fundada por um mercador de Shiraz, que advogava o surgimento do mensageiro prometido por todas as religiões do passado. Esse jovem mercador ficou conhecido pelo título de "Báb"(que significa “A Porta”); os ensinamentos espirituais e os princípios éticos e morais que estavam associados à Sua Mensagem despertaram paixões e ódios naquele país.

A agitação social, com a sua dose de perseguições e martírios, foram testemunhadas por vários ocidentais. A vida e o martírio do Báb, o fundador do "movimento Bábí" não passaram despercebidos no Ocidente. Sarah Bernard, Leon Tolstoi e até o nosso Eça de Queirós revelaram nas suas obras simpatia pela causa Bábí.

Na história da religião Bahá’í, o Báb é frequentemente comparado com João Baptista; tal como aquela “voz que bradava no deserto” e que baptizava nas águas do Jordão, também ele antevia o aparecimento de um novo profeta libertador da humanidade.

Os primeiros discípulos do Báb formaram uma espécie de núcleo central da comunidade Bábí; depois dos primeiros contactos com o seu Profeta espalharam-se pela Pérsia para espalhar a nova Mensagem. Nesse primeiro grupo de discípulos há nomes que de alguma forma se destacam: Mullá Hussayn, o primeiro discípulo, Tahirih, uma poetisa e Quddus, o mais jovem e o último a juntar-se ao grupo.

QUDDUS
Mullá Muhammad-Ali, que mais tarde ficaria conhecido pelo título de Quddus (significa “O Mais Santo”) nasceu numa cidade perto do Mar Cáspio. Era órfão de pai e em jovem tinha ingressado numa escola religiosa ligada às correntes messiânicas da época.

Na véspera da chegada de Quddus a Shiraz, o Báb anunciou a Mullá Husayn (o primeiro discípulo) que no dia seguinte chegaria alguém cuja aceitação da nova revelação completaria o conjunto inicial de discípulos.



No dia seguinte, o Báb e Mullá Husayn regressavam a casa, quando encontraram Quddus; o jovem tinha aspecto de quem acabava de fazer uma longa viagem. Quddus, que conhecia Mullá Husayn dos tempos de estudante nas escolas messiânicas, abordou-o e perguntou-lhe se já tinha encontrado o objecto da sua busca. Surpreendido e atrapalhado com a questão, Mullá Husayn tentou fugir à pergunta. Quddus retorquiu: "Porque tentas escondê-Lo de mim? Consigo reconhecê-Lo pela Sua postura." Mullá Husayn dirigiu-se ao Báb e contou-lhe o sucedido. O Báb respondeu: "Não vos admireis do seu estranho comportamento. No mundo do espírito comunicámos com este jovem. Já o conhecemos..."

A partir daquele momento, Quddus juntava-se ao grupo dos primeiros discípulos do Báb.

PEREGRINAÇÃO
Alguns meses depois, o Báb decidiu realizar uma peregrinação a Meca. Para o acompanhar escolheu Quddus; Mullá Husayn foi enviado para Teerão para entregar a mensagem a Bahá'u'lláh. No início de Outubro de 1844, um barco levando peregrinos saiu do porto de Bushir em direcção a Jeddah, na Arábia.

Alguns passageiros nesse barco testemunharam as actividades do Báb e Quddus; descrevem como o Báb estava sempre discursando e Quddus tentava escrever todas as Suas palavras. Mesmo num momento em que uma forte tempestade envolveu o navio e os passageiros ficaram em pânico, os dois pareciam alheados do mundo que os rodeava. Uma das principais preocupações de Quddus era o registo e preservação das palavras proferidas pelo Báb.

Chegados a Jeddah, dirigiram-se a Meca, onde cumpriram os rituais da peregrinação. Cumpridos os rituais, o Báb aproximou-se da porta da Kaaba; aí, voltou-se para o grupo de peregrinos que por ali circulavam e disse numa voz clara: "Eu sou o Qa’im, cujo advento vocês têm aguardado".

Ainda em Meca, o Báb revelou e enviou uma epístola ao Sherif da Cidade; nessa epístola anunciava a sua posição divina e proclamava a sua mensagem. Quddus foi encarregue de entregar essa mensagem; o Sherif ignorou-a.

De regresso da peregrinação, em Fevereiro/Março de 1845, na cidade portuária de Bushir, o Báb anunciou a Quddus que tinha chegado o momento de se separarem:

"Os dias na Nossa companhia estão a terminar. A hora da separação aproxima-se, uma separação que não será seguida por qualquer reencontro salvo no Reino de Deus, na presença do Rei da Glória."

Quddus dirigiu-se a Shiraz, levando uma carta para o tio do Báb. Ao ouvir os relatos feitos por Quddus sobre as actividades do Báb, os Seus ensinamentos e a Sua peregrinação, o tio aderiu à causa Bábí.

BADASHT
Em Julho de 1848, quando Báb estava encarcerado, os bábis (seguidores do Báb) reuniram-se na vila de Badasht; este encontro – que ficou conhecido como Conferência de Badasht – tinha um objectivo essencial: esclarecer entre todos os participantes se a mensagem babí era apenas uma reforma do Islão ou uma nova religião.



Quddus e Bahá'u'lláh concordavam que era chegado o momento de esclarecer todos que se tratava de uma nova revelação divina. As suas opiniões prevaleceram.

O assumir do movimento Bábí como uma nova religião num país agrilhoado às leis ortodoxas do Islão, era um risco muito grande. Se nos meses anteriores os bábís tinham enfrentado uma oposição esporádica, agora iam deparar com umas perseguições sangrentas. Logo no regresso de Badasht a maioria dos participantes foi atacada.

Na sequência desse ataque Quddus foi preso e entregue a um clérigo muçulmano. No final de 1848 seria libertado após alguns contactos efectuados por Mullá Husayn, a conselho de Bahá'u'lláh.

PERSEGUIÇÕES E MARTÍRIO
Com a posição assumida em Badasht, irrompem perseguições por toda a Pérsia. O carácter brutal destas impressiona profundamente representantes diplomáticos e correspondentes de jornais estrangeiros na Pérsia.



Alguns episódios dessas perseguições levaram mesmo os bábís a pegar em armas para se defenderem; Nayriz, Zanjan e Shaykh Tabarsi são os locais onde ocorrerem os mais significativos massacres.

Quddus estava entre os Bábís capturados no incidente de Shaykh Tabarsi. Em Maio de 1849, foi levado para a sua cidade natal, Barfurush. Aí foi entregue a um sacerdote que tinha fama de sanguinário. Depois de feitas as acusações, foi sujeito a torturas brutais; no meio da sua agonia e do divertimento dos carrascos, ouviram-lhe as seguintes palavras:

"“Perdoa, ó meu Deus, os pecados destas pessoas. Acolhe-os na Tua misericórdia pois eles ainda não conhecem o que nós descobrimos e estimamos."

No dia 16 de Maio, na praça central da cidade, foi morto a golpes de machado. Seguidamente, o seu corpo desmembrado foi alvo da ira popular e posteriormente lançado numa fogueira. À noite, o que restava do seu cadáver foi recolhido por um habitante da cidade, que o colocou num túmulo digno.

Os escritos de Quddus são muito apreciados por alguns Bahá’ís. Alguns originais dos escritos de Quddus estão hoje no Museu Britânico, em Londres. É frequentemente referido como um dos grandes heróis da Fé Bahá’í.

sábado, 24 de abril de 2004

Apenas Palha

Durante muitos anos assinei os meus e-mails com uma frase de S. Tomás de Aquino: "Tudo que escrevi foi apenas palha." Esta frase suscitava alguns comentários bem divertidos dos destinatários. Por vezes apenas aquela frase na assinatura chegava para pôr em causa todo o conteúdo da mensagem.

Esta frase tem suscitado muitas e diversas interpretações; algumas pessoas entendem-na como uma negação de S. Tomás em relação à sua própria obra; outras preferem interpretá-la como um reconhecimento da insignificância de qualquer palavra proferida por um ser humano, perante a grandeza e o poder da Palavra de Deus.

Prefiro esta segunda interpretação. Nas escrituras sagradas podemos ver exemplos do poder da palavra divina, na forma como influenciou e transformou consciências, sociedade e nações. Foi pela influência da Palavra de Deus que os inimigos da fé se transformam em defensores e mártires da religião; foi pela influência da Palavra que sociedades tribais se transformaram em nações organizadas e prósperas.

Nas escrituras Bahá'ís, afirma-se que a Palavra de Deus é tão poderosa que Deus apenas teve de pronunciar a palavra "Sê" (forma do verbo ser) para chamar toda a criação à existência. É, obviamente, uma imagem figurativa do poder da Palavra, que nos leva a reflectir. Se uma pequena palavra tem assim tanto poder, imagine-se uma epístola ou um livro sagrado!

As palavras dos seres humanos também podem ter uma influência poderosa; podem destruir uma reputação ou criar a fama de uma pessoa; podem incutir sensações, desejos e afectos.

A blogosfera está repleta de palavras. O que aconteceria se entre estas surgisse um blog de autoria do próprio Deus?

Como iriam as palavras humanas reagir à presença e influência das palavras divinas? Como iriam reagir os blogs mais conhecidos?

É divertido imaginar algumas reacções:

O Abrupto elaboraria sobre influências políticas desse blog e incluiria alguns Salmos nos Early Morning Blogs?
O BDE quereria saber que partido tinha Ele tomado na Guerra do Iraque?
O Blasfémias tentaria classificá-lo na sua tabela do Blasferas?
O Barnabé iria insistir que Ele era de esquerda e tratá-lo por "Camarada"?
O Jumento iria logo demonstrar que Deus tinha impostos em atraso?
A Ana Gomes iria denunciá-lo por passividade durante a crise de Timor?
O Blog 19 iria pedir a intervenção d'Ele em milhares e milhares de casos de violação de direitos humanos?

É difícil conter um sorriso ao especular sobre possíveis reacções dos diferentes blogs. No fundo, a grande questão seria saber com que rapidez iríamos reconhecer que as nossas palavras (não apenas na blogosfera!) são apenas palha, perante o poder e influência da Palavra Divina.

sexta-feira, 23 de abril de 2004

Santuário Bahá’í destruído no Irão

Recebi hoje esta notícia. Tem data de 22 de Abril. É um dia triste para mim.
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Em Nova Iorque, a Comunidade Internacional Bahá’í tomou conhecimento que autoridades iranianas destruíram um local sagrado para os bahá’ís.

O santuário de Quddus, uma figura proeminente nos primeiros anos da história bahá'í, foi completamente destruído, apesar dos protestos dos bahá’ís a nível locai e internacional.

"A destruição e profanação deste local sagrado foi efectuado com o conhecimento do governo iraniano, ao qual já tinham sido feitos repetidos apelos sobre este assunto", informou Bani Dugal, a representante da Comunidade Internacional Bahá'í nas Nações Unidas.

"Este acto representa mais um exemplo da constante perseguição à comunidade bahá’í do Irão (que conta com mais de 300.000 pessoas), facto que contradiz as declarações do governo iraniano, segundo o qual a situação dos direitos humanos no país está a melhorar", afirmou Dugal.

A destruição do santuário iniciou-se em Fevereiro mas foi temporariamente suspensa depois dos bahá’ís terem exigido a apresentação de uma autorização legal para o trabalho de demolição

Os bahá’ís contactaram as autoridades locais e por uns tempos parecia que os trabalhos tinham sido suspensos. Mais recentemente descobriram que o trabalho de demolição do santuário tinha prosseguido de forma encoberta durante alguns dias até que a estrutura foi totalmente demolida.

Neste santuário estavam os restos mortais de Mulla Muhammad-'Ali Barfurushi, conhecido como Quddus (O Mais Sagrado). Quddus foi um dos principais discípulos do Báb, o Profeta–Arauto da Fé Bahá’í.

"O mínimo que o governo iraniano pode fazer neste momento é entregar à comunidade bahá’í os seus restos mortais" disse Dugal. "Pedimos o apoio da comunidade internacional para este objectivo".

A Srª Dugal acrescentou que a destruição do santuário surgiu pouco depois da comunidade internacional não ter obtido o consenso para aprovar uma resolução sobre a situação dos direitos humanos no Irão.

Desde a fundação da Republica Islâmica do Irão em 1979, mais de 200 bahá'ís foram mortos por autoridades governamentais. Centenas foram encarcerados, milhares foram privados das suas propriedades, de acesso ao ensino, expulsos dos empregos, apenas devido às suas convicções religiosas.

As mortes e os aprisionamentos diminuíram nos últimos anos, como resultado dos protestos internacionais, nomeadamente de uma série de resoluções da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDHNU).

Nos últimos dois anos o CDHNU não conseguiu aprovar uma resolução sobre o assunto devido a esforços das autoridades iranianas que dizem querer "dialogar" com as nações Ocidentais.

"Infelizmente" disse a Srª Dugal "os Bahá'ís no Irão ainda enfrentam no seu dia a dia, uma privação sistemática dos seus direitos como cidadãos iranianos – não apenas em termos de direitos civis e políticos, mas também em termos de direitos sociais, culturais e económicos".

quinta-feira, 22 de abril de 2004

Os Sauditas e as Mulheres

A maioria as pessoas com bom senso não faz generalizações; as generalizações e os preconceitos são uma parvoíce. São ideias pré-concebidas sobre algo ou alguém. Podem ser tão fortes que nos impeçam de ver a realidade. Mas é quase impossível não ter preconceitos sobre qualquer coisa ou sobre alguém. Não falta quem pense (e diga ou escreva!) que todos os americanos são tolos porque existe um americano muito conhecido que é tolo; e isso pode-se passar com qualquer um de nós e em relação a qualquer povo. Eu também tenho a minha quota de preconceitos (esforço-me para a minimizar, mas enfim...)

Sinceramente, acho que já há algum tempo que tenho preconceitos em relação aos sauditas. Na verdade, nunca estive na Arábia Saudita, nem conheço pessoalmente nenhum saudita; mas o tipo de notícias nos jornais e reportagens que vamos assistindo na TV começam a criar em mim uma ideia muito feia sobre aquela sociedade. Os jornais descrevem aquele reino como uma sociedade feudal, fechada sobre si própria e profundamente conservadora e intolerante. Várias reportagens na TV mostram um país que trata mal os emigrantes, que persegue minorias religiosas, mostram um país onde as mulheres não têm direitos e as peregrinações a Meca transformaram aquela Cidade Santa num enorme Centro Comercial.

Será a Arábia Saudita mesmo assim? Não consigo responder com toda a imparcialidade a esta pergunta, mas confesso que simpatizo cada vez menos com aquela sociedade. É triste, mas tenho de admitir que tenho preconceitos contra os sauditas: sempre que eles são referidos, lembro-me de uma frase de D.H.Lawrence que dizia admirar os árabes do deserto pela sua honradez e valentia, e detestar os árabes das cidades pela sua corrupção e imoralidade

Sei que posso estar a ser injusto com muitos sauditas, mas no meu sub-consciente a palavra "saudita" é quase um sinónimo de "corrupto" ou de gente com "mentalidade medieval". Para mim, isto é particularmente chato, pois a abolição de todo o tipo de preconceitos é um princípio bahá'í.

Então, vamos lá a tentar ser objectivos e imparciais:

Nos últimos dias o caso de violência doméstica envolvendo uma conhecida apresentadora da TV Saudita assumiu proporções mediáticas (ver BBC).

A Sra. Rania al-Baz foi espancada pelo marido, um cantor desempregado. A violência da agressão valeram-lhe múltiplas fracturas na face. Esta senhora, decidiu permitir que os jornais a fotografassem, com o objectivo de chamar a atenção para as imensas situações de violência doméstica a que as mulheres sauditas estão sujeitas. Foi a primeira vez naquele reino que um caso de violência doméstica recebeu atenção dos media.
Passados uns dias, o marido desta senhora foi preso e acusado de tentativa de homicídio (ver BBC e ArabNews).

É verdade que a mediatização deste caso parecem indicar que algo está a mudar naquele reino. Casos de violência doméstica, de violação, de pedofília ou de SIDA têm sido até hoje ignorados pelos media sauditas.

Será isto o início de uma verdadeira mudança de mentalidades? Se sim, então a que velocidade ocorrem essas mudanças? Quanto tempo mais terão de esperar as mulheres sauditas por liberdade e igualdade de direitos? Não desejo que os sauditas abdiquem da sua cultura ou se ocidentalizem; apenas gostava que respeitassem os Direitos Humanos. Será pedir muito?

quarta-feira, 21 de abril de 2004

'Akka no canal Odisseia

Um destes dias, uma insónia do meu filhote levou-me para a sala. Pousei-o no chão, no meio de brinquedos e acendi a televisão. Comecei um zapping e parei no Odisseia. Estavam a dar um documentário sobre 'Akká (S. João do Acre): a construção da fortaleza pelos cruzados, a conquista de Saladino, o império Otomano, os britânicos… Com o pimpolho a brincar não deu para prestar muita atenção. Pode ser que um dia destes repitam o programa.

Foi na cidade de 'Akká que Bahá'u'lláh esteve preso durante o Seu último exílio; na altura a Palestina era uma província do Império Otomano. Faleceu ali perto, em 1892. Os locais onde residiu são hoje locais de peregrinação dos bahá’ís. É curioso que a Terra Santa é geralmente conhecida como Terra Santa de três grandes religiões: Judaísmo, Cristianismo e Islão. Na verdade, também é Terra Santa para os Bahá’ís.

A foto seguinte foi tirada no início do século XX e mostra a cidade de ‘Akká.


terça-feira, 20 de abril de 2004

A Primeira Páscoa

Continuando o tema da Ressurreição...

A interpretação Bahá'í sobre a ressurreição é uma interpretação implícita nas interpretações iniciais e reflecte o simbolismo original do Novo Testamento. O corpo de Jesus permanece enterrado na antiga cidade de Jerusalém; é um facto afirmado por 'Abdu'l-Bahá em várias das Suas palestras e uma conclusão a que chegaram um bom número de Cristãos modernos. Aceitar isto, porém, de modo algum deprecia o verdadeiro milagre da ressurreição. Pessoalmente, aceito este milagre: o milagre da regeneração da fé cristã após a crucificação do seu Fundador, e a "morte" espiritual temporária dos apóstolos.

A interpretação literal dos relatos da ressurreição contidos dos Evangelhos pode suscitar muitas dificuldades se compararmos cuidadosamente todos os relatos. No livro The First Easter. What Really Happened?, de Hubert Richards são formuladas uma série de questões, não com o objectivo de "ridicularizar o texto", mas para permitir aos cristãos descobrir o verdadeiro propósito das narrativas.

-- "Quando, exactamente, teve lugar o funeral de Jesus? (João diz que o corpo ficou preparado na Sexta-feira à noite; Lucas afirma que as especiarias ficaram prontas ao anoitecer de Sexta-feira; Marcos diz que estes não foram trazidos antes do anoitecer de sábado) Como é que o corpo foi enterrado? (selado e guardado de acordo com Mateus; por embalsamar e não-selado segundo Marcos e Lucas)

-- Em que momento do Domingo é que a primeira testemunha foi ao túmulo? (João diz que ainda era escuro; em Mateus e Lucas era a alvorada; em Marcos foi depois do nascer do sol) Quem eram estas duas testemunhas? (as duas Marias, segundo Mateus; com Salomé, de acordo com Marcos; com Joana e outras segundo Lucas; apenas Maria Madalena de acordo com João, apesar dela falar no plural) Elas viram a pedra ser removida (Mateus) ou quando chegaram isto já tinha acontecido (Lucas, Marcos, João)?

-- O que é que elas viram ali? Um anjo (Mateus, Marcos) ou dois (Lucas, João)? No exterior do túmulo (Mateus) ou no interior (Marcos, Lucas, João)? Como é que estes anjos não eram visíveis quando o túmulo foi visitado ao mesmo tempo por Pedro (Lucas) e João (João)? As mulheres entraram no túmulo antes de ouvirem a mensagem do anjo (Marcos, Lucas) ou depois (Mateus)? Qual era a mensagem que elas tinham de entregar aos discípulos - que o Jesus ressuscitado iria, muito em breve, aparecer perante eles (Lucas, João), ou apenas mais tarde, na Galileia (Mateus, Marcos)? Com estas notícias eles ficaram cheios de medo e não disseram a ninguém (Marcos) ou ficaram cheios de alegria e disseram imediatamente a todos os discípulos (Mateus, Lucas, João)?"

segunda-feira, 19 de abril de 2004

A Ressurreição de Cristo

Falemos sobre o tema fulcral do Cristianismo: a ressurreição. Pessoalmente acredito na ressurreição de Jesus, apesar de não a interpretar no seu sentido literal ou corpóreo.

Na perspectiva bahá'í, após a crucificação, a ressurreição consiste no facto dos discípulos compreendem grandeza espiritual de Cristo, e perceberem que Ele era eterno na Sua existência. É isto que é descrito simbolicamente no Novo Testamento e tem sido mal compreendido. Esta ressurreição espiritual dos primeiros discípulos, este fortalecimento da sua fé tornou-se o dínamo impulsionador da vitalidade de uma igreja que influenciaria a história da humanidade durante muitos séculos.

Temos de ter presente que os Evangelhos não são um relato histórico fidedigno da vida de Jesus; devem ser visto como um testemunho de uma vivência de fé registado por pessoas com mentalidade e cultura totalmente diferente das nossas. Assim se compreende que nas narrativas dos Evangelhos sobre a ressurreição (ver Mt 27:57ss; Mc 15:42ss; Lc 23:54ss; Jo 19:38ss;) não exista qualquer descrição directa da ressurreição de Jesus, nem se apresente um relato global consistente dos acontecimentos que levaram à ressurreição da fé entre os discípulos de Jesus.

Várias tradições cristãs foram utilizadas de um modo único por cada um dos autores dos quatro Evangelhos. A convicção essencial de que a mensagem de Cristo não havia sido aniquilada na morte mas que permanecia uma Realidade viva, foi exposta na linguagem da ressurreição.

Com a disseminação do Cristianismo, e o alargamento desta fé a povos de culturas e mentalidades diferentes, as narrativas da ressurreição foram cada vez mais assumidas no sentido literal, esquecendo quase o significado da ressurreição do "corpo" místico de Jesus, que é a Igreja. O verdadeiro sentido espiritual da ressurreição quase foi eclipsado pela fé no significado literal das narrativas do Evangelho.

Para uma explicação das escrituras bahá’ís sobre ressurreição, ver este link (em inglês).

sábado, 17 de abril de 2004

Cesária Évora

A Euronews está hoje a passar uma pequena reportagem sobre Cesária Évora. Gostei e fiquei orgulhoso. Fiquei mesmo!

Na reportagem dizia-se (e no site repete-se): "Depois de uma tentativa em Lisboa, que não despertou o menor interesse dos produtores discográficos, foi a partir de Paris que Cesária Évora pela mão de José da Silva, deu a conhecer ao mundo a música de Cabo Verde."

Incidente em Antares

Acabei de ler Incidente em Antares de Erico Verissimo. Não é tão monumental e esmagador como O Tempo e o Vento, mas o argumento é interessante.

Antares é uma cidade no sul do Brasil, junto ao rio que faz fronteira com a Argentina. Foi crescendo no meio de rivalidades entre duas famílias poderosas (Vacarianos e Campolargos) e florescendo graças ao contrabando. No final de 1963, uma greve geral paralisa a cidade. Seis pessoas morrem no início da greve, mas os trabalhadores do cemitério estão em greve e recusam-se a enterrar os corpos.

De noite os cadáveres (que já começaram a apodrecer) ganham vida novamente e ficam indignados por ainda não terem sido sepultados. Resolvem protestar contra a situação e instalam-se no coreto da praça central. Ao meio-dia toda a população estupefacta vai-se reunindo na praça central para tentar acreditar naquele fenómeno; os cadáveres falam e vão denunciando a podridão moral de muitos habitantes, revelando adultérios, roubos e golpadas de políticos e abusos da polícia.

A podridão física denuncia outra bem pior: a podridão moral.

No dia seguinte os cadáveres são reconduzidos ao cemitério. Coloca-se então o problema de como esquecer o incidente. Impedem-se reportagens nos jornais, ameaçam-se forasteiros que fazem muitas perguntas, e por fim o golpe militar de 1964 cria um ambiente favorável a que ninguém faça perguntas inconvenientes.

Segundo me dizem alguns amigos brasileiros, este livro já foi adaptado para mini-série na TV.

quarta-feira, 14 de abril de 2004

O Sudário e os Fundamentos da Fé

Porque é que acreditamos em algo que nos transcende? Em que se fundamenta a fé de cada um que se diz crente? Estas perguntas não têm uma resposta simples; cada crente terá a sua resposta; e cada resposta revela um pouco de cada crente, do seu entendimento da vida e do que ele pensa ser o propósito da nossa existência.

Claro que qualquer pessoa deve ter dificuldade em responder a estas perguntas. Eu, por exemplo, poderia escrever um longo testamento tentando responder. Poderia dizer que acredito porque algo dentro de mim me diz que existe um Deus Criador, ou poderia expor algum raciocínio aristotélico e até mesmo invocar as Cinco Vias de S. Tomás. Quanto aos fundamentos da fé apontaria para as Sagradas Escrituras e para a forma como estas têm transformado a vida de tantas pessoas e servido de base à construção de civilizações.

A questão sobre os fundamentos da fé, merece alguma atenção, agora que o Sudário de Turim volta a ser notícia (ver BBC, The Guardian e Washington Times). Segundo a BBC, cientistas italianos dizem ter descoberto uma 2ª face no sudário. Alguns sectores das diferentes igrejas cristãs agitam-se perante esta novidade. O Vaticano mantém uma distância prudente. O curioso da notícia, é referir que apesar dos testes de carbono 14 realizados ao Sudário há alguns anos, existem ainda muitos crentes que o veneram e o consideram uma prova testemunhal da existência de Cristo. Um objecto digno de adoração.

Afinal onde estão os fundamentos da fé?

Pessoalmente, acredito que Deus comunica com a humanidade através dos Seus Mensageiros (Moisés, Jesus, Buda, Maomé e mais recentemente Bahá'u'lláh). A adoração a Deus vê-se no respeito pelo nosso semelhante, na forma como pomos em prática os ensinamentos divinos.

Faz sentido que objectos que possam ter tido alguma relação com o Mensageiro (vulgamente designadas por "relíquias") venham substituir a Mensagem? No caso concreto dos Cristãos e do Sudário, se a fé se baseia nos ensinamentos de Cristo, então qual a importância do Sudário para a fé? Se a suposta "autenticidade do Sudário" é a base da fé, então a coisa complica-se muito com os resultados dos testes do carbono 14. E se o Sudário fosse autêntico, o que é que isso mudaria?

É fácil para um Bahá'í fazer estes comentários. Quando temos a possibilidade de fazer peregrinação à Terra Santa podemos observar uma série de "relíquias"; tratam-se de textos originais, roupas, canetas, malas e outros objectos de uso pessoal de Bahá'u'lláh. No entanto, estes objectos apesar de serem verdadeiros testemunhos da vida terrena de Bahá'u'lláh, não são alvo da veneração dos crentes. O centro das atenções dos peregrinos são os santuários onde estão sepultados Bahá'u'lláh e o Báb.

Mas – por hipótese académica – se se provasse que aquelas relíquias bahá'ís não eram autênticas, ficaria a minha fé abalada? Duvido. Ficaria triste, pois as relíquias mostram-nos um vestígio da dimensão humana do profeta; no entanto, a mensagem de Bahá'u'lláh não se centra nas relíquias mas sim nos Seus ensinamentos, conforme transmitidos nas escrituras.

Bahá'u'lláh faleceu há pouco mais de 100 anos; Cristo foi crucificado há quase 2000. É natural que ainda existam vestígios da presença humana de Bahá'u'lláh; é praticamente impossível que existam esse mesmo tipo de vestígios da presença de Cristo. Mas será mesmo necessário que tenhamos essas relíquias que testemunham uma vida terrena de um Profeta para que a nossa fé seja sólida?

terça-feira, 13 de abril de 2004

Kahlil Gibran e a Fé Bahá’í

Descobri uma página interessante que descreve os contactos entre 'Abdu'l-Bahá e Kahlil Gibran.
Kahlil Gibran desenhou um retrato de 'Abdu'l-Bahá e inspirou-se nele para um dos seus livros.
Muito interessante!

segunda-feira, 12 de abril de 2004

Os filhos dos Emigrantes

Ontem, domingo de Páscoa, o telejornal da RTP ofereceu-nos uma reportagem sobre a situação dos filhos dos emigrantes africanos que estão em Portugal sem autorização de residência. Apesar de terem nascido em Portugal, estas crianças não têm direito automático à nacionalidade portuguesa.

Um simples documento de autorização de residência depara-se com enormes dificuldades burocráticas por parte do SEF. Será assim tão complicado resolver estas situações? As escolas vão fechando os olhos às situações das crianças que não possuem os documentos, mas quando chegam ao 10º ano, deixam de facilitar a vida às crianças: todos os documentos têm de estar em dia!

A reportagem mostrou-nos o exemplo de um jovem que sonhava tirar o curso de informática; os labirintos e a lentidão da nossa administração pública levaram-no a ter de optar por trabalhar nas obras e sempre em situação precária. Após muitos anos de persistência obteve a nacionalidade: chorou e riu de alegria. Mas nem todos têm força de vontade e persistência; o caminho da marginalidade é mais fácil para muitos daqueles jovens.

O que ganha Portugal com isto? Se sucessivas gerações descendentes de emigrantes nunca tiverem direito à nacionalidade portuguesa (e consequentemente não têm os mesmos direitos!) não estaremos a criar uma casta de emigrantes ilegais que viverá sempre à margem da sociedade? É este o Portugal do Luso-Tropicalismo? É este o Portugal que sempre se soube relacionar melhor com os povos africanos do que qualquer outro povo europeu?

Enfim… Obrigado à RTP por nos ter alertado para esta situação. Isso é serviço público!

domingo, 11 de abril de 2004

Efeméride - 11 de Abril de 1912

Neste dia, em 1912, 'Abdu'l-Bahá chegava a Nova Iorque, a convite dos bahá’ís americanos.

Na sua visita aos Estados Unidos, desloca-se a várias cidades, incluindo Chicago, onde lança a primeira pedra do “Templo-Mãe do Ocidente”, Eliot Maine onde Sarah Farmer mais tarde disponibilizaria a sua propriedade para construção de um instituto bahá’í de formação, e Montreal, onde foi hóspede de William e May Maxwell, cuja residência se tornaria o primeiro centro bahá’í do Canadá (e cuja filha se tornaria esposa de Shoghi Effendi).

A estadia nos Estados Unidos prolonga-se por 239 dias. 'Abdu'l-Bahá visita várias igrejas, associações pacifistas, universidades, associações sindicais, casas privadas onde fala sobre os mais diversos assuntos, nomeadamente, os princípios básicos da Fé, e temas filosóficos, morais e espirituais.

As suas palestras foram posteriormente publicadas num volume intitulado The Promulgation of Universal Peace (creio que ainda não existe tradução portuguesa). As recordações dos crentes que testemunharam essa visita ficaram também registadas em vários livros.

A foto abaixo foi tirada durante uma visita a Brooklyn, em Junho de 1912.

sábado, 10 de abril de 2004

Inspecções Nucleares no Brasil

Com as atenções internacionais centradas no vespeiro iraquiano, é natural que muitas coisas nos passem despercebidas. Uma das notícias que nos passou despercebida foram as inspecções da Agencia Internacional de Energia Atómica (AIEA) às instalações nucleares brasileiras em Resende (Rio de Janeiro).

A visita destes inspectores abriu uma polémica entre o governo brasileiro, que se recusava a partilhar segredos tecnológicos nacionais e a AIEA. As notícias sobre este assunto descrevem declarações e desmentidos do governo e da AIEA; sucederam-se várias acusações, cada uma com muitas interpretações por parte dos media. Veja-se aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Entretanto foram postas a circular pelas agências noticiosas internacionais outras notícias referentes à destruição da Amazónia e outros problemas económicos brasileiros. Coincidência?

Devo admitir que tenho dificuldade em olhar para esta notícia sem ser um pouco tendencioso. Eu gosto do Brasil; aprecio imenso várias coisas na cultura brasileira. Acompanho muitas coisas que se passam naquele país; tenho familiares que vivem lá; tenho antepassados cariocas e gaúchos.

Talvez por esse motivo, a posição do governo e de vários media brasileiros, defendendo o seu know-how de tecnologia nuclear, despertou a minha simpatia. Nunca senti essa simpatia por outros países quando a AIEA tentou fazer inspecções, nomeadamente no Irão e na Coreia. Tentei encontrar justificações para essa diferença de posições da minha parte:
* O governo brasileiro não é um governo de cangaceiros;
* O regime brasileiro não é um regime totalitário;
* O regime brasileiro não apoia grupos terroristas;
* O regime brasileiro não é uma ameaça à paz mundial.

AS INSPECÇÕES DA AIEA

Não sei o que se passa quando a AIEA faz, ou tenta fazer, inspecções na Índia ou no Paquistão, em França ou no Reino Unido; até podem existir os mesmos problemas e os governos desses países podem criar os mesmos obstáculos e existam os mesmos atritos durante as visitas dos inspectores.

Este caso fez-me recordar um documentário que assisti há alguns meses atrás sobre as inspecções das Nações Unidas feitas no Iraque após a primeira guerra do golfo (1991). A maioria dos intervenientes assumia que as equipas de inspecção continham agentes da CIA. Atendendo a isto, e ao facto do Brasil ter conseguido uma série de realizações tecnológicas, questionei-me se os EUA não teriam interesse em espiar o desenvolvimento nuclear brasileiro.

Tentando ser o mais objectivo possível sobre este problema diria que:
* A tecnologia nuclear é uma tecnologia sensível; pode ser utilizada fins pacíficos ou para fins militares.
* É importante que existe um organismo internacional que controle a utilização que é feita com esta tecnologia.
* Esse organismo deve estar acima de qualquer suspeita; as suas actividades nunca poderão ser utilizadas para satisfazer os interesses particulares de qualquer país.
* Se as inspecções da AIEA levantam suspeitas e o motivo das suas inspecções não é claro, algo está mal com essa agência ou com os países que são alvo das inspecções.

UMA ORDEM MUNDIAL JUSTA E EQUILIBRADA

A base de qualquer relacionamento é a confiança; as relações familiares, profissionais, amizades, relações comerciais, tudo são elos baseados na confiança. Se a confiança não existe, a relação degrada-se. As inspecções nucleares no Brasil são um exemplo de relação degradada.

Se as nações e os organismos internacionais se relacionam sem uma base de confiança, então a ordem mundial tem de ser pensada e revista. Se as actividades de alguns dos mais conhecidos e prestigiados organismos internacionais suscitam reservas ou desconfianças de alguns países, então algo está mal com essa mesma ordem mundial.

Numa ordem mundial justa e equilibrada, parte das soberanias nacionais teria de ser transferida para um organismo que fosse uma espécie de Confederação de Nações (não encontrei expressão mais adequada). O controlo de armamentos, de tecnologias sensíveis, a partilha de conhecimentos científicos, a arbitragem internacional, e um tribunal penal internacional são apenas algumas áreas de actividade dessa Confederação; todos os países deveriam estar vinculados a essa organização e deveriam obedecer às decisões dos organismos dessa Organização.

A actual ordem mundial não possui estas características. É unipolar e as Nações Unidas têm aquela velha estrutura criada no final da 2ª Guerra Mundial. Não me parece que as nações do mundo possam continuar a viver e relacionar-se da maneira actual. Temos que pensar muito a sério nas mudanças, e na implementação das mesmas; não bastam bonitas declarações de intenções.

sexta-feira, 9 de abril de 2004

Foto de Bagdade Otomana

Ainda a propósito da efeméride de ontem, andei à procura de fotos antigas de Bagdade (no tempo em que era uma capital provincial do Império Otomano). Infelizmente, não encontrei na Web nenhuma foto antiga.

A única foto antiga que consegui encontrar é a que se encontra no livro Bahá'u'lláh, The King of Glory do Hasan Balyuzi. Esta foto também se encontra na edição portuguesa do livro Bahá'u'lláh publicado em 1992, por ocasião do centenário do Seu falecimento.

Aqui está ela:


quinta-feira, 8 de abril de 2004

Efeméride - 8 de Abril de 1853

Neste dia, em 1853 Bahá'u'lláh chegou a Bagdade, juntamente com familiares e alguns companheiros. Exilado e espoliado de todos seus bens, deixava para trás a Sua terra natal, a Pérsia. Era o primeiro de quatro exílios. O Iraque era nessa época uma província do Império Otomano.

Bagdade tornara-se local de reunião da comunidade Babí (seguidores do Báb). Após a morte do Báb e com a maioria dos líderes Babís mortos ou encarcerados, a comunidade Bábí sentia-se perdida e desorientada. Os primeiros esforços de Bahá'u'lláh para reorganizar esta comunidade levantaram invejas e desavenças. Por esse motivo preferiu retirar-Se para as montanhas do Curdistão onde permaneceu durante dois anos.

Regressado a Bagdade consegue reorganizar e revitalizar a comunidade. Ainda nesta cidade revela dois importantes livros: As Palavras Ocultas (uma série de aforismos morais que contêm a essência ética da Sua mensagem) e o Livro da Certeza (uma explicação detalhada do propósito e natureza da religião, explicando as passagens mais misteriosas do Corão, e dos Antigo e o Novo Testamentos, e descrevendo o papel dos Mensageiros de Deus como intermediários entre Deus e a humanidade).

O exílio em Bagdade durará 10 anos; no final desse tempo as autoridades otomanas e persas decidem exilá-Lo novamente, desta vez para a capital do Império (Constantinopla). Numa festa que antecedeu a Sua partida para esse novo exílio, Bahá'u'lláh revelará aos amigos mais próximos que é Ele o prometido anunciado pelo Báb.

quarta-feira, 7 de abril de 2004

Saber estar na Política

Ontem no Telejornal da RTP passou ontem uma reportagem sobre uma sessão da Assembleia Municipal de Lisboa. A dado momento, houve alguns deputados que desataram numa gritaria. Essa gritaria foi aumentando de tom até que a sessão foi suspensa. Todo o ambiente mais parecia uma assembleia geral de clube de futebol falido: gritaria, insultos, gente a esbracejar, ameaças... A notícia está hoje no Público.

A minha conclusão é simples: há ali uns quantos políticos que não se sabem comportar à altura da dignidade do cargo que ocupam. Além disso parece-me estranha a presença da RTP naquele local, exactamente quando há aquela escandaleira toda. Algo me dizia que tudo foi bem orquestrado.

Uma das razões para o descrédito dos políticos é exactamente este tipo de comportamentos. Quando um deputado eleito transforma o órgão de soberania em palco de arruaça, e os seus actos podem ser comparados ao comportamento membros de claques desportivas, deixam de existir muitas dúvidas sobre porque é que o cidadão comum se desinteressa da política. E esse desinteresse é ainda maior quando o cidadão comum se lembra que esses deputados que fazem figuras tristes têm um ordenado pago com o dinheiro dos nossos impostos...

Felizmente nem todas as pessoas envolvidas na política têm esta postura. Alguns há que sabem debater ideias, expor argumentos, rebater acusações e mesmo ironizar sobre os seus adversários políticos sem nunca perderem a educação e o cavalheirismo. Um exemplo disso é bem patente o programa Quadratura do Círculo da SIC-Notícias. Não é necessário estar de acordo com nenhum dos intervenientes nesse programa, ou ter ideias alinhadas com as cores políticas de qualquer um deles, para poder admirar o tom do debate e a postura dos intervenientes.

Até se pode estar em desacordo com todos os intervenientes desse programa. Mas o tom dos diálogos mostra-nos que ainda há pessoas que sabem estar na política.

segunda-feira, 5 de abril de 2004

Muro de Preconceitos

Com a queda do Muro de Berlim, caiu uma das maiores aberrações políticas do século XX. Um muro é um sinal de divisão, de desconfiança e de potencial conflito. Aquele muro era um dos símbolos de uma grande divisão entre dois sistemas políticos antagónicos; regozijámo-nos com o seu desaparecimento.

Mas no momento da queda do muro de Berlim, um outro muro ia sendo erguido. Trata-se de um muro de preconceitos e desconfianças entre as sociedades ocidentais e os países de maioria muçulmana. Desinformação e ignorância de ambos os lados têm facilitado a sua construção. Note-se que não é um muro de construção recente; nas últimas décadas foi reforçado e aumentado.

Foi reforçado pela revolução iraniana e foi aumentado pelo regime taliban no Afeganistão; a mais recente contribuição tem sido dada por grupos terroristas que se afirmam de inspiração islâmica.

Ao invocar uma pretensa inspiração islâmica nos seus actos, estes grupos terroristas arrastam para a mira da desconfiança ocidental milhões de cidadãos que professam a religião islâmica. Podemos ver como o uso da expressão terrorismo islâmico é utilizada e aceite por analistas políticos e pela comunicação social mais rigorosa. Hoje, palavras como árabe, muçulmano ou islão, tornaram-se sinónimos de "terrorismo" para o cidadão comum.

Nos tempos da guerra-fria, quem estava do outro lado do muro era impedido pelos regimes totalitários de aceder ao modo de vida ocidental; com este novo muro, quem estiver do outro lado do muro tem muita probabilidade de ser olhado com desconfiança e mesmo discriminado pelas autoridades dos países ocidentais (pode também ter dificuldade de se integrar nas sociedades ocidentais).

Há milhões de muçulmanos alvo de discriminação apenas devido às acções de grupos extremistas. São gente boa, honesta, que deseja ter uma vida tranquila e assegurar um bom futuro para os seus filhos. Apenas tiveram o azar de ter nascido no outro lado do muro...

Existem, obviamente, outros muros de preconceitos em relação a outras sociedades e culturas. Basta pensar nos africanos ou nos sul-americanos.

Para que expressões como Aldeia Global ou A Terra é um só país e a Humanidade os seus cidadãos se tornem uma realidade, estes muros não podem existir. Resta saber como os poderemos demolir...

sábado, 3 de abril de 2004

Onde está o resto do Povo?

O meu objectivo ao criar este blog era (e é!) reunir um conjunto de bahá’ís que quisessem partilhar por escrito algumas ideias, experiências e perspectivas sobre o mundo em que vivemos. Um grupo diversificado de pessoas, cada um partilhando ideias e preocupações sobre assuntos que lhe interessam, tornariam o blog mais vivo e interessante.

Avancei com o blog e tenho estado a insistir com alguns amigos para participarem. A maioria depara-se com falta de tempo. Compreendo-os. Na verdade, este blog também surgiu quando eu tinha bastante tempo livre.

A partir da próxima segunda feira a minha disponibilidade também vai ser menor; vou voltar trabalhar num projecto nas instalações de um cliente. Não terei tanto tempo para navegar por outros blogs. Mas o "bichinho" de escrever e trocar ideias e partilhar experiências com os outros ficou. Sou capaz de escrever com menos frequência, mas não vou deixar de escrever.

Por este motivo, era bom que algum daqueles amigos com quem eu tenho insistido pudesse colaborar. O Varqa anda super-ocupado e confessou que era mais fácil o Sporting ganhar o campeonato do que ele ter tempo para escrever. :-)

E os outros? Será que ninguém tem nada para partilhar?
Será que eu sou o único representante do Povo de Bahá na blogosfera portuguesa?

quinta-feira, 1 de abril de 2004

Notícias que nos passam ao lado...

... e vêm do outro lado do Atlântico

UMA LUTADORA
Manuela Oliveira tem 54 anos e nasceu em Moçambique. Tem nacionalidade e sotaque português. Mudou-se para o Brasil em 1976, quando já era licenciada em engenharia civil pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Em terras brasileiras, porém, teve que refazer o curso. "O meu pedido de equivalência não foi aceite. Foi coisa de português: já me tinha licenciado e fiz faculdade de novo", brinca.
Esta mulher que dirige o porto de Paranaguá, um dos sete principais portos do Brasil.

SEM-TERRA
O Governo Brasileiro começa a apostar da fixação dos sem-terra. Para este ano, o orçamento para as fixações atinge os 3,1 mil milhões de Reais (aprox. 870 milhões de Euros). O MST (Movimento dos Sem-Terra) não comenta o aumento das verbas para fixação das famílias e afirma que as ocupações vão continuar. No Paraná o objectivo do Governo é fixar 3000 famílias.
Será um caso de extrema-riqueza vs extrema-pobreza que estará na base desta crise dos sem-terra? Gostava de ter o comentário de algum brasileiro conhecedor da situação.
Mais detalhes no Estadão e na Gazeta do Povo.

POLÍTICA, MISÉRIA E VIAGRA
O deputado do Piaui, Antonio Jose de Moraes Souza, teve o seu mandato suspenso por ter oferecido viagra a troco de votos. A decisão do tribunal eleitoral acrescenta ainda que este deputado deve ser substituído pelo segundo candidato mais votado.
Nas regiões mais pobres do Brasil alguns políticos costumam oferecer comida e medicamentos em troca de votos.
Mais detalhes na BBC e na Gazeta do Povo.

1 de Abril de 1847 (outra efeméride)

Neste dia em 1847, Bahá'u'lláh enviou ao Báb uma carta e várias lembranças. O Báb encontrava-se preso na fortaleza de Mah-ku, nas montanhas do Azerbeijão persa.

O momento de contacto entre dois Manifestantes de Deus tem algo de profundamente místico; está de facto muito para lá da nossa compreensão. Mesmo assim, não podemos deixar de pensar no que iria na mente da cada um deles ao escrever, ao enviar e ao receber a carta e as ofertas? Impossível alguma vez sabermos. Pelos relatos que dispomos sabemos que o Báb ficou muito contente.

Na história das religiões, há um outro momento que talvez possa ser comparável a este: o baptismo de Cristo no rio Jordão. João Baptista ainda achou que devia ser Jesus a baptizá-lo, mas Jesus não quis apressar a ordem natural dos acontecimentos. Mas como é evidente, isto são comparações e analogias feitas por um simples mortal.